É urgente salvar a saúde na região: Comissões de utentes lançam grito de socorro
Sílvia Agostinho
14-10-2022 às 17:23
Sílvia Agostinho
14-10-2022 às 17:23
Várias comissões de utentes da região organizaram uma vigília à porta dos respetivos centros de saúde, no dia 30 de setembro. As diversas comissões decidiram que face ao caos em que se encontra a saúde, nos vários concelhos, que só através da união de todos a uma só voz é que conseguirão ter eco junto dos governantes. Para já estão envolvidos neste desígnio comum o Movimento Cívico pela Saúde em Azambuja; a Comissão de utentes da Castanheira do Ribatejo, a comissão de utentes do Carregado e a de Alenquer, a comissão de utentes de Benavente, a comissão de utentes de Vialonga, e a comissão de utentes de Vila Franca de Xira.
Num especial sobre a saúde na nossa região levado a cabo pela Rádio Valor Local, contámos com a presença em estúdio de Pedro Gago, da comissão de utentes da Castanheira e Cachoeiras. Com uma população de 8266 habitantes, a União de Freguesias da Castanheira e Cachoeiras conta com quatro médicos, quando deveria ter cinco no seu quadro, sendo que uma das médicas vai sair, entretanto, “e sendo assim 3500 utentes vão ficar sem médico de família”. Isto tendo em conta que o rácio estabelecido pela tutela é de 1750 utentes por médico de família. Neste caos em que a saúde está mergulhada, Pedro Gago entende que as autarquias “deviam apoiar mais a população, pois não o fazem”.
Já Armando Martins do Movimento Cívico pela Saúde em Azambuja refere que nesta altura 88 por cento da população do concelho de Azambuja não possui médico de família, o que se confirma como um cenário catastrófico em que os utentes têm de recorrer ao Serviço de Atendimento Permanente (SAP) em Benavente, ou ao centro de saúde da Póvoa de Santa Iria, em ambos os casos localizações para onde não existe transporte direto pelo menos para grande parte dos habitantes do concelho de Azambuja. Haverá a curto prazo, uma nova reunião com a diretora do Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo (ACES), Sofia Theriaga, na qual este movimento bem como outros não depositam grande esperança dado de que a resposta é quase sempre a mesma – Não há forma de se colocarem mais médicos nos centros de saúde da região. “A existir alguma reunião será mais política do que outra coisa, à semelhança do que já tem acontecido, porque o que a diretora bem como o doutor Luís Pisco da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, tentam é desvalorizar a situação, e controlar-nos”, elucida Armando Martins.
Num especial sobre a saúde na nossa região levado a cabo pela Rádio Valor Local, contámos com a presença em estúdio de Pedro Gago, da comissão de utentes da Castanheira e Cachoeiras. Com uma população de 8266 habitantes, a União de Freguesias da Castanheira e Cachoeiras conta com quatro médicos, quando deveria ter cinco no seu quadro, sendo que uma das médicas vai sair, entretanto, “e sendo assim 3500 utentes vão ficar sem médico de família”. Isto tendo em conta que o rácio estabelecido pela tutela é de 1750 utentes por médico de família. Neste caos em que a saúde está mergulhada, Pedro Gago entende que as autarquias “deviam apoiar mais a população, pois não o fazem”.
Já Armando Martins do Movimento Cívico pela Saúde em Azambuja refere que nesta altura 88 por cento da população do concelho de Azambuja não possui médico de família, o que se confirma como um cenário catastrófico em que os utentes têm de recorrer ao Serviço de Atendimento Permanente (SAP) em Benavente, ou ao centro de saúde da Póvoa de Santa Iria, em ambos os casos localizações para onde não existe transporte direto pelo menos para grande parte dos habitantes do concelho de Azambuja. Haverá a curto prazo, uma nova reunião com a diretora do Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo (ACES), Sofia Theriaga, na qual este movimento bem como outros não depositam grande esperança dado de que a resposta é quase sempre a mesma – Não há forma de se colocarem mais médicos nos centros de saúde da região. “A existir alguma reunião será mais política do que outra coisa, à semelhança do que já tem acontecido, porque o que a diretora bem como o doutor Luís Pisco da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, tentam é desvalorizar a situação, e controlar-nos”, elucida Armando Martins.
Segundo o que o Movimento Cívico pela Saúde em Azambuja apurou na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados um médico aufere cerca de 2000 a 2500 euros, o que “é uma diferença de três mil euros para os médicos das unidades de saúde familiar tipo B”, onde o nível de vencimentos pode oscilar entre os seis e os sete mil euros, o que é mais do que aquilo que aufere o primeiro-ministro António Costa que dispõe de um salário de 4900 euros brutos mensais. O coordenador de uma USF tipo B pode ganhar cerca de oito mil euros por mês. Regra geral nas USF tipo B – sendo que na área do ACES Estuário do Tejo apenas existem duas- em Samora Correia e em Vialonga – a generalidade dos utentes dispõe de médico de família e os cuidados de saúde são assegurados. (Ver caixa sobre as condições para se criar uma USF). Já nas do tipo A como são os casos dos centros de saúde de Vialonga, Alenquer ou Vila Franca de Xira, os vencimentos são menores situando-se num nível intermédio entre o modelo das unidades de cuidados de saúde personalizados e as do modelo B, e a tomar como exemplo os casos das localidades citadas nem tudo corre bem, e continuam a existir grandes dificuldades quanto à atração de médicos.
