A tragédia de Borba fez soar todas as campainhas quanto aos perigos que a indústria extrativa na área das pedreiras encerra. O concelho de Alenquer abarca em 500 hectares do seu território este tipo de atividade. Recentemente uma estrada foi encerrada. Se em termos de segurança, o quadro não é dos piores comparativamente a outras zonas do país, em termos ambientais o caminho é longo. Estão por cumprir os planos de recuperação paisagística. Numa altura em que o quadro comunitário de apoio prevê 100 milhões de euros só para esta componente ambiental, há quem veja nesta medida um prémio ao laxismo de décadas de quem nunca moveu um dedo para cumprir a lei. Neste setor “o crime compensa”, são palavras da associação ambientalista de Alenquer.
Sílvia Agostinho
07-03-2019 às 16:40
Sílvia Agostinho
07-03-2019 às 16:40
A nossa reportagem nas pedreiras de Alenquer inicia-se junto ao aterro de uma das empresas exploradoras mais conhecidas, a Calbrita SA- Sociedade de Britas. Acompanhados pela Associação para o Estudo e Defesa do Concelho de Alenquer (ALAMBI), conseguimos perceber a dimensão deste aterro, e onde a polémica estalou recentemente com o avanço de terras provenientes da exploração em causa para uma área contígua onde se situa um convento datado do século XIV. Trata-se do Convento de São Julião fundado em 1441, da ordem paulista.
É nos dito pelo presidente da Alambi, Francisco Henriques, que, recentemente, e após queixa junto de entidades como a Direção Geral do Património Cultural (DGPC) que esteve no local, teve lugar uma deslocação dos técnicos mas que não terá sido bem recebida pela empresa. “Parece que não os quiseram deixar entrar”. A Câmara Municipal de Alenquer também está preocupada com o caso, embora Pedro Folgado, presidente da autarquia, afirme que este monumento que a Alambi agora quer que seja classificado como de interesse municipal, nunca tivesse suscitado interesse antes. “Aguardamos pelo parecer dos técnicos”, refere o autarca.
Maria José Reis, membro da Alambi, da área da História Social, refere que segundo as suas pesquisas foi possível apurar que o monumento consta em livros de Rodrigues Guapo, e outros historiadores. “Neste momento, o convento corre o sério risco de ser entulhado”, acrescenta Francisco Henriques. O presidente da Câmara refere que a empresa lhe transmitiu que cumprirá com o ordenado pela DGPC no caso de o avanço do aterro ficar interditado para a parte onde se encontra o convento. “Infelizmente o PDM ainda não foi aprovado e por isso não está consagrada a proteção necessária ao monumento”, conclui Francisco Henriques.
O alto da Carapinha é uma das zonas mais emblemáticas da extração de pedra e calcários. A paisagem lunar entra pelos olhos, e as escarpas profundas transportam para outra dimensão quem ali se desloca. Uma das frentes (foto acima) foi tão escavada que é notória a falta de atividade há já muito tempo. Sem socalcos, como as mais recentes, terá sido abandonada há muitos anos. A Alambi conta que é modus operandi as empresas não fecharem as frentes de trabalho para não terem de fazer a recuperação paisagística. A antiga pedreira do Cabeço de Meca cuja exploração terá cessado em 2004 é disso exemplo. Terá sido explorada por uma antiga empresa pertencente ao grupo Calbrita. Na sede da Alambi antes de termos rumado às pedreiras foi-nos mostrada diversa cartografia. Todas as pedreiras de Alenquer estão dotadas de Plano Ambiental e de Recuperação Paisagística (PARP). Mas nenhuma das cerca de meia dúzia de empresas que exploram 500 hectares no total no concelho de Alenquer plantou o que quer que seja, segundo a Alambi – “Só em Portugal e em África é que isto acontece, aliás, mesmo na África do Sul há um certo cuidado quando se abandona a exploração de determinada pedreira”, compara. Pedro Folgado não esconde que o município luta contra moinhos de vento, muito à conta também de outras conivências do passado mais distante estabelecidas entre o município e as empresas, quando o ambiente era uma questão muito secundária na governação autárquica. “Por vezes sentimos que não temos capacidade para enfrentar esse tipo de lobbies, porque eles pagam as contraordenações mas não cumprem em termos ambientais. Acaba por ser frustrante”.
