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SIRESP sem rede na Região
Autor: Miguel António Rodrigues
07-08-2019 às 11:11
​Quando se fala do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP) há alguma unanimidade entre os corpos de bombeiros sobre as suas virtualidades e os inconvenientes . Ouvidos pelo Valor Local, os comandantes dos bombeiros de Azambuja, Alcoentre, e Merceana, descrevem o sistema, agora detido a 100 por cento pelo Estado como uma mais-valia “desde que funcione”.

Acontece porém que o sistema integrado de comunicações, está longe de ser perfeito, e claro a sua aceitação ao nível das estruturas dos bombeiros, fica dependente da fiabilidade do serviço prestado, que em ocasiões de emergência pode ficar sobrecarregado e deixa de funcionar, como aliás aconteceu nos incêndios em Pedrogão Grande em 2017.

Desde que foi adquirido e implementado pelo governo de Sócrates, do qual António Costa, atual primeiro-ministro, era Ministro da Administração Interna, que o sistema gerou controvérsia. O Estado comprou, este ano, por sete milhões de euros a parte dos operadores privados, Altice e Motorola, no Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança.

As falhas de rede e a necessidade de adquirir um sistema que à época foi dispendioso, dividiram não só a sociedade portuguesa, como os mais diversos responsáveis políticos e atores do teatro de operações, como alguns destacados elementos da proteção civil nacional.

Certo é que não existe em parte nenhuma do mundo sistemas perfeitos, mas o SIPRESP nacional, que já deu provas de falhar em situações emergentes, fica uns furos bem abaixo dos seus congéneres, algo a que a que as forças de proteção civil, nomeadamente, os bombeiros, já se habituaram a contornar com os seus velhos rádios de comunicações na banda VHF.

Não é por isso de estranhar, que as viaturas de comando, e grande parte da restante frota dos bombeiros, estejam equipadas com vários sistemas de comunicação, desde o velho rádio VHF que opera na rede ROB (Rede Operacional dos Bombeiros), passando inclusive pelos telemóveis que já fazem parte do equipamento habitual, que comprova-se serem mais eficazes na transmissão de dados às entidades superiores, do que os próprios rádios dedicados, como o caso do SIRESP.

O Valor Local quis saber como se articulam os bombeiros da nossa região e como contornam os obstáculos. Não foi por isso difícil encontrar zonas sombra nas áreas de Azambuja; Alcoentre e Merceana, no entanto, todos reconhecem que atualmente existiu um ligeiro aumento da cobertura da rede na região.

Com transmissor na serra do Montejunto e antenas repetidoras um pouco pela região, o SIRESP permite através de vários canais, comunicar entre as estruturas nacionais e todos os elementos de proteção civil em todo o país. O problema surge quando se juntam muitos participantes num determinado canal, sobcarregando a rede deixando-a inoperacional. Esta situação tem sido recorrente ao longo dos anos e desde sempre uma preocupação dos bombeiros, para além de uma outra relacionada com as ainda existentes zonas sombra, já que a cobertura do SIRESPE depende da orografia do terreno e é limitada pelas estruturas metálicas ou de betão.

Em traços gerais, o SIRESP não é mais do que um telemóvel mais evoluído e que utiliza as mesmas torres de comunicações que o operador de telecomunicações MEO. Embora as frequências sejam diferentes, certo é que a dependência desta rede acaba por fragilizar ainda mais o sistema. O SIRESP há muito que faz parte das preocupações da proteção cível, no entanto, só mais recentemente, face aos incêndios no centro do país em 2017, é que a visibilidade das suas falhas foi mais mediatizada. Tal levou o Governo a adquirir a empresa ao grupo Altice e à Motorola, com a garantia de tentar minimizar as falhas no futuro.
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​Zona de Vila Nova de São Pedro deficitária a nível das comunicações
 
O Valor Local viajou com os bombeiros de Alcoentre pela zona mais acidentada da sua área de intervenção. A bordo do carro de comando com o comandante Eifel Garcia, foi possível verificar as fragilidades do sistema na zona de Vila Nova de São Pedro, concelho de Azambuja. Para Eifel Garcia o SIRESP é um bom equipamento. Tem o problema de falhar quando há muitas pessoas a utilizá-lo ao mesmo tempo. Segundo o comandante, já existiram situações em que o equipamento ficou inoperacional devido à sobrecarga, mas “depois fica de novo a funcionar, à medida que as pessoas vão deixando esse canal”.

Há outras fragilidades no SIRESP. O rádio tem por exemplo um sistema de georreferenciação. “O que é bom para o resgate de um companheiro em emergência”, começa por referir o comandante local. Esse sistema é ativado pelo próprio elemento, e a partir daí os outros rádios deixam de transmitir, sendo que as comunicações passam a ser exclusivas do rádio que deu o alerta. O sistema pode até ter boas intenções, mas se por acidente alguém permitir o modo de emergência, não há outra forma de contacto entre os bombeiros e proteção civil naquele teatro de operações.

