Especial Dossier Águas: Vila Franca de Xira tem reservas de água que dão para dois diasOs exemplos da Águas do Ribatejo e SMAS
Sílvia Agostinho
31-08-2018 às 18:05 Numa altura em que a poupança de água está na ordem do dia e face aos períodos de maior seca fomos conhecer as estratégias dos SMAS de Vila Franca e da Águas do Ribatejo sempre que água ameaça faltar nas torneiras, bem como saber quais os principais desafios e investimentos para o futuro.
O concelho de Vila Franca de Xira tem uma capacidade em reservatório de 48 horas sempre que há uma falta de água. Quase não há registo de tantas horas sem água da torneira mas no caso de uma eventualidade grave, o município consegue continuar a abastecer os consumidores em condições de normalidade. Também durante os dias de maior seca registados este verão, o desafio foi grande. O Valor Local foi conhecer o reservatório da Póvoa de Santa Iria, onde o presidente do conselho de administração dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS), António Oliveira, deu conta das atividades de sensibilização ambiental levadas a efeito junto das escolas em que as crianças visitam o reservatório – “Estão dentro de muita água mas não a veem”, sintetiza. Os reservatórios em causa, inaugurados em 2016, têm capacidade de reserva de 6500m3 e servem cerca de 31 mil clientes (moradores na freguesia da Póvoa, Forte da Casa, e Vialonga). Antes desta obra ser uma realidade as reservas de água para aquela zona do concelho davam apenas para meio dia e agora o período é de 48 horas. Face ao clima de seca vivido em alguns dias neste verão, os SMAS tomaram medidas como a suspensão dos esquemas de água nas fontes ornamentais do concelho, “não que o dispêndio de água seja significativo pois quem é conhecedor sabe que se tratam de circuitos fechados mas fizemo-lo no sentido da sensibilização das populações para esta causa”, refere António Oliveira. A empresa municipal alertou ainda através dos meios de informação e comunicação ao seu dispor para a necessidade de poupança do recurso. De acordo com o responsável foi possível aferir que a população do concelho aderiu a esta boa prática. E quando se fala em boa adesão, o administrador sublinha o sucesso da aplicação My Aqua, APP, na qual os munícipes podem realizar todas as informações: comunicar contagens, ver conta corrente, reportar incidências. Dos 72 mil clientes, os aderentes à APP chegam aos três mil utilizadores. Nos últimos anos, as novas tecnologias têm ajudado na implementação das melhores soluções no abastecimento de água, nomeadamente, através da telemetria, em que no caso desta empresa existe uma central de comando que permite monitorizar ao segundo todo o ciclo da água e acompanhar ao pormenor qualquer avaria, dando ordens à distância no sentido da resolução dos problemas tudo de forma informatizada. São 53 reservatórios que são acompanhados nos 318 km2 do concelho.
Recentemente, os SMAS alcançaram o selo de qualidade exemplar da água para consumo humano promovido pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) e “é com orgulho que os trabalhadores desta casa encaram este galardão que é dos mais importantes no mundo da água”. Esta foi a segunda vez que os SMAS receberam este reconhecimento. “Porque é o regulador a atribuir este reconhecimento tal dá ao consumidor uma segurança mais elevada sempre que consome água da torneira”.
Águas do Ribatejo com capacidade em reservatório de 24 horas
Atualmente a Águas do Ribatejo (AR) tem capacidade de água em reservatório por um período de 24 horas no caso de uma avaria ou problema eletromecânico, sobretudo no período de verão, quando os consumos disparam e as regas também aumentam. Este ano, o desafio, nos períodos de maior seca, durante o verão, foi mesmo o de se tentar “poupar água o mais possível”, atesta o presidente da empresa, Francisco Oliveira, também presidente da Câmara de Coruche. “As alterações climáticas estão presentes ainda que alguns não queiram acreditar”. Por isso, refere, há que adotar medidas de contenção naquilo que é a água para consumo humano.
A Águas do Ribatejo deixou os conselhos à população mas “não é fácil perceber se são ou não acatados” pois o normal é os consumos dispararem. “Mas temos sempre esta pedagogia do uso moderado ou reutilizável da água, especialmente, neste último, caso nas regas”. Naquilo que está ao seu alcance, a empresa também tem tentado minimizar o problema das perdas de água recorrendo a uma monitorização mais circunscrita dos locais também com a instalação de contadores na própria rede. No início da empresa as perdas de água andavam nos 45 por cento, agora andarão nos 35 por cento. Pela primeira vez nos seus dez anos de existência, a empresa intermunicipal Águas do Ribatejo conquistou o selo de qualidade exemplar de água para consumo humano em novembro do ano passado. Foi um passo importante, refere o presidente da AR. A água que chega a casa de 150 mil consumidores nos sete concelhos da região é segura e isso significa que “a remodelação levada a efeito em toda a estrutura de abastecimento tem dado frutos” que se refletem neste padrão de qualidade, atestado pelo regulador. Os números apresentados pela empresa são positivos. No último ano foram realizadas 8362 análises nos 48 pontos de abastecimento de água, verificando-se apenas 15 incumprimentos ao longo do ano. Todos foram normalizados após procedimentos de correção. Recorde-se que a empresa investiu 40 milhões de euros nos sistemas de abastecimento de água com a construção e reabilitação de cerca de 50 captações, 67 reservatórios, 18 estações de tratamento e 400 quilómetros de condutas. ETAR da Glória do Ribatejo gerou preocupação Recentemente a forma como se encontrava o efluente na ETAR da Glória do Ribatejo causou preocupação junto dos eleitos do Bloco de Esquerda na autarquia. Segundo aquele partido, o tipo de efluente apesar de tratado e de não apresentar cheiros não estaria a ser acompanhado por qualquer tipo de processo de diluição, a que acrescia o facto de ser feito a céu aberto. Francisco Oliveira refere que nem sempre é fácil escoar o efluente depois de tratado para as linhas de água quando não há inclinação suficiente, sendo que nesses casos é importante que o curso de água se apresente limpo e desimpedido, para que não aconteça o fenómeno da estagnação e daí os maus cheiros. Apesar das dificuldades, há análises frequentes do que é lançado nas linhas de água, e neste caso são cumpridos os parâmetros admissíveis. “Há uma preocupação de qualificar todo o sistema para que não seja posto em causa o ciclo do saneamento básico”. Neste momento, a empresa apresenta um investimento de 20 milhões de euros na componente do saneamento nos sete concelhos que integram a AR. Algumas são obras de raiz, outras dizem respeito a requalificações, “porque já não apresentavam condições para o tratamento dos esgotos”. Nesta altura, estão a ser levadas a efeito obras mais pequenas de remodelações na rede de saneamento enquadradas no programa de fundos europeus do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos Recursos (POSEUR). Sendo certo que em pequenos aglomerados urbanos o modelo da fossa sética ou estanque “ainda é aceite como uma forma normal de tratamento pela entidade reguladora” ComentáriosSeja o primeiro a comentar...
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