Valor Local
  • OUVIR RÁDIO
  • EDIÇÃO IMPRESSA
  • ESTATUTO
  • CONTATOS
    • FICHA TECNICA
    • ONDE ESTAMOS
  • PUBLICIDADE
  • VALOR LOCAL TV
  • PODCASTS

Opinião João Santos: "Devem os Estados resgatar instituições financeiras e grandes empresas quando estas enfrentam dificuldades-limite?"
Imagem
|19 Dez 2021 11:24​
​De vez em quando, assistimos ao crescimento desmesurado de uma ou outra empresa. Também de vez em quando, esse crescimento desmedido é acompanhado de descontrolo e confusão. Normalmente, estes resultados surgem na mesma proporção da dimensão da empresa.

Assim, pelas consequências danosas que podem espoletar nas Economias internas ou, inclusivamente, na Economia Global, os governos temem que as empresas de grande envergadura entrem em falência.

E que consequências são essas? Serão assim tão “terríveis”, que justifiquem a intervenção e o resgate dos Estados? Será correto imputar aos contribuintes, através do aumento da carga fiscal, o sacrifício de resgatar estas empresas? Será correto hipotecar o consumo corrente e a poupança nacional (destinada a investimento no futuro), fazendo recurso do endividamento soberano dos Estados para resgatar estas empresas?

O caso atual da gigante imobiliária chinesa Evergrande pode ajudar a encontrar algumas respostas a estas questões e a compreender a complexidade extrema da pergunta que dá título a este artigo.

A Evergrande é uma gigante imobiliária chinesa. Na atualidade, esta sociedade imobiliária tem a “distinção” de ser a mais endividada do mundo e de estar em “suporte básico de vida” há meses. Nas últimas semanas, a crescente onda de más notícias e pessimismo em torno do caso “Evergrande” acelerou o que muitos especialistas referem ser a falência inevitável do grupo. Para esta onda, contribuíram as agências de rating (como a Fitch ou a Moody's), que vieram a público declarar que a Evergrande está a ficar sem dinheiro e sem tempo. Foi a gota de água que faltava para que o “pânico” generalizado se instalasse.

E há razões para este “pânico”. A Evergrande acumula uma dívida que ascende a 300 biliões de dólares, tem centenas de edifícios residenciais inacabados e enfrenta a fúria das cadeias intermédias e de abastecimento que se viram forçadas a suspender atividade. Quando um grupo com esta dimensão entra em derrocada, o efeito dominó é inevitável, acabando por afetar praticamente toda a Economia.

Considerando o quadro calamitoso que se perspetiva com o caso Evergrande, estarão os reguladores chineses dispostos a intervir e a salvar o grupo?

A verdade é que, ainda que os decisores chineses estejam tentados a dizer “não”, a realidade é extremamente complicada. O desmoronamento da Evergrande, pela sua dimensão, pode causar sérios danos na Economia do país, deixando, em larga escala, proprietários, fornecedores e investidores insatisfeitos e em situação económica muito difícil.

Desde logo, é perfeitamente plausível que uma crise com estes contornos impacte de forma potencialmente grave no sistema financeiro chinês e, eventualmente, até mundial. Uma falha com esta dimensão pode resultar numa crise de crédito transversal a toda a economia chinesa, à medida que as instituições financeiras se vão tornando cada vez mais avessas ao risco.

As consequências financeiras resultantes do colapso da Evergrande seriam de longo alcance. A Sociedade imobiliária deve dinheiro a cerca de 171 bancos chineses e a 121 outras empresas financeiras.

Considerando esta abrangência, se a Evergrande entrar em incumprimento severo (ou em “default”, não conseguindo respeitar as suas obrigações financeiras), as instituições financeiras em geral, sobretudo as credoras, poderão ver-se forçadas a reduzir a concessão de crédito, contribuindo para fazer cair significativamente o nível de financiamento disponível na economia.

Este quadro poderá conduzir a economia ao que é conhecido como “crise de crédito” (bem presente nas nossas memórias, no seguimento da crise de 2008). Perante uma conjuntura assim, as empresas e os investidores são confrontados com condições muito desfavoráveis de acesso ao dinheiro, deparando-se com taxas de juro, em alguns casos, muito próximas de proibitivas de qualquer tipo de investimento. Nestes casos, muitas empresas deixam de ter condições para crescer e, nos casos mais severos, de continuar a funcionar.