“No caso de Azambuja temos a pior situação possível, porque é impossível competir com isto, nem com o sistema de incentivos que a Câmara quer dar conseguimos chegar perto. Não percebemos que tipo de organização é esta da tutela da Saúde. Como é evidente ninguém vem para um sítio onde se ganha dois ou três mil euros de salário, enquanto noutros locais se chega aos seis ou sete mil. A escolha é óbvia”, desabafa Armando Martins.
Pedro Gago já teve ocasião de questionar a ARS-LVT através do seu diretor, Luís Pisco, sobre as discrepâncias salariais. O membro da comissão de utentes da Castanheira/Cachoeiras ficou a saber que há clínicos em regime de recibo verde, contratados pelas empresas de trabalho temporário, que auferem cerca de seis euros à hora. Isto acontece com clínicos que prestam consultas na Unidade de Saúde Familiar do modelo A na Castanheira do Ribatejo. Sendo que há outros centros de saúde na região que chegam a pagar 15 euros por hora. Segundo informação do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) a média no país situa-se entre os 12,22 euros e os 15,84 euros. Também no centro de saúde de Azambuja ficámos a saber que médicos dentistas a prestar serviço naquela UCSP auferiam oito euros à hora.
Segundo o que o Movimento Cívico pela Saúde em Azambuja apurou na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados um médico aufere cerca de 2000 a 2500 euros, o que “é uma diferença de três mil euros para os médicos das unidades de saúde familiar tipo B”, onde o nível de vencimentos pode oscilar entre os seis e os sete mil euros, o que é mais do que aquilo que aufere o primeiro-ministro António Costa que dispõe de um salário de 4900 euros brutos mensais. O coordenador de uma USF tipo B pode ganhar cerca de oito mil euros por mês. Regra geral nas USF tipo B – sendo que na área do ACES Estuário do Tejo apenas existem duas- em Samora Correia e em Vialonga – a generalidade dos utentes dispõe de médico de família e os cuidados de saúde são assegurados. (Ver caixa sobre as condições para se criar uma USF). Já nas do tipo A como são os casos dos centros de saúde de Vialonga, Alenquer ou Vila Franca de Xira, os vencimentos são menores situando-se num nível intermédio entre o modelo das unidades de cuidados de saúde personalizados e as do modelo B, e a tomar como exemplo os casos das localidades citadas nem tudo corre bem, e continuam a existir grandes dificuldades quanto à atração de médicos.
“No caso de Azambuja temos a pior situação possível, porque é impossível competir com isto, nem com o sistema de incentivos que a Câmara quer dar conseguimos chegar perto. Não percebemos que tipo de organização é esta da tutela da Saúde. Como é evidente ninguém vem para um sítio onde se ganha dois ou três mil euros de salário, enquanto noutros locais se chega aos seis ou sete mil. A escolha é óbvia”, desabafa Armando Martins.
Pedro Gago já teve ocasião de questionar a ARS-LVT através do seu diretor, Luís Pisco, sobre as discrepâncias salariais. O membro da comissão de utentes da Castanheira/Cachoeiras ficou a saber que há clínicos em regime de recibo verde, contratados pelas empresas de trabalho temporário, que auferem cerca de seis euros à hora. Isto acontece com clínicos que prestam consultas na Unidade de Saúde Familiar do modelo A na Castanheira do Ribatejo. Sendo que há outros centros de saúde na região que chegam a pagar 15 euros por hora. Segundo informação do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) a média no país situa-se entre os 12,22 euros e os 15,84 euros. Também no centro de saúde de Azambuja ficámos a saber que médicos dentistas a prestar serviço naquela UCSP auferiam oito euros à hora.
Pedro Gago questionou da possibilidade de existir uma harmonização para o mesmo valor à hora, “porque assim os médicos já não ‘fugiriam’ para outros lados”, mas até hoje não recebeu resposta. O membro da comissão de utentes lamenta ainda que até à data não tenha sido instalado um balcão SNS 24 na Castanheira, quando já existe nas Cachoeiras. Trata-se de um posto eletrónico em que é possível marcar uma consulta, pedir receitas para medicação crónica, pedir isenção de taxas moderadoras, entre outras possibilidades.
A juntar a tudo isto, há funcionárias no centro de saúde da Castanheira que se dispõem a ajudar “as amigas e os amigos” em que “há utentes que ligam diretamente e conseguem consulta enquanto outras pessoas passam o dia a telefonar e não conseguem entrar em contacto com o centro de saúde”, dá conta Pedro Gago, e este foi também o relato da ouvinte Maria Sanches que nos contactou durante o programa. “Já vi uma utente a entregar dinheiro com a mão fechada dinheiro a uma funcionária”.
Armando Martins ainda se encontra na expetativa quanto à medida anunciada pela Câmara de Azambuja de aquisição de cartões de saúde para a população junto de uma seguradora, permitindo a sua utilização no setor privado. “Os custos podem continuar a ser elevados, porque qualquer exame pode ficar muito caro, mesmo com cartão de saúde. O ideal seria que o Estado fizesse um acordo com as clínicas particulares do concelho em que pudessem passar exames e análises como se do público se tratasse, porque a quase totalidade da população não pode continuar sem médico de família, até que sejam colocados médicos no nosso concelho”.
Sobre o envio de utentes quer para Benavente, na maior parte dos casos, ou Póvoa de Santa Iria continuam a existir muitos problemas, “porque a maioria das pessoas chega lá e não consegue ser atendida”. “Não é uma solução, até porque não cabe na cabeça de ninguém estar a mandar um habitante, por exemplo, de Manique do Intendente para a Póvoa que fica a 70 quilómetros, ainda por cima doente”. Nesta altura o centro de saúde de Azambuja apenas passa receitas e prolonga baixas a quem não tem médico de família. “Pensava que a doutora Sofia Theriaga tinha pelo menos salvaguardado a existência de uma comunicação entre o nosso centro de saúde e os outros dois no sentido do encaminhamento das pessoas, mas nem isso foi feito”.