Por outro lado, e nesta pedreira de basalto do Cabeço de Meca, a escavação chegou ao nervo do solo, e só parou quando apareceu água. A natureza tem destas coisas e quando já não havia mais nada a escavar, (ultrapassou-se a cota autorizada em mais de 20 metros) formou-se um lago “lindíssimo” que hoje passa na rota pedonal instituída pelo município de Alenquer, mas é também um local que pode ser perigoso. “A própria área que delimita a extração deveria estar vedada. Estamos a falar de uma ravina de 40 metros em que o caminho pedonal atravessa esta zona”, dá a conhecer Francisco Henriques. “Trata-se de um caminho complexo que está num alto, as pessoas gostam de olhar para o local, pois parece um vulcão embora não o seja. Seja como for a junta de freguesia de Meca está consciente disso. Faz a manutenção do caminho, até à data não houve qualquer problema”, justifica-se Pedro Folgado. Quanto à pedreira em si “é questão de voltarmos a falar com o atual proprietário”, acrescenta. O autarca não esconde que o negócio das pedreiras no concelho é também um lobby e que só, nesta altura, quase seis anos depois de ter assumido a presidência da Câmara é que conseguiu sentar-se à mesma mesa com os industriais, muito à conta da Tragédia de Borba “porque ninguém quer ficar associado a uma repetição de um cenário parecido no concelho”. Em termos de segurança, o estado de coisas neste território até se encontra relativamente estabilizado em comparação com outras zonas do país. Uma operação da GNR que percorreu as pedreiras do país, nos dias 13 e 14 de fevereiro, esteve em três unidades deste concelho não tendo sido detetadas infrações a nível de questões como licenciamento das infraestruturas, correta utilização dos recursos naturais e do domínio hídrico, assim como, o cumprimento da gestão de resíduos resultantes da exploração. No país foram fiscalizadas 249 pedreiras tendo sido detetadas 74 infrações.
É nos dito pelo presidente da Alambi, Francisco Henriques, que, recentemente, e após queixa junto de entidades como a Direção Geral do Património Cultural (DGPC) que esteve no local, teve lugar uma deslocação dos técnicos mas que não terá sido bem recebida pela empresa. “Parece que não os quiseram deixar entrar”. A Câmara Municipal de Alenquer também está preocupada com o caso, embora Pedro Folgado, presidente da autarquia, afirme que este monumento que a Alambi agora quer que seja classificado como de interesse municipal, nunca tivesse suscitado interesse antes. “Aguardamos pelo parecer dos técnicos”, refere o autarca.
Maria José Reis, membro da Alambi, da área da História Social, refere que segundo as suas pesquisas foi possível apurar que o monumento consta em livros de Rodrigues Guapo, e outros historiadores. “Neste momento, o convento corre o sério risco de ser entulhado”, acrescenta Francisco Henriques. O presidente da Câmara refere que a empresa lhe transmitiu que cumprirá com o ordenado pela DGPC no caso de o avanço do aterro ficar interditado para a parte onde se encontra o convento. “Infelizmente o PDM ainda não foi aprovado e por isso não está consagrada a proteção necessária ao monumento”, conclui Francisco Henriques.
