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A Guerra do Glifosato
O combate às alterações climáticas
coloca o acento tónico no fim da luta química 
e do uso de herbicidas.
Apresentamos o ponto de vista de
autarquias, agricultores,
engenheiros agrícolas e ambientalistas
​sobre o amanhã do planeta
Sílvia Agostinho
05-07-2019 às 16:37

É uma das questões na ordem do dia, o abandono ou não da utilização do glifosato no controle das ervas daninhas. A União Europeia decidiu, este ano, prolongar a autorização do herbicida até 2022. Os estudos quanto ao facto de ser cancerígeno continuam a ser para todos os gostos. A polémica estalou quando os estudos utilizados pela União Europeia tiveram como base os da Monsanto, um dos gigantes do setor dos pesticidas. Na região ouvimos autarcas que apesar da consciência ambiental pesam prós e contras no caso de um abandono destes químicos. Na agricultura, a luta química ainda tem um longo caminho a percorrer na opinião dos especialistas.


Para a ambientalista da Quercus, Alexandra Azevedo, a diretiva da União Europeia vem deitar por terra uma série de esforços no sentido da erradicação deste herbicida, como o que foi conseguido em 2017 com a proibição da aplicação deste fitofarmacêutico em áreas urbanas no nosso país. Mas salienta que se pode ir ainda mais longe, como na agricultura, dado que a lei 26 de 2013 é clara: “A aplicação destes produtos só pode ser feita em último caso, e não é isso que acontece”.

A ambientalista salienta o uso abusivo de fitofarmacêuticos ao longo de bermas e taludes ao longo do ano, uma posição que esbarra com a de alguns autarcas ouvidos nesta reportagem sempre que a questão é a segurança rodoviárias dos automobilistas, e onde o corte de vegetação mecânico não consegue ter resultados suficientemente duradouros ao contrário do que acontece com os herbicidas.

A lei prevê a proibição da aplicação de produtos fitofarmacêuticos desde 2017 junto a escolas, hospitais, parques urbanos, e jardins, o que no seu entender “já foi um bom avanço”. Contudo ainda se permite a sua aplicação a nível de “alguns espaços sem os mínimos cuidados, com as pessoas a circularem nas imediações, por vezes com carrinhos de bebés, e sem fatos de proteção individual por parte de quem está a manipular esses produtos”. Esta realidade aconteceu até há pouco tempo em Arruda dos Vinhos, e incendiou as redes sociais, quando uma empresa contratada pelo município recorreu a doses desproporcionadas de glifosato sem ter em atenção as boas práticas. “Mas este não é caso único, acontece um pouco por toda a parte”. “Vamos ter de fazer algo porque as notícias a alertar para a consciencialização ambiental estão por toda a parte. É curioso que quando se abandonam os herbicidas, o solo consegue logo fixar carbono e isso é urgentíssimo perante a demanda climática que estamos a viver”.


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​Coopquer dá benefício da dúvida à União Europeia e evidencia que agricultura sem herbicidas não dá para alimentar a população mundial
 
João Carreira, engenheiro da Cooperativa Agrícola de Alenquer –Coopquer, uma das entidades da região certificada para dar formação na área dos produtos fitofarmacêuticos, dá o benefício da dúvida ao glifosato, tendo em conta que “é aprovado pela União Europeia como seguro” para os diferentes usos no domínio agrícola e controle das daninhas. “Até provas em contrário os agricultores devem utilizar, embora tenha havido uma grande polémica em que se dizia que os estudos tinham sido comprados”. Por outro lado, “temos de ter presente que a zona da União Europeia é a mais segura mundialmente”.

​Quando o que está em causa é a alimentação da população mundial, que não para de crescer, e sempre que se fala em agricultura biológica, o engenheiro João Carreira refere que se a opção for esta, “então para se produzir a mesma quantidade de alimentos vamos ter de usar uma quantidade de área de terreno muito maior”, ou seja a lógica vai no sentido de se aumentar a pegada humana. É desajustado na opinião deste técnico a possibilidade de se enveredar por uma agricultura sem químicos – “Muitas vezes não se tem noção, mas 40 por cento das culturas a nível mundial são estragadas devido a pragas e doenças. Sem tratamentos então iríamos para valores ainda maiores”. “Não é possível vivermos apenas do que é biológico com a população mundial a aumentar porque isto não estica!”. A ambientalista da Quercus não vê a questão desta forma – “O passivo ambiental e químico que essa agricultura tem produzido nas últimas décadas é cada vez mais revelador. O Instituto Francês de Investigação Agrária considerou que os prejuízos dos herbicidas são superiores aos benefícios na agricultura em 30 por cento”.