Esta é apenas uma das fragilidades deste sistema, que segundo Eifel Garcia até apresenta aspetos interessantes do ponto de vista das comunicações, mas com limitações.

Com uma área de intervenção bastaste rural e sinuosa, os bombeiros de Alcoentre “fazem das tripas coração” para chegar a todo o lado no menor espaço de tempo. Algo que não é fácil, quando existem vales encaixados onde em caso de incêndio podem ser provocadas correntes convectivas que na prática são correntes quentes e frias geradas pelos incêndios em vales e encostas.


​Eifel Garcia mostrou ao Valor Local alguns desses locais nas encostas de Vila Nova de São Pedro, precisamente numa das ditas zonas sombra do SIRESP, onde as dificuldades de comunicação serão agudizadas pelo número de operacionais a utilizar o rádio SIRESP. No entanto, Eifel Garcia salienta que à semelhança dos seus colegas, o velho rádio VHF acaba por ser uma boa alternativa para quando as comunicações do SIRESP falham. O comandante dos Bombeiros de Alcoentre refere, entretanto, que se torna habitual a utilização do VHF em substituição do SIRESP. É algo a que a maioria dos bombeiros já está habituada e que de norte a sul do país tem sido prática corrente desde que o SIRESP foi implementado.

Aliás Eifel Garcia sustenta mesmo que o que se passou em Pedrogão, devia ter sido um ensinamento no que toca às comunicações. O comandante dos Bombeiros de Alcoentre que foi destacado no segundo dia dos incêndios da zona centro, recorda que a falha de comunicações no local esteve relacionada com o facto de terem ardido algumas das estruturas, nomeadamente, cabos que levam as comunicações entre as diversas torres. Para Eifel Garcia, só o facto de os cabos não estarem enterrados e livres do fogo, já é meio caminho andado para que as comunicações falhem.
No entanto essa é uma questão que está longe de ser resolvida, até porque, tal como constatamos, em Pedrogão, os cabos continuam a ser po via aérea, bem perto das copas das árvores, assim como na nossa região, onde é frequente ver cabos de comunicações próximos de cabos de média tensão e ao alcance, muitas vezes de uma possível mão criminosa.

Com uma zona rural bastante sinuosa, os bombeiros de Alcoentre têm ainda zonas críticas de intervenção. Para além do IC2 que liga Alcoentre a Rio Maior que é palco de vários acidentes graves, os voluntários de Alcoentre intervêm ainda na nacional 366, Auto-Estrada do Norte e partilham o socorro na CLC – Companhia Logística de Combustíveis em Aveiras de Cima com os Bombeiros de Azambuja.

Com efeito, nas instalações da CLC, não existe rede SIRESP. As infraestruturas não ajudam na propagação do sinal e as existentes normas de segurança obrigam à utilização de rádios com tecnologia Atex. Estes são equipamentos caros e têm como objetivo fornecer comunicações em locais onde existe uma atmosfera potencialmente explosiva, nomeadamente através gases que podem ser inflamados, como é o caso da CLC.
Neste caso, Eifel Garcia, sublinha a contínua formação ministrada pela empresa através de vários cursos orientados por um antigo comandante dos bombeiros de Alcoentre, Manuel Agostinho.

Segundo o operacional de Alcoentre, todos os cursos têm sido importantes no sentido de se saber atuar face a uma possível situação de perigo, vincando a importância dos simulacros realizados na CLC, não sendo relevante a existência ou não da rede SIRESP dentro da empresa, já que a mesma fornece, em caso de necessidade, as suas próprias comunicações aos bombeiros.


​SIRESP não funciona dentro do próprio quartel de bombeiros de Azambuja

Ricardo Correia, comandante dos bombeiros de Azambuja, é da mesma opinião. Para o operacional, a CLC tem um bom plano de segurança, no entanto no caso de uma situação de emergência real, é da opinião de que, nessa altura, a utilização de um rádio com a tecnologia Atex será secundária, já que em tais ocasiões, acredita que todos os meios serão usados.

Tal como em Alcoentre, também Azambuja faz alguma formação na CLC. A mais recente foi há cerca de uma semana, quando a empresa entregou uns kits de emergência às corporações de bombeiros que atuam na sua zona de influência. Para além das associações do concelho de Azambuja, destacam-se ainda as de Salvaterra, Benavente e Samora Correia que receberam um kit composto por algumas soluções de espuma e pás de bronze que evitam que a fricção faça qualquer tipo de faísca e desenvolva um incêndio.

Para Ricardo Correia, o SIRESP é também um bom instrumento de trabalho. Contudo à semelhança dos colegas, aponta falhas na hora de “mais aperto” no teatro das operações. O operacional diz que por mais do que uma vez, foi obrigado a trocar o SIRESP pelas comunicações VHF, e que isso fez toda a diferença no Teatro de Operações (TO).

Não sendo um sistema prefeito, o SIRESP tem também zonas sombra na área de operacionalidade dos bombeiros de Azambuja: em Casais de Baixo, Aveiras de Cima e Aveiras de Baixo e numa encosta de Vale do Paraíso. No entanto, estes  são apenas alguns dos locais onde o Valor Local testemunhou a “falta de rede” do sistema.

