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Estará a Tauromaquia em vias de extinção?
A opinião de autarcas, aficionados e dos que vivem a Festa Brava
​A posição do grupo "Santarém Sem Touradas - Pelos Animais" 
O Valor Local falou com personalidades e entidades de vários setores, a maioria aficionados, que se manifestam o seu apoio e a defesa intransigente dos espetáculos taurinos. No passado, dia 22 de novembro, decorreu em frente à Assembleia da República uma manifestação pelo mundo rural e pelo direito a gostar de corridas de touros. O acesso às praças de touros a menores de 16 anos pode vir a ser interditado, e o tema também está na ordem do dia. O nosso jornal contactou ainda movimentos antitaurinos. Chegámos à fala com o grupo "Santarém Sem Touradas- Pelos Animais" na procura de um trabalho equilibrado.
Sílvia Agostinho/Miguel António Rodrigues
04-11-2019 às 11:08
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​Francisco Oliveira, presidente da secção de municípios com atividade taurina da Associação Nacional de Municípios Portugueses, e presidente da Câmara de Coruche
“Tudo faremos para formar lobby em defesa da tauromaquia”

Para este autarca, o momento é de alguma atenção sobre o fenómeno antitaurino, mas salvaguarda que, e a julgar pelo concelho a que preside, a tradição tauromáquica está mais viva do que nunca, e com pessoas das várias faixas etárias a apreciarem este tipo de espetáculo. Francisco Oliveira confessa-se na expetativa quanto ao futuro da arte do ponto de vista da interdição a menores de 16 anos aos recintos onde se realizam as touradas. Diz que é preciso estar na posse de toda a informação. Para já, a ideia parece-lhe desajustada, e um perfeito disparate, nas suas palavras, até porque os menores de idade podem frequentar todo o tipo de espetáculos e atividades, e como tal a tauromaquia não deveria ser uma exceção. A tourada é uma componente cultural e patrimonial do país, e sendo assim os municípios com atividade taurina, muitos deles da mesma cor do partido que governa o país, estão atentos, e tudo farão, segundo Francisco Oliveira, para formar lobby em defesa da festa brava. Considera ser fundamental a arte do toureio e a passagem de testemunho para os mais jovens. Este tipo de leis pode fazer com que a médio/longo prazo a tauromaquia possa ser menos considerada pelos mais novos e isso é algo que deve ser combatido na sua opinião. Fazer valer os valores dos amantes da tauromaquia e dos efensores desta atividade no seu geral é importante para que “o mundo rural não seja votado a um isolamento social e cultural e a um desequilíbrio face ao do mundo litoral, menos taurino, que terá mais peso eleitoral, e que é representativo do florescimento destas tendências modernistas de condicionamento das touradas”, refere. Francisco Oliveira lembra que uma das propostas do Orçamento Participativo Nacional englobava uma candidatura que saiu vencedora que pretende levar por diante um estudo visando a elevação da tauromaquia a património cultural imaterial nacional. Por isso não faz sentido “este condicionamento”. Quanto ao diálogo com a ministra da Cultura, Graça Fonseca, que já se declarou antitaurina, refere que a secção nunca conversou com a titular, até à data, tendo em conta esta intenção legislativa, mas refere que ainda é cedo, mas se for caso disso aí será hora de se cerrar fileiras no mundo taurino.

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António José Matos, vereador da Cultura na Câmara Municipal de Azambuja
“Ninguém conta com a ministra da Cultura para nada”

