Ecologistas arrasam Câmaras que formaram grupo pela despoluição do Rio Maior

José Lousa, Manuel João Sá, António Costa
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Em causa o Grupo Intermunicipal para a Sustentabilidade Ambiental do Rio Maior e da Atividade Pecuária. Integra os municípios de Rio Maior, Azambuja, Santarém e Cartaxo e os suinicultores.

Foi criado no final do ano passado o Grupo Intermunicipal para a Sustentabilidade Ambiental do Rio Maior e da Atividade Pecuária que integra os municípios de Rio Maior, Azambuja (Vala Real), Santarém e Cartaxo, e conta desde já com a integração da Federação Portuguesa De Associações de Suinicultores e do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária. Para uma segunda fase, sustenta o grupo, ficarão os movimentos ecologistas dos vários concelhos que desde há anos lutam contra a poluição causada a vários níveis pelas suiniculturas da região.

António Costa, do Movimento Cívico Ar Puro, de Rio Maior, a propósito desta notícia, define o facto desta forma – “Se não fosse grave dava para rir!”. Até porque os propósitos daquele grupo de entidades passam pela caracterização da atividade pecuária nos quatro municípios, que António Costa, refere, que já foi “feita vezes sem conta”. “A caracterização e os diagnósticos estão concluídos há décadas. Apenas pretendem esbanjar dinheiro, e no concreto nada se faz”. O que tem acontecido na sua opinião e na dos outros dois elementos de movimentos em defesa do rio Maior, José Lousa da Eco-Cartaxo; e Manuel João Sá do Movimento Ecologista de Vale de Santarém – também ouvidos nesta entrevista conjunta pelo Valor Local – é uma espécie de “empurrar com a barriga” do problema desde há muitos anos, com as suiniculturas e não só a poluírem os lençóis freáticos e a contaminar aquele curso de água. “Estivemos ainda há algum tempo reunidos com os grupos parlamentares, onde até nos disseram que não dava para fazerem mais etars por causa da crise, mas antes da crise também não resolveram nada”, aponta António Costa.

“Mas ressalvo que não queremos ser convidados para nada, só desejamos a resolução dos problemas. A constituição desse grupo não passa de uma mera carta de intenções”, refere o representante do concelho de Rio Maior e remata a este propósito – “Não há um mínimo de credibilidade nesse propósito dessas entidades”. Manuel João Sá confidencia que a vereadora da Câmara de Santarém lhe atirou – “Lá mais para a frente os senhores vão ser chamados!”, e desabafa que a resposta surgiu pronta – “Provavelmente, nessa altura já não fará sentido sermos chamados para coisa alguma”, e prossegue: “Não há nenhuma intenção objetiva, as entidades no seu íntimo apelidam-nos de chatos, e olham-nos de lado porque movimentamos as populações e as informamos, levando-as a olhar de frente para a porcaria que é enviada para os rio”. Por tudo isto, não tem dúvidas – “Para eles seria bom que nós nem sequer existíssemos”.

Os elementos dos movimentos dão conta de muitas inspeções que têm sido levadas a cabo ao longo dos anos, nomeadamente, em São João da Ribeira, Rio Maior, onde trabalha uma indústria, mas “a Procuradoria-Geral da República arquiva as denúncias, porque nunca foi detetada qualquer doença, nem houve mortes por causa da má laboração. Certas entidades como a CCDR continuam a ter a ousadia de dizer que não há anomalias”, quando o delegado de saúde, “regista evidências fecais, ratazanas, e cheiros nauseabundos”, descreve António Costa.

Ao longo dos anos, no concelho de Rio Maior, de acordo com o representante do movimento local, que as suiniculturas laboram a seu bel-prazer com a cobertura do poder local, e dá um exemplo – “As suiniculturas vazavam os efluentes e não os entregavam na estação, principalmente as grandes empresas desse género, isso foi sempre ignorado pela Câmara. Um responsável do executivo até dizia que levantávamos problemas: o senhor Carlos Frazão, que também é suinicultor. No início, essas empresas nem tinham licença para laborar como suiniculturas”. Até na questão dos maus cheiros que as entidades dizem ser algo impossível de eliminar por completo, António Costa sustenta que é falso, porque “há exemplos no estrangeiro, nomeadamente, na Dinamarca, que desmontam essa opinião”. “É possível minimizar ainda mais esses impactes”. “Esse país é o maior produtor europeu de porcos e não tem lá deste tipo de problemas. Não fazem explorações em cima das populações, não libertam cheiros e ainda produzem energia”. “Podia-se optar por fito-etars que se constituem como uma solução barata”, junta José Lousa.

As grandes empresas usam o “argumento falso” de que “não têm dinheiro”, mas seria “mais barato” tratar os efluentes. “Praticam também o espalhamento dos efluentes nos terrenos e com isso continuam a contaminar os lençóis freáticos, e a água potável cada vez mais escassa”. Por tudo isto, a defesa do meio ambiente e de um recurso escasso como a água, entronca na “permissividade, no colaboracionismo e em interesses cruzados”, nomeadamente, “quando o suinicultor tem amigos nas autarquias”, refere Manuel João Sá.

Estas questões da poluição são tão velhas que passaram quase a ser tidas como “normais”. “Há um clima de normalidade tolerada, normalidade anormal que encobre atividades que estão contra todas as regras”.

Mas no concelho do Cartaxo e no de Azambuja, “a agricultura também tem contribuído para o estado de coisas. E se os terrenos estão a ser regados com aquela água é tempo de pararmos para reflectir, pois é impossível termos produtos de qualidade quando a água se encontra cheia de detritos e de espuma castanha”, elucida José Lousa. “É na altura do tomate, que mais peixes morrem”, refere Manuel João Sá a propósito da fábrica de São João da Ribeira, a que se junta “o deficiente tratamento dos esgotos urbanos com as etars a trabalharem mal, nomeadamente em Santarém”.

É nos cidadãos que os movimentos encontram o seu suporte, tendo em conta que se chegou ao ponto de já ser impossível “suportar os maus cheiros e toda a imundície”. A revolta tem vindo à tona de água, e ações concertadas entre os três movimentos, envolvendo o máximo possível de elementos das populações, têm sido possíveis.

Num futuro que se acredita mais ou menos longínquo, este trio de movimentos gostaria que se concretizasse o sonho comum de uma ecovia a ligar os 70 quilómetros do rio Maior que atravessa os quatro concelhos, e que em Azambuja é conhecido como  Vala Real, com ciclovia, via pedonal, e locais de convívio. “Há muitos exemplos deste tipo em todo o mundo, onde é possível percorrer todo o rio com estas ecovias”, observa Manuel João Sá.

Este trio procura encontrar mais um colega para defender o rio Maior, em Azambuja mas até à data ainda não foi possível – “Ainda não desistimos, cremos que com certeza haverá quem se importe com estas questões em Azambuja e gostaríamos de contar com pessoas desse concelho também”, deixam o apelo.

Sílvia Agostinho
17-04-2015

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Impressionante, vivemos no meio da porcaria. Aos entrevistados, bem hajam pela vossa luta e nunca desistam.


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\8-4.2015

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