Fomos
conhecer algumas famílias da nossa região nesta altura em que alguns falam de
uma certa “retoma”: Quem vive com a ajuda de um subsídio da Segurança Social e
tenta desesperadamente encontrar trabalho, quem ainda há poucos anos ganhava um
ordenado acima da média e teve de pedir ajuda e ainda o caso de uma
ex-empresária, agora trabalhadora rural. São casos de filhos da crise que todos
esperam que não se demore a ir embora.

Elisabete Afonso é o espelho real de que a vida pode mesmo dar muitas voltas. Em 2009, tinha uma vida estável, auferia 1750 euros de ordenado como secretária de uma empresa farmacêutica na zona da grande Lisboa, mas a explosão do mercado rival dos genéricos, ditou o seu despedimento, assim como, de outros colegas. Casada e com dois filhos, o marido, embora com um ordenado mais pequeno, também ficou desempregado, e acabou por a acompanhou pelos corredores do desemprego, quase ao mesmo tempo. Em 2011, esta família residente no Carregado teve de estender a mão à solidariedade junto da Loja Social do Carregado.
Em casa tem dossiers carregados com comprovativos de presenças em entrevistas, currículos e candidaturas espontâneas enviadas para outras empresas do mesmo tipo, e a dada altura para todo o tipo de trabalhos. “Há cinco anos com 38 anos, era considerada velhíssima para certos empregos, hoje com 43 nem pensar! É assim que funciona o mercado”. Não conseguiu muito mais nos últimos anos do que alguns trabalhos precários e ocasionais de baby-sitter, limpezas domésticas, lavagens de escadas, e também de engomadoria para particulares. “Candidatei-me a tudo, até porque, como é óbvio, tinha noção de que nunca mais ia ganhar tanto como antes. Mas nunca fui de chorar o passado e lamentar-me, tentei encarar o futuro da melhor maneira. Eu dizia muitas vezes que quando não se pode comer bifes, come-se bifanas, ou salsichas, pois a vida haveria de melhorar algum dia”, recorda-se.
Entretanto, a vida de ambos conheceu um volte-face positivo. Elisabete Afonso conseguiu, no mês passado, emprego numa das empresas da zona do Carregado, como operária fabril. Embora, longe das suas capacidades, não podia estar mais contente por voltar à vida activa, apesar de receber o mínimo ordenado. “É uma empresa com colegas e superiores impecáveis. Estou a adorar não só por ter voltado ao mercado de trabalho, mas também porque me considero mais gente, voltei a estar melhor psicologicamente”. O marido também voltou a trabalhar, em Novembro passado, num horário nocturno, para lhe dar oportunidade de receber mais, também numa empresa do Carregado.
Mas muito presentes estão ainda os tempos, quando em 2011 bateram à porta da Loja Social do Carregado. “O meu marido estava mais incomodado com essa perspectiva do que eu, porque estava mais mentalizada. Sempre pensei que um dia posso estar bem, e no outro dia pior, e a encarar esse ponto de vista da melhor forma possível, porque a vida puxa-nos o tapete muitas vezes”. Para conseguir fazer face às despesas, teve de desfazer-se de muitos electrodomésticos, peças em ouro, móveis, aparelhos de ginástica, e até a casa onde morava antes foi devolvida ao banco, bem como a sua casa de solteira. Hoje reside mesmo ao lado do seu antigo prédio, na Urbanização da Barrada, mas numa casa mais modesta, onde paga 300 euros de renda.
Durante o tempo em que esteve desempregada, teve de fazer muitas economias a nível alimentar. “Nunca deixei de ter comida para os filhos, mas para mim houve alturas em que não tive, mas no primeiro dia em que bati à porta da loja social não tinha comida de todo.” Muitas foram as ocasiões em que deixou de pagar as contas da luz e da água. “Posso contar que vendi uma televisão que me custou 700 euros para comprar uma bilha de gás, que desde há três dias que andava a aquecer panelas de água no forno eléctrico”.
Na loja social, conta que recebeu o melhor apoio possível, “pois aquelas pessoas são inexcedíveis, roubam tempo às famílias para ajudar”. “Merecem todo o meu respeito”,considera. Apenas há um mês deixou de receber aquele apoio, dado ter arranjado trabalho.