No entender do autarca, os movimentos antitaurinos “não têm prejudicado absolutamente nada” a festa brava. O ataque cerrado que, na sua opinião, é feito pelos que são contra a tauromaquia “à nossa cultura e à nossa génese” apenas tem contribuído para uma união ainda maior entre os aficionados. “Por vezes é mais fácil unirmo-nos em nome de um inimigo comum do que outra coisa qualquer”, ilustra desta forma. Quanto ao que se perspetiva para o futuro, em termos de leis, é questão de “estarmos atentos”, porque o que importa a esses movimentos e partidos “é a criação de um hiato geracional” com essa possibilidade de interdição do acesso de menores de 16 anos aos espetáculos tauromáquicos. Para António José Matos, “nada do que está em cima da mesa é feito de forma ingénua, nem tem nada a ver com a violência do espetáculo, caso contrário ninguém podia ir ver jogos de futebol”. O município tem em curso um projeto de enquadramento da cultura tauromáquica como de interesse municipal, e diz não temer “ditaduras do gosto” que vão andando por aí. Já quanto à ministra antitouradas diz que não é problema porque “ninguém conta com ela para nada”. “A atividade taurina paga os seus impostos e portanto não tem nada que nos aponte, e não precisamos de ter mais conversas com ela”, refere. 
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 André Pereira, União de Tertúlias de Azambuja (UTA)
“A esquerda tem uma posição extremista sobre a tauromaquia”
Recentemente a UTA promoveu um debate acerca da viabilidade, desejada por alguns setores, de se acabar a tauromaquia por decreto, sendo que os jovens aficionados e todos os que se encontravam nessa sessão ficaram mais descansados – porque “enquanto estiver em vigor a presente constituição portuguesa isso não acontecerá” – dado que está “salvaguardada” como espetáculo de âmbito cultural, segundo o jurista Rodrigo Taxa, presente no encontro. Quanto aos movimentos cada vez mais intensos por parte dos antitaurinos, acontecem segundo o aficionado, na mesma vaga de alguns partidos mais extremistas como o PAN e o Bloco de Esquerda. Para este representante da UTA, “a esquerda deixou de centrar o seu discurso tradicional de luta de classes substituindo-o por questões identitárias, em que a festa de touros é metida nesse pacote, e encarada sob uma posição extremista, não compreendendo que há milhares de pessoas que gostam e alimentam esta forma de cultura, que nem sequer é financiada pelo Estado, quando muito por algumas câmaras municipais”. Avaliando, o momento atual da festa, considera que falta mais união entre os aficionados, e vai mais longe ao ser da opinião de que também deveria existir mais brio por parte de alguns artistas. “Não há um líder no mundo da tauromaquia”, embora considere que não faltam espetadores nas praças, pese embora estarem abertas apenas uma ou duas vezes por ano. Quanto à interdição da entrada de menores de 16 anos nas praças de touros diz que não faz sentido, se compararmos com outras questões como a mudança de sexo, ou ao direito ao voto antes dos 18 anos.
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​Luís Capucha, sociólogo, presidente da Associação de Tertúlias Tauromáquicas de Portugal
“Partidos animalistas querem acabar com a tourada aos poucos mas há cada vez mais aficionados”
Para o sociólogo e docente no ISCTE, os movimentos antitaurinos, ao contrário do que muitos pensarão, acabaram por ser localizados, sem grande expressão popular, e ao sabor dos quais alguns partidos políticos vão a reboque, numa lógica de “ditadura do gosto”, de “desrespeito pela democracia” e das “escolhas que cada um faz”. Em contraciclo diz que há uma adesão cada vez maior à tauromaquia, mas não esconde que entre os aficionados reina um clima de alguma incerteza sobre o que este Governo, e o Partido Socialista, podem fazer em relação à tauromaquia. A ministra da Cultura “trata-nos como incivilizados e é o que temos!”, desabafa. Na impossibilidade de acabar com a festa brava por decreto, os partidos que advogam o fim das touradas, vão se fazendo “municiar de pequenas medidas para conseguirem chegar ao objetivo de cercar a tauromaquia”, como “as tentativas de aumento dos impostos junto dos agentes tauromáquicos, tentativas de proibição da exibição de touradas na televisão, e agora a possibilidade de interdição de menores de 16 anos nas praças de touros”. Até à data “os partidos animalistas sofreram derrotas pesadíssimas”. A estratégia dos antitaurinos segundo Capucha mudou- “Estão a agir cirurgicamente aqui e ali, pé ante pé ”. Sobre o aparecimento de movimentos mais ou menos organizados já na região ribatejana que se assumem como antitaurinos, desvaloriza dizendo que cada um é livre de expressar a sua opinião, “desde que não ofendam as pessoas”.
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​ Alberto Mesquita, presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira
“Todos os pontos de vista são legítimos desde que não expressem violência”

