Vasco Mello está à frente dos destinos
do Hospital de Vila Franca de Xira desde 2011. Há um ano, foi inaugurado o novo
edifício, e os desafios tornaram-se maiores. Em marcha está o processo de
acreditação internacional, um dos mais exigentes do mundo. É uma nova vida para
o hospital de Vila Franca de Xira, quando ainda há meia dúzia de anos gozava de
má fama e perdia utentes dos cinco concelhos (Vila franca de Xira, Benavente,
Azambuja, Arruda dos Vinhos, e Alenquer) para os hospitais de Lisboa; que a
pouco e pouco voltam a frequentar a unidade da sua área de residência.
Valor Local – O Grupo Mello assumiu a gestão do Hospital de Vila Franca de Xira em 2011, sendo que o novo edifício foi inaugurado há um ano atrás, qual é para já o balanço no que se refere aos aspectos positivos e negativos?
Vasco Mello – Foi importante termos começado esta gestão ainda no antigo edifício, permitiu-nos conhecer os profissionais, e iniciar o processo de mudança. O balanço é claramente muito positivo, pois correspondeu à realização de uma grande necessidade no que toca aos cuidados de saúde da população dos cinco concelhos. Foram introduzidos equipamentos, como um aparelho de ressonância magnética, e especialidades que não existiam. A capacidade do hospital aumentou nos diferentes blocos (antes eram três, hoje são nove), mas também no internamento; face à insuficiência de outrora e às condições de trabalho desfavoráveis. A urgência melhorou, é cinco vezes maior, com separação de fluxos e atendimento com mais privacidade. Há quartos individuais na maternidade, o bloco de partos tem o que de melhor existe. Havia duas camas de cuidados intensivos, hoje são oito. Temos 12 camas de cuidados intermédios. No fundo, o hospital é mais humano para os utentes. A medicina praticada é mais segura e menos invasiva também, pois adquirimos material do mais moderno para os blocos operatórios.
Os médicos ficaram muito satisfeitos.
Ficaram muito satisfeitos, e temos também novos médicos. Foram introduzidas novas especialidades, Otorrinolaringologia e Oftalmologia, ainda, no antigo edifício. Nas novas instalações, acolhemos a Psiquiatria e a Infecciologia. Também introduzimos a hemodiálise.
Quantas pessoas foram contratadas desde que o Grupo Mello iniciou funções no hospital?
O hospital já criou desde a nossa entrada em 2011, perto de 300 postos de trabalho, o que equivale a 450 novas pessoas, porque entretanto algumas reformaram-se. Hoje somos à volta de 1100. Este ano, ainda, deveremos recrutar à volta de 50 para os diferentes sectores do hospital.
Muito falada tem sido a questão da obrigatoriedade de pagamento do estacionamento automóvel, com os utentes a manifestarem a sua indignação.
Começar por dizer que a entidade que faz a gestão do estacionamento não é o Grupo Mello. Nós próprios que trabalhamos no hospital tivemos que encontrar uma solução com a entidade gestora do estacionamento, e acabamos por subsidiar o parque. Os nossos colaboradores pagam, hoje, cerca de 15 euros por mês por um lugar de estacionamento
Essa questão dos 15 euros foi pacífica?
Foi completamente pacífica.
Ainda é algum dinheiro.
Equivale a somarmos o preço de uma bica, (50 cêntimos), por dia no final do mês (sorrisos). Evidente que 15 euros são 15 euros, mas as pessoas reconhecem que isto também lhes traz vantagens. No anterior hospital, havia mais dificuldades de estacionamento, e existiam parquímetros. Não há parques aqui à volta com preços semelhantes e isto só acontece porque o hospital decidiu subsidiar os colaboradores. Cerca de 70 por cento dos colaboradores já aderiram a estas condições para parqueamento. No outro hospital também havia um parque pago na parte de trás. Nós gostávamos todos que fosse grátis mas não é possível. No que toca aos utentes torna-se gratuito para os doentes oncológicos, doentes que têm de vir até cá fazer a hemodiálise.
Neste momento, o hospital está em fase de preparação de uma importante certificação internacional, pode dar-nos alguns pormenores?
É uma das apostas fortes do hospital e está relacionada com a segurança clínica e com a qualidade dos cuidados que presta. Para atingirmos patamares de segurança clínica, é importante estarmos certificados no que toca ao ambiente, e qualidade, que já estamos. A entidade que fará a acreditação trata-se da americana Joint Commission, uma das mais reconhecidas a nível mundial. O hospital está muito focado em cumprir com todas as normas e padrões nesse sentido. A auditoria terá lugar em Julho, acreditamos que a vamos conseguir, será significativa na forma como prestamos os cuidados médicos, especialmente no capítulo da segurança. Não somos os primeiros em Portugal, Loures e Cascais também já passaram por este processo e acabaram de ser acreditados.