O alto da Carapinha é uma das zonas mais emblemáticas da extração de pedra e calcários. A paisagem lunar entra pelos olhos, e as escarpas profundas transportam para outra dimensão quem ali se desloca. Uma das frentes (foto acima) foi tão escavada que é notória a falta de atividade há já muito tempo. Sem socalcos, como as mais recentes, terá sido abandonada há muitos anos. A Alambi conta que é modus operandi as empresas não fecharem as frentes de trabalho para não terem de fazer a recuperação paisagística. A antiga pedreira do Cabeço de Meca cuja exploração terá cessado em 2004 é disso exemplo. Terá sido explorada por uma antiga empresa pertencente ao grupo Calbrita. Na sede da Alambi antes de termos rumado às pedreiras foi-nos mostrada diversa cartografia. Todas as pedreiras de Alenquer estão dotadas de Plano Ambiental e de Recuperação Paisagística (PARP). Mas nenhuma das cerca de meia dúzia de empresas que exploram 500 hectares no total no concelho de Alenquer plantou o que quer que seja, segundo a Alambi – “Só em Portugal e em África é que isto acontece, aliás, mesmo na África do Sul há um certo cuidado quando se abandona a exploração de determinada pedreira”, compara. Pedro Folgado não esconde que o município luta contra moinhos de vento, muito à conta também de outras conivências do passado mais distante estabelecidas entre o município e as empresas, quando o ambiente era uma questão muito secundária na governação autárquica. “Por vezes sentimos que não temos capacidade para enfrentar esse tipo de lobbies, porque eles pagam as contraordenações mas não cumprem em termos ambientais. Acaba por ser frustrante”.
Por outro lado, e nesta pedreira de basalto do Cabeço de Meca, a escavação chegou ao nervo do solo, e só parou quando apareceu água. A natureza tem destas coisas e quando já não havia mais nada a escavar, (ultrapassou-se a cota autorizada em mais de 20 metros) formou-se um lago “lindíssimo” que hoje passa na rota pedonal instituída pelo município de Alenquer, mas é também um local que pode ser perigoso. “A própria área que delimita a extração deveria estar vedada. Estamos a falar de uma ravina de 40 metros em que o caminho pedonal atravessa esta zona”, dá a conhecer Francisco Henriques. “Trata-se de um caminho complexo que está num alto, as pessoas gostam de olhar para o local, pois parece um vulcão embora não o seja. Seja como for a junta de freguesia de Meca está consciente disso. Faz a manutenção do caminho, até à data não houve qualquer problema”, justifica-se Pedro Folgado. Quanto à pedreira em si “é questão de voltarmos a falar com o atual proprietário”, acrescenta. O autarca não esconde que o negócio das pedreiras no concelho é também um lobby e que só, nesta altura, quase seis anos depois de ter assumido a presidência da Câmara é que conseguiu sentar-se à mesma mesa com os industriais, muito à conta da Tragédia de Borba “porque ninguém quer ficar associado a uma repetição de um cenário parecido no concelho”. Em termos de segurança, o estado de coisas neste território até se encontra relativamente estabilizado em comparação com outras zonas do país. Uma operação da GNR que percorreu as pedreiras do país, nos dias 13 e 14 de fevereiro, esteve em três unidades deste concelho não tendo sido detetadas infrações a nível de questões como licenciamento das infraestruturas, correta utilização dos recursos naturais e do domínio hídrico, assim como, o cumprimento da gestão de resíduos resultantes da exploração. No país foram fiscalizadas 249 pedreiras tendo sido detetadas 74 infrações.
A pedreira do Cabeço de Meca enquadrada no PARP orçamentava os custos de recuperação paisagística em 34 mil 847 euros com a obrigação de uma caução de 11 mil 615 euros de garantia bancária. Plano esse acompanhado de uma descrição com a quantificação das espécies a plantar em unidades e percentagens – “O que eu pergunto é onde é que isto anda?”, questiona o presidente da Alambi que à época enviou uma carta à Direção Geral de Energia e Geologia mas nunca obteve resposta. Investimento na recuperação paisagística nem vê-lo muito menos a caução, argumentam os ambientalistas. Nesta altura, Isabel Graça, também da direção da Alambi, lembra umas célebres declarações do fundador da Calbrita (já falecido) na televisão – “Quando elas vêm cá conversamos (técnicas do organismo do Estado), conto umas histórias, e depois já nem vão às pedreiras”, ilustra para referir o quadro de impunidade de há décadas atrás mas que não se alterou substancialmente.