Alenquer criou uma USF modelo A mas nada mudou. Carregado pode chegar a 100 por cento de utentes sem médico de família
Em Alenquer, e após transição para USF modelo A, pouco mudou no centro de saúde. Em Abrigada e Carregado a situação é ainda mais calamitosa, mas António Filipe da comissão de utentes de Alenquer, que marcou presença em estúdio na nossa emissão especial, também não possui motivos para sorrir. Entre as principais problemáticas está a “grande dificuldade na marcação de consultas”, e como em outras localidades da região também em Alenquer dá-se o caso de ninguém atender telefones, apesar da muita insistência. Quando se envia um email “respondem, mas passada uma semana, e alegam que ainda vai ser analisado pelo médico”. “Isto não pode acontecer”, sustenta António Filipe. No concelho de Alenquer, num universo de 45 mil pessoas, 54,6 por cento de utentes não tem médico de família. Seriam necessários mais 12 clínicos para este concelho.
Segundo António Filipe “essa percentagem pode chegar aos 65 por cento” em março do ano que vem já que se espera que possam escassear mais clínicos até lá, porque “há dois médicos que se vão reformar”. “Para já não se vê resultados nenhuns da passagem a USF”. Como noutros lados, há quem continue a ir de madrugada para a porta da USF para “apanhar uma consulta de recurso”. Para resolver o estado de coisas, a Câmara sugeriu junto da tutela que pudesse articular com unidades privadas do concelho o encaminhamento dos doentes, assumindo o Estado os respetivos custos. António Filipe concorda, mas “desde que seja pontual porque temos de resolver isto rapidamente”.
No Carregado, o caso não é para menos preocupações. À nossa redação chegaram fotografias, num dos últimos meses, de um utente a dormir ao relento em frente ao centro de saúde. Estaria a assegurar vaga para a consulta de recurso no dia seguinte. Hoje os utentes têm de rumar a Alenquer, Póvoa de Santa Iria ou SAP de Benavente se quiserem uma consulta. João Fernando da Comissão de Moradores do Carregado refere ao Valo Local que a concentração de dia 30 de setembro já será a terceira a ser levada a cabo, “porque a situação é caótica”. Neste momento 14 mil 920 utentes dos 17 mil registados na União de Freguesias Carregado – Cadafais não têm médico de família, ou seja “90 por cento desta população”. Um médico vai reformar-se, entretanto, pelo que já em outubro “cem por cento pode ficar sem médico de família”. Por outro lado, é da opinião de que “nesta área os municípios não podem começar a substituir-se ao Governo, em que verbas que deveriam ser direcionadas para outras matérias, são encaminhadas para a Saúde, algo que deveria ser da responsabilidade do Governo”. “Não somos contra que seja encontrada uma solução temporária em que as Câmaras ajudem, mas que não seja para sempre”. Quanto à ação da Câmara de Alenquer, considera que não tem feito muito “para além de uma reunião com a antiga ministra, mas com poucas consequências como se está a ver”.
Barrosa, Benavente e Santo Estevão- 10 mil utentes sem médico de família
Já no concelho de Benavente assiste-se a duas situações distintas, em Samora Correia, onde não existem questões neste tema, mas em Benavente este centro de saúde não consegue fixar médicos e a Câmara numa tentativa derradeira de mudar o panorama já se afirmou disponível junto do ACES para financiar durante um período o diferencial de ordenado entre aquilo que por norma aufere um profissional de uma unidade tipo A e uma de tipo B, o que feitas as contas dá 200 mil euros por ano, naquilo que será, a ir para a frente, um esforço financeiro de grande monta para este concelho.
Domingos Pereira, da comissão de utentes de Benavente, refere que na área da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Benavente que compreende esta freguesia bem como as de Barrosa e Santo Estevão, há 10 mil utentes sem médico de família. O representante desta comissão dá conta que há uma grande pressão sobre o SAP de Benavente que para além de acolher os utentes sem médico de família do concelho, ainda atende pessoas na mesma situação do concelho de Salvaterra, e agora mais recentemente de Azambuja e do Carregado. “Isto já não era bom e pior ficou. Na minha opinião esta situação tem de ter intervenção direta do senhor primeiro-ministro, porque se não for assim, não tenho esperanças. O que vejo é que o ministro das Finanças anda sempre a cortar aqui e ali, e a saúde acaba por ser descompensada das verbas a que deveria ter direito”. Já quanto ao facto de Câmara poder arcar com pagamento de verbas “parece que não é a forma mais adequada de resolver o problema, pois vai desviar verbas importantes da autarquia que seriam necessárias para outras funções, quando o Governo é que deveria ter essas obrigações, e deixar de existirem as discrepâncias salariais que estamos a assistir”.
O Valor Local contactou a diretora do Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo, Sofia Theriaga, para uma entrevista sobre o caos nos centros de saúde da nossa região, mas não obtivemos resposta.
A juntar a tudo isto, há funcionárias no centro de saúde da Castanheira que se dispõem a ajudar “as amigas e os amigos” em que “há utentes que ligam diretamente e conseguem consulta enquanto outras pessoas passam o dia a telefonar e não conseguem entrar em contacto com o centro de saúde”, dá conta Pedro Gago, e este foi também o relato da ouvinte Maria Sanches que nos contactou durante o programa. “Já vi uma utente a entregar dinheiro com a mão fechada dinheiro a uma funcionária”.