Para o presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira a tauromaquia é um aspeto fundamental no que respeita à Identidade e às tradições deste município. Quanto aos movimentos anti taurinos, “consideramos que todos os pontos de vista são legítimos, desde que naturalmente se expressem de forma não violenta e com respeito pelas demais opiniões divergentes”, refere. Já quanto a interditar o acesso ao espetáculo tauromáquico a menores de 16 anos “é para nós incompreensível e inaceitável”. Tratando-se de menores de idade, a autarquia é da opinião de que deve caber aos pais a decisão quanto às atividades culturais, desportivas ou recreativas a que os seus filhos devem ou não assistir. Para o autarca, a posição pessoal da ministra da Cultura não afetará os municípios com tradições taurinas, porque são tradições que já “atravessaram muitas gerações” e que irão, “estamos certos, perdurar no tempo, o que as torna bastante mais fortes do que o período de duração de uma ou mais legislaturas”. Para Alberto Mesquita, é prematuro falar em cultura antitouradas, dado que aquilo que existe são alguns movimentos antitaurinos, relativamente aos quais também “não temos dúvidas de que não trazem qualquer prejuízo à cultura e identidades ribatejanas”. No caso do Município de Vila Franca de Xira, a forte afluência de pessoas aos eventos tauromáquicos é um indicador “muito expressivo” de que a cultura tauromáquica continua a ser vivida com “muita intensidade e paixão em diversos momentos do ano”, com muita procura também nos últimos anos por parte de visitantes estrangeiros.
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Miguel Santos, presidente da Tertúlia Cirófila
"Pode ser uma pedra no sapato existir uma ministra da Cultura antitaurina"

Para este aficionado e presidente de uma das mais conhecidas tertúlias vilafranquenses e do país, cabe aos cidadãos aficionados mostrar ao Governo a importância desta cultura. O presidente da tertúlia Cirófila destaca que pode ser uma “pedra no sapato” existir uma ministra da cultura antitaurina. Quanto ao concelho, e ao Ribatejo, não considera que esteja em causa a cultura ribatejana. Em casa tem dois filhos e ambos decidiram ser aficionados. Uma filha com 16 anos já o assumiu, contudo vinca que a proibição da tourada para menores de 16 pode limitar um pouco as opções. Considera que não se deve dar relevo aos antitaurinos, mas é de se estar estar atento ao movimento. Os espetáculos estão acrescer ao nível do número de público presente, ao contrário, do que os movimentos defendem. Quanto à autarquia, vinca o papel importante da Câmara de Vila Franca de Xira na promoção da cultura tauromáquica do concelho neste campo, mas salienta a importância dos movimentos de cidadãos para que a cultura permaneça.
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​Ana Rita, cavaleira tauromáquica
“Só os pais podem proibir os filhos de irem às touradas”
A jovem cavaleira tauromáquica considera que cabe aos pais em última análise decidirem se os filhos devem ou não assistir a espetáculos tauromáquicos, quando menores de 16 anos. Quando muito, pode “existir uma recomendação”. Na opinião da cavaleira, com esta possibilidade de lei está-se a tentar prejudicar a tauromaquia, e o aparecimento de novos valores para a festa brava, mas refere que quem quer mesmo seguir esta vida, esperará “o tempo que for preciso”. Ana Rita diz que os ataques são muitos e vindos de todos os lados mas “isso apenas fortalece os taurinos”, prova disso “é que temos cada vez mais público nas praças”.  “Os antitaurinos não nos vão prejudicar porque a cultura e a identidade são nossas e todos vamos lutar para que tal não aconteça”, conclui.