Para o engenheiro da Coopquer, quando os herbicidas são usados de forma estratégica podem-se obter bons resultados, e salienta que a tecnologia já consegue produzir produtos que se destinam apenas a combater determinados tipos de praga sem afetar a biodiversidade existente, atendendo, assim, aos denominados auxiliares como os “insetos úteis” que ajudam a controlar as próprias pragas, quando antes “eram aplicados pesticidas que matavam tudo à volta”. É este o conceito de proteção integrada, em que os produtos também são aplicados em momentos-chave do aparecimento das pragas e não por antecipação. Por outro lado, não serão de escamotear os custos da agricultura biológica em que para se controlar a praga do bichado “colocam-se redes a toda à volta e isso tem um custo por hectare brutal”. “Para se fazer agricultura biológica tem de se gastar muito mais dinheiro!”, confessa João Carreira. Telma Camilo, engenheira agrícola, da mesma cooperativa destaca que o glifosato é o herbicida que acaba por ser “uma das poucas alternativas dos agricultores neste domínio do arranque das ervas daninhas pela raiz.”
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Engenheiros defendem a causa da sensibilização ambiental no uso do glifosato junto dos agricultores
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​Já Alexandra Azevedo (foto) é, naturalmente, uma apoiante desse tipo de barreiras naturais e dá conta de uma das mais recentes inovações da agricultura contra os químicos que consiste nas denominadas bordaduras de flores silvestres, método que permitiu, no caso, a um agricultor holandês “ ganhos com a redução de inseticidas”. “Outros colegas já lhe seguiram os passos, e esse é aliás um método que atrai espécies polinizadoras e auxiliares que retraem outras pragas”. Questionada sobre as reais possibilidades destes métodos para uma agricultura de grandes latifúndios, a ambientalista é da opinião de que facilmente poderão ser estendidas a qualquer tipo de culturas, em conjunto com outros métodos cada vez mais em voga como as sementeiras de prados ou as espécies fixadoras de azoto.
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O engenheiro agrícola coloca, por outro lado, o acento tónico numa discussão que não se está a fazer nesta altura – “A União Europeia é cada vez mais restritiva nos usos destes herbicidas e pesticidas, mas depois importamos produtos alimentares de outros países fora da Europa onde não há controle da mesma maneira”. João Carreira e Telma Camilo concordam com a Quercus, e sublinham que nos espaços verdes é de incentivar a utilização de outros meios que não os herbicidas, mas a tarefa será maior no que toca ao controle das ervas daninhas e outras pragas em meio agrícola, onde a monda térmica, que consiste no arranque das ervas através da queima pela raiz, não se afigura como um meio ao alcance da bolsa do agricultor médio ou pequeno agricultor. “No concelho de Alenquer já existe, com um grau elevado de satisfação, e com menos uso do glifosato, mas os custos da máquina são muito elevados. Trata-se de uma alfaia que custa seis mil euros”. O engenheiro lembra, neste domínio da proibição ou não do uso do glifosato, a erradicação do herbicida gramoxone, em 2011, pela União Europeia, por evidentes prejuízos para a saúde – “Também nessa altura os agricultores tiveram de se adaptar. Se for o caso no glifosato, que assim seja, e que se prove de facto, mas mais uma vez coloco a questão nos produtos importados dos países não europeus”.

Formações em produtos fitofarmacêuticos colocam agricultores a debater a problemática dos químicos
 
Aos agricultores, mesmo os que possuem apenas pequenas produções de cariz mais doméstico, é exigida formação em produtos fitofarmacêuticos resultante da lei 26 de 2013 que regulamenta, entre outros aspetos, o acesso à compra dos herbicidas. No final da formação a Direção Geral de Agricultura atribui um cartão que é mostrado pelo agricultor nos estabelecimentos sempre que queira comprar os ditos produtos fitofarmacêuticos.
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Nestas formações adquirem competências quanto às doses corretas na manipulação dos produtos. Grande parte dos formandos são agricultores ainda no início da sua atividade. Neste curso são dadas ainda noções de proteção integrada, de agricultura biológica, manuseamento dos equipamentos e de material de proteção.