Estas são zonas “escuras” do ponto de vista da rede SIRESP que tem falta de rede também “próximo dos grandes centros urbanos” salienta Ricardo Correia, que aponta falha de rede dentro do próprio quartel dos bombeiros e também na zona de triagem das urgências do Hospital de Vila Franca de Xira.

Para Ricardo Correia, o sinal até tem vindo a melhorar um pouco. Mas isso não significa que numa emergência, as comunicações funcionem na perfeição. Com efeito, em todos os locais onde não existe rede SIRESP, a rede MEO também apresenta deficiências.  É público que à passagem por Aveiras de Baixo, praticamente nenhuma rede de telecomunicações funciona, sendo que o SIRESP também tem dificuldades naquela localidade.
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​O comandante do corpo de bombeiros de Azambuja ressalva igualmente ao Valor Local que estas “zonas sombra, criam alguns constrangimentos no que toca ao Teatro de Operações”. Para o comandante “é um problema já reportado várias vezes” nomeadamente “em ambiente de TO”, e sublinha que “sem resolução à vista e não sabemos quem o irá resolver nem quando”, afirma.

Ricardo Correia fala de um incêndio verificado no ano passado em Vale do Paraíso, onde as comunicações SIRESP não funcionaram –  “O primeiro chefe de equipa que chegou não conseguia dar conta do que se estava a passar, nem responder aos meios que estavam a caminho, para os posicionar”, refere o comandante. “Criaram-se alguns constrangimentos, e decidiu-se usar o telemóvel para passar informação ao Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS Lisboa). Mais tarde reposicionámos um veículo em local de cobertura de rede, para receber os que que estavam a caminho”.

No entanto, para o comandante dos bombeiros de Azambuja, o SIRESP pode não funcionar em longo alcance, mas refere que os rádios conseguem falar entre si numa distância curta, funcionando como se fosse um walkie talkie, um pouco mais evoluído.
Quando o SIRESP falha ficam comprometidas as comunicações com entidades externas que falem naquele canal, sendo que nesses casos é usada como alternativa a rede ROB através do VHF.

Os bombeiros de Azambuja têm algumas zonas críticas, entre elas encontram-se a Nacional 3, com centenas de pesados por dia, a linha de caminho-de-ferro, a CLC e as empresas de logística na zona industrial entre outras. Neste último caso, Ricardo Correia, frisa a importância da formação dos voluntários e profissionais daquela casa, que asseguram o socorro à população sempre que necessário.
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Vila Verde dos Francos com falha total de SIRESP

Também na Merceana, concelho de Alenquer, as dificuldades de comunicação do SIRESP são evidentes. A constatação foi feita pelo Valor Local junto do comandante Nuno Santos, que afirmou que muitas vezes não tem rede no seu quartel de bombeiros.

Nuno Santos, que partilha das preocupações dos colegas de Alcoentre e Azambuja, salientou à nossa reportagem que embora não tenha indústrias poluentes e potencialmente perigosas na sua área de atuação, considera que em Teatro de Operações a falha do SIRESP pode ser crítica, sobretudo tendo em conta o facto de a freguesia da Merceana ter uma orografia de terreno bastante sinuosa e diversificada. Ainda assim o operacional salienta que a falha de comunicações é evidente em locais como Vila Verde dos Francos, já que é uma zona muito montanhosa e a orografia do terreno, é conhecida por influenciar as comunicações entre os utilizadores do SIRESP.

Já nesse sentido, Nuno Santos vinca que a utilização dos velhos rádios de VHF são mesmo a melhor solução, pela fiabilidade e alcance dos mesmos em TO. No entanto, esta não é a maior preocupação dos voluntários da Merceana, porque é colmatada pelos velhos sistemas de comunicações.

Para o operacional, os bombeiros necessitam de mais e de melhores condições, e isso passa pela construção ou requalificação do atual quartel de bombeiros, que há muito pede uma intervenção.

Para o comandante, a localidade é pequena, e por isso já quase nenhum dos bombeiros reside em Merceana. Vêm sobretudo de fora, das redondezas, e por isso defende que o voluntariado deva passar a profissional. Só assim, considera, “se poder continuar a prestar um bom e um socorro de qualidade às populações.”

Contudo, Nuno Santos fala de uma sensibilidade da autarquia liderada por Pedro Folgado, nomeadamente no que toca aos apoios e à forma como olha para as duas associações de bombeiros do concelho, Alenquer e Merceana.

Aos poucos, refere, a autarquia vai ajudando, e lamenta a falta de empresas naquela zona do concelho, que pudessem ajudar aquela associação. Por enquanto, o quartel é um sonho adiado, mas possível, lamentando por exemplo que não tenham conseguido fundos da União Europeia para a aquisição de um veículo florestal “porque a CCDR diz que não temos área florestal que se justifique”, frisou o comandante que refere que esta entidade não teve em conta, por exemplo, os muitos terrenos baldios, que muitas vezes são mais perigosos do que os florestais.


Jornal Valor Local @ 2013


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