Quando se fala da denominada retoma, considera que é possível que as coisas estejam a melhorar um pouco até porque só agora começou a trabalhar de novo. “No meu caso, posso dizer que estou a sentir essa melhoria, pois pela primeira vez em cinco anos uma empresa deu-me trabalho”.
Em casa tem dossiers carregados com comprovativos de presenças em entrevistas, currículos e candidaturas espontâneas enviadas para outras empresas do mesmo tipo, e a dada altura para todo o tipo de trabalhos. “Há cinco anos com 38 anos, era considerada velhíssima para certos empregos, hoje com 43 nem pensar! É assim que funciona o mercado”. Não conseguiu muito mais nos últimos anos do que alguns trabalhos precários e ocasionais de baby-sitter, limpezas domésticas, lavagens de escadas, e também de engomadoria para particulares. “Candidatei-me a tudo, até porque, como é óbvio, tinha noção de que nunca mais ia ganhar tanto como antes. Mas nunca fui de chorar o passado e lamentar-me, tentei encarar o futuro da melhor maneira. Eu dizia muitas vezes que quando não se pode comer bifes, come-se bifanas, ou salsichas, pois a vida haveria de melhorar algum dia”, recorda-se.
Entretanto, a vida de ambos conheceu um volte-face positivo. Elisabete Afonso conseguiu, no mês passado, emprego numa das empresas da zona do Carregado, como operária fabril. Embora, longe das suas capacidades, não podia estar mais contente por voltar à vida activa, apesar de receber o mínimo ordenado. “É uma empresa com colegas e superiores impecáveis. Estou a adorar não só por ter voltado ao mercado de trabalho, mas também porque me considero mais gente, voltei a estar melhor psicologicamente”. O marido também voltou a trabalhar, em Novembro passado, num horário nocturno, para lhe dar oportunidade de receber mais, também numa empresa do Carregado.
Mas muito presentes estão ainda os tempos, quando em 2011 bateram à porta da Loja Social do Carregado. “O meu marido estava mais incomodado com essa perspectiva do que eu, porque estava mais mentalizada. Sempre pensei que um dia posso estar bem, e no outro dia pior, e a encarar esse ponto de vista da melhor forma possível, porque a vida puxa-nos o tapete muitas vezes”. Para conseguir fazer face às despesas, teve de desfazer-se de muitos electrodomésticos, peças em ouro, móveis, aparelhos de ginástica, e até a casa onde morava antes foi devolvida ao banco, bem como a sua casa de solteira. Hoje reside mesmo ao lado do seu antigo prédio, na Urbanização da Barrada, mas numa casa mais modesta, onde paga 300 euros de renda.
Durante o tempo em que esteve desempregada, teve de fazer muitas economias a nível alimentar. “Nunca deixei de ter comida para os filhos, mas para mim houve alturas em que não tive, mas no primeiro dia em que bati à porta da loja social não tinha comida de todo.” Muitas foram as ocasiões em que deixou de pagar as contas da luz e da água. “Posso contar que vendi uma televisão que me custou 700 euros para comprar uma bilha de gás, que desde há três dias que andava a aquecer panelas de água no forno eléctrico”.
Na loja social, conta que recebeu o melhor apoio possível, “pois aquelas pessoas são inexcedíveis, roubam tempo às famílias para ajudar”. “Merecem todo o meu respeito”,considera. Apenas há um mês deixou de receber aquele apoio, dado ter arranjado trabalho.
Quando se fala da denominada retoma, considera que é possível que as coisas estejam a melhorar um pouco até porque só agora começou a trabalhar de novo. “No meu caso, posso dizer que estou a sentir essa melhoria, pois pela primeira vez em cinco anos uma empresa deu-me trabalho”.