Embora seja formadora na área da aplicação dos produtos fitofarmacêuticos, Paula Araújo, engenheira agrónoma e formadora, que no dia da nossa reportagem, na junta de freguesia de Santana da Carnota, Alenquer, dava mais uma aula nesta matéria aos agricultores a frequentar esta formação no âmbito da Coopquer, refere que o caminho terá de ser o da cada vez menor utilização de químicos, e diz mesmo que isso até pode ser possível “basta haver vontade da indústria”, mas ressalva que não acredita nos extremos- nem na passagem pura e dura para uma agricultura totalmente biológica, nem o seu contrário. Salienta, assim, algumas incompatibilidades – “Faz-se publicidade à ingestão de cada vez mais produtos ditos como saudáveis, como o leite de soja, mas é impossível não se recorrer a produtos fitofarmacêuticos no seu cultivo”. Por outro lado, a “luta química está na ordem do dia”, evidencia no sentido de que neste momento é “complicado” ter o melhor dos dois mundos.

Mas este é também um mundo cheio de outras contradições como “quando vou ao supermercado e compro um produto bio, porque estou a fazer bem ao ambiente, mas depois esse produto vem do outro lado do mundo, com uma pegada ecológica muito maior”.  “No fundo o que temos é uma maneira de cada um arranjar o seu conforto, mas sem coerência”, consubstancia. “Seríamos coerentes nesta questão se consumíssemos o mais próximo possível de casa, com aplicação responsável de produtos fitofarmacêuticos, e no fundo isso sim seria mais realista”, salienta para destacar que a agricultura biológica é bastante exigente, e corre a ideia errada de que qualquer um a pode praticar. Quanto a estas aulas, Telma Camilo lembra que antes da lei que obriga à frequência desta formação - “conhecia casos de agricultores que mexiam a calda de produto com as mãos”. “Trata-se de uma forma de os agricultores também trocarem experiências, falarem uns com os outros e ganharem outra consciência”, acrescenta.

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Luís Lopes é um dos frequentadores da formação em Santana da Carnota. A sua atividade profissional é outra mas o facto de ter herdado uns olivais do sogro em Tomar, fez com que tivesse de vir conhecer esta realidade dos produtos fitofarmacêuticos. “Neste contexto desta formação tem existido muito debate entre nós agricultores que estão agora a começar e temos consciência desta necessidade de protegermos o ambiente, para que os nossos filhos continuem a disfrutar do planeta como nós até aqui temos feito. Estou de acordo com a senhora engenheira, porque por um lado os fitofarmacêuticos devem ser reduzidos ao essencial, mas não vamos poder acabar de um dia para o outro com eles, por outro, a agricultura biológica não pode entrar de rompante sem que as mentalidades façam esse caminho da mudança.”, refere este agricultor de Sobral de Monte Agraço. Por outro lado, “temos colegas aqui que praticam agricultura biológica e depois são obrigados a vender os produtos embalados em plástico”, aponta a contradição. 
 Municípios querem fazer parte da mudança mas salientam custos elevados 

A aplicação de fitofarmacêuticos, recentemente, no concelho de Arruda numa ação considerada como desarticulada e desproporcionada deu o mote para uma necessidade de mudança do estado de coisas, que levou mesmo um grupo de munícipes a uma das últimas reuniões de Câmara para demonstrar o seu desagrado face à pulverização desenfreada que teve lugar em diversos espaços verdes da vila de Arruda por um privado contratado pela Câmara. O grupo exigiu medidas junto do presidente da Câmara, André Rijo, que concordou com o facto de não ter sido observado um conjunto de boas práticas por parte da empresa. Neste momento, a autarquia tem estado a articular com a Quercus o futuro em termos ambientais na redução da aplicação de químicos e vai adquirir uma máquina de monda térmica cujo valor ronda os 20 mil euros.
Mário Carvalho, vereador com o pelouro do Ambiente, dá conta da necessidade de uma mudança de paradigma neste município que não será fácil, e que passará pela não aplicação de glifosatos no futuro. O equipamento de monda térmica vai estar destinado aos espaços verdes, passeios, e zona mais antiga da vila. Atualmente, a Câmara usa meios mecânicos na limpeza de caminhos e no meio urbano contudo são insuficientes, tendo que optar por vezes pelo recurso a glifosato, que espera não ser necessário no futuro tendo em conta a nova máquina em causa.