Numa outra perspetiva, o pânico no mercado de imóveis (investidores e compradores), sendo muito acentuado, pode contaminar a totalidade do setor imobiliário e abalar atividades económicas colaterais, perturbando os preços de equilíbrio e afetando as economias e a confiança das famílias.

O caso “Evergrande” também “enerva” os investidores estrangeiros, que tendem a ver a China como um lugar de risco económico e financeiro acrescido e, por isso, menos atrativo para investimentos.

Concluindo:

Até há bem pouco tempo, era normal os investidores confiarem o seu dinheiro a empresas como a Evergrande. Os investidores acreditavam firmemente que, perante um suposto quadro de instabilidade severa, os Estados interviriam e resgatariam as partes afetadas.

Mas o quadro atual já não é exatamente este. Os países estão agora, mais do que nunca, sensíveis para o problema das dívidas soberanas, que, por vezes, se tornam insustentáveis. Por esta razão, o ambiente na atualidade é de menor garantia em relação a eventuais resgates por parte dos Estados.

Finalmente, alguns economistas defendem ainda que, apesar das complicações económicas severas e do inevitável sofrimento humano no curto prazo, a Evergrande não deve ser resgatada. Argumentam os especialistas que esta alteração de paradigma poderá lançar as bases para a uma maior prudência de investidores no futuro e, por conseguinte, para uma economia mais saudável.
​
É por todos estes argumentos que a questão que dá título a este artigo é extremamente complexa.

Comentários
Concordo em absoluto com a exposição feita, mas o caso concreto em apreciação não pode ser exemplo para o nosso país, temos casos que gostava de uma análise do meu caro amigo João Santos, como seja o BES, a possível intervenção no Montepio ou mesmo na EFACEC.
José Rangel
19/12/2021, 14:27

    Deixe a sua Opinião sobre este Artigo

Enviar
Imagem
Imagem



Leia também 

Picture

Eis que nascem como cogumelos... os parques solares na região

Vão passar a fazer parte da paisagem da nossa região. Assim como o Oeste é dominado por eólicas, o Ribatejo, com Azambuja à cabeça, e o município oestino de Alenquer vão liderar este processo. Salvaterra de Magos é uma espécie de concelho piloto para o que podemos esperar, embora os parques já existentes não se comparem com os que estão previstos para a margem direita do Tejo 
Picture
Pandemia colocou a nu as fragilidades nos postos médicos na região
De Azambuja, a Benavente, de Vila Franca a Alenquer e só para dar este exemplo, as queixas dos utentes dos centros e extensões de saúde repetem-se: é cada vez mais difícil arranjar uma consulta. O quadro foi piorado com a pandemia, mas há situações que já vêm de trás

Picture
Casais das Boiças a aldeia fustigada pelas linhas de muito alta tensão
Os promotores do parque fotovoltaico na Torre Bela definem a passagem de linhas de muito alta tensão do projeto por cima da aldeia, que convive há décadas com este tipo de realidade e não quer ser sobrecarregada.  Segundo os moradores, cerca de 25 pessoas da aldeia, com menos de 60 anos morreram de cancro nos últimos 15 a 20 anos
Vertical Divider
Notícias Mais Populares​

Central Fotovoltaica da Iberdrola agora de pedra e cal no concelho de Alenquer

Série “Glória” da Netflix deixou sabor agridoce na terra

O percurso imparável da médica Lurdes Queimado que hoje é investigadora de topo nos Estados Unidos

Vila Franca Centro fechou há seis anos mas os problemas continuam

Green Logistics também aposta em painéis solares na construção do seu armazém

Jornal Valor Local @ 2013


Telefone:

263048895

Email

valorlocal@valorlocal.pt
  • OUVIR RÁDIO
  • EDIÇÃO IMPRESSA
  • ESTATUTO
  • CONTATOS
    • FICHA TECNICA
    • ONDE ESTAMOS
  • PUBLICIDADE
  • VALOR LOCAL TV
  • PODCASTS