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Entrevista presidente da Abraço, Gonçalo Lobo:
Mudança de paradigma do HIV obriga a novas exigências
Sílvia Agostinho
28-12-2016 às 10:41
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No dia 1 de dezembro assinalou-se mais um Dia Mundial da Luta contra a Sida, e o Valor Local entrevistou o presidente da Associação Abraço, Gonçalo Lobo, que fez o balanço da evolução da doença em Portugal, quais as expetativas para o futuro no combate à doença, e até que ponto as campanhas de informação conseguiram ter um efeito positivo quer na prevenção quer no combate à discriminação.

Valor Local - Quais são os desafios da Abraço no atual contexto da evolução da doença que caminhou para um padrão mais crónico e em que as taxas de mortalidade diminuíram acentuadamente?
Gonçalo Lobo - Com a mudança de paradigma que a infeção sofreu nos últimos 30 anos, ao passar de uma questão de mortalidade e de pouca esperança de vida, para outra questão, estamos neste momento a trabalhar para garantir que as pessoas envelheçam com o VIH com qualidade de vida numa idade mais avançada, tendo em conta que são doentes que fazem uma medicação crónica e que traz consigo algumas complicações inerentes ao funcionamento sistémico do organismo.

No momento atual, considera que o estigma relacionado com o HIV/SIDA diminuiu ou ainda existe muita desinformação?

Três décadas depois do registo dos primeiros casos de sida, os infetados por VIH continuam a ser estigmatizados e discriminados, com impacto na sua saúde física e mental. Continua também a existir muita  iliteracia no tema do VIH  muito concentrada na crença de que esta infeção pertence a grupos específicos, a grupos de risco, a grupos que se comportam de forma desviante da norma. Esta crença é o ponto de partida para uma atitude de distanciamento a esta infeção e consequente estigmatização e discriminação que observamos demasiadas vezes.  Existem grupos vulneráveis para a saúde no global, para o VIH em específico, e precisamos de intervir de forma específica e adaptada. No entanto, quando observamos que mais de metade das novas infeções, durante anos consecutivos, têm sido através de relações heterossexuais, percebemos que não podemos deixar cair a intervenção na população em geral.  Observamos um padrão crescente nas novas infeções no grupo:  “Homens que têm Sexo com outros Homens” (HSH), verificado a nível europeu. Provavelmente o grupo mais informado em relação a todas as Infeções Sexualmente Transmissíveis (IST). A informação per si não é fator protetor.  São do conhecimento geral as formas de transmissão do VIH, é raro a pessoa que não as enumere com facilidade. Noventa por cento das transmissões de novos casos que se apresentam no nosso país são através de relações sexuais desprotegidas. Uma relação sexual é caracterizada sobretudo por afetos e emoções. O conhecimento, no geral, é secundário. Talvez a iliteracia no nosso país não seja no tema do VIH ou outra IST, mas na educação sexual e todos os temas que envolvem a sexualidade humana.  A infeção pelo VIH sofreu uma evolução enorme nas últimas décadas. Hoje é considerada uma infeção crónica. Temos de ter a capacidade de adaptar a nossa intervenção e a nossa comunicação à realidade presente, utilizando todas as ferramentas disponíveis.

A nível dos cuidados de saúde que aspetos há a melhorar (hospitais, centros de saúde, acesso aos medicamentos, etc)?
O nosso serviço nacional de saúde, no geral, apresenta respostas eficazes na área do VIH/Sida. A comunidade médica em Portugal é de referência e os médicos de doenças infecciosas não são exceção. Para as pessoas diagnosticadas e em tratamento é fundamental a continuidade do mesmo, evitando ao máximo situações de roturas de stock que alterem as dinâmicas estabelecidas na disponibilização da medicação ao utente. A comunidade científica comprova com vários estudos que o diagnóstico e o tratamento devem ser realizados o mais precocemente possível nas pessoas que adquirem esta infeção. A qualidade de vida das pessoas com a infeção, e a diminuição da taxa de incidência no nosso país, depende do trabalho conjunto entre os cuidados de saúde e os serviços de base comunitária na promoção da prevenção primária e secundária. Apenas desta forma os resultados serão significativos.

Tendo em conta os diferentes grupos de risco, qual ou quais apresenta(m) taxas superiores de contágio atualmente?
Pela análise das tendências temporais é nos revelado que a taxa de novos diagnósticos de VIH/Sida tem decrescido a nível europeu, Portugal incluído, de forma consistente ao longo dos anos, no entanto, no presente, somos um dos países com a maior taxa de incidência da União Europeia (segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças EM 2014). A transmissão por via sexual corresponde a mais de 90 por cento dos novos casos, concentrando mais de metade das mesmas nas faixas etárias dos 20 aos 44. Um quarto das novas infeções ocorreu em pessoas com 50 ou mais anos de idade. Quanto às três principais categorias de transmissão, foi mantido o padrão registado nos últimos anos. A proporção de novos casos de transmissão através de relações heterossexuais manteve-se estável em cerca de 60 por cento, tendo-se assistido novamente a um aumento da proporção de novos casos de transmissão em homens que têm sexo com homens(HSH), representando 32 por cento. A transmissão verificada em utilizadores de drogas injetáveis continua a diminuir, e ronda os quatro por cento dos novos casos neste último ano (PNIV-DGS, 2014).

Neste momento, Portugal em comparação com os outros países da União Europeia em que posição fica tendo em conta: aumento de casos; farmacologia acessível, centros de aconselhamento, trabalho desenvolvido ao nível do serviço nacional de saúde?
Portugal apresenta níveis de qualidade de resposta nesta área semelhantes aos seus parceiros europeus. As taxas de diagnósticos tardios e incidência, diretamente correlacionadas, continuam a destoar nesta estatística. As políticas nacionais de saúde têm desenvolvido estratégias específicas para alterar esta realidade, com resultados efetivos, que esperamos que tenham continuidade e melhoras ao longo do tempo.

Qual a posição da Abraço em relação à denominada pílula da sida?
Se se  referem ao PrEP, nós ABRAÇO somos a favor. Achamos que existem populações que continuarão a não utilizar preservativo, pelo que o PrEP pode ser apresentada como opção e/ou combinada com outros métodos de prevenção. Tudo o que aumente a panóplia de métodos preventivos será sempre benéfico pois permite-nos chegar a mais pessoas. Os estudos têm incidido essencialmente sobre a população HSH e tem demonstrado resultados eficazes. Na nossa opinião poderá ser aumentado para casais sorodiscordantes (uma pessoa com HIV e uma pessoa sem HIV) e para outras pessoas de risco mediante inquérito prévio por um profissional de saúde para determinação de probabilidades. As pessoas que decidam fazer PrEP deverão ser testadas previamente e serem acompanhadas de três em três meses para ir buscar mais medicação e para controlo e monitorização. Visto a medicação utilizada, nome comercial Truvada (TDF) provocar alterações renais, quem tenciona fazer PrEP deverá fazer um check-up ao rim antes de iniciar pois poderá não ter critérios clínicos para iniciar devido a patologia renal prévia. Outro efeito secundário que também ainda não está claro, é que o TDF provoca uma redução da densidade óssea, o que pode colocar os sujeitos mais vulneráveis a fraturas. No entanto parece que os resultados ainda não são conclusivos, que este efeito é reversível quando os sujeitos deixam de tomar. 


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