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Cerci Flor da Vida
O mestre carpinteiro e os seus discípulos 
Atualmente frequentam a carpintaria cerca de seis alunos inseridos num curso vocacionado, no total de dois anos incluindo o estágio, para a inserção no mercado de trabalho
Sílvia Agostinho
28-11-2016 às 11:51
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Na carpintaria da Cerci Flor da Vida, vários jovens do concelho de Azambuja e de alguns concelhos vizinhos têm a oportunidade de aprender um ofício que um dia mais tarde lhes proporcione a inserção no mercado de trabalho. A maioria desses jovens têm dificuldades de aprendizagem escolar, e abandonaram na maioria dos casos os estudos. Com idades entre os 15 e os 18 anos, encontraram em Francisco Coelho, mestre da carpintaria há 19 anos, uma espécie de professor para a vida. Na carpintaria aprendem mais do que apenas a montar pequenos móveis mas também alguns ensinamentos que lhes podem ser úteis um dia mais tarde.

Quando chegou à carpintaria há quase 20 anos, Francisco Coelho prognosticou na altura que não haveria de ficar ali muito tempo. “Não me via a ter paciência para aturar miúdos destas idades, mas no fim de contas fiquei a gostar, e a sentir-me realizado com este convívio e aprendizagem, até porque também aprendo muito com eles”, indica. Apesar de “nem sempre mostrarem o gosto necessário para este trabalho, e preciso de os estar sempre a incentivar”. Para conseguir motivar estes jovens, normalmente pouco habituados a hábitos de trabalho e disciplina, é necessário considerá-los como “família”. “Colocá-los à vontade e dizer-lhes que ninguém nasce ensinado”, prossegue.

Saber compreender os jovens em causa é também importante – “Vejo que por vezes andam com problemas em casa e partilham essa informação comigo, tento colaborar com eles, e dar-lhes alguns conselhos”. “Têm de saber que os pais não lhes podem dar tudo para o resto da vida, e que também devem esforçar-se e fazer algo de positivo pelo futuro de cada um deles”, remata. Por outro lado, “fico muito sensibilizado quando partilham coisas da intimidade deles, que com dificuldade conseguem expor diante da psicóloga da instituição. Ficam envergonhados”. “Para nós é como um segundo pai. Desabafamos coisas com ele, das quais não falamos nem com os nossos pais”, acrescenta Emanuel, um dos jovens frequentadores da formação. Este jovem à semelhança dos restantes abandonou o ensino tradicional: “Escola nem falar dela”, não tem dúvidas, mas refere que na carpintaria começou a tomar gosto por esta atividade e quererá colocar em prática no futuro o que aprendeu. Quem sabe fazer disto profissão, “pois não ando aqui para passear”; refere convicto. No caso de Miguel, “a escola também não andava a correr bem. Fiz o sexto, não acabei o sétimo e faltava muito às aulas”. “Gosto de aqui estar, de fazer montagens e de lixar e empalhar”. “Tenho gostado desta experiência, também,” acrescenta Daniel. Já Rafael sublinha a experiência de trabalhar com o mestre Francisco Coelho –“Já aprendi muita coisa com ele, coisas da vida das quais não me vou esquecer nunca”.
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Passar a mensagem de que é necessário ter brio neste trabalho é também um dos truques do mestre Francisco Coelho, porque “ninguém compra coisas mal feitas”. São fabricadas e recuperada diversas peças em madeira neste local. No dia da nossa reportagem, os alunos estavam a produzir pequenos bancos que depois de terminados se destinam à loja de Natal da Cerci.
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​Atualmente frequentam a carpintaria cerca de seis alunos inseridos num curso vocacionado, no total de dois anos incluindo o estágio, para a inserção no mercado de trabalho. Também faz parte deste plano curricular aulas de Tecnologias de Informação e Comunicação; Cidadania e Empregabilidade; Formação para a Integração e Vida Ativa; e Formação em Contexto de trabalho (estágio). Segundo o psicólogo e gestor da formação, Pedro Reis esta metodologia tem provado ser a mais efetiva na orientação destes jovens, em que através da prática e da repetição de tarefas tentam ganhar os hábitos de trabalho que não possuíam antes. “Por vezes são oriundos de meios onde as regras são quebrada mais facilmente, têm uma noção de liberdade sem responsabilidade, e quando aqui chegam há esse choque inicial”. Neste aspeto é também importante o trabalho da instituição com as famílias. Atualmente a Cerci Flor da Vida recebe jovens não só do concelho de Azambuja, mas também de Vila Franca de Xira e de Alenquer. Atualmente cerca de 30 a 40 pessoas aguardam em lista de espera para ingressar nos diferentes cursos da instituição que não apenas neste de operador de acabamentos em madeira e mobiliário.

Em breve, a carpintaria poderá receber outros jovens, e para conseguir motivar esta opção Francisco Coelho revela que anda a fazer umas peças diferentes para mostrar a esses possíveis alunos como uma pequena tronqueira feita com os materiais da carpintaria. A trabalhar com jovens desta faixa etária, Francisco Coelho refere que nem sempre é fácil impor o respeito, “mas não por falta de educação deles, mas porque gostam demasiado de brincadeiras, e nem sempre é fácil pedir-lhes concentração. Mas é próprio da idade”. Muitos jovens já lhe passaram pelas mãos e diz ficar satisfeito quando um dia mais tarde consegue saber que encontraram um rumo para as suas vidas, e têm emprego. “Quando isso não acontece fico um bocado triste, porque adoro quando vejo que conseguiram alcançar um rumo”.



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