Armando Martins ainda se encontra na expetativa quanto à medida anunciada pela Câmara de Azambuja de aquisição de cartões de saúde para a população junto de uma seguradora, permitindo a sua utilização no setor privado. “Os custos podem continuar a ser elevados, porque qualquer exame pode ficar muito caro, mesmo com cartão de saúde. O ideal seria que o Estado fizesse um acordo com as clínicas particulares do concelho em que pudessem passar exames e análises como se do público se tratasse, porque a quase totalidade da população não pode continuar sem médico de família, até que sejam colocados médicos no nosso concelho”.
Sobre o envio de utentes quer para Benavente, na maior parte dos casos, ou Póvoa de Santa Iria continuam a existir muitos problemas, “porque a maioria das pessoas chega lá e não consegue ser atendida”. “Não é uma solução, até porque não cabe na cabeça de ninguém estar a mandar um habitante, por exemplo, de Manique do Intendente para a Póvoa que fica a 70 quilómetros, ainda por cima doente”. Nesta altura o centro de saúde de Azambuja apenas passa receitas e prolonga baixas a quem não tem médico de família. “Pensava que a doutora Sofia Theriaga tinha pelo menos salvaguardado a existência de uma comunicação entre o nosso centro de saúde e os outros dois no sentido do encaminhamento das pessoas, mas nem isso foi feito”.
Alenquer criou uma USF modelo A mas nada mudou. Carregado pode chegar a 100 por cento de utentes sem médico de família
Em Alenquer, e após transição para USF modelo A, pouco mudou no centro de saúde. Em Abrigada e Carregado a situação é ainda mais calamitosa, mas António Filipe da comissão de utentes de Alenquer, que marcou presença em estúdio na nossa emissão especial, também não possui motivos para sorrir. Entre as principais problemáticas está a “grande dificuldade na marcação de consultas”, e como em outras localidades da região também em Alenquer dá-se o caso de ninguém atender telefones, apesar da muita insistência. Quando se envia um email “respondem, mas passada uma semana, e alegam que ainda vai ser analisado pelo médico”. “Isto não pode acontecer”, sustenta António Filipe. No concelho de Alenquer, num universo de 45 mil pessoas, 54,6 por cento de utentes não tem médico de família. Seriam necessários mais 12 clínicos para este concelho.
Segundo António Filipe “essa percentagem pode chegar aos 65 por cento” em março do ano que vem já que se espera que possam escassear mais clínicos até lá, porque “há dois médicos que se vão reformar”. “Para já não se vê resultados nenhuns da passagem a USF”. Como noutros lados, há quem continue a ir de madrugada para a porta da USF para “apanhar uma consulta de recurso”. Para resolver o estado de coisas, a Câmara sugeriu junto da tutela que pudesse articular com unidades privadas do concelho o encaminhamento dos doentes, assumindo o Estado os respetivos custos. António Filipe concorda, mas “desde que seja pontual porque temos de resolver isto rapidamente”.
No Carregado, o caso não é para menos preocupações. À nossa redação chegaram fotografias, num dos últimos meses, de um utente a dormir ao relento em frente ao centro de saúde. Estaria a assegurar vaga para a consulta de recurso no dia seguinte. Hoje os utentes têm de rumar a Alenquer, Póvoa de Santa Iria ou SAP de Benavente se quiserem uma consulta. João Fernando da Comissão de Moradores do Carregado refere ao Valo Local que a concentração de dia 30 de setembro já será a terceira a ser levada a cabo, “porque a situação é caótica”. Neste momento 14 mil 920 utentes dos 17 mil registados na União de Freguesias Carregado – Cadafais não têm médico de família, ou seja “90 por cento desta população”. Um médico vai reformar-se, entretanto, pelo que já em outubro “cem por cento pode ficar sem médico de família”. Por outro lado, é da opinião de que “nesta área os municípios não podem começar a substituir-se ao Governo, em que verbas que deveriam ser direcionadas para outras matérias, são encaminhadas para a Saúde, algo que deveria ser da responsabilidade do Governo”. “Não somos contra que seja encontrada uma solução temporária em que as Câmaras ajudem, mas que não seja para sempre”. Quanto à ação da Câmara de Alenquer, considera que não tem feito muito “para além de uma reunião com a antiga ministra, mas com poucas consequências como se está a ver”.
Barrosa, Benavente e Santo Estevão- 10 mil utentes sem médico de família
Já no concelho de Benavente assiste-se a duas situações distintas, em Samora Correia, onde não existem questões neste tema, mas em Benavente este centro de saúde não consegue fixar médicos e a Câmara numa tentativa derradeira de mudar o panorama já se afirmou disponível junto do ACES para financiar durante um período o diferencial de ordenado entre aquilo que por norma aufere um profissional de uma unidade tipo A e uma de tipo B, o que feitas as contas dá 200 mil euros por ano, naquilo que será, a ir para a frente, um esforço financeiro de grande monta para este concelho.
Domingos Pereira, da comissão de utentes de Benavente, refere que na área da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Benavente que compreende esta freguesia bem como as de Barrosa e Santo Estevão, há 10 mil utentes sem médico de família. O representante desta comissão dá conta que há uma grande pressão sobre o SAP de Benavente que para além de acolher os utentes sem médico de família do concelho, ainda atende pessoas na mesma situação do concelho de Salvaterra, e agora mais recentemente de Azambuja e do Carregado. “Isto já não era bom e pior ficou. Na minha opinião esta situação tem de ter intervenção direta do senhor primeiro-ministro, porque se não for assim, não tenho esperanças. O que vejo é que o ministro das Finanças anda sempre a cortar aqui e ali, e a saúde acaba por ser descompensada das verbas a que deveria ter direito”. Já quanto ao facto de Câmara poder arcar com pagamento de verbas “parece que não é a forma mais adequada de resolver o problema, pois vai desviar verbas importantes da autarquia que seriam necessárias para outras funções, quando o Governo é que deveria ter essas obrigações, e deixar de existirem as discrepâncias salariais que estamos a assistir”.