A nível ambiental a autarquia está também a ponderar ações de sensibilização junto de agricultores nas diversas freguesias, mas também uma adequação deste género de conteúdos em escolas, e alertar no fundo a população para a causa do ambiente, incentivando-a a manter o espaço público limpo.

“Temos tido a preocupação de nos concentrarmos sobretudo na monda mecânica nos últimos anos, mas não se mostrando suficiente, fazemos então a aplicação do herbicida uma vez por ano em zonas de maior crescimento”.

O vereador não esconde que não será fácil articular a questão no futuro porque também está em causa “ a segurança rodoviária”, com “caminhos rurais, estreitos e a necessidade das bermas limpas”.

Num inquérito junto dos municípios em 2016 feito pelo Bloco de Esquerda acerca do consumo de glifosatos, Arruda dos Vinhos apresentava 600 litros para o ano anterior de 2015. Um consumo idêntico ao do município de Alenquer mas com uma área consideravelmente menor. Este ano, foram adquiridos 200 litros e consumidos 100 até à data.
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Já o município de Azambuja indica que o glifosato é adquirido na sua componente de sal de isopropilamónio, de que é exemplo o famoso Rondup, o mais vendido em todo o mundo, que revolucionou a agricultura há décadas na eliminação das daninhas. Em 2017 foram utilizados 15 litros na área dos cemitérios. Em 2018 foram utilizados 50 litros (25 nos cemitérios e 25 em passeios de jardins). A aplicação é feita por funcionários da Câmara que possuem formação adequada para aplicar fitofármacos. 
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O parque biológico onde todos os anos acontece uma iniciativa com as escolas será um dos locais intervencionados
A autarquia refere que tenta recorrer o menos possível aos herbicidas dando preferência ao corte mecânico das infestantes, “mas nem sempre é possível dada a sua resistência, o que leva a ter de recorrer ao uso de herbicidas”. O vereador com o pelouro do ambiente, Silvino Lúcio, ilustra que as atuais condições meteorológicas que Portugal está a atravessar com chuva e humidade em plena época estival estão a levar, por exemplo, “a um crescimento explosivo da vegetação nesta altura do ano”, como no parque ambiental em Aveiras de Baixo, e onde houve corte mecânico recentemente. O município adquire um dos produtos de nova geração no que respeita ao glifosato, mas de menor concentração, a denominada marca “Píton Verde”. Será aplicado este produto na zona das canas no parque ambiental, em duas aplicações, com o objetivo da sua erradicação. Quanto à monda térmica ou mecânica, a Câmara também teria de investir em recursos humanos. “Atualmente só temos três senhoras na higiene e limpeza da Câmara e estamos a abrir concurso para mais oito”, ilustra para demonstrar as ineficiências deste setor na autarquia. “Por um lado temos cada vez mais dificuldade nesta guerra contra os infestantes como as silvas, as daninhas, as canas, por outro o que existe são meios mecânicos nem sempre totalmente eficazes, ou meios químicos que alegam não fazer mal ao ambiente, mas para isso tudo é preciso uma carteira bem recheada que não há”.

Na área das juntas de freguesia, a aplicação é executada por aquelas autarquias. A título de exemplo e na União de Freguesias de Manique do Intendente, Maçussa e Vila Nova de São Pedro, uma das que possui maior área na região, e a maior do concelho, o presidente daquela autarquia predominantemente rural não esconde que por ano deverá utilizar 200 litros de glifosato também da marca “Píton Verde”, tendo em conta que “apresenta uma fórmula mais diluída”, acredita. O autarca refere que em determinados locais “não se consegue travar a luta das canas e das ervas só com recurso aos meios mecânicos”, e ilustra:“Quem até 31 de maio tinha aquela obrigação de fazer a limpeza dos terrenos,  neste momento e com este estado do tempo voltou à estaca zero”.
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Para combater as ervas infestantes, o município do Cartaxo recorreu, nos últimos dois anos,  à aplicação de 37 litros de um produto fitofarmacêutico cuja composição apresenta cerca de 250g/litro de glifosato (sal de isopropilamónio) e 40g/litro de diflufenicão. Assim, a quantidade de glifosato utilizado, nos dois anos, foi de cerca de nove litros. É desta forma que a autarquia apresenta as suas contas para os usos do glifosato. (Em 2016 o Cartaxo dava conta do consumo de 20 litros). No caso deste município, é contratada uma empresa externa certificada para proceder às aplicações.

