CLDS4G: Jovens que não estudam nem trabalham são uma das maiores preocupações sociais em Benavente
Casos são pouco conhecidos. Muitas vezes não estão inscritos no centro de emprego, passam os dias em casa, sem que os pais saibam o que vão fazer com eles
|01 Ago 2022 16:18
Sílvia Agostinho O programa de intervenção na comunidade CLDS 4G no concelho de Benavente, para três anos, cumpriu até à data metade do seu percurso, mas o balanço é positivo. A Fundação Padre Tobias foi o parceiro escolhido e Rosvita Neves, coordenadora, explica que este Contrato Local de Desenvolvimento Social que procura soluções para a população que necessita de respostas a diversos níveis encontrou, entre outras problemáticas mais difíceis de acompanhar, a dos jovens que não estudam nem trabalham e preferem que os seus casos nem sequer sejam conhecidos, quanto mais alvo de intervenção social. (Os denominados NEET – Not in Employment Education or Training – os que nem estudam nem trabalham).
Rui Domingos, presidente da instituição, refere que foram identificados dois eixos de ação – proteção à infância e empregabilidade. “Queremos quebrar os ciclos que vão passando de geração em geração que andam à volta da economia informal, do trabalho sazonal, que resultam em situações de grande precariedade”. O abandono escolar no concelho de Benavente “é prevalente, mas não está quantificado”, sendo esta uma realidade também ela escondida, e neste caso temos “muitos jovens nem- nem”, porque não estudam nem trabalham e “e escapam à malha das estatísticas”. “Muitas vezes não estão inscritos no centro de emprego, passam os dias em casa, sem que os pais saibam o que vão fazer com eles”, refere Rui Domingos, que admite que este é um problema que atravessa as diversas faixas sociais. Poderão existir 200 a 300 mil jovens no país nesta situação, “mas são meramente estimativas”. Através de uma colaboração com os dois agrupamentos de escolas do concelho, o CLDS tentou perceber qual o encaminhamento profissional que seguiram todos os alunos nascidos em finais da década de 90, e que hoje são maiores de idade, para tentar compreender se se encaixam ou não no perfil dos “jovens que não estudam nem trabalham”. “Os contactos na maioria deles estavam desatualizados, conseguimos contactar 18 por cento das pessoas, tivemos boas notícias por parte de alguns que estavam a trabalhar ou ainda a estudar, mas quanto aos outros não conseguimos saber muita informação”. A Fundação Padre Tobias tem trabalhado com a Comissão de Proteção de Jovens e Crianças, Segurança Social e Centro de Emprego “para conseguirmos trazer esses jovens para o seio do projeto”. Os denominados “jovens NEET ” têm até 32 anos, e estão há pelo menos dois anos sem qualquer atividade. Se contactadas estas pessoas referem que “está tudo bem”, e apenas se conseguem identificar casos através de situações já no limite quando há pedidos para o Rendimento Social de Inserção (RSI), em que têm de comparecer em sessões para continuar a usufruir do rendimento “e mesmo assim ficam lá atrás no auditório sem se expressarem muito”, conta Rosvita Neves. Quando pedem “ajuda é porque já estão a lidar mentalmente muito mal com a situação”. A responsável dá conta de um estado de coisas que não é fácil mudar de um dia para o outro - “Uma vez contactados é difícil esse acompanhamento porque raramente há resposta, até pode ter existido um contacto inicial que correu bem. Temos um caso de um jovem que mostrou interesse, ficou de enviar um formulário e depois nunca mais disse nada”, acrescenta Rosvita Neves. O CLDS 4G em Benavente ficou com o eixo “Jovens e Famílias” levando a cabo uma série de programas não só junto das famílias que foram sinalizadas, e que no dia da nossa reportagem em finais de junho, eram 34, mas existe um trabalho mais vasto com os agrupamentos de escolas em que toda a comunidade estudantil/juvenil do concelho é abrangida através de ações de sensibilização, que passam por atividades lúdicas, palestras, workshops. No primeiro caso, as técnicas do CLDS fazem desde capacitação familiar, porque há quem chegue “no caso dos adultos, e não consiga organizar uma lista de compras, ou há crianças e jovens que não sabem ter cuidados de higiene corporal”, dá como exemplo Rosvita Neves, que continua a demonstrar – “Por exemplo temos uma criança que está a ser acompanhada pela CPCJ, enquanto a mãe foi encaminhada para nós para a ajudarmos a arranjar emprego”. O projeto tem página online incluindo redes sociais e está disponível para receber quem se enquadrar neste tipo de casos. “A ideia é estar presente para perceber o que podemos fazer diferente, e não substituirmo-nos a outras entidades. Fazemos prevenção e capacitação”. Recentemente “fizemos dois seminários sobre dependências, incidindo sobre as tecnológicas e as drogas”. Uma das ações que tem tido muito sucesso entre as jovens das escolas é a do “Penso por Elas”, ideia da “psicóloga do projeto”. “Com a colaboração da universidade sénior foram costurados pensos reutilizáveis para oferecer às jovens. Por outro lado, tivemos uma empresa que nos ofereceu 105 copos menstruais, em que com as escolas através do Plano para a Educação em Saúde fizemos uma ação sobre as mudanças nos corpos masculino e feminino, principalmente junto das meninas já menstruadas”. Na escola de segunda oportunidade a funcionar no Porto Alto, onde também está instalado o CLDS, existe mesmo um banco de higiene menstrual onde as alunas podem aceder a itens diversos. Muito se tem falado em pobreza menstrual e começam a desenhar-se lá fora medidas para a combater. Rosvita Neves dá o exemplo- “Imagine uma família carenciada com três meninas, todas menstruadas ao mesmo tempo, os gastos em descartáveis ainda são consideráveis, e claro temos casos de moças que andam todo o dia com o mesmo penso ou tampão, o que é prejudicial para a saúde, e foi a pensar nelas que concebemos também esta vertente”. A ideia “é termos este banco de higiene menstrual em todas as escolas do concelho”. Os artigos são grátis e o projeto conta com a ajuda de empresas.
O CLDS 4G termina em setembro de 2023, e Rosvita Neves “espera que dê frutos e que deixe uma marca positiva na comunidade”. “No nosso caso não é possível prolongarmos”. Para além da Rosvita Neves, professora e coordenadora, fazem parte ainda Ana Santos, educadora social; Ana Paulino, psicóloga; Cristina Silva, técnica de apoio psicossocial. |
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