Como comer de forma saudável em tempos de inflação
O nutricionista José Santo Amaro deixa um conjunto de conselhos
|30 Mar 2023 09:35
Sílvia Agostinho Em tempo de inflação galopante a interrogação de muitos passa pela questão sobre como praticar uma alimentação saudável e equilibrada com os preços dos bens essenciais a dispararem para valores impensáveis há uns tempos. A carne, o peixe, os vegetais passaram de bens de primeira necessidade a produtos quase luxuosos. O Valor Local falou com o nutricionista José Santo Amaro, do Hospital de Santarém, que fornece um conjunto de conselhos na hora de se optar por determinados produtos e não outros, tendo em conta a carteira, mas também a saúde.
Na hora de fazer as melhores opções e não cair em determinadas tentações quando se vai ao supermercado, José Santo Amaro realça que é com facilidade que as pessoas fazem determinadas escolhas a nível dos produtos que não são básicos “e nos quais gastam muito dinheiro”, mas que são desnecessários, pois acrescentam pouco do ponto de vista nutricional. “São produtos que quando não estamos em recessão económica, todos compramos, sem olhar propriamente à carteira”. E nesta gama há um sem número de opções de produtos secundários, não essenciais do ponto de vista da alimentação, com os doces à cabeça. O profissional encara o consumo de carne e peixe como essenciais, mas do seu ponto de vista, aqueles dois alimentos são consumidos de forma exagerada nos dias que correm. A dose recomendada “é muito abaixo daquilo que em média as pessoas pensam que precisam do ponto de vista energético”. Logo aí, explicita, que “podemos fazer uma escolha acertada do ponto de vista financeiro e de saúde e reduzir as quantidades”. Algo que pode parecer muito difícil para muitos. Mas como fazer essa ginástica alimentar quando a maioria das pessoas sempre que ingere peixe às refeições queixa-se de ter fome passado pouco tempo? Foi a questão que deixámos ao nutricionista que aqui traz à baila o conceito de fome emocional, “diferente da fome biológica que só acontece quando estamos há várias horas sem comer”. Não há que enganar, a quantidade “dita satisfatória porque a necessária é mais baixa ainda” para um adulto saudável é de “100 gramas de peixe ou 100 gramas de carne às refeições”. O nutricionista aconselha a que se olhe para a roda dos alimentos onde estão patentes os alimentos que devem constar da nossa dieta, sendo este “um identificador muito intuitivo daquilo que devemos consumir e quais as frações necessárias”, alertando ainda para o facto de não se dever cortar da alimentação, como “agora é moda”, o arroz, o pão, as batatas, as massas e os tubérculos, e por consequência aumentar o consumo de “proteína que quando em excesso pode ser prejudicial”. O consumo de sopa é um dos conselhos do nutricionista pois para além de ser rica nutricionalmente pode tornar-se algo em conta do ponto de vista da carteira, já que dá para alimentar uma família mais do que uma vez, regra geral. Se se juntar leguminosas, arroz ou massa, confecionando-se assim uma dita “sopa portuguesa”, consegue-se juntar “vários alimentos da roda e ficamos saciados”. Referindo-se à moda das refeições prontas a comer, incluindo-se aqui também as vegetarianas cujo crescimento se acentuou nos últimos anos, José Santo Amaro evidencia que, também neste último caso, para além de poderem ser mais caras, não acrescentam muito. Evidencia que os alimentos “devem ser cozinhados de raiz, de forma natural”, pelo que as alternativas de consumo que encontramos nos supermercados acabam por não ser uma mais-valia. No fundo os fabricantes dessas refeições congeladas “tentam colocar nessas preparações substâncias que podem tornar o consumo de determinado produto viciante porque a experiência de sabor é mais intensa”, alerta, evidenciando que este “é um problema sério da indústria alimentar”. “O processamento dos alimentos na evolução do homem é recente, mas apresenta desvantagens nutricionais e económicas, e como tal esses produtos devem ser por isso encarados como de segunda escolha”. Outra preocupação acrescida prende-se com o consumo de comida com um residual valor