“Se
arranjasse um emprego era a mulher mais feliz do mundo”
Beneficiária do Rendimento Social de Inserção (RSI), Sandra Ferreira, residente em Azambuja, é uma das contempladas pelo programa “ cheque social” para compra de carne e peixe da autarquia de Azambuja nos estabelecimentos aderentes. Nos últimos anos, poucas vezes tem conseguido arranjar trabalho. O facto de apenas ter a quarta classe para isso também tem contribuído. No entanto, refere que é uma mulher que gosta de se fazer à vida, e que até faz trabalhos de homem se for necessário. “Conduzo tractores, carrinhas, aprendi a fazer de tudo um pouco, gosto de trabalhar no campo”.
Com 36 anos, separada e com quatro filhos, tem dois à guarda de familiares, um numa instituição; e consigo apenas o mais novo, ainda bebé. Paga 150 euros de renda quando recebe apenas da Segurança Social 135 euros de RSI. “A minha sorte é que o pai do bebé quando pode dá 150 euros por mês”. À nossa reportagem diz que o melhor que lhe podia acontecer era arranjar um trabalho, porque até à data apenas conseguiu empregos temporários. Algumas situações da sua vida pessoal, como a retirada de um dos filhos, devido a situações de indisciplina, que não de maus tratos ou negligência parental, deixaram-na com problemas de anorexia e queda de cabelo, mas tem conseguido levar a sua vida.
“Infelizmente não consigo encontrar trabalho, quando há campanhas no campo vou sempre, assim como, quando as firmas de trabalho temporário me chamam para alguns dias, como a Matutano. Vou ao centro de emprego praticamente todas as semanas para ver o que me podem arranjar. Chego a sair de casa de automóvel para ver ofertas aqui na zona, durante um dia inteiro, mas como o dinheiro mal dá para a gasolina vou bastante devagarinho para conseguir regressar, não vou além dos 50 km/hora”, relata, adiantando que recentemente foi chamada para uma formação de forma a colmatar a sua deficiente escolaridade.
Conseguir pagar as contas e ainda criar um filho com poucos meses de vida, é uma tarefa deveras difícil. Os 150 euros que recebe do pai da criança vão directamente para a renda, sobra o dinheiro do RSI para as contas. Parte da alimentação é comprada com o cheque social da autarquia, no valor de 12 euros mensais. Recebe ainda apoio a nível alimentar do centro paroquial.
“Conheço quem esteja a receber este tipo de subsídio e que se recusa perante certos trabalhos, no meu caso é o contrário nunca direi que não a nada”.
Apoios da Câmara de Azambuja aos carenciados
Actualmente, são 92 os agregados familiares do concelho de Azambuja, que o município ajuda com o cheque social. De acordo com dados solicitados junto dos serviços da Acção Social, foram entregues no passado mês de Março 1722 euros através deste cheque aos carenciados do concelho. No que se refere aos outros apoios dados pela Câmara, 22 agregados familiares recebem o denominado “cheque farmácia” que ajuda na compra de medicamentos. No passado mês de Março, 220 euros foram para este apoio. No total e em orçamento, a Câmara tem para o cheque social (carne e peixe): 31 mil euros; 2500 euros para os cheques farmácia, e nove mil euros para ajuda na reparação de habitações. A autarquia também comparticipa a compra do leite em pó às mães carenciadas com bebés.
Segundo o presidente da Câmara, Luís de Sousa, uma das vertentes do apoio social a investir, de momento, seria na recuperação dos apartamentos junto à cadeia de Vale de Judeus, cerca de 70 casas, que seriam muito benéficas para esta população, após terem sido desocupados pelos funcionários da prisão. São apartamentos que precisariam apenas de algumas pequenas obras e retoques. A Câmara está a preparar o dossier no sentido de uma resposta positiva por parte do Ministério da Justiça.
Todas as semanas, chegam à Câmara casos muito graves. “Ainda há pouco tempo uma senhora chegou ao meu gabinete porque em casa só tinha no frigorífico seis iogurtes e um pacote de manteiga. Entretanto, conseguimos apoiá-la com o cheque da carne e do peixe. Muita gente também se queixa de que não tem dinheiro para a renda de casa. Encaminhamos para a Segurança Social e tentamos ajudar”.
