|
Colégio "Os Cartaxinhos": Pais indignados repudiam conduta da diretora em todo o processo |
|
|
Instituição passou para as mãos do grupo GPS, protagonista de escândalo que abalou o ensino cooperativo, e é agora uma escola profissional
|
|
|
Sílvia Agostinho
17-06-2019 às 23:19 |
|
|
É o fechar de portas para o Colégio "Os Cartaxinhos", em Casais Novos, (localidade situada entre Alenquer e o Carregado), como instituição de ensino vocacionada para os primeiros graus de ensino. A instituição, conforme o Valor Local, tinha avançado na edição de maio vai mesmo passar para as mãos de uma nova gestão. Trata-se do grupo GPS, através da Escola Profissional do Ribatejo, que se encontra a braços com a justiça num escândalo que abalou o setor do ensino cooperativo e particular em Portugal, devido a acusações de corrupção e peculato envolvendo um total de sete arguidos.
A notícia que já andava no ar, há pelo menos dois meses, apanhou de surpresa a generalidade dos encarregados de educação de cerca de 200 crianças que ali frequentam o pré-escolar e o primeiro ciclo do ensino básico. Segundo apurámos junto de uma encarregada de educação que preferiu manter o anonimato, em declarações ao Valor Local, quando se começou a falar da possibilidade, agora, concretizada, “criou-se logo um grande alarme social”, embora a realidade falada nunca tivesse sido assumida pela diretora Cristina Manso Pires, que nos últimos 16 anos tem estado à frente da instituição fundada cinco anos antes pelo empresário da construção civil, Mário Cartaxo. “Aliás chegou mesmo a enviar-nos um email a referir que essa possibilidade não passava de uma mentira”, alega a nossa fonte que elucida – “Na verdade e já nessa altura havia um acordo escrito com o grupo GPS”. Segundo a encarregada de educação, “a ponte chegou mesmo a ser feita pelo presidente da Câmara de Alenquer”. Numa das últimas reuniões de Câmara, o vice-presidente da autarquia, Rui Costa, referiu-se a essa alusão que começou a circular entre os pais dos alunos de "Os Cartaxinhos", e defendeu que a Câmara “não tomou parte ativa no processo de aquisição das instalações, apenas terá sido consultada há um ano por essa entidade que queria saber da existência de terrenos municipais ou outros para a dita escola”. Foi dito pela autarquia que não dispunha de terrenos, e que outras conversações com o colégio “foram encetadas pelo grupo GPS”, que terá sabido das dificuldades financeiras da escola, e como necessitava de um alvará avançou para o negócio. A encarregada de educação refere que na reunião mantida há dois meses falou-se na possibilidade de o grupo GPS comprar a escola por um milhão de euros, por parte da diretora, mas que o processo não passava de uma mera intenção. “Agora os pais sabem que já havia um acordo escrito”. Os pais preocupados com a situação ainda chegaram a arranjar um investidor estrangeiro, do Dubai, disposto a avançar com o milhão de euros, e a manter a escola com as atuais valências, dando assim continuidade ao projeto fundado por Mário Cartaxo. “Como nunca pensou que chegássemos a conseguir um investidor, acabou por desperdiçar o negócio, e não deu curso às negociações com esse milionário, que gostou do projeto, e estava disponível para avançar”. Ainda chegou a reunir-se com Cristina Manso Pires mas infrutiferamente como veio a revelar-se. “Ela nunca mais atendeu o telefone”. Na última quinta-feira, dia 13 de junho, “os pais rumaram ao colégio para falar com a diretora, e qual não é o nosso espanto quando nos deparámos com pessoas estranhas na secretaria a mexer nos dados das crianças, já com os novos donos do colégio, que tinham feito a escritura no dia anterior”. “Cristina Manso Pires nunca teve a hombridade de dizer aos pais e aos funcionários que a escola ia fechar para ser cedida a uma outra empresa”. Por parte do grupo GPS, “foi depois enviado um comunicado a referir que devolviam a verba das matrículas”, conta. Os pais vêem-se a braços, nesta altura, com a dificuldade de encontrar vagas para os alunos naquilo que é um problema grave para a maioria das famílias que não tiveram tempo para o fazer antes, tendo em conta “o impasse” criado pela diretora. A Câmara Municipal de Alenquer estará a tratar do assunto, mas algumas soluções, que passam por escolas em zonas mais periféricas do concelho, não estarão a agradar aos pais, já que a maioria dos alunos é das localidades do Carregado e Alenquer. A encarregada de educação desabafa – “Ninguém teria nada a apontar-lhe se ela a tempo e horas tivesse dito que queria