nutricional mas com elevado grau calórico entre as faixas mais jovens da população, em que por circunstâncias sociais, “uns acabam por querer imitar os outros”. Junta-se a isso uma máquina de marketing “muito poderosa” que faz disparar as idas a cadeias a fast food, e estamos perante “um sério problema de saúde pública nos tempos mais próximos com consequências imprevisíveis”. O nutricionista aconselha ainda os consumidores a não entrarem em algumas das secções dos supermercados de forma a não caírem em tentação, e dá o exemplo – “É preferível comprarem o pão nas padarias e não nos supermercados que hoje são autênticas pastelarias. O corredor dos cereais também deve ser evitado, porque para além de caros são dispensáveis nutricionalmente. Não há vantagem nenhuma em relação ao pão que é mais barato. Mais vale comer uma fatia ao pequeno-almoço do que um prato daquele produto que é sempre processado”, esclarece. O facto de muitas vezes determinadas marcas de cereais apresentarem os seus produtos como suplementados com ferro ou magnésio, por exemplo, “tal não passa de uma técnica de marketing”. No caso dos ditos cereais integrais “não são completamente prejudiciais, mas não têm vantagens, porque são comercializados com parte significativa da casca, da qual não precisamos. Podem ser consumidos desde que não numa base regular, porque podem bloquear alguns nutrientes importantes para a saúde”. Outra má opção prende-se com o consumo de bolachas travestidas com alegações “supostamente benéficas para o organismo que são para desconsiderar”. Um exemplo disso mesmo são as bolachas ditas digestivas ou as que alegam ser ricas em fibras ou outro tipo de vantagens para a saúde. “Essa publicidade nem deveria ser permitida”. Uma das novidades no mercado prende-se com o aparecimento de massas integrais, sobretudo tendo em conta a nova vaga com sabores de lentilhas, ervilhas ou cereais. Podendo ser encarado como um produto mais saudável, em comparação com as massas tradicionais, e do qual alguns consumidores poderão não querer abdicar, pese embora o seu preço mais elevado, por supostamente trazer algum tipo de benefício para a saúde, também neste ponto José Santo Amaro desmistifica – “Continuamos a falar de mais uma técnica de venda”. Já os suplementos alimentares que temos à venda nos mais diferentes espaços, e o aparecimento de nomes de um dia para o outro que entraram na rotina de muitos portugueses, como o mangostão, a spirulina, o colagénio, ou o calcitrim, entre muitos outros, elucida que são desnecessários, dado “que não devem ser utilizados salvo indicação médica, normalmente, para quem pratica desportos de alta competição, porque para o cidadão comum não se justificam e podem até ser prejudiciais, sobretudo para as pessoas com mais de 40 anos que já fazem algum tipo de medicação diária, que devem ter muito cuidado com esses suplementos”. Comentários Bom artigo. Precisam-se mais conselhos úteis, como este é a desmistificarão de certas modas alimentares. Parabéns ao Dr. Santo Amaro, por ter colocado a sua vasta experiência à disposição de taoos nós. Eu sou um “bom mau exemplo”. Só como pão sem glúten, mas depois antes de deitar embarco meia tablet de chocolate. Nem sei se isto deve aqui constar. Mas já li tantas versões , que por vezes ficamos todos baralhados. Abraço Edgar Gouveia 31/03/2023, 02:16 |
|
Leia também
20 anos de Euro, a moeda do
|
O país está a acusar gravemente a falta de água e os dias de tempo seco. Vários setores estão a ser afetados, com a agricultura à cabeça. Ouvimos vários agricultores da nossa região
|
Desde que estourou a guerra na Ucrânia que mais de dois milhões de cidadãos daquele país estão a fugir rumo aos países que fazem fronteira. Em março foram muitos os que rumaram a Portugal e Vale do Paraíso no concelho de Azambuja foi um dos destinos
|
Vertical Divider
|
Notícias Mais Populares
Motorista abandona pesado no acesso à Vala Real Mercadona chega a Vila Franca em 2023 Novos pavilhões da Sonae fazem aumentar o caos na Nacional 3 O desafio da Mobilidade: Porque é que continuamos a usar o automóvel para ir trabalhar? Hospital de Vila Franca com nove novos médicos |