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O Longo Caminho da Saúde Oral na Região

Reportagem nos centros de saúde que acolheram
o projeto piloto nos concelhos de
​Azambuja, Arruda dos Vinhos e Alenquer

Sílvia Agostinho
28-07-2018 às 22h59
“Arrependo-me muitíssimo de não ter tratado os dentes mais cedo. Ainda bem que sempre incentivei os meus filhos a serem diferentes”, as palavras são de António Baptista, 69 anos, utente do serviço de cuidados primários de médico dentista no Centro de Saúde de Azambuja. No dia da nossa reportagem, vinha pela “quarta ou quinta vez” à consulta. António já não tem praticamente dentes nenhuns, apenas três restaram, que vão servir para segurar a prótese que colocará proximamente tendo em vista uma consulta na Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa. Como ele, muitas pessoas de faixas etárias mais avançadas apresentam uma saúde oral muito debilitada com dentes repletos de cáries e de tártaro em que a extração é a única solução.
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Desde os últimos meses de 2016 que alguns centros de saúde do Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo passaram a contar com este tipo de consultas, até à altura praticamente inexistente no Serviço Nacional de Saúde. Numa primeira fase as consultas estavam destinadas a doentes diabéticos, com neoplasias, problemas cardíacos, entre outros, mas entretanto abriram-se para a população em geral. 


​O doente com quem conversámos está bastante satisfeito com o atendimento protagonizado pela médica dentista, Teresa Ribeiro, e pela assistente dentária Vânia Fialho. “Tem sido impecável”, exprime. Esta é também a opinião de Maria Virgínia que tinha dentes “para pôr massa e outros para arrancar”. “O serviço é cinco estrelas”, refere. Maria Odete não podia estar mais satisfeita. Conta que vai conseguindo ultrapassar o medo nas consultas com as conversas da médica e da assistente – “Falam de roupa e de sapatos e assim eu distraio-me e fica mais fácil”. Ganhou medo dos dentistas porque “um médico particular ia-me partindo os queixos”, ilustra, rindo-se, para se referir a um trabalho que na sua opinião ficou mal feito. E onde, diz: “Gastei uma carrada de dinheiro”.

“O estado da minha boca era terrível! Desde que aqui venho tenho andado a desvitalizar e a colocar massa. Os tratamentos não custam nada. Já não tenho medo como aconteceu no outro”. E finaliza – “Agora é mais fácil sorrir e comer!” Para conseguir consulta nesta nova especialidade no centro de saúde de Azambuja refere que teve de esperar cerca de três a quatro meses mas não tem dúvidas – “Estas consultas faziam muita falta”. Para além do tratamento, esta utente também aprendeu pela primeira vez na vida como se escova os dentes corretamente – “Tinha fio dentário mas não sabia como se usava”, complementa. O nível de satisfação é evidente “ e tal como eu, as minhas colegas quase todas vêm cá (trabalha no lar da Misericórdia de Azambuja) bem como os utentes”. No fim do encontro com as profissionais do centro de saúde e com a nossa reportagem diz em jeito de despedida – “Se conseguirem uma vagazinha para mim mais cedo digam, é que eu sou muito vaidosa”.

Teresa Ribeiro, médica dentista, presta estas consultas no centro de saúde de Azambuja desde o início do projeto piloto. Está em Portugal a viver e a trabalhar há alguns anos, e as comparações com o Brasil, o seu país, são inevitáveis quando se fala em saúde oral, com o nosso país a perder claramente este campeonato. Durante muitos anos, era mais ou menos normal ter dentes cariados, e a população mais idosa é disso um exemplo. Mas entre os jovens e as crianças de hoje em dia o panorama não é mais famoso. “O português é um paciente muito difícil”, refere Teresa Ribeiro. Para além de chegar ao consultório com demasiados receios, tem dificuldade em confiar, para além de transportar consigo uma série de ideias preconcebidas que em nada ajudam o trabalho das profissionais. “Se não houver colaboração nada feito”, acrescenta a médica, que salienta também que em nada ajuda à saúde oral dos portugueses, o fraco índice de flúor presente na água que “tornaria o esmalte mais resistente”. Logo é ainda mais importante escovar os dentes e estar atento à saúde da boca.

“Cá em Portugal, há pessoas com grau superior que relegam a saúde oral para segundo plano. No Brasil isso não acontece com quem tem mais cultura. Acontece com quem tem pouca instrução. De modo que de facto estamos a falar de uma questão cultural, e não é querer estar a puxar a brasa à minha sardinha”.