Esta acreditação da Joint Commission é a mais importante do género?
Diria que é uma das mais reconhecidas, e que está presente em muitos hospitais no mundo.
Em termos práticos, em que é que o hospital está a tentar ser ainda mais exigente no seu dia-a-dia para conseguir a acreditação?
A acreditação obedece a padrões de segurança que se traduzem, por exemplo, na correcta identificação dos utentes, não só com o número da cama e do quarto, mas o nome, a idade, e o número do processo. Absoluto cuidado na administração de medicamentos, por outro lado. Também a nível de tudo o que seja cirurgia segura, ou seja na pessoa certa, no sítio certo, com o consentimento informado das pessoas, grosso modo. Essa entidade leva ainda muito a sério a higiene e as infecções em meio hospitalar: o cuidado com o lavar das mãos, e a transmissão de vírus. A comunicação entre profissionais também é importante, com o registo de tudo o que diz respeito a um utente. Outra componente diz respeito às avaliações respeitantes aos riscos de quedas em meio hospitalar.
Os indicadores até ao momento são positivos segundo tem sido divulgado pelo hospital.
Sim, temos muitos bons indicadores. Queremos ser um dos hospitais mais seguros do país, ou o mais seguro, e esse é nosso trajecto.
No que se refere à parceria público-privada, recentemente um dos gestores do Grupo Mello, Rui Raposo, disse que o Estado faz uma grande confusão de papéis e tal não augura um bom futuro. São assim tantas as dificuldades que o Governo cria ao vosso grupo na gestão deste hospital, bem como de outros geridos por vós?
Não. As parcerias público-privadas (PPP’s) não podem ser comparadas com as das auto-estradas; desde logo, e com a excepção de Loures, estas PPP’s vinham substituir hospitais que já existiam; e quando é lançado o concurso o Estado faz um exercício simples que é o de calcular os custos caso o hospital venha a ser construído e gerido pelo mesmo ou por um privado; e só adjudica quando os custos são inferiores. As propostas andam à volta de 20 por cento de poupança para o Estado. A transferência do risco é transportada para nós, no que respeita á gestão operacional
Não é bipartido entre as duas entidades?
O risco de novas doenças, medicamentos, e equipamentos é nosso. O risco da inovação é do privado. Os riscos são transferidos, sendo que há uma série de indicadores de obrigações num contrato com uma grande complexidade, para ambas as partes, integrada numa gestão de características muito finas, detalhadas, com muitas obrigações e controle de toda a actividade.
Estará em mente algum pedido de reequilíbrio financeiro tendo em conta a crise e todos os riscos e custos de que está a falar?
Não, nada disso está em vista.
Mas alguma questão que esteja em vias de ser renegociada nesse contrato, tendo em conta o tom de crítica do gestor do Grupo Mello que referi?
Não.
Pergunto isto, porque ainda está muito presente a forma como correu menos bem a relação entre o Estado e Grupo Mello no caso do Amadora-Sintra. Parece que esse caso serviu, então, de aprendizagem e de lição para vós.
Não vou falar do Amadora-Sintra, mas nesse caso não existia ainda uma complexidade contratual comparada com a deste hospital, por exemplo. A gestão era rigorosa, mas não possuía um enquadramento legal de concurso tão complexo como este. Mas o hospital Amadora-Sintra correu bem, e prova disso são os resultados positivos e o facto de termos quatro PPP’s a funcionar na Saúde, que estão a fazer um bom serviço ao Serviço Nacional de Saúde.
Apesar de a PPP de Braga estar a levantar algumas críticas.
Teve um arranque um pouco mais difícil, é verdade.
Para além das novas especialidades do hospital, há outrasem perspectiva?
Para já são as que referi, mas quero sobretudo salientar que há um retorno das pessoas desta região ao seu hospital da área de residência, quando anteriormente procuravam unidades de saúde em Lisboa. As pessoas confiam mais em nós.
Tivemos a informação de que apesar da capacidade do hospital, há doentes que têm de se deslocar às vossas unidades privadas, as CUF’s em Lisboa, para realizar exames?
Nomeadamente?
Foi-nos dito por uma utente deste hospital que foi recentemente fazer um exame especial à CUF Infante Santo, na especialidade de gastroenterologia.
