Especialista em palmeiras explica os porquês do escaravelho

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“As palmeiras não são árvores, são ervas grandes porque só têm um tecido produtor de folhas, e quando o inseto a ataca é certo que a palmeira vai morrer”, é desta forma que Filomena Caetano, coordenadora do Laboratório de Patologia Vegetal “Veríssimo de Almeida”, do Instituto Superior de Agronomia, caracteriza a espécie em causa que tem dado que falar em todo o país, mas que em Azambuja está a motivar uma onda de tristeza por parte da população com a possibilidade de ver completamente dizimado o património de 104 palmeiras existente no concelho.

Filomena Caetano que integrando uma equipa de investigação do LPVVA/ISA tem desenvolvido trabalho de investigação no âmbito do escaravelho da palmeira, refere que o problema radica sobretudo na “deteção precoce da praga para que não afete o tecido produtor de folhas”. Quando essa deteção é feito atempadamente pode recorrer-se ao saneamento da palmeira, efetuando-se o corte das folhas afetadas mas isso é algo moroso, que requer permanente atenção, e com custos mais ou menos elevados. “Pode dar-se um banho de inseticida na coroa e seguidamente um tratamento mensal. Já recuperámos algumas palmeiras por este método”. Contudo enquanto o nível de população do escaravelho da palmeira se mantiver elevado, há que continuar a não descurar esse tratamento, até porque quando uma palmeira é afetada, é certo que as vizinhas também já se encontram praticamente no mesmo estado.

“O que acontece é que os municípios e os proprietários como não possuem capacidade monetária suficiente, as palmeiras acabam mesmo por morrer!” Por outro lado, a opção por produtos mais baratos poderá não garantir uma maior eficácia do tratamento, segundo Filomena Caetano. A montagem das tubagens para o tratamento deverá ser feita por empresas especializadas ou por jardineiros municipais habilitados. “Tudo isto sai sempre bastante caro!” Quando falamos nas 104 árvores do Palácio das Obras Novas em Azambuja esse valor atingiria à partida preços proibitivos.

Contudo, refere que uma das soluções poderia ter passado por colocar as palmeiras em tratamento preventivo antes de a praga ter chegado a esta zona. “Se chegou e encontrou terreno fértil, desatou a multiplicar-se de uma forma terrível e matou dezenas de exemplares num curto espaço de tempo”. Quando detetados os primeiros casos também teria sido possível salvar as que se encontravam ainda saudáveis, urgindo com a necessária celeridade de modo a colocá-las em tratamento antes de serem afetadas. “Isso provavelmente não foi feito!”

Filomena Caetano diz também que os proprietários pararam os tratamentos durante o inverno, podem estar a cometer um erro já que não convém desmobilizar. “Logo que as temperaturas subam os ataques vão começar. Estamos a detetar larvas ativas a laborar durante o inverno, embora os insetos adultos não estejam a voar durante esta época do ano”.

A linha de trabalho do Laboratório de Patologia Vegetal também passa por identificar os fungos ligados aos escaravelhos mortos numa tentativa de luta biológica. Este pensamento ligado ao funcionamento biológico entre predador e presa poderá ser uma possível chave no combate à praga, evitando a aplicação de pesticidas, em última análise. “Em Espanha já existe este método de luta biológica. Os fungos devem ser isolados nos locais em que o escaravelho-das-palmeiras ataca de modo a utilizar organismos que estão presentes nas nossas condições”.

O escaravelho da palmeira é oriundo da Polinésia, e chegou ao norte de África, “afetando todos os palmeirais, nomeadamente, no Egito, e Espanha como sendo um grande importador de grandes palmeiras acabou por trazer a praga. Mesmo assim o escaravelho só chegou cá em 2007, Espanha já o conhece desde a segunda metade dos anos 90”.

A investigadora refere ainda que a tese de que a importação de palmeiras, espécie tropical, não originária deste clima possa ter sido um rastilho favorável para a propagação do escaravelho – “As palmeiras já estão no nosso país há muitos séculos, sendo ornamentais de baixa manutenção e pouco afetadas por parasitas, mas infelizmente a adaptação de doenças e pragas às nossa condições trouxe problemas difíceis de resolver não ofereciam especial suscetibilidade”. As próprias palmeiras de leque, as que a Câmara de Azambuja pretende colocar no local para substituição das existentes, são igualmente propícias a acolher o escaravelho, não se afigurando como uma escolha completamente imune à praga.

À partida estará inerente o pagamento de coimas por parte de privados que possuam palmeiras completamente devastadas pelo escaravelho da palmeira. O Valor Local contactou o comandante do destacamento da GNR de Alenquer, Bruno Baraças, que referiu  não ter conhecimento de possíveis coimas.

Sílvia Agostinho
21-02-2015

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Comentários

De muito interesse, esta notícia, pela informação e esclarecimento que dá, por parte de quem conhece o assunto. Tendo levado muito tempo a diagnosticar e a serem publicadas orientações quanto ao que fazer, agora, tendo em conta esta informação, que se deverá ter como credível, dado ter origem em quem estuda o assunto, convirá então passar à acção, naquilo que ainda for possível. Há porém a questão dos elevados custos. Por fim, há um aspecto que não conhecemos: será que esta praga poderá passar para árvores de outras espécies?
22-2-2015

Movecologista Vale Santarém







Muito obrigada pela sua informação tão didática. Gostaria que me esclarecesse sobre a viabilidade de uma palmeira minha, já contaminada, mas fazendo tratamento à 1 ano, duas séries de tratamento, é capaz de sobreviver ou acabará por morrer. Acontece que o tratamento não é barato mas quem a trata quer que a morte se vá arrastando. Mais tratamentos mais dinheiro. O tratamento biológico com fungos, por exemplo, género Beauvaria, será eficiente? Eu sou micologista e tenho facilidade de arranjar este fungo. Já o utilizou? Agradeço, se for possível, que me deia a sua opinião.
Muito obrigada


26/03/2015

Maria Amália Pires Peito
Parede- Cascais


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