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Nova Lei do Plástico já tem
​Impacto na Região

Sílvia Agostinho
16-10-2019 às 21:46
​Até 2023, as lojas vão deixar de disponibilizar ao público os sacos de plástico ultraleves, e as cuvetes de plástico ou poliestireno expandido para pão, frutas e legumes. Foi publicada, recentemente, em Diário da República, a lei que proíbe o seu uso, e obriga à disponibilização, por parte dos operadores, de outras alternativas. No caso do comércio a retalho, os supermercados têm três anos para se adaptar, já os estabelecimentos de restauração dispõem de um ano, ou seja já em 2020, e serão dois anos para o setor dos transportes que servem refeições a bordo como o ferroviário, aéreo ou marítimo. Também em 2019, o Parlamento Europeu aprovou a diretiva que visa proibir o plástico descartável no espaço da União Europeia a partir de 2021.São exemplos os pratos, talheres, cotonetes, palhinhas, varas para balões, recipientes para alimentos e bebidas feitos de poliestireno expandido e produtos de plástico oxodegradável.
 
Algumas das empresas ligadas ao setor do plástico estão atentas a esta mudança de paradigma, como é o caso da Isolago SA- Indústria de Plásticos, no concelho do Cartaxo. Rodrigo Barros, administrador, está consciente que apesar da nova legislação emanada dos diferentes poderes, “o consumo de plástico não vai diminuir no mundo inteiro, pelo contrário poderá aumentar”. Até porque o plástico está de tal forma presente nas nossas vidas, que não se limita apenas às restrições anunciadas, pelo que os empresários do setor estão a encarar a legislação de bom grado, embora recusem a diabolização que, por estes dias, atinge esta indústria. “Não estamos com medo de perder consumos ou de se dar uma baixa no mercado, contudo vemos que certas medidas que estão a ser tomadas ao nível político sobre este setor são irracionais e estão a ajudar menos o meio ambiente do que se julga”, e ilustra com o copo de papel para café, que também possui uma estrutura em plástico, embora as pessoas na sua maioria desconheça. Este copo não é biodegradável ao contrário do de plástico, e tem de ser encaminhado para aterro, “porque contém misturas dos dois materiais”. Não entra por isso no circuito da economia circular, conceito estratégico que assenta na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia. “É contra este tipo de políticas que sou bastante contra, e que maioria das pessoas desconhece”. Reconhece contudo ser importante a tara sobre as garrafas de plástico à semelhança do que acontece para o vidro por parte dos supermercados que se encontra em perspetiva de ser aprovada.
 
Os empresários do setor pugnam por mais estudos “que provem que há materiais melhores do que o plástico para o ambiente”. Mesmo dentro do plástico, há diferentes variedades. Desta fábrica em Pontével não saem sacos, ou embalagens, mas aditivos sob a forma de pequenas bolinhas destinadas ao processamento de plástico a jusante, onde ocorre a sua transformação com o fim último de chegar ao consumidor. Esta empresa situa-se no nível intermédio do ciclo de produção de plástico. Mas é daqui que, por exemplo, sai a matéria-prima, os ditos aditivos, que mais tarde servirão para produzir os sacos de plástico das várias cadeias de super e hipermercados do país. “O plástico vem das petroquímicas, a nossa empresa coloca cor, e aditivos que possam fazer com que o produto resista melhor ao sol e ao calor, e segundo também o interesse do cliente, que possa ser mais duro ou mais mole, ou aguentar mais ou menos resistência”. 
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​As cenas chocantes de vida marinha envolta ou destruída por correntes enormes de plástico têm motivado uma onda de indignação na opinião pública, mas tanto Rodrigo Barros, como Amaro Reis, presidente da Associação Portuguesa da Indústria do Plástico, salientam que a grande percentagem de plástico que vai parar aos oceanos é proveniente dos rios asiáticos e africanos. “Se acabássemos com a produção de plástico na Europa não ia resolver em nada essa realidade”, sustenta Rodrigo Barros que afirma que mesmo assim o continente europeu deverá dar o exemplo. Na Europa, a consciencialização ambiental e a reciclagem que se pratica não levam a cenários tão dramáticos. Amaro Reis consubstancia: “Não podemos ficar indiferentes aos impactes dos microplásticos na vida marinha, mas a Europa é responsável por apenas dois por cento dessa realidade. Estamos a falar de países asiáticos que despejam o lixo nos rios, onde não há separação nem tratamento de resíduos”. A este propósito a associação apresenta um compromisso do setor com um guia de boas práticas “para que as bolinhas de matéria-prima que se perdem nas cargas e descargas de produtos, podemos estar a falar da indústria têxtil, não vão parar às águas pluviais e consequentemente oceanos”. A associação tem vindo a trabalhar de perto com organizações ambientais neste tipo de matérias.
 
Certo é que grandes marcas mundiais optaram nesta altura por palhinhas em alumínio e outras em madeira, “mas não há evidências práticas de que seja melhor para o ambiente ou que contribuam para o conceito de mais higiene ou saúde”. “Sabemos que não podemos viver sem plástico, mas queremos também melhor plástico, mas não devemos penalizar os materiais, mas os comportamentos”, junta Amaro Reis.
 