O nosso centro de gastroenterologia na Cuf Infante Santo é muito bom
O objectivo prende-se com a poupança de recursos, ao fim ao cabo?
Não. Os hospitais, não apenas os do Grupo Mello, não têm a obrigação de ter todas as máquinas, e aparelhos. Teríamos sempre de mandar fazer esse tipo de exames fora, e das duas uma ou mando fazer no público, e espera demasiado tempo, ou faz num privado, na nossa concorrência, e custa-lhe mais caro. Optámos por uma decisão intermédia, e enviamos os utentes para uma unidade nossa. Por exemplo, quando nós entrámos na gestão do hospital de Vila Franca de Xira, não tínhamos TAC e mandávamos fazer nas clínicas da cidade, o mesmo para as ressonâncias.
Por outro lado, o hospital é novo mas já há falta de camas.
Somos vítimas do sucesso (risos). Um pouco mais a sério: tivemos alguns constrangimentos durante o Inverno, durante os picos da gripe. Não só o nosso, mas também outros. Há sempre dificuldade em encaixar os utentes todos. Tivemos alguma falta de capacidade.
Quais são os principais desafios em gerir um hospital deste género, numa parceria público-privada, e os privados geridos por vós, para além das sensibilidades do contrato com o Estado?
(silêncio) É importantíssimo esse contrato. Todos os anos acordamos com o Estado o que é preciso fazer para o ano seguinte, mas com bastante detalhe, especialidade a especialidade. Num hospital privado isso não existe.
Neste tipo de hospitais, as pessoas também se queixam com mais facilidade. Foi algo com que também tiveram de aprender a lidar.
Já sabíamos que as pessoas ao entrarem num novo edifício, o seu grau de exigência aumentaria naturalmente. Sabíamos que as reclamações não iam desaparecer, porque o grau de expectativas aumentou. Por outro lado, vemos as reclamações como uma oportunidade de melhorar as condições, claramente.
As pessoas têm sempre razão ou nem por isso?
Não têm sempre razão. Gostava de poder dizer isso, mas não é verdade. Queria aproveitar, ainda, esta entrevista para apelar à população dos nossos concelhos para que venha dar sangue ao hospital. Nós temos uma campanha a decorrer, pois as nossas reservas não são as suficientes, dado que a nossa actividade cirúrgica subiu bastante. Já contactámos algumas empresas da área, os trabalhadores podem vir durante uma manhã que não são penalizados a nível do salário, conforme também o que está previsto na lei.
Sílvia Agostinho
17-04-2014
Valor Local – O Grupo Mello assumiu a gestão do Hospital de Vila Franca de Xira em 2011, sendo que o novo edifício foi inaugurado há um ano atrás, qual é para já o balanço no que se refere aos aspectos positivos e negativos?
Vasco Mello – Foi importante termos começado esta gestão ainda no antigo edifício, permitiu-nos conhecer os profissionais, e iniciar o processo de mudança. O balanço é claramente muito positivo, pois correspondeu à realização de uma grande necessidade no que toca aos cuidados de saúde da população dos cinco concelhos. Foram introduzidos equipamentos, como um aparelho de ressonância magnética, e especialidades que não existiam. A capacidade do hospital aumentou nos diferentes blocos (antes eram três, hoje são nove), mas também no internamento; face à insuficiência de outrora e às condições de trabalho desfavoráveis. A urgência melhorou, é cinco vezes maior, com separação de fluxos e atendimento com mais privacidade. Há quartos individuais na maternidade, o bloco de partos tem o que de melhor existe. Havia duas camas de cuidados intensivos, hoje são oito. Temos 12 camas de cuidados intermédios. No fundo, o hospital é mais humano para os utentes. A medicina praticada é mais segura e menos invasiva também, pois adquirimos material do mais moderno para os blocos operatórios.
Os médicos ficaram muito satisfeitos.
Ficaram muito satisfeitos, e temos também novos médicos. Foram introduzidas novas especialidades, Otorrinolaringologia e Oftalmologia, ainda, no antigo edifício. Nas novas instalações, acolhemos a Psiquiatria e a Infecciologia. Também introduzimos a hemodiálise.
Quantas pessoas foram contratadas desde que o Grupo Mello iniciou funções no hospital?
O hospital já criou desde a nossa entrada em 2011, perto de 300 postos de trabalho, o que equivale a 450 novas pessoas, porque entretanto algumas reformaram-se. Hoje somos à volta de 1100. Este ano, ainda, deveremos recrutar à volta de 50 para os diferentes sectores do hospital.
