Eu Cidadão
Por Miguel António Rodrigues (diretor)
27 - 02 -2016 às 22:51
Começo esta rubrica no Valor Local, porque além de jornalista, também sou cidadão. Recentemente estive internado no hospital de Vila Franca de Xira, e considero que um jornalista é jornalista em qualquer situação. É assim com os bombeiros, com os polícias e até com os médicos e enfermeiros, e por isso não poderia deixar de escrever um pouco sobre a experiência que passei.
Muito se tem falado e escrito sobre os nossos centros de saúde e os nossos hospitais. Essa é uma realidade que ainda está longe de ser compreendida pelos cidadãos, com os quais a comunicação nem sempre é a melhor e que leva muitas vezes a deficientes interpretações, exageros e até situações desconfortáveis.
Neste início do ano estive por duas vezes hospitalizado em Vila Franca de Xira. Não foi o bastante para compreender toda a organização, mas deu-me uma outra perspetiva sobre a organização hospitalar e deixou a nu muita falta de comunicação entre os médicos e os doentes.
Sem prejuízo de escrever do ponto de vista apenas de um utente, já que não tenho conhecimentos médicos para me pronunciar de outra forma, acrescento que das duas vezes que procurei o hospital sempre fui bem atendido. Médicos, enfermeiros e auxiliares, sempre procuraram dar-me o melhor tratamento. Mas vamos a factos.
Uma consulta de rotina no hospital de Vila Franca de Xira acabaria por se transformar em 8 dias de internamento. Neste caso o profissionalismo e a dedicação da médica que me acompanha noutra patologia, levou a que tivesse de me dirigir minutos depois às urgências por uma questão que não restava relacionada com o problema que me tinha levado ao hospital. O que é facto é que entrei com um quatro de oxigénio baixo e uma potencial pneumonia.
E é aqui que as coisas mais se complicam. É aqui que a falta de comunicação começa com os doentes.
Depois de algumas horas de espera no S.O. (Serviço de Observação) e de alguns exames, finalmente vinha a má notícia de que teria de ser internado. Todavia, só depois de alguma insistência é que me disseram qual o meu estado de saúde e de que mal padecia.
Esta falta de comunicação leva por isso a situações mal compreendidas por parte dos doentes. Não custava muito dizer por exemplo, que teria de ficar sem comer por algumas horas devido a análises, ou certamente não custaria muito informar que ainda não tinham chegado os exames, e que estavam bastante demorados. Se era assim no meu caso, imagino nos casos de doentes com patologias bem piores do que as minhas.
Acredito que os médicos não se lembrem disso e que até façam cara feia quando perguntamos qualquer coisa. As pessoas quando estão debilitadas, nem sempre têm o discernimento da boa educação, não foi o meu caso, mas confesso que por duas vezes apeteceu-me assinar um termo de responsabilidade e abandonar o hospital.
Não sei se há muitos doentes atribuídos apenas a um médico ou se os médicos não têm paciência para falar com os doentes. Mas o que é certo, é que os hospitais, ou se calhar até as faculdades, têm de investir mais na necessidade de uma melhor e mais frequente comunicação entre médicos e doentes.
Contudo os profissionais do hospital de Vila Franca de Xira têm uma especial simpatia com os doentes, nomeadamente os enfermeiros que estabelecem uma relação mais direta com os doentes em internamento. Foi isto mesmo que constatei durante os 8 dias em que estive no hospital. Certamente que outros leitores se reveem nesta mesma situação. Já que os enfermeiros para além de cumprirem as ordens dos médicos, têm também uma faceta de apoio psicológico e até de conforto junto daqueles que estão mais debilitados. Esta é sem dúvida uma grande mais-valia dos profissionais daquele hospital, que os levam a superar muitas das limitações de um edifício que embora novo, já apresenta problemas.