Em Azambuja, a experiência com as escolas também não tem sido positiva, sinal de que o caminho da prevenção ainda é longo. Refere Vânia Fialho que o Governo fornece flúor para que as crianças façam bochechos na escola. Até existe um plano que deveria ser entregue pelos responsáveis escolares às enfermeiras mas que é negligenciado. Não tem sido fácil sensibilizar a população deste concelho – “Estive a dar uma palestra sobre cáries na primeira infância, as de progressão rápida, correspondentes à mudança para a dentição definitiva mas não apareceu quase ninguém”, adianta Teresa Ribeiro.
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Por outro lado, neste centro de saúde bem como nos restantes em que a nossa reportagem marcou presença assiste-se ao fenómeno de os pacientes não comparecerem no dia da consulta, e sem aviso prévio. Algo que se torna ainda mais difícil de gerir quando a lista de espera é longa e os tratamentos a cada paciente são muito prolongados ao longo do ano, tendo em conta que muitos “chegam na última” às consultas. “Para que tudo corra bem há um esforço muito grande aqui dentro”, refere Vânia Fialho que enaltece a dedicação da dentista “que faz um trabalho reconhecido e que ultrapassa os 15 minutos do que está convencionado por exemplo em alguns hospitais”. Tânia Carvalho, responsável pelo projeto de médicos dentistas nos centros de saúde adstritos ao Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo, considera que de facto há uma taxa de absentismo a rondar os 20 por cento nos três centros de saúde retratados nesta reportagem (Azambuja, Alenquer, e Arruda dos Vinhos). “Essa questão tem sido muito debatida mas creio que se resume a uma questão de mentalidades, acontece o mesmo noutras consultas. Temos um longo caminho”.
Neste aspeto, as profissionais com quem falámos em Azambuja acreditam que muito há para fazer neste domínio dos cuidados de saúde oral, e que o Estado deveria apostar na possibilidade de passar a criar vínculos efetivos com os médicos e respetivos assistentes – “Quando está em causa a criação de uma relação de confiança entre o médico e este doente, que em muitos casos nunca conheceu outro dentista na vida, é importante que se aposte também em dar estabilidade a quem trabalha aqui”, refere Vânia. Dulce Rainho (foto acima)  que trabalha neste centro de saúde e que é ao mesmo tempo frequentadora destas consultas dado que reside em Azambuja desabafa – “Deviam poder contratar a doutora e a Vânia”, lamenta. A utente também não podia estar mais satisfeita com as consultas.

“No início o Estado apenas queria números e estatísticas. Quando o projeto começou apenas estava a atender cerca de seis a sete pessoas por dia, e o secretário de Estado adjunto ligou-me a perguntar o que estava a acontecer”, diz a médica. Esses dias já parecem longínquos quando o tempo de espera nesta altura pode chegar aos seis meses. O stress é imenso e a médica diz que devido a tal chegou a ficar doente com um problema de visão.

O Estado na opinião das profissionais terá de escolher se quer apostar mais ou não nestes profissionais, sendo que ambas saúdam o bom entendimento com a direção do centro de saúde que “nunca se nega a nada”.

Portugal que apenas introduziu esta especialidade a esta escala no SNS tem um longo percurso pela frente até porque “as pessoas chegam aqui no último grau à espera de um milagre”, consubstancia a médica, que alerta que a má higiene oral pode conduzir a uma série de problemas sistémicos que vão muito além de dentes estragados. E lança o desafio de o SNS permitir aos utentes o acesso ao serviço de prótese no centro de saúde, através de um protésico a trabalhar em conjunto com os demais profissionais.
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Tânia Carvalho admite que esta será uma falha até porque uma prótese não é algo estético, “mas talvez não tenha sido pensada, no início do projeto, essa necessidade”. “Sabemos que a nível dos hospitais o tempo de espera é longo, se falarmos nos que providenciam esse serviço. O idoso tem a possibilidade contudo de através do complemento solidário ter uma ajuda na comparticipação da prótese e receber o reembolso à posteriori”. 
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Arruda dos Vinhos
“Temos doentes que arrancaram os seus próprios dentes”


No centro de saúde de Arruda dos Vinhos, a consulta de médico dentista também tem sido alvo de muita procura por parte não apenas da população do concelho, mas também de concelhos vizinhos. Os utentes vêm sempre referenciados pelo médico de clínica geral previamente. Cerca de 400 pessoas aguardam neste momento em lista de espera no sentido de obterem uma consulta.