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​João Santos, presidente da junta de freguesia de Vila Franca de Xira
“As ortodoxias exageradas apenas pioram a situação”
Para o presidente da junta de Vila Franca, é importante que os defensores da arte em causa encontrem formas de alargar a base de apoio à cultura. A racionalidade deve, nesta fase, andar lado a lado com a emoção, na sua opinião, pois considera que a ortodoxia exagerada contribuirá para acentuar a conjuntura atual. Sendo certo que a junta “estará incondicionalmente ao lado da Câmara Municipal e ao lado dos vilafranquenses na defesa dos seus interesses e identidade cultural”. Exemplo disso, enumera, foi a recente elevação de dois bustos em homenagem a dois toureiros heróis vilafranquenses, com o descerramento de uma placa toponímica em homenagem a um deles, com a concretização das duas primeiras edições da Feira das Tertúlias Tauromáquicas, com uma edição do Colete Encarnado de “qualidade ímpar” e com uma edição de Feira de Outubro igualmente “memorável”. Quanto à interdição das praças de touros a menores de 16 anos, considera que deverá ser a lógica do controlo parental a imperar. Para João Santos, a opinião da ministra da tutela não deve ser tomada em linha de conta no exercício das suas funções, pois deve zelar pelo cumprimento das leis do país, e ser obrigatoriamente isenta, pragmática e tecnocrata. Acabar com a cultura tauromáquica em Vila Franca de Xira, no seu entendimento, seria “amputar” identitariamente o território e os vilafranquenses. Se acabasse a cultura tauromáquica em Vila Franca de Xira, “descaracterizar-se-ia fatalmente o território”. Para o autarca é importante que as partes se respeitem e discutam o assunto, e encontrem soluções pela positiva. 
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Rui Casqueiro, Tertúlia Festa Brava
“O primeiro ministro é ferozmente antitaurino”

Para o presidente de uma das tertúlias mais importantes do país, é dever dos municípios taurinos a defesa intransigente dos valores da tauromaquia, em que o mais recente exemplo que se prende com a possibilidade de interditar a entrada nas praças de touros a menores de 16 anos, é só mais um exemplo, com o objetivo em mente de criar “um hiato geracional”. Rui Casqueiro diz que “a vontade de alguns setores em acabar com a tauromaquia é um facto, mas querem que a morte seja por uma espécie de causa natural, não querem ficar com o ónus de  acabar por decreto”. Considera por isso que a medida de caráter subreptício concorre exatamente nesse sentido. Está criada neste momento uma espécie de tempestade perfeita para os antitaurinos com uma ministra que já se manifestou contra as touradas e “um primeiro ministro fortemente antitaurino” embora não o diga publicamente. “Quando era presidente da Câmara de Lisboa de tudo fez para que a tertúlia também desaparecesse depois do incêndio das nossas antigas instalações”. E vais mais longe – “António Costa tem uma ministra antitouradas, e ainda um secretário de Estado ligado ao audiovisual que vai na mesma senda, os três estarão com certeza a engendrar uma forma de acabar com a tauromaquia em Portugal”. Por isso é hora de se cerrar fileiras, e prova disso “é o ressurgimento de clubes e tertúlias no norte do país que estavam adormecidos, depois dos ataques que culminaram no fecho das praças da Póvoa de Varzim e de Viana do Castelo”. Por outro lado, e esta sexta-feira, dia 22 de novembro, decorre uma manifestação a favor do mundo rural e das touradas em frente à Assembleia da República que já sofreu restrições no acesso para os manifestantes, de acordo com Casqueiro. “Estamos a caminhar para uma partidocracia, quem sabe uma cleptocracia”, conclui.
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Pedro Ribeiro, presidente da Câmara Municipal do Cartaxo
"A tauromaquia é também um sistema de valores, tradições e crenças"