Outra das obrigações destas empresas que não está a ser respeitada relaciona-se com a distância de segurança em relação à estrada que deverá ser entre cinco a dez metros. Na Carapinha, a exploração de uma das pedreiras já chegou a um poste de eletricidade, e a passagem é cada vez mais estreita, há sinas de um aluimento de terras que dá ideia de ter sido recente. O caminho que liga a Nacional 118 à Aldeia do Bairro está interditado. A nossa reportagem arriscou, e pôde presenciar no alto da colina onde se encontra a exploração os vários indícios de instabilidade. A estrada está fechada há várias semanas. A Câmara instou as empresas a construírem um caminho alternativo, mas nesta como nas restantes matérias é ver para crer. Na Carapinha operam a Calbrita, a Cimpor/Agrepor. Em março será feita nova reunião e novo ponto de situação. A estrada existente foi demasiado escavada ao arrepio do que está na lei, e a batata quente está agora do lado das empresas que laboram no local. “Têm a obrigação de fazer uma interligação às estradas existentes, que por sua vez ligam às localidades, como a outra fazia”, alerta Folgado.
Outra das obrigações destas empresas que não está a ser respeitada relaciona-se com a distância de segurança em relação à estrada que deverá ser entre cinco a dez metros. Na Carapinha, a exploração de uma das pedreiras já chegou a um poste de eletricidade, e a passagem é cada vez mais estreita, há sinas de um aluimento de terras que dá ideia de ter sido recente. O caminho que liga a Nacional 118 à Aldeia do Bairro está interditado. A nossa reportagem arriscou, e pôde presenciar no alto da colina onde se encontra a exploração os vários indícios de instabilidade. A estrada está fechada há várias semanas. A Câmara instou as empresas a construírem um caminho alternativo, mas nesta como nas restantes matérias é ver para crer. Na Carapinha operam a Calbrita, a Cimpor/Agrepor. Em março será feita nova reunião e novo ponto de situação. A estrada existente foi demasiado escavada ao arrepio do que está na lei, e a batata quente está agora do lado das empresas que laboram no local. “Têm a obrigação de fazer uma interligação às estradas existentes, que por sua vez ligam às localidades, como a outra fazia”, alerta Folgado.
Pedreiras na Serra de Atouguia/Serra de Ota e o contraste com o canhão cársico
A nossa reportagem segue depois para o conjunto Serra de Atouguia/Serra de Ota. É visível a indicação de que a zona é explorada em parte pela Secil Britas, dos 500 hectares de pedreiras do concelho 100 são da Secil e 70 hectares são área de pedreira. A Mota –Engil também explora parte da Serra de Ota, mas nem sempre é muito fácil perceber quem explora o quê nestes conjuntos rochosos. O estudo de impacte ambiental para a Serra de Atouguia é de 1993, e só a recuperação paisagística deste vasto complexo estava orçado à época em 500 mil contos: “Quem é que vai gastar este dinheiro se não for obrigado?”, lança Francisco Henriques, que mesmo assim defende que a Alambi não é contra a atividade extrativa, mas apenas pelo cumprimento da lei – “Fizessem eles a recuperação paisagística e nós ficávamos calados!”. O ambientalista acrescenta ainda que a recuperação deve ser feita à medida que as frentes de trabalho terminam com coberto vegetal e a plantação arbórea. Não estamos a falar apenas de uma questão de impacte visual, mas da necessidade de se evitarem as escorrências para a linha de água e a própria propagação de poeiras. Neste aspeto, a Alambi tem conhecimento da intensificação de algumas regas, por parte das indústrias extrativas, com o objetivo de se evitar a dispersão das poeiras mas é algo insuficiente – “Todas as britadeiras deveriam ter campânulas para retenção do pó, mas temos a sensação que deixam muito a desejar quanto a esse parâmetro”. “Admito que ainda exista trabalho a fazer nessa área, embora a medição da qualidade do ar tenha lugar ocasionalmente, mas sim devemos ir mais longe”, admite o presidente da Câmara.