Muito falada tem sido a questão da obrigatoriedade de pagamento do estacionamento automóvel, com os utentes a manifestarem a sua indignação.
Começar por dizer que a entidade que faz a gestão do estacionamento não é o Grupo Mello. Nós próprios que trabalhamos no hospital tivemos que encontrar uma solução com a entidade gestora do estacionamento, e acabamos por subsidiar o parque. Os nossos colaboradores pagam, hoje, cerca de 15 euros por mês por um lugar de estacionamento
Essa questão dos 15 euros foi pacífica?
Foi completamente pacífica.
Ainda é algum dinheiro.
Equivale a somarmos o preço de uma bica, (50 cêntimos), por dia no final do mês (sorrisos). Evidente que 15 euros são 15 euros, mas as pessoas reconhecem que isto também lhes traz vantagens. No anterior hospital, havia mais dificuldades de estacionamento, e existiam parquímetros. Não há parques aqui à volta com preços semelhantes e isto só acontece porque o hospital decidiu subsidiar os colaboradores. Cerca de 70 por cento dos colaboradores já aderiram a estas condições para parqueamento. No outro hospital também havia um parque pago na parte de trás. Nós gostávamos todos que fosse grátis mas não é possível. No que toca aos utentes torna-se gratuito para os doentes oncológicos, doentes que têm de vir até cá fazer a hemodiálise.
Neste momento, o hospital está em fase de preparação de uma importante certificação internacional, pode dar-nos alguns pormenores?
É uma das apostas fortes do hospital e está relacionada com a segurança clínica e com a qualidade dos cuidados que presta. Para atingirmos patamares de segurança clínica, é importante estarmos certificados no que toca ao ambiente, e qualidade, que já estamos. A entidade que fará a acreditação trata-se da americana Joint Commission, uma das mais reconhecidas a nível mundial. O hospital está muito focado em cumprir com todas as normas e padrões nesse sentido. A auditoria terá lugar em Julho, acreditamos que a vamos conseguir, será significativa na forma como prestamos os cuidados médicos, especialmente no capítulo da segurança. Não somos os primeiros em Portugal, Loures e Cascais também já passaram por este processo e acabaram de ser acreditados.
Esta acreditação da Joint Commission é a mais importante do género?
Diria que é uma das mais reconhecidas, e que está presente em muitos hospitais no mundo.
Em termos práticos, em que é que o hospital está a tentar ser ainda mais exigente no seu dia-a-dia para conseguir a acreditação?
A acreditação obedece a padrões de segurança que se traduzem, por exemplo, na correcta identificação dos utentes, não só com o número da cama e do quarto, mas o nome, a idade, e o número do processo. Absoluto cuidado na administração de medicamentos, por outro lado. Também a nível de tudo o que seja cirurgia segura, ou seja na pessoa certa, no sítio certo, com o consentimento informado das pessoas, grosso modo. Essa entidade leva ainda muito a sério a higiene e as infecções em meio hospitalar: o cuidado com o lavar das mãos, e a transmissão de vírus. A comunicação entre profissionais também é importante, com o registo de tudo o que diz respeito a um utente. Outra componente diz respeito às avaliações respeitantes aos riscos de quedas em meio hospitalar.
Os indicadores até ao momento são positivos segundo tem sido divulgado pelo hospital.
Sim, temos muitos bons indicadores. Queremos ser um dos hospitais mais seguros do país, ou o mais seguro, e esse é nosso trajecto.
No que se refere à parceria público-privada, recentemente um dos gestores do Grupo Mello, Rui Raposo, disse que o Estado faz uma grande confusão de papéis e tal não augura um bom futuro. São assim tantas as dificuldades que o Governo cria ao vosso grupo na gestão deste hospital, bem como de outros geridos por vós?
Não. As parcerias público-privadas (PPP’s) não podem ser comparadas com as das auto-estradas; desde logo, e com a excepção de Loures, estas PPP’s vinham substituir hospitais que já existiam; e quando é lançado o concurso o Estado faz um exercício simples que é o de calcular os custos caso o hospital venha a ser construído e gerido pelo mesmo ou por um privado; e só adjudica quando os custos são inferiores. As propostas andam à volta de 20 por cento de poupança para o Estado. A transferência do risco é transportada para nós, no que respeita á gestão operacional
Não é bipartido entre as duas entidades?