“Por outro lado, há quem usufrua da habitação social, mas não consegue pagar a água e a luz, e ficamos novamente com um problema. Há quem acabe por declinar ir para uma casa da habitação deste tipo, precisamente porque não têm dinheiro para o resto”, acrescenta Herculano Valada, com o pelouro da Intervenção Social.
Soubemos já depois desta reportagem que Sandra Ferreira foi solicitada para uma entrevista a fim de preencher uma vaga, ainda que temporária, nos serviços de limpeza do município.
Beneficiária do Rendimento Social de Inserção (RSI), Sandra Ferreira, residente em Azambuja, é uma das contempladas pelo programa “ cheque social” para compra de carne e peixe da autarquia de Azambuja nos estabelecimentos aderentes. Nos últimos anos, poucas vezes tem conseguido arranjar trabalho. O facto de apenas ter a quarta classe para isso também tem contribuído. No entanto, refere que é uma mulher que gosta de se fazer à vida, e que até faz trabalhos de homem se for necessário. “Conduzo tractores, carrinhas, aprendi a fazer de tudo um pouco, gosto de trabalhar no campo”.
Com 36 anos, separada e com quatro filhos, tem dois à guarda de familiares, um numa instituição; e consigo apenas o mais novo, ainda bebé. Paga 150 euros de renda quando recebe apenas da Segurança Social 135 euros de RSI. “A minha sorte é que o pai do bebé quando pode dá 150 euros por mês”. À nossa reportagem diz que o melhor que lhe podia acontecer era arranjar um trabalho, porque até à data apenas conseguiu empregos temporários. Algumas situações da sua vida pessoal, como a retirada de um dos filhos, devido a situações de indisciplina, que não de maus tratos ou negligência parental, deixaram-na com problemas de anorexia e queda de cabelo, mas tem conseguido levar a sua vida.
“Infelizmente não consigo encontrar trabalho, quando há campanhas no campo vou sempre, assim como, quando as firmas de trabalho temporário me chamam para alguns dias, como a Matutano. Vou ao centro de emprego praticamente todas as semanas para ver o que me podem arranjar. Chego a sair de casa de automóvel para ver ofertas aqui na zona, durante um dia inteiro, mas como o dinheiro mal dá para a gasolina vou bastante devagarinho para conseguir regressar, não vou além dos 50 km/hora”, relata, adiantando que recentemente foi chamada para uma formação de forma a colmatar a sua deficiente escolaridade.
Conseguir pagar as contas e ainda criar um filho com poucos meses de vida, é uma tarefa deveras difícil. Os 150 euros que recebe do pai da criança vão directamente para a renda, sobra o dinheiro do RSI para as contas. Parte da alimentação é comprada com o cheque social da autarquia, no valor de 12 euros mensais. Recebe ainda apoio a nível alimentar do centro paroquial.
“Conheço quem esteja a receber este tipo de subsídio e que se recusa perante certos trabalhos, no meu caso é o contrário nunca direi que não a nada”.
Apoios da Câmara de Azambuja aos carenciados
Actualmente, são 92 os agregados familiares do concelho de Azambuja, que o município ajuda com o cheque social. De acordo com dados solicitados junto dos serviços da Acção Social, foram entregues no passado mês de Março 1722 euros através deste cheque aos carenciados do concelho. No que se refere aos outros apoios dados pela Câmara, 22 agregados familiares recebem o denominado “cheque farmácia” que ajuda na compra de medicamentos. No passado mês de Março, 220 euros foram para este apoio. No total e em orçamento, a Câmara tem para o cheque social (carne e peixe): 31 mil euros; 2500 euros para os cheques farmácia, e nove mil euros para ajuda na reparação de habitações. A autarquia também comparticipa a compra do leite em pó às mães carenciadas com bebés.
Segundo o presidente da Câmara, Luís de Sousa, uma das vertentes do apoio social a investir, de momento, seria na recuperação dos apartamentos junto à cadeia de Vale de Judeus, cerca de 70 casas, que seriam muito benéficas para esta população, após terem sido desocupados pelos funcionários da prisão. São apartamentos que precisariam apenas de algumas pequenas obras e retoques. A Câmara está a preparar o dossier no sentido de uma resposta positiva por parte do Ministério da Justiça.