Maria José Reis que desde sempre viveu na pedreira já desativada junto do Sítio das Águas, em Alenquer, lembra a altura em que os tiros de rebentamento das pedreiras causavam sérios danos à qualidade de vida das pessoas. Esse foi um dos pontos ultrapassados. Mas as rachas nas habitações testemunham essa época bem como a incidência de doenças respiratórias nos habitantes que moravam mais perto desta como de outras explorações. “Há imensa gente da minha geração que mora na minha zona com problemas respiratórios”. Por o Sítio das Águas ter como vizinha essa pedreira, a alenquerense recorda-se de graves acidentes envolvendo operários na década de 80, como “um homem que esteve meses no hospital” e teve que “levar inclusivamente uma prótese na cabeça porque as condições de trabalho eram péssimas”. “A médica do trabalho Lurdes Alvoeiro até desistiu de trabalhar com estas indústrias, porque as empresas não cumpriam as recomendações. A situação dos operários era tão má que não estava para dar aval a determinado tipo de situações”, acrescenta Isabel Graça.
O conjunto de pedreiras em Serra de Atouguia/Serra de Ota e a coexistência paredes meias com o Canhão Cársico de Ota é o que mais salta à vista quando nos chegamos ao local. O contraste é evidente e a linha que separa a marca do homem e a marca da natureza são cada vez mais indistinguíveis (foto acima). Nos últimos anos, o Orçamento Participativo (OP) dotou uma verba para o estudo daquele património que rapidamente começou a atrair atenções. Em pouco tempo, organizou-se mesmo um turismo de natureza em torno do conhecimento deste património que urge preservar. “Trata-se de uma zona calcária do tempo jurássico escavada por um rio que conseguiu dar a aparência ao local de uma garganta funda, como se de um desfiladeiro se tratasse, ou de uma duna gigantesca mas em que os grãos de areia são pedras”, descrevia, desta forma, no início de 2015 à nossa reportagem, José Carlos Morais, proponente do estudo dotado com 45 mil euros pelo OP de Alenquer. De acordo com o Inventário de Geossítios de Relevância Nacional, em 2014, este património é “o mais extenso e espetacular vale em canhão das regiões calcárias portuguesas”.
No local, os ambientalistas estranharam a abertura de um caminho que diminuiu ainda mais a distância de segurança entre as pedreiras, o aterro e o canhão. “Isto desvaloriza completamente o canhão cársico. Nunca pedimos para que se encerrasse as pedreiras, mas de facto os industriais têm a convicção de que podem fazer tudo. Só há duas formas de levar as pessoas a cumprir a lei: se puderem lucrar com isso, ou então obrigando-as efetivamente”, aludiu Francisco Henriques que informou que há prazos e calendários para esta área de negócio com a obrigatoriedade de vistorias trianuais, por um lado, por outro lado, todos os anos até ao final do mês de abril deve ser enviado à direção-geral de Geologia um mapa estatístico relativo à produção verificada no ano anterior. “Gostava de saber se esses relatórios foram ou não enviados. É um fechar de olhos completo. Estamos metidos num caldo de cultura e num laxismo enorme”. O presidente da Câmara de Alenquer concorda que as entidades do Estado deveriam fiscalizar de outra forma. Pedro Folgado refere que os industriais a laborar em Alenquer não querem ficar associados a uma tragédia como a de Borba. A segurança será uma meta, mas não se avizinham outros objetivos a curto-médio prazo quanto às suas obrigações no futuro em matéria ambiental. Para o autarca “ só um novo paradigma pode alterar o estado de coisas”. “A Direção-Geral de Geologia e Minas de facto não faz esse trabalho de fiscalização nas devidas condições”. Quanto ao caminho construído na zona da pedreira que indignou os ambientalistas, adverte – “Não podemos ser fundamentalistas, estamos a falar de uma passagem que também era importante e válida para a população de Atouguia. Temos de articular as vontades existentes: a nossa de proteger, os empresários em explorar, e a população que neste caso pediu a reabertura do caminho que era de pé posto, e que estava cheio de silvas”.