O risco de novas doenças, medicamentos, e equipamentos é nosso. O risco da inovação é do privado. Os riscos são transferidos, sendo que há uma série de indicadores de obrigações num contrato com uma grande complexidade, para ambas as partes, integrada numa gestão de características muito finas, detalhadas, com muitas obrigações e controle de toda a actividade.
Estará em mente algum pedido de reequilíbrio financeiro tendo em conta a crise e todos os riscos e custos de que está a falar?
Não, nada disso está em vista.
Mas alguma questão que esteja em vias de ser renegociada nesse contrato, tendo em conta o tom de crítica do gestor do Grupo Mello que referi?
Não.
Pergunto isto, porque ainda está muito presente a forma como correu menos bem a relação entre o Estado e Grupo Mello no caso do Amadora-Sintra. Parece que esse caso serviu, então, de aprendizagem e de lição para vós.
Não vou falar do Amadora-Sintra, mas nesse caso não existia ainda uma complexidade contratual comparada com a deste hospital, por exemplo. A gestão era rigorosa, mas não possuía um enquadramento legal de concurso tão complexo como este. Mas o hospital Amadora-Sintra correu bem, e prova disso são os resultados positivos e o facto de termos quatro PPP’s a funcionar na Saúde, que estão a fazer um bom serviço ao Serviço Nacional de Saúde.
Apesar de a PPP de Braga estar a levantar algumas críticas.
Teve um arranque um pouco mais difícil, é verdade.
Para além das novas especialidades do hospital, há outrasem perspectiva?
Para já são as que referi, mas quero sobretudo salientar que há um retorno das pessoas desta região ao seu hospital da área de residência, quando anteriormente procuravam unidades de saúde em Lisboa. As pessoas confiam mais em nós.
Tivemos a informação de que apesar da capacidade do hospital, há doentes que têm de se deslocar às vossas unidades privadas, as CUF’s em Lisboa, para realizar exames?
Nomeadamente?
Foi-nos dito por uma utente deste hospital que foi recentemente fazer um exame especial à CUF Infante Santo, na especialidade de gastroenterologia.
O nosso centro de gastroenterologia na Cuf Infante Santo é muito bom
O objectivo prende-se com a poupança de recursos, ao fim ao cabo?
Não. Os hospitais, não apenas os do Grupo Mello, não têm a obrigação de ter todas as máquinas, e aparelhos. Teríamos sempre de mandar fazer esse tipo de exames fora, e das duas uma ou mando fazer no público, e espera demasiado tempo, ou faz num privado, na nossa concorrência, e custa-lhe mais caro. Optámos por uma decisão intermédia, e enviamos os utentes para uma unidade nossa. Por exemplo, quando nós entrámos na gestão do hospital de Vila Franca de Xira, não tínhamos TAC e mandávamos fazer nas clínicas da cidade, o mesmo para as ressonâncias.
Por outro lado, o hospital é novo mas já há falta de camas.
Somos vítimas do sucesso (risos). Um pouco mais a sério: tivemos alguns constrangimentos durante o Inverno, durante os picos da gripe. Não só o nosso, mas também outros. Há sempre dificuldade em encaixar os utentes todos. Tivemos alguma falta de capacidade.
Quais são os principais desafios em gerir um hospital deste género, numa parceria público-privada, e os privados geridos por vós, para além das sensibilidades do contrato com o Estado?
(silêncio) É importantíssimo esse contrato. Todos os anos acordamos com o Estado o que é preciso fazer para o ano seguinte, mas com bastante detalhe, especialidade a especialidade. Num hospital privado isso não existe.
Neste tipo de hospitais, as pessoas também se queixam com mais facilidade. Foi algo com que também tiveram de aprender a lidar.
Já sabíamos que as pessoas ao entrarem num novo edifício, o seu grau de exigência aumentaria naturalmente. Sabíamos que as reclamações não iam desaparecer, porque o grau de expectativas aumentou. Por outro lado, vemos as reclamações como uma oportunidade de melhorar as condições, claramente.
As pessoas têm sempre razão ou nem por isso?
Não têm sempre razão. Gostava de poder dizer isso, mas não é verdade. Queria aproveitar, ainda, esta entrevista para apelar à população dos nossos concelhos para que venha dar sangue ao hospital. Nós temos uma campanha a decorrer, pois as nossas reservas não são as suficientes, dado que a nossa actividade cirúrgica subiu bastante. Já contactámos algumas empresas da área, os trabalhadores podem vir durante uma manhã que não são penalizados a nível do salário, conforme também o que está previsto na lei.
Sílvia Agostinho
17-04-2014