Todas as semanas, chegam à Câmara casos muito graves. “Ainda há pouco tempo uma senhora chegou ao meu gabinete porque em casa só tinha no frigorífico seis iogurtes e um pacote de manteiga. Entretanto, conseguimos apoiá-la com o cheque da carne e do peixe. Muita gente também se queixa de que não tem dinheiro para a renda de casa. Encaminhamos para a Segurança Social e tentamos ajudar”.
“Por outro lado, há quem usufrua da habitação social, mas não consegue pagar a água e a luz, e ficamos novamente com um problema. Há quem acabe por declinar ir para uma casa da habitação deste tipo, precisamente porque não têm dinheiro para o resto”, acrescenta Herculano Valada, com o pelouro da Intervenção Social.
Soubemos já depois desta reportagem que Sandra Ferreira foi solicitada para uma entrevista a fim de preencher uma vaga, ainda que temporária, nos serviços de limpeza do município.

Passou
de empresária a trabalhadora rural
“Faço todos os sacrifícios pelos meus filhos”
A família de Sandra Seabra é numerosa, para além de si e do marido, há quatro filhos para criar, sendo que a mais velha frequenta o primeiro ano da universidade. O Governo ainda há pouco tempo mostrou a sua preocupação com os baixos índices da natalidade, mas na opinião de Sandra, “não há muitos estímulos para que haja mais crianças, os valores dos abonos são muito baixos, e no caso da minha filha que está na universidade não existem mecanismos no caso de um dos pais ficar desempregado, de modo a que os jovens não deixem de estudar, como tem acontecido tantas vezes”.
Também no caso de Sandra Seabra, a crise reflectiu-se bastante na sua vida. Ainda há uns anos trabalhava na PT, onde era supervisora e ganhava bem. Engravidou, mas conseguiu com o dinheiro do despedimento abrir o negócio de uma vidreira que correu bem até o país chegar ao pico da crise na construção. “Batalhei durante quase três anos, mas não tive outra alternativa”. Depois, esteve durante o último ano a trabalhar num supermercado na vila de Azambuja, mas conta que entretanto foi dispensada. “Chorei durante dois dias, pois como conseguiria fazer face aos meus encargos?! O meu marido trabalha como camionista mas não é suficiente, pois a ginástica financeira que temos de fazer tem de respeitar muitas regras”. Dada a urgência em arranjar trabalho, a azambujense começou há poucos dias na apanha de tomate. “É um trabalho honesto, onde até vou ganhar mais, apesar de ser mais exigente fisicamente”.
Para fazer face às despesas da casa, a família necessita de 1500 euros, sendo que o ordenado do marido não seria suficiente, caso continuasse desempregada. Para já tem trabalho até Junho. Se a retoma está de facto aí ou não, acha que ainda é cedo para se falar disso, pois tendo em conta que trabalhou num supermercado até há poucas semanas, não presenciou mais poder de compra, ou maiores gastos. “As pessoas queriam sempre o mais barato”, avalia, e considera: “Acho que estamos todos de pé atrás, será que é desta ou não? Já ouvimos tantas promessas…”
Com uma filha na faculdade, as despesas “cresceram”, e por isso o subsídio de desemprego que iria auferir caso não optasse por ir já trabalhar para a apanha de tomate, não iria chegar para fazer face às despesas, mesmo assim, conta com o apoio de alguns familiares que contribuem para o “bolo” dos estudos. “Os meus filhos são o meu orgulho, sempre tiveram boas notas e daí todos os meus sacrifícios”.
A gestão do dia-a-dia faz-se tentando que todas as contas possam ser pagas, por vezes já no limite dos prazos. “Os meus filhos também sabem que não posso comprar tudo o que pedem, e quando compro para um tenho de comprar para todos. Se por vezes não compro um chocolate caro, compro dos mais baratos para dar para os quatro”. Economizar lá em casa, passa por “inventar muitas refeições económicas, como salsichas com cogumelos e natas em vez de bife; fazer sopa para várias refeições, ou optarmos por ver televisão todos juntos, para não estar mais do que um aparelho ligado”. A roupa também vai passando dos mais velhos para os mais novos. Quanto à sua roupa e calçado, aproveita muita coisa que, por vezes, as amigas já não conseguem vestir “porque emagreceram ou engordaram”.