A simples ida de um doente à radiologia ou para fazer outro qualquer exame representa um desafio. As portas pesadas e mal dimensionadas para passar uma cadeira de rodas leva muitas vezes os auxiliares a fazerem verdadeiras manobras para conseguirem passar. E esta é uma dificuldade que aumenta quando estamos a falar do transporte de um doente numa cama.
As portas abrem com dificuldade, e é necessário um esforço físico para apenas um auxiliar as abrir. Ultrapassado este desafio, os auxiliares deparam-se também com cenários de desorganização, ao ponto de as auxiliares irem buscar o mesmo doente duas vezes para o mesmo exame. Contudo, a boa vontade e simpatia dos técnicos, médicos, auxiliares e enfermeiros, acaba por ultrapassar com algum jeito todas as situações.
Como diria uma técnica “não há hospitais perfeitos, mas o de Vila Franca de Xira está muito bom”. Esta é de facto uma realidade que contrasta apenas com as urgências, mas ainda assim, o internamento é acompanhado quase em permanência pelos enfermeiros e auxiliares, já que pelo que me deu a parecer, os médicos acompanham dia a dia a evolução dos doentes através do relatório feito pelos enfermeiros ou através dos sistemas informáticos. É claro que funciona, mas para quem está angustiado e sem saber o que o espera, sobretudo no caso de pessoas com mais idade, uma palavra ou uma visita do médico mais regular, faz sempre a diferença. Contudo e como digo, há situações que pecam apenas pela falta de comunicação com o utente.
Para concluir, as instalações de internamento apresentam bons níveis de conforto. Quartos duplos ou simples e com wc incluído, o que é uma grande mais-valia, nomeadamente no que toca aos doentes com o mínimo de independência. Contudo as instalações não são ilimitadas e é claro que nos corredores do piso 3, chegaram a existir camas nos corredores, algo muito mas frequente no hospital antigo, mas ainda assim, muito longe do caos que se verificou no passado dia 4 de janeiro, onde até o S.O. chegou a estar complemente cheio, quase sem espaço para que os médicos circulassem.
Posto isto, mantenho apenas a ideia da necessidade de mais comunicação entre os médicos e doentes.
Por Miguel António Rodrigues (diretor)
27 - 02 -2016 às 22:51
Começo esta rubrica no Valor Local, porque além de jornalista, também sou cidadão. Recentemente estive internado no hospital de Vila Franca de Xira, e considero que um jornalista é jornalista em qualquer situação. É assim com os bombeiros, com os polícias e até com os médicos e enfermeiros, e por isso não poderia deixar de escrever um pouco sobre a experiência que passei.
Muito se tem falado e escrito sobre os nossos centros de saúde e os nossos hospitais. Essa é uma realidade que ainda está longe de ser compreendida pelos cidadãos, com os quais a comunicação nem sempre é a melhor e que leva muitas vezes a deficientes interpretações, exageros e até situações desconfortáveis.
Neste início do ano estive por duas vezes hospitalizado em Vila Franca de Xira. Não foi o bastante para compreender toda a organização, mas deu-me uma outra perspetiva sobre a organização hospitalar e deixou a nu muita falta de comunicação entre os médicos e os doentes.
Sem prejuízo de escrever do ponto de vista apenas de um utente, já que não tenho conhecimentos médicos para me pronunciar de outra forma, acrescento que das duas vezes que procurei o hospital sempre fui bem atendido. Médicos, enfermeiros e auxiliares, sempre procuraram dar-me o melhor tratamento. Mas vamos a factos.
Uma consulta de rotina no hospital de Vila Franca de Xira acabaria por se transformar em 8 dias de internamento. Neste caso o profissionalismo e a dedicação da médica que me acompanha noutra patologia, levou a que tivesse de me dirigir minutos depois às urgências por uma questão que não restava relacionada com o problema que me tinha levado ao hospital. O que é facto é que entrei com um quatro de oxigénio baixo e uma potencial pneumonia.
E é aqui que as coisas mais se complicam. É aqui que a falta de comunicação começa com os doentes.