O presidente da Câmara do Cartaxo diz-se um adepto da festa brava quer enquanto frequentador de espetáculos quer no apoio aos intérpretes da arte do concelho.  Mas diz também que é com naturalidade que assiste ao surgimento de movimentos antitaurinos, porque “estamos num país democrático”. “Gosto de viver num país onde as pessoas que não gostam de determinada expressão cultural, de determinada atividade tenham o direito e a liberdade de se manifestarem contra”, diz, mas salvaguarda que a tauromaquia é também  um sistema de valores, tradições e crenças. Se lermos o Decreto-Lei 89/2014, de 11 de junho, observamos que as touradas são "uma marca distintiva da cultura portuguesa com as mais diversas marcas intelectuais e afetivas na sociedade portuguesa, especialmente fortes em diversas regiões e grupos sociais, sendo uma arte performativa, que encerra em si um sistema de valores, tradições e crenças que promovem a excelência humana e o humanismo." Quanto à possibilidade de se interditar a entrada de menores de 16 anos nas praças de touros, considera que a classificação da faixa etária como mais apropriada provém da perceção, segundo a qual um divertimento público não é suscetível de provocar dano prejudicial ao desenvolvimento psíquico ou de influir negativamente na formação dos menores. Hoje, os espetáculos tauromáquicos têm a classificação para "maiores de 12 anos". Portanto, quaisquer alterações a efetuar na classificação dos espetáculos tauromáquicos “não devem obedecer a critérios políticos de quem não aprecia esta expressão cultural, mas sim, e perante as normas legais em vigor, ter por base a demonstração científica de que o visionamento de touradas poderia prejudicar o desenvolvimento psíquicos dos menores de 16 anos”, e pelo que julga saber nada disso está demonstrado. 
Já quanto à ministra da tutela é apreciador do seu trabalho e está certo de que fará o seu percurso à margem de qualquer ditadura do gosto. Contudo refere que o  Orçamento de Estado para 2020 deve contemplar a mesma taxa de IVA para todos os espetáculos culturais, o que não se aplica ainda para a tauromaquia “prejudicando, assim, a diversidade e a identidade dos territórios que têm as suas raízes na cultura tauromáquica.”

Pedro Ribeiro é da opinião de que o diálogo com os antitaurinos, pelo menos os da região, é possível, pois os seus argumentos expressam-se no campo da defesa do bem-estar e da saúde animal, não estando em causa a defesa do Ribatejo e das suas tradições, como o touro e o cavalo, as nossas ganadarias e coudelarias, o nosso campino, o fandango e a nossa etnografia, entre outros.

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foto Farpas Blog
Luís Miguel Pombeiro, empresário tauromáquico
“Estamos a voltar ao tempo do fascismo”
O empresário começa por expressar que a malapata dos governos face aos espetáculos tauromáquicos não é de agora, pois só assim se explica que o cinema, o teatro, e outras artes sejam subsidiadas e esta não. “Cedem ao politicamente correto sem conhecerem o país real”. Interditar as praças de touros a menores de 16 anos é “uma estupidez”, sobretudo numa altura em que se fala em “operações de mudança de sexo nessas idades”, e na “liberalização de drogas leves”. Para Pombeiro, “estamos a voltar aos tempos do fascismo, e da ditadura” com este tipo de ideias e possibilidades. O empresário afiança que grande parte dos movimentos antitaurinos, como o da associação ANIMAL, são financiados e por isso agem de forma bastante organizada. Contudo esta é uma faceta mais pronunciada no país vizinho e nas muitas manifestações antitaurinas que por lá acontecem. Esta onda radica ainda no movimento do veganismo, na sua opinião. “Porque a parte mais visível da teoria de não se comer animais é a oposição às touradas”. Segundo o empresário “estamos a falar de pessoas que estão descontentes com o ser humano, e preferem os animais”. “Temos uma sociedade onde a solidão anima os dias e as noites de muita gente, que se rodeia dos seus cães e gatos, onde o abandono das famílias é uma realidade, e isso sim é de uma grande violência, e deveria mobilizar-nos”. E dá conta ainda da recente notícia que envolve o multimilionário alemão Matthias Schmelz, num alegado esquema de orgias com menores de idade, sendo ele ainda um dos principais financiadores da ANIMAL. “No fim de contas há que respeitar quem gosta, e claro respeitar quem não, gosta, porque também tem as suas razões, desde que não se entre por outros caminhos”.

