A entrada de
qualquer idoso numa instituição destinada a acolhê-lo no ocaso da vida muito
raramente é motivo de grande satisfação. A simples pronúncia da palavra “lar” é
quase sempre encarada com um sentimento de desolação por parte das pessoas mais
velhas. Uma vez institucionalizados, apenas se espera que possam passar os
últimos tempos de vida com o máximo de qualidade possível. Ora no entendimento
de Helena Gonçalves, de Azambuja, que fez chegar o seu caso à redacção do Valor
Local, esta tarefa não está a ser assegurada devidamente pelos serviços do Lar
da Santa Casa da Misericórdia de Azambuja. A seu cargo, a instituição tem a mãe
de Helena, uma senhora que completou há poucas semanas 79 anos de idade.
Na origem do seu descontentamento, entre outras questões, está o facto de considerar que os idosos permanecem “demasiado tempo sozinhos na sala de convívio”. “Já me tenho queixado e outras pessoas que visitam os respectivos familiares também lamentam o caso. Não vejo um gesto de carinho para com os idosos, por parte de algumas, não todas as funcionárias”. Refere ainda que apenas vê as vigilantes “à hora do lanche, e, na maioria das vezes, os idosos cheiram mal, porque permanecem com as fraldas por mudar durante demasiado tempo.” E estabelece um paralelo com a sua profissão pois também trabalha numa instituição: “Sendo eu Educadora de Infância numa IPSS, há já 21 anos, impensável para mim, tanto pessoal como profissionalmente, ter uma criança com a fralda suja de cocó e só a mudar à hora do almoço, da sesta, ou do lanche”.
Helena Gonçalves relata um episódio concreto que também referiu numa carta enviada ao presidente da União das Misericórdias Manuel Lemos, à qual o Valor Local teve acesso – “Hoje dia 1 de Março de 2014, quando cheguei para a visita, deparo-me com a dita sala quase vazia, apenas 14 idosos, o único som que existia era o da TV, num daqueles programas de sábado à tarde. Percebo que a minha mãe está mal sentada, num dos sofás de pele, que muitas vezes têm um cheiro intenso a urina e onde, jamais sou capaz de me sentar! Tento, sozinha, levantá-la para que se posicione melhor e alivie o seu desconforto. Claro que, sendo a minha mãe uma doente incapacitada a 100 por cento e com peso a mais, não conseguiu mexer-se quase nada nem alterar a posição, mas pensei que entretanto aparecesse alguém que me ajudasse!!! Claro que esperei em vão.”, descreve e sentencia: “A minha mãe está muito triste por estar ali”.
Estes problemas têm sido relatados pela mãe da utente desde há vários meses, aos responsáveis da santa casa, “que tentaram amenizar a questão, prometendo resoluções, mas sem grandes efeito. Possivelmente, houve melhorias durante uma semana, depois voltou tudo à estaca zero”.
Contactada a Santa Casa da Misericórdia pelo Valor Local, fomos recebidos pelo provedor Sebastião Bexiga, o vice-provedor João Lourenço, e o secretário Carlos Pereira.
O provedor referiu que “a Santa Casa de Azambuja face às condições que apresenta, e ao facto de receber utentes com algum elevado grau de dependência, pauta-se por critérios de dignidade, o que não invalida que numa ou noutra situação esporádica possa acontecer alguma situação pontual menos boa”; como as relatadas por Helena Gonçalves. “Pode dar-se o caso de as funcionárias estarem a fazer outros serviços e não poderem acorrer de imediato a um desses casos de mau cheiro”, atalhou João Lourenço. O provedor nega que haja “negligência” na instituição que alberga 49 pessoas, existindo cerca de 30 funcionários.
O provedor também não compreende a razão por que é dito que as funcionárias não prestam acompanhamento aos idosos, que chegam, nas palavras de Helena Gonçalves, a permanecerem várias horas sozinhos na sala de convívio. “As pessoas não podem estar permanentemente ao pé de determinado idoso. Temos procurado resolver essa circunstância com a admissão de voluntários que possam fazer um pouco desse trabalho; de companhia”. O responsável diz que na base da incapacidade de contratar mais recursos reside a circunstância de muitos dos idosos não pagarem o valor de referência das mensalidades, embora reconheça que a utente familiar de Helena Gonçalves pague o valor de referência.
Os responsáveis não se revêm de todo nas críticas e mostraram à nossa reportagem uma mensagem de agradecimento de um familiar inserida no boletim informativo da instituição, bem como uma mensagem de facebook de Helena Gonçalves um pouco mais simpática para com a instituição, no dia 8 de Março, dia em que o lar conheceu algumas actividades com um grupo de escuteiros, e, coincidência ou não, sem os ditos problemas do costume.