Depois de algumas horas de espera no S.O. (Serviço de Observação) e de alguns exames, finalmente vinha a má notícia de que teria de ser internado. Todavia, só depois de alguma insistência é que me disseram qual o meu estado de saúde e de que mal padecia.
Esta falta de comunicação leva por isso a situações mal compreendidas por parte dos doentes. Não custava muito dizer por exemplo, que teria de ficar sem comer por algumas horas devido a análises, ou certamente não custaria muito informar que ainda não tinham chegado os exames, e que estavam bastante demorados. Se era assim no meu caso, imagino nos casos de doentes com patologias bem piores do que as minhas.
Acredito que os médicos não se lembrem disso e que até façam cara feia quando perguntamos qualquer coisa. As pessoas quando estão debilitadas, nem sempre têm o discernimento da boa educação, não foi o meu caso, mas confesso que por duas vezes apeteceu-me assinar um termo de responsabilidade e abandonar o hospital.
Não sei se há muitos doentes atribuídos apenas a um médico ou se os médicos não têm paciência para falar com os doentes. Mas o que é certo, é que os hospitais, ou se calhar até as faculdades, têm de investir mais na necessidade de uma melhor e mais frequente comunicação entre médicos e doentes.
Contudo os profissionais do hospital de Vila Franca de Xira têm uma especial simpatia com os doentes, nomeadamente os enfermeiros que estabelecem uma relação mais direta com os doentes em internamento. Foi isto mesmo que constatei durante os 8 dias em que estive no hospital. Certamente que outros leitores se reveem nesta mesma situação. Já que os enfermeiros para além de cumprirem as ordens dos médicos, têm também uma faceta de apoio psicológico e até de conforto junto daqueles que estão mais debilitados. Esta é sem dúvida uma grande mais-valia dos profissionais daquele hospital, que os levam a superar muitas das limitações de um edifício que embora novo, já apresenta problemas.
A simples ida de um doente à radiologia ou para fazer outro qualquer exame representa um desafio. As portas pesadas e mal dimensionadas para passar uma cadeira de rodas leva muitas vezes os auxiliares a fazerem verdadeiras manobras para conseguirem passar. E esta é uma dificuldade que aumenta quando estamos a falar do transporte de um doente numa cama.
As portas abrem com dificuldade, e é necessário um esforço físico para apenas um auxiliar as abrir. Ultrapassado este desafio, os auxiliares deparam-se também com cenários de desorganização, ao ponto de as auxiliares irem buscar o mesmo doente duas vezes para o mesmo exame. Contudo, a boa vontade e simpatia dos técnicos, médicos, auxiliares e enfermeiros, acaba por ultrapassar com algum jeito todas as situações.
Como diria uma técnica “não há hospitais perfeitos, mas o de Vila Franca de Xira está muito bom”. Esta é de facto uma realidade que contrasta apenas com as urgências, mas ainda assim, o internamento é acompanhado quase em permanência pelos enfermeiros e auxiliares, já que pelo que me deu a parecer, os médicos acompanham dia a dia a evolução dos doentes através do relatório feito pelos enfermeiros ou através dos sistemas informáticos. É claro que funciona, mas para quem está angustiado e sem saber o que o espera, sobretudo no caso de pessoas com mais idade, uma palavra ou uma visita do médico mais regular, faz sempre a diferença. Contudo e como digo, há situações que pecam apenas pela falta de comunicação com o utente.
Para concluir, as instalações de internamento apresentam bons níveis de conforto. Quartos duplos ou simples e com wc incluído, o que é uma grande mais-valia, nomeadamente no que toca aos doentes com o mínimo de independência. Contudo as instalações não são ilimitadas e é claro que nos corredores do piso 3, chegaram a existir camas nos corredores, algo muito mas frequente no hospital antigo, mas ainda assim, muito longe do caos que se verificou no passado dia 4 de janeiro, onde até o S.O. chegou a estar complemente cheio, quase sem espaço para que os médicos circulassem.
Posto isto, mantenho apenas a ideia da necessidade de mais comunicação entre os médicos e doentes.
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