De acordo com a autarquia, “continua a ser intenção do município eliminar a utilização destes produtos”, e para isso refere que no ano de 2018 e no corrente ano, foram efetuadas roças mecânicas e arranques manuais numa área de 90 mil m2, numa área superior em cerca de 40 mil m2 do que a tratada com produtos fitofarmacêuticos. O município garante ainda que utiliza herbicidas sistémicos e residuais, que permitem reduzir “o número de aplicações, com os resultantes benefícios em termos económicos, ambientais e de prevenção de incêndios.”

No concelho de Salvaterra de Magos, é dito pelo município que nos últimos anos têm sido aplicados herbicidas como o sheik e o dessicash, sem glifosato. Contudo não nos é referido da sua efetividade em comparação com o glifosato. As aplicações são, em regra, realizadas pelos funcionários da Câmara Municipal, que estão certificados e com formação de aplicadores. Quanto a alternativas aos herbicidas, o município, às nossas questões, diz que é preciso permitir que “o conhecimento técnico-científico evolua e disponibilize no mercado, a preços adequados e com eficácia comprovada, soluções que possam garantir a substituição daqueles”. Em 2015, aquele município aplicava 440 litros de glifosato, mas a Câmara assegura que abandonou o seu uso.

Em Vila Franca de Xira, é confirmado por Alberto Mesquita, presidente da Câmara, que nos últimos anos, se abandonou o uso do glifosato em espaços públicos. No levantamento de 2015, este concelho apresentava um consumo de 30 litros do produto em causa. Nesta altura, o município privilegia o recurso à monda mecânica, sendo que não vê na monda térmica uma solução pois “já se provou que não tem resultados efetivos no combate às infestantes”. Está em análise, por parte do município, o recurso a outros fitofármacos à base de ácido pelargónico, uma substância que se encontra validada pela Direção Geral de Agricultura e Veterinária.

No município de Benavente, a Câmara foi fortemente criticada por ter recorrido a aplicação de produtos fitofarmacêuticos em espaço público de uma forma bastante proeminente, com o caso a ter grande amplitude nas redes sociais. Desde essa altura que o município, debaixo de fogo, tem procurado outros “meios alternativos”, refere à nossa reportagem, Carlos Coutinho, presidente da autarquia. Sendo assim, o município começou a utilizar os meios mecânicos, mas como não há bela sem senão, e face às condições climatéricas mais recentes – chuva aliada às temperaturas da época –tem-se proporcionado uma propagação da vegetação nos meios urbanos. A contas com a opinião pública que criticou o que foi levado a cabo no passado recente, a autarquia refere que, nesta altura, e usando apenas os meios mecânicos não se consegue ter o mesmo nível de sucesso – “É que passado algum tempo, não mais de duas ou três semanas, dá-se o regresso em força da vegetação”.


Carlos Coutinho desabafa – “Se por um lado não aplicamos os herbicidas como acontecia em anos anteriores e era assim que controlávamos a vegetação, nomeadamente, nos passeios  e noutras zonas, e essa ação prolongava-se no tempo, sendo suficiente para cinco a seis meses, conseguindo controlar as infestantes, neste momento não estamos a conseguir essa resposta, nem mesmo as empresas têm meios suficientes para esse trabalho. Naturalmente a Câmara Municipal está a procurar encontrar as soluções, que não são fáceis.”

Por tudo isto, e em face deste debate: “Estamos a tentar encontrar soluções. É algo que tem que estar na reflexão para o futuro próximo.” Em 2015, o município dava conta do consumo de 400 litros.