“Procuramos estar atentos a todos os problemas, esta direcção acompanha todos os dias o quotidiano da nossa instituição. Salvo algum imprevisto que admito que possa acontecer, tratamos os idosos com dignidade. Fiscalizamos as diferentes unidades do lar, e não merecíamos este tipo de críticas. Pugnamos pelo bem-estar e pela melhoria dos serviços, prova disso é que vamos fazer obras e ampliar o nosso lar”, consubstanciou o provedor.
Sílvia Agostinho
25-03-2014
Na origem do seu descontentamento, entre outras questões, está o facto de considerar que os idosos permanecem “demasiado tempo sozinhos na sala de convívio”. “Já me tenho queixado e outras pessoas que visitam os respectivos familiares também lamentam o caso. Não vejo um gesto de carinho para com os idosos, por parte de algumas, não todas as funcionárias”. Refere ainda que apenas vê as vigilantes “à hora do lanche, e, na maioria das vezes, os idosos cheiram mal, porque permanecem com as fraldas por mudar durante demasiado tempo.” E estabelece um paralelo com a sua profissão pois também trabalha numa instituição: “Sendo eu Educadora de Infância numa IPSS, há já 21 anos, impensável para mim, tanto pessoal como profissionalmente, ter uma criança com a fralda suja de cocó e só a mudar à hora do almoço, da sesta, ou do lanche”.
Helena Gonçalves relata um episódio concreto que também referiu numa carta enviada ao presidente da União das Misericórdias Manuel Lemos, à qual o Valor Local teve acesso – “Hoje dia 1 de Março de 2014, quando cheguei para a visita, deparo-me com a dita sala quase vazia, apenas 14 idosos, o único som que existia era o da TV, num daqueles programas de sábado à tarde. Percebo que a minha mãe está mal sentada, num dos sofás de pele, que muitas vezes têm um cheiro intenso a urina e onde, jamais sou capaz de me sentar! Tento, sozinha, levantá-la para que se posicione melhor e alivie o seu desconforto. Claro que, sendo a minha mãe uma doente incapacitada a 100 por cento e com peso a mais, não conseguiu mexer-se quase nada nem alterar a posição, mas pensei que entretanto aparecesse alguém que me ajudasse!!! Claro que esperei em vão.”, descreve e sentencia: “A minha mãe está muito triste por estar ali”.
Estes problemas têm sido relatados pela mãe da utente desde há vários meses, aos responsáveis da santa casa, “que tentaram amenizar a questão, prometendo resoluções, mas sem grandes efeito. Possivelmente, houve melhorias durante uma semana, depois voltou tudo à estaca zero”.
Contactada a Santa Casa da Misericórdia pelo Valor Local, fomos recebidos pelo provedor Sebastião Bexiga, o vice-provedor João Lourenço, e o secretário Carlos Pereira.
O provedor referiu que “a Santa Casa de Azambuja face às condições que apresenta, e ao facto de receber utentes com algum elevado grau de dependência, pauta-se por critérios de dignidade, o que não invalida que numa ou noutra situação esporádica possa acontecer alguma situação pontual menos boa”; como as relatadas por Helena Gonçalves. “Pode dar-se o caso de as funcionárias estarem a fazer outros serviços e não poderem acorrer de imediato a um desses casos de mau cheiro”, atalhou João Lourenço. O provedor nega que haja “negligência” na instituição que alberga 49 pessoas, existindo cerca de 30 funcionários.
O provedor também não compreende a razão por que é dito que as funcionárias não prestam acompanhamento aos idosos, que chegam, nas palavras de Helena Gonçalves, a permanecerem várias horas sozinhos na sala de convívio. “As pessoas não podem estar permanentemente ao pé de determinado idoso. Temos procurado resolver essa circunstância com a admissão de voluntários que possam fazer um pouco desse trabalho; de companhia”. O responsável diz que na base da incapacidade de contratar mais recursos reside a circunstância de muitos dos idosos não pagarem o valor de referência das mensalidades, embora reconheça que a utente familiar de Helena Gonçalves pague o valor de referência.
Os responsáveis não se revêm de todo nas críticas e mostraram à nossa reportagem uma mensagem de agradecimento de um familiar inserida no boletim informativo da instituição, bem como uma mensagem de facebook de Helena Gonçalves um pouco mais simpática para com a instituição, no dia 8 de Março, dia em que o lar conheceu algumas actividades com um grupo de escuteiros, e, coincidência ou não, sem os ditos problemas do costume.
“Procuramos estar atentos a todos os problemas, esta direcção acompanha todos os dias o quotidiano da nossa instituição. Salvo algum imprevisto que admito que possa acontecer, tratamos os idosos com dignidade. Fiscalizamos as diferentes unidades do lar, e não merecíamos este tipo de críticas. Pugnamos pelo bem-estar e pela melhoria dos serviços, prova disso é que vamos fazer obras e ampliar o nosso lar”, consubstanciou o provedor.
Sílvia Agostinho
25-03-2014