A nossa reportagem segue depois para o conjunto Serra de Atouguia/Serra de Ota. É visível a indicação de que a zona é explorada em parte pela Secil Britas, dos 500 hectares de pedreiras do concelho 100 são da Secil e 70 hectares são área de pedreira. A Mota –Engil também explora parte da Serra de Ota, mas nem sempre é muito fácil perceber quem explora o quê nestes conjuntos rochosos. O estudo de impacte ambiental para a Serra de Atouguia é de 1993, e só a recuperação paisagística deste vasto complexo estava orçado à época em 500 mil contos: “Quem é que vai gastar este dinheiro se não for obrigado?”, lança Francisco Henriques, que mesmo assim defende que a Alambi não é contra a atividade extrativa, mas apenas pelo cumprimento da lei – “Fizessem eles a recuperação paisagística e nós ficávamos calados!”. O ambientalista acrescenta ainda que a recuperação deve ser feita à medida que as frentes de trabalho terminam com coberto vegetal e a plantação arbórea. Não estamos a falar apenas de uma questão de impacte visual, mas da necessidade de se evitarem as escorrências para a linha de água e a própria propagação de poeiras. Neste aspeto, a Alambi tem conhecimento da intensificação de algumas regas, por parte das indústrias extrativas, com o objetivo de se evitar a dispersão das poeiras mas é algo insuficiente – “Todas as britadeiras deveriam ter campânulas para retenção do pó, mas temos a sensação que deixam muito a desejar quanto a esse parâmetro”. “Admito que ainda exista trabalho a fazer nessa área, embora a medição da qualidade do ar tenha lugar ocasionalmente, mas sim devemos ir mais longe”, admite o presidente da Câmara.
Maria José Reis que desde sempre viveu na pedreira já desativada junto do Sítio das Águas, em Alenquer, lembra a altura em que os tiros de rebentamento das pedreiras causavam sérios danos à qualidade de vida das pessoas. Esse foi um dos pontos ultrapassados. Mas as rachas nas habitações testemunham essa época bem como a incidência de doenças respiratórias nos habitantes que moravam mais perto desta como de outras explorações. “Há imensa gente da minha geração que mora na minha zona com problemas respiratórios”. Por o Sítio das Águas ter como vizinha essa pedreira, a alenquerense recorda-se de graves acidentes envolvendo operários na década de 80, como “um homem que esteve meses no hospital” e teve que “levar inclusivamente uma prótese na cabeça porque as condições de trabalho eram péssimas”. “A médica do trabalho Lurdes Alvoeiro até desistiu de trabalhar com estas indústrias, porque as empresas não cumpriam as recomendações. A situação dos operários era tão má que não estava para dar aval a determinado tipo de situações”, acrescenta Isabel Graça.
O conjunto de pedreiras em Serra de Atouguia/Serra de Ota e a coexistência paredes meias com o Canhão Cársico de Ota é o que mais salta à vista quando nos chegamos ao local. O contraste é evidente e a linha que separa a marca do homem e a marca da natureza são cada vez mais indistinguíveis (foto acima). Nos últimos anos, o Orçamento Participativo (OP) dotou uma verba para o estudo daquele património que rapidamente começou a atrair atenções. Em pouco tempo, organizou-se mesmo um turismo de natureza em torno do conhecimento deste património que urge preservar. “Trata-se de uma zona calcária do tempo jurássico escavada por um rio que conseguiu dar a aparência ao local de uma garganta funda, como se de um desfiladeiro se tratasse, ou de uma duna gigantesca mas em que os grãos de areia são pedras”, descrevia, desta forma, no início de 2015 à nossa reportagem, José Carlos Morais, proponente do estudo dotado com 45 mil euros pelo OP de Alenquer. De acordo com o Inventário de Geossítios de Relevância Nacional, em 2014, este património é “o mais extenso e espetacular vale em canhão das regiões calcárias portuguesas”.