O Valor Local contactou a diretora do Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo, Sofia Theriaga, para uma entrevista sobre o caos nos centros de saúde da nossa região, mas não obtivemos resposta.
Alice Pinto, utente do centro de saúde de Azambuja, nem em Benavente conseguiu consulta
Alice Pinto é utente do Centro de Saúde de Azambuja sem médico de família e terá sido das primeiras a deslocar-se ao Serviço de Atendimento Permanente em Benavente, no centro de saúde local, tendo em conta a nova diretiva do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Estuário do Tejo para as consultas de recurso. Desde finais de agosto que a Unidade de Cuidados de Saúde Primários de Azambuja não realiza consultas a quem não tem médico de família. Neste mês de setembro, 88 por cento da população de todo o concelho vai ficar sem médico de família. Com vários problemas de saúde, esta utente foi a Benavente e mesmo assim não conseguiu ser consultada. Alice Pinto diz-se vítima da falta de informação e da má vontade dos funcionários.
Sem médico de família, desde que "a doutora Áurea se reformou há uns três ou quatro anos", conta que também passou pelo calvário de ter de ir "às onze da noite ou meia noite para a porta do centro de saúde para apanhar consulta". Como muitos outros habitantes do concelho, em determinadas alturas, esteve o dia inteiro agarrada ao telefone para conseguir efetuar uma marcação. "Só num dia liguei 58 vezes e nunca me atenderam". O caso aconteceu há cerca de dois meses.
Depois de ter efetuado exames à tiróide e ao coração pedidos pelo médico de recurso, José Viscainho, quando quis obter nova consulta, foi-lhe dito pelas funcionárias do Centro de Saúde de Azambuja que teria de deslocar-se ao SAP de Benavente ou Centro de Saúde da Póvoa, "mas apenas para doenças agudas ou de caráter urgente". "Como os exames acusaram uns nódulos nos pulmões achei que devia dirigir-me a Benavente". Uma vez no SAP daquele concelho, "a médica fartou-se de pedir desculpa mas disse que não podia fazer nada, porque obrigatoriamente quem teria de ver e registar os exames seria o doutor Viscainho".
Nisto voltou a contactar o centro de saúde de Azambuja, que neste momento apenas possui consulta de recurso para situações de baixa e prescrição de medicamentos, e passados uns dias conseguiu a consulta com o médico que a tinha atendido e passado os exames, tendo sido encaminhada para o Hospital de Santa Maria. "O doutor dentro de 15 dias quer ver-me de novo, e disseram para contactar o centro de saúde, mas parece que é assim estilo pela porta do cavalo".
Alice Pinto retira deste episódio que "está tudo muito mal explicado, porque não estamos suficientemente elucidados em que circunstâncias é que temos de ir a Benavente". "Perdi o meu tempo ao ir para lá. A saúde em Azambuja está uma miséria e mais valia fecharem o centro de saúde. No meu caso ainda tenho transporte próprio, mas no caso de pessoas mais idosas não é admissível uma coisa destas". Não chegou a ponderar uma deslocação antes ao centro de saúde da Póvoa "porque disseram-me que se esperava ainda mais tempo". Uma familiar dias depois teve de ir também a Benavente "e foi muito bem atendida, com pouquíssimo tempo de espera".
Já o atendimento por parte das funcionárias do centro de saúde de Azambuja "depende muito". "Algumas são cinco estrelas, mas outras falam para os utentes com sete pedras na mão, e isto não é de agora". Quanto ao médico de recurso "é muito atencioso e gostava muito que fosse o meu médico de família".
"Hoje em dia só quem tem dinheiro é que consegue ter acesso a bons cuidados de saúde". "No meu caso até podia ir a um privado para uma consulta, mas depois os exames que nos mandam fazer são caríssimos e não tenho como os pagar, mesmo com cartão de saúde. Estamos entregues aos bichos.", desabafa.
Alice Pinto é utente do Centro de Saúde de Azambuja sem médico de família e terá sido das primeiras a deslocar-se ao Serviço de Atendimento Permanente em Benavente, no centro de saúde local, tendo em conta a nova diretiva do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Estuário do Tejo para as consultas de recurso. Desde finais de agosto que a Unidade de Cuidados de Saúde Primários de Azambuja não realiza consultas a quem não tem médico de família. Neste mês de setembro, 88 por cento da população de todo o concelho vai ficar sem médico de família. Com vários problemas de saúde, esta utente foi a Benavente e mesmo assim não conseguiu ser consultada. Alice Pinto diz-se vítima da falta de informação e da má vontade dos funcionários.
Sem médico de família, desde que "a doutora Áurea se reformou há uns três ou quatro anos", conta que também passou pelo calvário de ter de ir "às onze da noite ou meia noite para a porta do centro de saúde para apanhar consulta". Como muitos outros habitantes do concelho, em determinadas alturas, esteve o dia inteiro agarrada ao telefone para conseguir efetuar uma marcação. "Só num dia liguei 58 vezes e nunca me atenderam". O caso aconteceu há cerca de dois meses.