mesmo desistir do negócio e passar a outro, mas preferiu não dizer nada, chegando ao ponto de colocar pessoas estranhas (atuais proprietários) sem dizer palavra aos funcionários de que estavam ali os novos donos”. Publicidade ao Colégio em outdoors já com o negócio fechado com o grupo GPS O caso ganha contornos ainda mais estranhos, porquanto, recentemente o Colégio “Os Cartaxinhos” anunciou em outdoors, nomeadamente, junto à entrada norte da vila de Azambuja, a oferta das suas valências, como se a realidade não tivesse sido alterada minimamente. (Num dos grupos de discussão do facebook dedicados aos temas do concelho, este facto da publicitação em outdoors quando tudo já estaria tratado com os novos donos é constatado). Para além de que “há mais de duas semanas, que a Escola Profissional do Ribatejo lançou flyers (ver imagem abaixo) a anunciar os cursos profissionais no local em causa”, garante a nossa fonte. Na página da internet da mesma escola também são visíveis as informações a dar conta das ofertas (ver imagem abaixo) no novo polo de Alenquer. Informação que não passou despercebida aos encarregados de educação que foram ultrapassados pelos acontecimentos face ao silêncio da principal responsável. Certo é que no mesmo hiato temporal, o colégio foi simultaneamente publicitado enquanto instituição de ensino profissional e de ensino básico sem que tenha havido ainda uma explicação por parte de Cristina Manso Pires. O Valor Local contactou a escola mas as chamadas vão para voice mail, a página de facebook do Colégio os Cartaxinhos já não existe, e enviado um email à diretora esta não respondeu. |
|
|
Fundador dos Cartaxinhos lamenta fim do projeto
Mário Cartaxo esteve na fundação do colégio. Apesar de ter estado à frente da instituição apenas durante cinco anos, esta é uma das obras de que mais se orgulha. Devido a diferentes vicissitudes vendeu a escola há 16 anos a Cristina Manso Pires, mas ainda recorda que do seu tempo pouco foi mantido, nomeadamente, o serviço de transporte gratuito aos alunos, que deixou de existir. “O colégio começou com 30 crianças, foi ganhando fama, e bom nome, começando a receber cada vez mais alunos, que vinham não só do concelho como de Azambuja, Vila Franca de Xira entre outras localidades vizinhas”, recorda. O empresário do ramo da construção civil lamenta, por isso, ao nosso jornal, o fim do colégio e do papel que teve na educação de várias crianças que por ali foram passando. O empresário conta que muitas vezes “foi apoiando o colégio em pequenas obras, sempre que solicitadas, mesmo depois de ter vendido o estabelecimento”. “Como é evidente não fico nada satisfeito por esta obra para as crianças ter acabado, porque faz muita falta ao concelho”. “E agora onde é que os pais vão pôr aquelas crianças já com as inscrições feitas”, interroga-se, lamentando– “Como é que aquela gente se aventura a encerrar um estabelecimento desta envergadura com tantas crianças inscritas, e com responsabilidades? O Ministério Público terá que tomar conta do assunto, porque há meninos que podem perder o ano por não terem colocação. Para onde vão essas crianças cujos pais estavam habituados àquela escola, trabalhando em Lisboa e tendo ali as suas crianças de forma descansada?”. PUB
Neste processo de transição da sua gestão para a de Cristina Manso Pires lamenta ainda que não se tenha cuidado do património arquitetónico do estabelecimento na parte exterior onde havia uma zona verde com lagos "que eles deixaram secar". “Foi tudo programado ao pormenor”. A sua paixão pelo projeto não foi idêntica à dos proprietários que se seguiram – “Não precisavam daquilo para a vida deles, mas para andarem entretidos, nunca tiveram jeito para aquilo”.
Recorde-se que o Valor Local já na edição de maio tentou o contacto com Cristina Manso Pires mas infrutiferamente. Ao longo desta segunda-feira voltámos a tentar o contacto mas sem sucesso novamente. |
NOTÍCIAS MAIS LIDAS Atropelamentos na Nacional 1 no Carregado estão a causar preocupação Azambuja: Sonae consegue suspensão do PDM mas não garante abertura de supermercado no concelho Jovem de Azambuja que ajudou milhares de refugiados enfrenta justiça italiana Hospital de Vila Franca de Xira vai atribuir bolsas de estudo a estudantes do ensino superior da região |
Comentários
Seja o primeiro a comentar...
Nota: O Valor Local não guarda nem cede a terceiros os dados constantes no formulário. Os mesmos são exibidos na respetiva página. Caso não aceite esta premissa contacte-nos para redacao@valorlocal.pt