Ângelo Boga optou pelas consultas nesta unidade de saúde tendo em conta que antes teve uma má experiência num dentista local. Ângelo Boga começou a ser seguido nestas consultas no centro de saúde por um médico que já não se encontra mas continuou com a dentista Andreia Rosa e o balanço com ambos os profissionais não podia ser mais positivo.

A história de Ângelo, 69 anos, é um pouco diferente da da grande maioria da população com a sua idade. Emigrado no Canadá durante muitos anos teve sempre acesso a cuidados dentários de saúde públicos. “Lá as empresas são obrigadas a enviar os seus trabalhadores para essas consultas, de modo que tive sempre acesso a tratamento gratuito”. “Sou do tempo em que os jovens abriam nozes com os dentes, quando emigrei tinha os dentes todos escavacados, e foi lá que os arranjei”, recorda. Quando regressou ao país foi com espanto que percebeu que as consultas “custavam 50, 60 ou 70 euros”. Está de novo em Portugal desde há 15 anos, e acabou por descurar a saúde oral. Há 10 anos que não ia ao dentista, de modo que estas consultas acabam por significar o regresso às velhas e saudáveis rotinas. A médica Andreia Rosa afirma que este paciente já vinha com bons cuidados de higiene, “fruto da sua experiência no Canadá onde a realidade é completamente diferente”.

Para a médica que presta serviço nesta unidade de saúde, que nesta altura dispõe de duas dentistas nesta área, esta tem sido uma experiência que difere um pouco daquilo a que estava acostumada no setor privado – “Temos contacto com todo o tipo de doentes – polimedicados, com condições financeiras mais baixas, com menos instrução e menos motivação para a higiene oral”. Contudo esta médica que dá consultas desde março deste ano no local refere que “acaba por ser importante quando vemos que em parte os doentes vão tentando ultrapassar velhos hábitos e passam a dar mais valor à higiene oral”. “Tem sido bastante enriquecedor!”. Pela primeira vez tem-se deparado com casos de pessoas “já com uma certa idade que nunca foram ao médico dentista, que ficaram sem dentes ao longo do ano e que contam que foram os próprios a arrancarem os próprios dentes ou o que restava deles, melhor dizendo”.

“Ao longo dos tratamentos vamos tentando moldar as pessoas no sentido de fazerem mais por elas mesmas neste campo, e lá vão aceitando que tem mesmo de ser assim”, refere. “O desafio é muito grande quando queremos chegar a essas pessoas que nunca trataram dos dentes. Ao fim de algumas consultas lá nos vão dizendo que já mudaram a escova ou que já escovam os dentes durante mais tempo”, acrescenta a assistente dentária Joana Roque.

Há quem também chegue a estas consultas a pensar que no fim da extração tem direito a uma prótese quando não é caso por enquanto, “mas também há quem ache que depois de ter vivido uma vida inteira quase sem dentes entenda que já não vale a pena depois da extração do que ainda resta, adquirir uma prótese”, diz Andreia Rosa, que confessa: “Às vezes também é preciso fazermos um pouco de psicólogos”.
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Face à procura que as consultas têm suscitado, Andreia Rosa conta que segue atualmente 256 utentes. Quem se inscrever por estes dias no centro de saúde apenas conseguirá a primeira consulta “em novembro ou dezembro”. “Seriam precisos mais médicos dentistas, mais gabinetes, porque atendemos pessoas de todo o lado. Temos muita gente do concelho de Vila Franca de Xira e de Benavente, por exemplo”. Tânia Carvalho acrescenta que o ACES está a tentar, nesta altura, a possibilidade de as consultas serem alargadas a Vila Franca de Xira e Benavente com médico dentista no respetivo centro de saúde. Atualmente os doentes desses concelhos podem optar por se deslocar a uma das unidades de saúde retratadas nesta reportagem. O caminho ainda é longo “e voltando ao início da nossa conversa, talvez seja possível um dia chegarmos ao nível do Canadá como vimos pela experiência do paciente”, diz Andreia Rosa.