O problema inerente à poluição associada ao plástico, é “mais comportamental”, porque “se deitarmos fora a palhinha de inox como fazemos à de plástico o resultado será o mesmo”. A comunidade científica prepara-se para efetuar estudos no âmbito do conceito “Life Cycle Asset”, ciclo de vida de um produto desde a sua criação até à sua reciclagem ou encaminhamento para aterro, ou seja “quanto é que ele consome em termos de recursos ao meio ambiente”, refere Rodrigo Barros. O empresário diz que “havendo estudos concretos que deitem por terra o plástico, nessa altura repensaremos o nosso setor e o caminho a seguir”. Sendo que “em 20 anos deste setor comprovou-se ser o plástico o mais económico e o material que consome menos recursos ao meio ambiente. Não basta chegarmos aqui, e dizermos que o plástico é uma porcaria e vamos lá começar do zero, sobretudo quando ainda não há informação científica sobre outros materiais a nível de estudos de migração quanto ao contacto alimentar”, e dá o exemplo – “Não sabemos como reage um saco da de algodão, (em que se gasta mais químicos e água para produzir esta matéria), à deposição consecutiva de frutas e a possível acumulação de bactérias e resíduos do próprio produto no seu interior”. Rodrigo Barros salienta que a lei que obriga ao pagamento do saco de compras veio reduzir a sua reutilização para saco do lixo, ou seja fora do conceito da economia circular e da sustentabilidade. O responsável refere que já foi produzido um estudo em que salienta que “o saco de papel tem de ser reutilizado três vezes para superar o impacto ambiental do saco de plástico a nível do consumo de recursos no planeta para a sua produção”, mas se estivermos na presença de “um saco de plástico reciclado já teríamos de usar sete vezes o de papel”. “Há ainda estudos que referem que o saco do Continente em polietileno (plástico) consegue ter até três utilizações, até acabar à terceira como saco do lixo, e para isso o de papel tinha de ser usado nove vezes para igualar, e quando sabemos que este material não consegue ter mais do que duas utilizações”. Outra das questões a observar prende-se com o desperdício alimentar, “pois se já hoje com a embalagem de plástico, que consegue dar viabilidade a uma maior vida do produto, perdemos 1/3 dos alimentos no mundo, então imagine o impacte que seria com outros materiais, e se em 2050 vamos ser 10 biliões, então o plástico vai ter um grande papel na conservação de alimentos.
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​Nesta altura, começa também a surgir o conceito do plástico biodegradável como alternativa, mas o responsável da Isolago não vê esta como uma alternativa de futuro, (que deve assentar na reciclagem sobretudo e na reutilização do produto), até porque “tem um impacto ambiental preponderante dado que é produzido a partir do amido do milho” que já entra na cadeira alimentar. A sua biodegradabilidade tem de ser controlada porque ocorre em condições ambientais específicas, e corre o risco de ao ser reciclado entrar em contacto com o plástico normal e contribuir para a sua degradação, para além de “legitimar a cultura do desperdício e dos produtos de utilização única”. “O plástico biodegradável tem o seu espaço em algumas aplicações, mas não pode afetar a reciclagem do plástico convencional, porque como são dois produtos diferentes, é muito importante que se faça uma recolha seletiva, isto é um ecoponto específico para produtos biodegradáveis e compostáveis, caso contrário toda a cadeia de valorização e reciclagem pode ser posta em causa.”, especifica Amaro Reis.
 