No local, os ambientalistas estranharam a abertura de um caminho que diminuiu ainda mais a distância de segurança entre as pedreiras, o aterro e o canhão. “Isto desvaloriza completamente o canhão cársico. Nunca pedimos para que se encerrasse as pedreiras, mas de facto os industriais têm a convicção de que podem fazer tudo. Só há duas formas de levar as pessoas a cumprir a lei: se puderem lucrar com isso, ou então obrigando-as efetivamente”, aludiu Francisco Henriques que informou que há prazos e calendários para esta área de negócio com a obrigatoriedade de vistorias trianuais, por um lado, por outro lado, todos os anos até ao final do mês de abril deve ser enviado à direção-geral de Geologia um mapa estatístico relativo à produção verificada no ano anterior. “Gostava de saber se esses relatórios foram ou não enviados. É um fechar de olhos completo. Estamos metidos num caldo de cultura e num laxismo enorme”. O presidente da Câmara de Alenquer concorda que as entidades do Estado deveriam fiscalizar de outra forma. Pedro Folgado refere que os industriais a laborar em Alenquer não querem ficar associados a uma tragédia como a de Borba. A segurança será uma meta, mas não se avizinham outros objetivos a curto-médio prazo quanto às suas obrigações no futuro em matéria ambiental. Para o autarca “ só um novo paradigma pode alterar o estado de coisas”. “A Direção-Geral de Geologia e Minas de facto não faz esse trabalho de fiscalização nas devidas condições”. Quanto ao caminho construído na zona da pedreira que indignou os ambientalistas, adverte – “Não podemos ser fundamentalistas, estamos a falar de uma passagem que também era importante e válida para a população de Atouguia. Temos de articular as vontades existentes: a nossa de proteger, os empresários em explorar, e a população que neste caso pediu a reabertura do caminho que era de pé posto, e que estava cheio de silvas”.
Mas a Câmara de Alenquer, segundo Isabel Graça, não estará isenta de culpas pois, ainda, recentemente a Assembleia Municipal aprovou o interesse público da ampliação da pedreira da empresa Calcetal Lda, em junho do ano passado, no âmbito do Regime Excecional de Regularização das Atividades Económicas, cuja exploração se encontra no início de uma linha de água que começa no alto de um cabeço que passa pelo canhão cársico. Os deputados da oposição repudiaram a posição da maioria socialista favorável à proposta e quando em causa estaria uma ocupação ilegítima do domínio hídrico e da Reserva Ecológica Nacional (REN), e também zona de proteção intermédia do perímetro de captação de água destinada ao abastecimento público de água. Neste domínio, a Alambi ressalva a necessidade de uma atenção redobrada por parte das entidades em relação à água consumida pela população do concelho. Segundo a entidade reguladora do setor das águas, as análises à qualidade da água que sai das torneiras é boa, mas as pedreiras são também fator de preocupação para entidades como a EPAL que explora em alta a captação de água no concelho e que em 2011, só a título de exemplo, se opôs fortemente à ampliação da pedreira da Cova da Égua, Ota, por se encontrar a 1200 metros de uma das três captações de águas subterrâneas que possuí no aquífero Ota-Alenquer.
A Alambi elucidava à época da aprovação da ampliação daquela pedreira que na vizinha da Serra de Atouguia as águas provenientes da lavagem dos inertes estavam a ser lançadas diretamente nas linhas de água contrariamente ao exigido. “Apesar de todas as violações das práticas estabelecidas nenhuma entidade fiscalizadora obrigou a que fosse cumprido o que estava determinado no estudo de impacte ambiental”.
A consagração do canhão cársico como paisagem natural de âmbito local com um estatuto de área protegida encontra-se em marcha. Com a constituição da futura comissão diretiva “a pedreira também terá de obedecer a um conjunto de regras futuras”, diz Pedro Folgado, que não esconde que o caminho será longo.