O concelho de Alenquer, um dos que apresenta maior área na região, e que em 2015 fez uso de 600 litros de glifosato, refere que passados, quatro anos, conseguiu diminuir os seus usos. Contudo, o município refere que a luta pelo abandono dos herbicidas tem diversas vicissitudes, até tendo em conta o aparecimento de infestantes cada vez mais resistentes como a Avoadinha (Conyza sp.), oriunda da América do Sul e que atualmente “prolifera nas nossas ruas e campos agrícolas”. “Existem ainda situações, onde a dose aplicada é insuficiente e a planta consegue recuperar, como sucede em espécies arbustivas e árvores”, diz o município garantindo que tem promovido sessões informativas com representantes de juntas de freguesia, onde a aplicação de produtos fitofarmacêuticos depende apenas da gestão daquelas autarquias.

Alexandra Azevedo da Quercus confirma que “o caso do concelho de Alenquer é sobretudo gritante a nível das juntas onde ainda está tudo por fazer”, embora reconheça que no caso da Câmara e no meio urbano “tenham sido diminuídos os usos do glifosato”. A autarquia também esclarece que outras soluções mais amigas do ambiente também implicarão mais custos do ponto de vista dos recursos humanos para aquela tarefa, o que de resto também foi sublinhado pela Câmara de Azambuja, (ver acima).

Quanto à monda térmica, esta também não é vista como uma solução totalmente eficaz. No inverno e primavera, tem resultados positivos, dado que as plantas “apresentam baixa lenhificação e elevado teor em água”. No verão, surgem espécies diferentes, nomeadamente a ‘avoadinha’, que “nasce logo muito dura, logo o processo é pouco eficiente”. Por outro lado, este recurso e tendo em conta as condições do concelho, implicaria “o trabalho diário de uma equipa de vários homens”, o que não se afigura como possível no entender deste município.

Contudo, a Câmara explicita que em zonas de grande concentração de pessoas como a urbanização da Barrada e na vila do Carregado, não foi aplicado em 2019, qualquer herbicida na sua globalidade, “o que nos obrigou a efetuar vários cortes até agora e provavelmente obrigar-nos-á a termos de efetuar novo corte durante o verão.”
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Em conclusão, refere a autarquia que “atendendo ao tamanho atual da área sob nossa responsabilidade, é neste momento impossível mudar o paradigma do controlo sem recorrer a herbicidas, nomeadamente aqueles que têm efeito residual.”
“Se decidirmos abolir a aplicação de herbicidas em meio urbano temos também de aprender a conviver e a ser mais tolerantes com as ervas que vão sempre germinar e crescer nas nossas ruas, especialmente tendo em conta o que vem acontecendo com as alterações climáticas que vimos sentido, e que alternam de forma frequente períodos de muito calor com períodos de muita chuva”, destaca a autarquia.
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Num zona de taludes foi implantado este projeto piloto da autarquia com a Quercus

​Junta de Arruda lança mão de programa experimental para reduzir glifosato


A autarquia é uma das que decidiu corresponder ao desafio da Quercus para um conjunto de experiências nos caminhos vicinais com o objetivo de eliminação da aplicação do glifosato. Fábio Morgado, presidente da junta, deu-nos a conhecer o que está a ser executado ainda que de forma experimental na “Estrada do Tintin” numa zona limítrofe da vila de Arruda. Foram plantadas numa pequena zona de taludes espécies como o chupa mel, roselhas, e as ditas ervas aromáticas, com o objetivo final de controle do crescimento das infestantes, e não ser necessária a aplicação de produtos fitofarmacêuticos.

Algumas espécies deram-se bem outras nem tanto, mas este projeto para já “ainda é um teste” num objetivo que estará muito no seu início. Em zonas estratégicas a autarquia colocará esta espécie de clareiras de espécies para que não haja grandes impedimentos à circulação de veículos naquelas estradas rurais, nomeadamente, em zonas de talude ou onde exista uma taxa muito elevada de crescimento de ervas daninhas.

 “Temos uma grande campanha de sensibilização pela frente pois não é compatível as pessoas quererem uma espécie de paisagem lunar ao pé de casa, sem ervas e vegetação, mas ao longe quererem ver verde e árvores”. O glifosato e a sua aplicação no concelho merece, neste momento, um arregaçar de mangas, pois há evidência de que particulares têm furos e bicas próprios contaminados. Estranharam quando perceberam que os legumes não cresciam derivado ao facto de a água para rega estar contaminada. A junta ainda usa glifosato, mas terá conseguido, nesta altura, reduzir para metade. 
 

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