Depois de ter efetuado exames à tiróide e ao coração pedidos pelo médico de recurso, José Viscainho, quando quis obter nova consulta, foi-lhe dito pelas funcionárias do Centro de Saúde de Azambuja que teria de deslocar-se ao SAP de Benavente ou Centro de Saúde da Póvoa, "mas apenas para doenças agudas ou de caráter urgente". "Como os exames acusaram uns nódulos nos pulmões achei que devia dirigir-me a Benavente". Uma vez no SAP daquele concelho, "a médica fartou-se de pedir desculpa mas disse que não podia fazer nada, porque obrigatoriamente quem teria de ver e registar os exames seria o doutor Viscainho".
Nisto voltou a contactar o centro de saúde de Azambuja, que neste momento apenas possui consulta de recurso para situações de baixa e prescrição de medicamentos, e passados uns dias conseguiu a consulta com o médico que a tinha atendido e passado os exames, tendo sido encaminhada para o Hospital de Santa Maria. "O doutor dentro de 15 dias quer ver-me de novo, e disseram para contactar o centro de saúde, mas parece que é assim estilo pela porta do cavalo".
Alice Pinto retira deste episódio que "está tudo muito mal explicado, porque não estamos suficientemente elucidados em que circunstâncias é que temos de ir a Benavente". "Perdi o meu tempo ao ir para lá. A saúde em Azambuja está uma miséria e mais valia fecharem o centro de saúde. No meu caso ainda tenho transporte próprio, mas no caso de pessoas mais idosas não é admissível uma coisa destas". Não chegou a ponderar uma deslocação antes ao centro de saúde da Póvoa "porque disseram-me que se esperava ainda mais tempo". Uma familiar dias depois teve de ir também a Benavente "e foi muito bem atendida, com pouquíssimo tempo de espera".
Já o atendimento por parte das funcionárias do centro de saúde de Azambuja "depende muito". "Algumas são cinco estrelas, mas outras falam para os utentes com sete pedras na mão, e isto não é de agora". Quanto ao médico de recurso "é muito atencioso e gostava muito que fosse o meu médico de família".
"Hoje em dia só quem tem dinheiro é que consegue ter acesso a bons cuidados de saúde". "No meu caso até podia ir a um privado para uma consulta, mas depois os exames que nos mandam fazer são caríssimos e não tenho como os pagar, mesmo com cartão de saúde. Estamos entregues aos bichos.", desabafa.
O que são as USF, como funcionam, e como é que um médico ganha mais do que o primeiro-ministro António Costa?

Em 2005 foram introduzidas reformas na Saúde que compreendiam o surgimento das Unidades de Saúde Familiar onde a gestão tendia a ser mais profissional e por objetivos. No país existem até à data cerca de 257, a maioria no Norte e nos grandes centros urbanos.
Entre os seus principais objetivos estava uma gestão mais descentralizada, menos dependente do poder central e dos seus organismos; o trabalho por objetivos; a existência de lideranças técnicas com incentivos financeiros pelo desempenho em algumas áreas profissionais acompanhada pelo incremento de utentes nas listas de cada médico e o cumprimento de outras metas institucionalizadas.
Apesar do sucesso ou aparente sucesso que este modelo está a ter no país não há bela sem senão e num recente congresso, realizado em setembro de 2021, no qual esteve presente a antiga ministra Marta Temido foi referido que 40 unidades esperavam a passagem a modelo B, reunindo as condições para tal, mas a governante deu conta que não havia condições para mais do que 20, porque pura e simplesmente não haveria dinheiro para mais. As USF tipo B como as conhecemos podem estar a acabar, o que pode frustrar expetativas de muitos na nossa região, a começar pela Câmara de Benavente, que está a apostar todas as suas fichas na implantação deste modelo na sede de concelho.
Ao que tudo indica e grosso modo falando a torneira está a secar, segundo a publicação online Health News, num artigo publicado em setembro de 2021, e os elevados vencimentos dos clínicos podem estar na origem. “Não há dinheiro para mais”, disse a ministra citada por aquela publicação. Entre os profissionais há quem diga que é o fim da reforma dos cuidados de saúde primários iniciada por Correia de Campos.
Nestas unidades modelo B, os profissionais têm acesso a um pacote de serviços, semelhante aos da USF modelo A, onde os profissionais possuem autonomia organizacional, mas não têm acesso aos incentivos remuneratórios do modelo B.
Nestas USF, é sempre a somar no que toca aos incentivos, porque podem ser contratadas carteiras adicionais “pagas à peça”. Cada médico tem uma lista de 1550 utentes o que corresponde ao vencimento base de 35 horas semanais com exclusividade. Podem depois “contratar pacotes” de utentes de 55 “unidades ponderadas”. Por cada “pacote”, até ao máximo de nove, corresponde o acréscimo de uma hora de trabalho até a um limite de 9 horas a mais. Cada hora paga a 130 euros. Mas, as primeiras seis horas, como estímulo ao aumento da lista, são pagas a 234 euros mensais. Os médicos podem ainda ganhar a mais em serviços como o seguimento de diabéticos ou hipertensos, consultas de planeamento familiar, e consultas aos domicílios. Nos locais onde exista alargamento de cobertura, a partir das 20 horas e aos fins-de-semana, o pagamento é feito pelo valor hora de 180 euros e de 230 euros respetivamente. Estes valores são pagos ao grupo pelo que têm de ser divididos pelo número de médicos da USF.
Finalmente, os orientadores de internos do internato complementar de Medicina Familiar têm uma remuneração própria correspondente que pode chegar aos 520 euros, enquanto tiverem um interno, e os coordenadores da USF são recompensados com 910 euros.