O Valor Local tentou o contacto com três das empresas do setor a operar no concelho: Calbrita, Secil Britas e Cimpor/Agrepor. Enviámos via email questões acerca dos diversos aspetos da sua atividade aqui focados nesta reportagem mas até à hora de fecho de edição não recebemos feed-back, à exceção da Secil que adiantou do seu interesse em responder às questões, mas que devido à mudança recente de responsáveis na Secil Britas e à ausência do administrador responsável na fábrica da Tunísia, não seria possível dar a conhecer a sua posição no prazo pedido. Diz ainda a empresa que possui dados e fotos que contrariam as posições veiculadas pelos outros intervenientes nesta reportagem, os quais ficamos a aguardar.
Na segunda parte desta reportagem que sairá na edição de 21 de março, ficou o convite a cada uma delas para uma reportagem in loco, estando o nosso jornal a aguardar resposta quanto a esta matéria.
A Alambi elucidava à época da aprovação da ampliação daquela pedreira que na vizinha da Serra de Atouguia as águas provenientes da lavagem dos inertes estavam a ser lançadas diretamente nas linhas de água contrariamente ao exigido. “Apesar de todas as violações das práticas estabelecidas nenhuma entidade fiscalizadora obrigou a que fosse cumprido o que estava determinado no estudo de impacte ambiental”.
A consagração do canhão cársico como paisagem natural de âmbito local com um estatuto de área protegida encontra-se em marcha. Com a constituição da futura comissão diretiva “a pedreira também terá de obedecer a um conjunto de regras futuras”, diz Pedro Folgado, que não esconde que o caminho será longo.
O Valor Local tentou o contacto com três das empresas do setor a operar no concelho: Calbrita, Secil Britas e Cimpor/Agrepor. Enviámos via email questões acerca dos diversos aspetos da sua atividade aqui focados nesta reportagem mas até à hora de fecho de edição não recebemos feed-back, à exceção da Secil que adiantou do seu interesse em responder às questões, mas que devido à mudança recente de responsáveis na Secil Britas e à ausência do administrador responsável na fábrica da Tunísia, não seria possível dar a conhecer a sua posição no prazo pedido. Diz ainda a empresa que possui dados e fotos que contrariam as posições veiculadas pelos outros intervenientes nesta reportagem, os quais ficamos a aguardar.
Na segunda parte desta reportagem que sairá na edição de 21 de março, ficou o convite a cada uma delas para uma reportagem in loco, estando o nosso jornal a aguardar resposta quanto a esta matéria.
Comentários
Fui empregado da Calbrita, despedido pelo novo dono, homem muito rico que dizem ter sido sócio do descalabro do BES, habituado a comprar terrenos por 1 e a vender por 10, criador de cavalos, touros, arroz e tomate. Este tal Senhor Alves Inácio, rico e se calhar depois de roubar todos nós pelos impostos não pagos, chegou à Calbrita e despediu funcionários. Explora a todo o gás, reservas que não são da empresa, alugados os terrenos e que no final vão ficar por recuperar e a população com buracos e ambiente desgraçado. Este homem queria utilizar os terrenos do falecido patrão onde eram exploradas areias para a fábrica de cimento, para fazer uma produção de milhares de bois, dizia que já tinha o acordo do Presidente da Câmara. As autoridades exigiram a este “pato bravo” garantias financeiras para no futuro serem recuperadas as pedreiras? Ou estão à espera que este homem explore as pedreiras e no fim volta à sua quinta em Benavente de mil hectares mais rico e feliz e nós ficamos mais pobres e mais tristes? Este tal Alves Inácio é sócio na Calbrita do outro grande artista ligado ao aeroporto da Ota um tal Eng Varela da Tiner. Lembram-se? Falências e dívidas e no fim sócios para sugarem a Calbrita e desgraçarem a população de Alenquer. Será que a Autoridade Tributária não vê os sinais exteriores de riqueza destes senhores. Quintas, casas, carros, helicópteros, cavalos, caçadas e muitos milhões de euros de património. Pagaram impostos?
João Gaspar
Alenquer
29-11-2019 às 12:37
João Gaspar
Alenquer
29-11-2019 às 12:37
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