A empresa do Cartaxo que tem cerca de 80 por cento da sua produção concentrada no saco ultraleve e no packaging no geral em que incide também esta lei, está a avaliar estratégias futuras, sendo que a internacionalização é já um caminho. “No futuro, podemos, talvez, dedicarmo-nos mais a outro tipo de produtos como eletrodomésticos, produtos de construção, teremos de nos adaptar e procurar alternativas ao packaging onde o plástico está a ser o caminho. Exigirá especialização e evolução.” Esta empresa em articulação com o meio académico está a testar desperdícios do setor alimentar como um meio para produção de plástico. Já quanto aos clientes finais, as empresas que produzem os sacos ultraleves ou de plástico “há uma expetativa” face à nova lei, “mas penso que estarão a adaptar-se porque a embalagem flexível de filme existirá sempre”. “A indústria do plástico permite muita evolução, já deu muito, e ainda tem muito para dar, por isso penso que o mercado criará oportunidades nesse sentido”. Para o presidente da associação do setor, esta legislação pode significar uma oportunidade para se reinventarem, e reformularem os seus produtos que possam ser reutilizáveis. “A medida terá impacto nas vendas e nos postos de trabalho, mas o setor dos plásticos ao longo dos anos tem acompanhado as tendências, fazendo uso da palavra reinvenção, e creio que vai conseguir criar alternativas para dar cumprimento à diretiva”, dá conta Amaro Reis, que gostaria de ver a discussão centrada “não no Single Use Plastics (Plásticos de Uso Único) mas no Single Use de todo o tipo de materiais”. 
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​Clientes já reutilizam o saco ultraleve mas estão de acordo com a medida
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O setor do comércio a retalho já estuda as diferentes alternativas tendo como horizonte o ano de 2023. É o caso do grupo Intermarché, onde o Valor Local falou com os responsáveis do supermercado de Abrigada, Ricardo Rodrigues e Carla Rodrigues. Os sacos da fruta, os denominados ultraleves, terão de ser banidos das lojas. Mas já a partir do próximo ano, e como recomenda a lei, terão de existir alternativas ao dispor do cliente em setembro do ano que vem nas secções de frutas e legumes e padaria. No seio da marca em Portugal está em cima da mesa a disponibilização do saco de papel ou o biodegradável. “As opções ainda não são muitas, temos vindo a assistir à introdução de materiais como bambu e outros, mas ainda têm uma componente de plástico, não são 100 por cento biodegradáveis”, refere Ricardo Rodrigues. “Até 2023 ainda temos um caminho a fazer”. Na cafetaria do supermercado, proceder-se-á ainda à substituição das palhinhas e copos de plástico por outros materiais.
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O gerente acredita que muitos clientes vão sentir dificuldades na mudança, e podem ser causados alguns constrangimentos nas caixas para pagamento, “mas é tudo uma questão de percebermos como será essa evolução”. Contudo “temos clientes que já trazem os seus próprios sacos de casa para frutas e legumes”. Ricardo Rodrigues acredita que “a mudança será mais rápida do que se pensa”, embora reflita que o facto de o saco de alças ter deixado de ser grátis, passando a custar sete cêntimos, apenas cerca de metade dos clientes tem optado por outros tipos de sacos, existindo ainda uma parte assinalável de pessoas que não se importam de pagar o saco.

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Neste supermercado, falámos com alguns clientes que andavam às compras na seção de frutas e legumes. A maioria está a par da nova lei. Rosário Carmo confessa que ainda não pensou muito nesta questão, mas em 2023, usará o que estiver à disposição por parte do supermercado, mas confessa que os sacos ultraleves, uma vez chegados a casa, não vão para o lixo. Consegue fazer uma reutilização. “Uso para congelar carne. Por exemplo estou a usar este para levar brócolos, depois de tirar os vegetais, consigo usar para pôr outro produto qualquer”. Aquando da lei em que se passou a pagar os sacos nas caixas, dá conta que a medida não a afetou porque já trazia sacos de casa – “Na minha opinião, era um desperdício estar a levar tanto saco de plástico”. Pelo que as medidas futuras na sua opinião só pecam por tardias. José Mário, também às compras nesta superfície comercial no dia da nossa reportagem, está ao corrente da medida e confessa que nunca pensou em alternativas, mas no seu caso não faz reutilização dos sacos ultraleves. Quanto à medida – “Tudo depende do que vem a seguir”. Na opção entre sacos de pano ou de papel no futuro, concretiza – “Penso que o papel é melhor, desde que o material seja decente e em condições, que dê para aguentar o peso, porque em pano, depois acabamos por não o lavar e é uma falta de higiene”. Para levar as compras finais mostra-nos um saco de plástico de alça devidamente dobrado dentro do bolso. Já Teodora Venâncio costuma guardar os sacos ultraleves depois das compras “porque dão jeito para outras coisas”. Também trouxe de casa um saco de plástico de alças de outra compra para não ter de pagar à saída mais sete cêntimos.

Sensibilização ambiental dos mais jovens é uma das chaves para o futuro
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A empresa Valorsul que serve entre outros os municípios de Vila Franca de Xira, Alenquer, Arruda dos Vinhos e Azambuja, entre outras atividades de sensibilização ambiental que leva a efeito, dá conta de um dos programas que concebe junto das escolas dos 19 municípios agregados a esta empresa de tratamento de resíduos. No âmbito do programa Ecovalor, a Valorsul ofereceu visitas escolares às suas instalações; ações de sensibilização ambiental no espaço da escola; e dois concursos interescolas de separação de embalagens.

O concurso dedicado ao ecoponto amarelo envolveu perto de 50 mil alunos e foram recolhidas 309 toneladas de embalagens de plástico, metal e pacotes de bebida, sendo de destacar o desempenho dos municípios de Alenquer, Cadaval e Vila Franca de Xira. O concurso dedicado ao ecoponto azul envolveu 27mil 800 alunos e foram recolhidas 190 toneladas de papel e cartão. Foi possível concretizar esta iniciativa em 11 municípios, com destaque para os resultados em Odivelas, Alenquer, Alcobaça e Lourinhã. O concurso prevê a oferta de prémios pelo desempenho de todas as escolas. Neste ano letivo 2017/18, os prémios ascenderam a mais de 40 mil 000 euros. Relativamente às ações de sensibilização no espaço da escola, a empresa destaca a realização de 2017 ações, abrangendo mais de 50 mil alunos e professores.
 


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