Contas feitas, um médico de família em USF de modelo B, recebe “brutos”, cerca de seis a sete mil euros, podendo os coordenadores chegar aos oito mil euros. O mesmo médico, em modelo A, recebe menos de três mil euros. O atual gestor da Saúde, designado há dias pelo Governo, Fernando Araújo, enquanto secretário de Estado da Saúde entre 2015 e 2018, solicitou às administrações regionais de saúde que procedessem a auditorias às USF modelo B por não estarem a ajustar os horários ao aumento do número de utentes, ou seja não trabalhavam além das 35 horas semanais, mas recebiam como tal, o que resultou num escândalo à época. O despacho nº 5803/2019 pretendia corrigir o estado de coisas mas até à data apenas 2/3 dos médicos das USF cumprem para além das 35 horas semanais quando os das demais USF modelo A e UCSP recebem menos de metade.
Fonte: Health News
Entre os seus principais objetivos estava uma gestão mais descentralizada, menos dependente do poder central e dos seus organismos; o trabalho por objetivos; a existência de lideranças técnicas com incentivos financeiros pelo desempenho em algumas áreas profissionais acompanhada pelo incremento de utentes nas listas de cada médico e o cumprimento de outras metas institucionalizadas.
Apesar do sucesso ou aparente sucesso que este modelo está a ter no país não há bela sem senão e num recente congresso, realizado em setembro de 2021, no qual esteve presente a antiga ministra Marta Temido foi referido que 40 unidades esperavam a passagem a modelo B, reunindo as condições para tal, mas a governante deu conta que não havia condições para mais do que 20, porque pura e simplesmente não haveria dinheiro para mais. As USF tipo B como as conhecemos podem estar a acabar, o que pode frustrar expetativas de muitos na nossa região, a começar pela Câmara de Benavente, que está a apostar todas as suas fichas na implantação deste modelo na sede de concelho.
Ao que tudo indica e grosso modo falando a torneira está a secar, segundo a publicação online Health News, num artigo publicado em setembro de 2021, e os elevados vencimentos dos clínicos podem estar na origem. “Não há dinheiro para mais”, disse a ministra citada por aquela publicação. Entre os profissionais há quem diga que é o fim da reforma dos cuidados de saúde primários iniciada por Correia de Campos.
Nestas unidades modelo B, os profissionais têm acesso a um pacote de serviços, semelhante aos da USF modelo A, onde os profissionais possuem autonomia organizacional, mas não têm acesso aos incentivos remuneratórios do modelo B.
Nestas USF, é sempre a somar no que toca aos incentivos, porque podem ser contratadas carteiras adicionais “pagas à peça”. Cada médico tem uma lista de 1550 utentes o que corresponde ao vencimento base de 35 horas semanais com exclusividade. Podem depois “contratar pacotes” de utentes de 55 “unidades ponderadas”. Por cada “pacote”, até ao máximo de nove, corresponde o acréscimo de uma hora de trabalho até a um limite de 9 horas a mais. Cada hora paga a 130 euros. Mas, as primeiras seis horas, como estímulo ao aumento da lista, são pagas a 234 euros mensais. Os médicos podem ainda ganhar a mais em serviços como o seguimento de diabéticos ou hipertensos, consultas de planeamento familiar, e consultas aos domicílios. Nos locais onde exista alargamento de cobertura, a partir das 20 horas e aos fins-de-semana, o pagamento é feito pelo valor hora de 180 euros e de 230 euros respetivamente. Estes valores são pagos ao grupo pelo que têm de ser divididos pelo número de médicos da USF.
Finalmente, os orientadores de internos do internato complementar de Medicina Familiar têm uma remuneração própria correspondente que pode chegar aos 520 euros, enquanto tiverem um interno, e os coordenadores da USF são recompensados com 910 euros.
Contas feitas, um médico de família em USF de modelo B, recebe “brutos”, cerca de seis a sete mil euros, podendo os coordenadores chegar aos oito mil euros. O mesmo médico, em modelo A, recebe menos de três mil euros. O atual gestor da Saúde, designado há dias pelo Governo, Fernando Araújo, enquanto secretário de Estado da Saúde entre 2015 e 2018, solicitou às administrações regionais de saúde que procedessem a auditorias às USF modelo B por não estarem a ajustar os horários ao aumento do número de utentes, ou seja não trabalhavam além das 35 horas semanais, mas recebiam como tal, o que resultou num escândalo à época. O despacho nº 5803/2019 pretendia corrigir o estado de coisas mas até à data apenas 2/3 dos médicos das USF cumprem para além das 35 horas semanais quando os das demais USF modelo A e UCSP recebem menos de metade.