Tal como acontece nos outros dois concelhos que mostramos nesta reportagem, Arruda não foge à regra quando falamos de “doentes com consulta marcada que não comunicam a avisar que vão faltar”. “É bastante desmoralizador”, confessam as duas profissionais. “Vejo que no privado isso acontece com mais dificuldade”, conclui a médica. 
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Alenquer
“Temos doentes que nunca se sentaram antes na cadeira de dentista”

Depois de ter partido um dente Ângela Cabral, através do médico de família, foi reencaminhada para as consultas de médico dentista no centro de saúde de Alenquer. Foi atendida pela primeira vez em dezembro último, e depois de solucionado o problema passou a vir para algumas “destartarizações” que eram necessárias, apesar de apresentar no cômputo geral uma boa saúde oral. A experiência com a médica dentista, Mariana Morgado, “tem sido excelente sem dúvida nenhuma”. “Não só o preço é mais económico, mas também é muito bom quando há profissionalismo e o dentista nos transmite segurança”, refere. Depois de Ângela vieram à consulta os pais e as colegas de trabalho – “Estão todos satisfeitos”. Por isso não tem dúvidas- “Estas consultas têm mesmo de continuar!”

A dentista que se encontra em Alenquer desde o início do projeto conta que a maioria dos doentes são pessoas com fracos recursos económicos que de outra forma não teriam como ir a um profissional de saúde oral. Mas há também quem “já tenha passado pelo privado e neste momento não têm condições económicas, como são os casos de alguns pacientes com implantes”. Mas também há quem “com mais de 60 anos nunca se tenha sentado antes numa cadeira de dentista”. “Infelizmente é muito difícil lidar com certas realidades porque ainda há quem pense que os dentes são para estragar e depois é que vai tentar mudar alguma coisa, quando se arrancar o que resta”. Por vezes chegam às consultas “quando as dores começaram a surgir ou quando o médico de família se apercebeu da má condição de saúde oral que essas pessoas apresentam”.

Surgem também muito doentes neste centro de saúde em busca de uma prótese, e nessas alturas “temos de explicar que não é possível aqui, mas apenas, e falando do público, no Hospital de Santa Maria onde o tempo médio de espera ronda os dois anos”. Nem todos têm recursos para investir numa prótese já para não falar de implantes, pelo que Mariana Morgado reflete que há que fazer algo pelos pacientes que depois de iniciarem os cuidados primários, “não podem simplesmente ficar sem dentes”, pelo que o próximo passo deveria passar pela inclusão de um protésico no Serviço Nacional de Saúde. Cada vez se fala mais nos cortes no setor da saúde, e esta médica acrescenta que eles também se têm feito sentir no seu trabalho no centro de saúde a nível de algum material.

Na sua opinião, o Estado não estava preparado, ao introduzir estas consultas, para a condição em geral dos portugueses e da sua saúde oral, em que temos uma população idosa com problemas muito graves, mas também a nível dos mais novos, em que os pais descuram por completo a higiene oral, principalmente na mudança para a dentição definitiva. “Têm muito aquela ideia de que os dentes vão cair de qualquer maneira por isso não é preciso ter cuidado”, refere. Para a dentista é difícil compreender a mentalidade portuguesa que “só dá valor aos dentes quando eles caem”.

A desinformação é gritante ainda no que se refere aos cuidados de saúde na infância porque há alguns anos que as famílias têm acesso ao cheque dentista mas este não é usado. Através deste cheque, a criança pode ser tratada numa consulta numa clínica particular de forma gratuita. “Mas ainda há muitos pais que não ligam ao cheque dentista, ou que pensam que é a pagar ou nem se lembram de ter recebido em casa”. “Infelizmente as pessoas não se preocupam”, diz Madalena Caetano, assistente dentária. Mais uma vez “estaremos perante uma questão cultural. Não podemos andar em cima das pessoas mas temos a noção de que muitos cheques ficam inutilizados porque as pessoas não os utilizam”, acrescenta Tânia Carvalho.
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A lista de espera nesta unidade de saúde também já é longa e para atrasar ainda mais as marcações, haverá novo concurso para a especialidade por parte do ministério da Saúde. Tal como Teresa Ribeiro, que presta consultas em Azambuja, Mariana Morgado não sabe se vai continuar em Alenquer. “Causa imensa insegurança”, refere. Por vezes os próprios doentes também não ajudam com a famigerada questão das faltas às consultas sem aviso prévio – “Na primeira consulta peço sempre para que nos avisem porque a lista de espera é longa e há pessoas que querem mesmo fazer os tratamentos, mas são raras as que depois nos avisam. É muito desmotivador”.
 

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