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​Antitaurinos da região começam a dar nas vistas

Luís Martinho já foi aficionado e confessa mesmo que chegou ir a Espanha para ver touradas, mas hoje é um dos rostos do movimento “Santarém Sem Touradas”, um dos poucos grupos mais ou menos organizados no Ribatejo, que começou quando o presidente da Câmara de Santarém decidiu comprar os bilhetes para uma corrida, no valor de 20 mil euros, para distribuir pelos convidados do município. Algo que um grupo de habitantes do concelho e da região viu com maus olhos, e assim surgiu este grupo, que tem marcado presença em várias corridas de touros da região, onde fazem ouvir a sua voz, empunhando cartazes com palavras de ordem. “Procuramos que tudo seja feito de forma ordeira, contudo somos provocados com recurso, por vezes, à agressão física por parte de algumas pessoas afetas à tauromaquia”.

Na primeira manifestação apareceram 60 pessoas. Luís Martinho é da opinião de que este movimento provou que é possível “cortar o medo” e levar a que cada vez mais pessoas apareçam a manifestar-se contra as touradas. Depois de Santarém já estiveram em Tomar, Porto de Mós e até Cartaxo neste tipo de ações em que os que não gostam de touradas fazem ouvir as suas vozes, “apesar de todos os insultos”. Assegura que naquilo que é possível tenta, ele próprio, mitigar excessos por parte de pessoas do seu grupo. A ação passa também por expor os políticos que publicamente “querem ganhar votos às custas da tauromaquia”.

Luís Martinho considera que já é um bom avanço proibir a entrada de menores de 16 anos nas praças de touros, não sendo possível elevar a fasquia para os 18 anos. Para este antitaurino, a tourada nada tem a ver com cultura e tradições, mas com questões belicistas, de confrontação e de domínio que não valem nada a uma sociedade que quer evoluir. “Se limitarmos a idade podemos condicionar a correia de transmissão de pais para filhos e isso será bom, porque muita coisa começa na infância, eu próprio cheguei a ir para a escola mascarado de forcado no Carnaval”.

Quando se operou a sua mudança de posição foi com base na violência que o mundo dos touros tinha e que começou a ver com outros olhos. “Quando somos crianças não temos bem a noção mental que este conceito acarreta e vemos aquilo sem maldade”. Já na juventude diz que frequentava touradas porque os amigos também iam. “Confesso que em parte ia a esses espetáculos numa lógica de arrastamento. E tenho a certeza, até porque via, muitas pessoas frequentam touradas porque vão com outros. Por vezes estão lá a comer amendoins, a beber imperial, e na conversa, mal olham para o que se passa na arena, porque se formos a analisar bem são poucos os aficionados que gostam verdadeiramente e percebem o espetáculo, a maioria nem sabe apreciar tecnicamente uma tourada”. Por isso alternativas culturais são fundamentais na sua opinião.

Sobre os que não gostando de tourada, optam por não fazer disso bandeira e muito menos entram em confronto com os aficionados, considera que estamos perante uma “relativização moral” que é muito discutível. “É como condenar a pedofilia ou o homicídio, e dizer que não vou fazer nada a esse respeito nem me interessa tomar posição”. Para o antitaurino esta comparação não é forçada, porque a tauromaquia encerra uma visão machista, de domínio, e não é por acaso “que é nos distritos mais taurinos onde há mais violência doméstica”. Mas ressalva – “Há pessoas boas e más em todos os lados, até porque acredito que muitos vão às touradas por sistema, por falta de alternativas, e porque o amigo também vai”.


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Faço minhas as palavras do Sr. Presidente da junta de freguesia de Vila F. de Xira que neste mandato tem sido um grande autarca. muito obrigado
João José Marques
Vila Franca de Xira
10/12/2019 às 03:33
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