Em poucos anos, passou de empresária a trabalhadora rural, algo que nunca imaginou, “mas às vezes a vida dá estas voltas, mas não tenho medo do trabalho”.
“Faço todos os sacrifícios pelos meus filhos”
A família de Sandra Seabra é numerosa, para além de si e do marido, há quatro filhos para criar, sendo que a mais velha frequenta o primeiro ano da universidade. O Governo ainda há pouco tempo mostrou a sua preocupação com os baixos índices da natalidade, mas na opinião de Sandra, “não há muitos estímulos para que haja mais crianças, os valores dos abonos são muito baixos, e no caso da minha filha que está na universidade não existem mecanismos no caso de um dos pais ficar desempregado, de modo a que os jovens não deixem de estudar, como tem acontecido tantas vezes”.
Também no caso de Sandra Seabra, a crise reflectiu-se bastante na sua vida. Ainda há uns anos trabalhava na PT, onde era supervisora e ganhava bem. Engravidou, mas conseguiu com o dinheiro do despedimento abrir o negócio de uma vidreira que correu bem até o país chegar ao pico da crise na construção. “Batalhei durante quase três anos, mas não tive outra alternativa”. Depois, esteve durante o último ano a trabalhar num supermercado na vila de Azambuja, mas conta que entretanto foi dispensada. “Chorei durante dois dias, pois como conseguiria fazer face aos meus encargos?! O meu marido trabalha como camionista mas não é suficiente, pois a ginástica financeira que temos de fazer tem de respeitar muitas regras”. Dada a urgência em arranjar trabalho, a azambujense começou há poucos dias na apanha de tomate. “É um trabalho honesto, onde até vou ganhar mais, apesar de ser mais exigente fisicamente”.
Para fazer face às despesas da casa, a família necessita de 1500 euros, sendo que o ordenado do marido não seria suficiente, caso continuasse desempregada. Para já tem trabalho até Junho. Se a retoma está de facto aí ou não, acha que ainda é cedo para se falar disso, pois tendo em conta que trabalhou num supermercado até há poucas semanas, não presenciou mais poder de compra, ou maiores gastos. “As pessoas queriam sempre o mais barato”, avalia, e considera: “Acho que estamos todos de pé atrás, será que é desta ou não? Já ouvimos tantas promessas…”
Com uma filha na faculdade, as despesas “cresceram”, e por isso o subsídio de desemprego que iria auferir caso não optasse por ir já trabalhar para a apanha de tomate, não iria chegar para fazer face às despesas, mesmo assim, conta com o apoio de alguns familiares que contribuem para o “bolo” dos estudos. “Os meus filhos são o meu orgulho, sempre tiveram boas notas e daí todos os meus sacrifícios”.
A gestão do dia-a-dia faz-se tentando que todas as contas possam ser pagas, por vezes já no limite dos prazos. “Os meus filhos também sabem que não posso comprar tudo o que pedem, e quando compro para um tenho de comprar para todos. Se por vezes não compro um chocolate caro, compro dos mais baratos para dar para os quatro”. Economizar lá em casa, passa por “inventar muitas refeições económicas, como salsichas com cogumelos e natas em vez de bife; fazer sopa para várias refeições, ou optarmos por ver televisão todos juntos, para não estar mais do que um aparelho ligado”. A roupa também vai passando dos mais velhos para os mais novos. Quanto à sua roupa e calçado, aproveita muita coisa que, por vezes, as amigas já não conseguem vestir “porque emagreceram ou engordaram”.
Em poucos anos, passou de empresária a trabalhadora rural, algo que nunca imaginou, “mas às vezes a vida dá estas voltas, mas não tenho medo do trabalho”.

Fenómeno dos “novos pobres”
-Instituição do Cartaxo não tem mãos a medir
Os problemas sociais têm vindo agudizar-se neste contexto de crise, como tal o trabalho de algumas entidades em prol da comunidade tem sido o porto de abrigo de muitos. A Conferência do Sagrado Coração de Jesus da Sociedade de São Vicente de Paulo, no Cartaxo, tem colaborado nesta tarefa junto de algumas pessoas, nomeadamente, os chamados “novos pobres”, indivíduos, antes, da classe média, normalmente com formação académica.