Fonte: Health News
Autarcas deitam mãos à cabeça e tentam encontrar soluções
Benavente: Câmara disponível para financiar parte dos ordenados dos médicos
Seduzido pela forma como funciona a Unidade de Saúde Familiar Modelo B de Samora Correia, Carlos Coutinho, presidente da Câmara, sonha em ver o mesmo tipo de cenário no centro de saúde de Benavente, que é Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados, mas com os mesmos problemas de sempre. Este município também criou um pacote de incentivos, e com a chegada de duas novas médicas ao centro de saúde de Benavente recentemente foi ainda disponibilizada habitação e transporte a expensas do município. Neste momento a Câmara está na disposição de assumir o diferencial de vencimentos entre uma unidade de tipo A e uma de tipo B, o que pode significar por cada médico mais três mil euros, o que no fim do ano pode equivaler a 200 mil euros de investimento. “Aguardamos por uma reunião com o novo ministro para propor esta solução, e aguardamos compromissos por parte da tutela em que a Câmara apenas assumisse este encargo por um período intermédio até à passagem a modelo A, ficando o Estado a partir daí com os encargos subjacentes”. Azambuja: O cartão de saúde e as férias da vereadora
No caso do concelho de Azambuja, a falta de médicos de família tem dominado a atualidade. Perante o facto de 88 por cento dos utentes não terem este recurso já levou o presidente da Câmara, Silvino Lúcio, a apresentar como solução um cartão de saúde que estará a negociar com pelo menos uma seguradora que possa beneficiar a maior parte da população “pois sabemos que há pessoas que têm ADSE”, explica em entrevista à Rádio Valor Local. Com este problema a tomar proporções gigantescas, a vereadora com o pelouro da Saúde fez no último mês uma paragem na sua atividade para meter férias. Ana Coelho foi alvo de duras críticas por parte da vereadora da oposição Inês Louro do partido Chega. No seu entender o timing escolhido para estas férias demonstrou que Ana Coelho desvaloriza o que está a acontecer e que a sua atitude lhe dá “vergonha alheia”. Em resposta, Ana Coelho, na Rádio Valor Local, consubstanciou que “não foi por ter tirado uns dias que isso resolveria a questão da falta de médicos”, pelo que a atitude de Inês Louro apenas denota “ignorância”. “O caminho para minorar o estado de coisas pode ser pela contratualização de um cartão de saúde, ou através de um protocolo com a Cruz Vermelha Portuguesa, que passará por um acordo com a ARS-LVT em que possam ser contratados mais médicos pela Cruz Vermelha e colocados ao serviço em Azambuja”, refere Ana Coelho. Ana Jorge, presidente daquela organização, já mostrou abertura. A Câmara fez ainda aprovar um pacote de incentivos de 400 euros mais veículo de serviço para cada clínico que se estabeleça em Azambuja, mas até à data ainda não houve boas notícias. Tendo em conta este estado de coisas, o vereador do PSD, Rui Corça, que interveio no nosso programa, considera que esta é uma questão de fundo, mas em que o Governo PS é em parte culpado, porque destruiu aquilo que ainda ia funcionando no Serviço Nacional de Saúde. Nesta altura é importante “mudar a orgânica do SNS, porque já percebemos que o ACES por exemplo nem percebe o que anda a fazer, como quando mudou utentes de Casais de Baixo para Aveiras de Cima”. “É preciso querer mesmo resolver os problemas porque aquilo a que temos assistido, é que há sempre muitas reuniões, mas que servem apenas para empatar”. |
Alenquer: Presidente da Câmara considera que as entidades da saúde estão a faltar ao respeito aos munícipes
O presidente da Câmara de Alenquer, Pedro Folgado, espera que o novo ministro possa trazer algum tipo de solução a curto prazo pois há situações que são insustentáveis. O concelho de Alenquer tem ais de 50 por cento de população sem médico de família. O autarca já solicitou uma reunião com o novo ministro, “porque não se justifica mandar os utentes do Carregado para a Póvoa ou Benavente, mais valia fecharem o centro de saúde ou fazer de conta que não existe”, desabafa. Com o passar dos anos “as coisas tendem a piorar”, e “as pessoas não estão de facto a serem respeitadas”. A Câmara já apresentou soluções que poderiam passar por consultas nos privados do concelho, ficando o Estado encarregue desses custos “e assim serem colmatados estes problemas graves”, porque “nem toda a gente tem capacidade para ir ao privado”. “Se houvesse um protocolo com essas entidades poder-se-ia desbloquear muitos destes problemas. Ficámos à espera de uma resposta quando nos encontrámos com a antiga ministra. Agora vamos fazer o mesmo caminho com este ministro e esperar que exista luz ao fundo do túnel”. Este município também está a preparar um pacote de incentivos a atribuir a médicos que venham para o concelho, mas ainda não foram dados a conhecer, contudo Pedro Folgado não está confiante que isso de per si atraia clínicos, “porque o Estado já classificou este concelho como área carenciada com a possibilidade de majoração dos vencimentos dos médicos em 60 por cento e não apareceram interessados”, tendo como base o último concurso. “Isto tem que ser pensado de forma estrutural”. Vila Franca de Xira- Parceria com uma IPSS para abrir atendimento complementar na sede de concelho
Fernando Paulo Ferreira, presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, refere que a falta de médicos atinge não só as os centros de saúde como as urgências do hospital, e esta é uma questão que vai abordar em reunião já agendada com o novo ministro da Saúde, Manuel Pizarro. Para fazer face ao estado de coisas, anuncia a implantação de balcões de saúde SNS 24, “principalmente nas freguesias mais distantes dos seus centros de saúde”. Com 137 mil 540 habitantes, perto de 50 mil pessoas não têm médico de família neste concelho. Por outro lado, apenas o centro de saúde da Póvoa pratica atendimento complementar, cerca de 20 consultas por dia para utentes de todo o concelho, a que se juntam agora os do Carregado e Azambuja que ali se deslocarem, pessoas sem médico de família ou portadores de doença aguda. “Essa é uma situação que consideramos inaceitável. Temos vindo a defender junto da ARS-LVT a abertura de mais um atendimento complementar, pelo menos em Vila Franca de Xira de forma a colmatar as lacunas no nosso território.” O autarca adianta que a solução pode passar por uma articulação através de um protocolo em princípio com uma Misericórdia para se contratarem médicos, na mesma lógica daquilo que Azambuja pode concretizar com a Cruz Vermelha. “Estamos a desenvolver esses contactos!”, finaliza Fernando Paulo Ferreira. |