Maria de Jesus fala do caso de duas irmãs professoras que “não conseguem colocação e vivem da magra reforma do pai”. “Todas as semanas vêm buscar alimentação, a mãe é doente, pelo que apoiamos também na medicação, em que as farmácias facilitam o pagamento, através da quotização dos nossos sócios. Também ajudamos nas rendas de casa de muitas famílias”.
“Ontem apareceu-nos uma família, em que o marido é advogado, e não consegue arranjar dinheiro para ficar numa sociedade. A mulher não consegue arranjar nada. Têm filhos, e não conseguem dar-lhes de comer. Os meninos, penso, que, no outro dia, perguntaram se não podiam comer um chocolate”, relata Maria de Jesus que já em jovem assistia a estas actividades de solidariedade com o pai, na vila de Azambuja. Mas hoje em dia, o cenário “agravou-se de tal maneira que estes casos deixam-me doente. Desgosta-me bastante que muitos tenham tirado os seus cursos, com a ajuda dos pais, e que nem para certos serviços os aceitem, porque caíram em dizer que tinham licenciaturas, e são logo afastados. ”.
“Sei de uma rapariga que anda a pedir na rua. Foi toxicodependente, mas está impecável, e podia trabalhar numa casa como empregada doméstica, mas devido ao estigma, todos se afastam de lhe dar trabalho. Precisa de ser ajudada para voltar a ser inserida na sociedade.”
O apoio psicológico que se possa dar aos cidadãos com mais dificuldades é “inestimável”, até tendo em conta que há cada vez menos meios, tendo em conta que “O Estado, a Camara e a Junta têm cada vez menos dinheiro”.
Sílvia Agostinho
19-04-2014
-Instituição do Cartaxo não tem mãos a medir
Os problemas sociais têm vindo agudizar-se neste contexto de crise, como tal o trabalho de algumas entidades em prol da comunidade tem sido o porto de abrigo de muitos. A Conferência do Sagrado Coração de Jesus da Sociedade de São Vicente de Paulo, no Cartaxo, tem colaborado nesta tarefa junto de algumas pessoas, nomeadamente, os chamados “novos pobres”, indivíduos, antes, da classe média, normalmente com formação académica.
Maria de Jesus fala do caso de duas irmãs professoras que “não conseguem colocação e vivem da magra reforma do pai”. “Todas as semanas vêm buscar alimentação, a mãe é doente, pelo que apoiamos também na medicação, em que as farmácias facilitam o pagamento, através da quotização dos nossos sócios. Também ajudamos nas rendas de casa de muitas famílias”.
“Ontem apareceu-nos uma família, em que o marido é advogado, e não consegue arranjar dinheiro para ficar numa sociedade. A mulher não consegue arranjar nada. Têm filhos, e não conseguem dar-lhes de comer. Os meninos, penso, que, no outro dia, perguntaram se não podiam comer um chocolate”, relata Maria de Jesus que já em jovem assistia a estas actividades de solidariedade com o pai, na vila de Azambuja. Mas hoje em dia, o cenário “agravou-se de tal maneira que estes casos deixam-me doente. Desgosta-me bastante que muitos tenham tirado os seus cursos, com a ajuda dos pais, e que nem para certos serviços os aceitem, porque caíram em dizer que tinham licenciaturas, e são logo afastados. ”.
“Sei de uma rapariga que anda a pedir na rua. Foi toxicodependente, mas está impecável, e podia trabalhar numa casa como empregada doméstica, mas devido ao estigma, todos se afastam de lhe dar trabalho. Precisa de ser ajudada para voltar a ser inserida na sociedade.”
O apoio psicológico que se possa dar aos cidadãos com mais dificuldades é “inestimável”, até tendo em conta que há cada vez menos meios, tendo em conta que “O Estado, a Camara e a Junta têm cada vez menos dinheiro”.
Sílvia Agostinho
19-04-2014