Francisco João Silva é o rosto da Caixa Agrícola no concelho de Azambuja. O banco com mais clientes no município, de acordo com as suas palavras. Engenheiro agrónomo, superintende a estrutura nacional que reúne as caixas agrícolas de Portugal. Nesta entrevista, fala da crise e promete que o seu banco estará sempre ao lado dos clientes.
Valor Local - A Caixa Agrícola é a entidade bancária mais antiga do país e do concelho de azambuja. Como classifica a relação com as pessoas e o trajecto até aqui?
Francisco João Silva - As Caixas Agrícolas não são as entidades bancárias mais antigas, são das mais antigas. Actualmente existe uma caixa – a de Elvas que foi fundada ainda no tempo da Monarquia. No entanto, a data que está convencionada como início das actuais Caixas Agrícolas está num Decreto de 1911 do governo provisório da Primeira República.
No concelho de Azambuja, a Caixa Agrícola é a mais antiga instituição bancária, foi fundada em 1927 e é também a mais enraizada no tecido económico e social do Concelho.
As Caixas Agrícolas como cooperativas de crédito regem-se por um conjunto de princípios de que saliento a confiança, a governação democrática, a resiliência (capacidade de resistir a conjunturas difíceis como a actual), a proximidade, o compromisso social e a solidariedade. Princípios estes que sendo palavras e ideias, são na prática diária concretizados na Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Azambuja, a que acrescem conceitos de rigor, responsabilidade e profissionalismo.
No conjugar destes factores, os resultados estão à vista e a Caixa Agrícola hoje detém mais de cinquenta por cento dos depósitos a prazo gerados no concelho.
Este tem sido o trajecto que temos imprimido e que será no futuro desenvolvido e aprofundado.
Estamos junto dos associados, dos clientes e das suas empresas, colaborando na resolução dos seus problemas.
Considera que o concelho de Azambuja é um bom exemplo a nível nacional, para os clientes do Crédito Agrícola?
O concelho de Azambuja, apesar da débil actividade económica das suas PME’s, e das grandes, na sua quase totalidade, terem a sede social fora do concelho, mesmo assim a Caixa Agrícola é o “banco do concelho”. É crescentemente procurado nos seus mais diversos serviços pela população. Temos cinco balcões no concelho de ponta a ponta, e diversas máquinas Multibanco em locais importantes.
Estamos convencidos de que prestamos um bom serviço, que procuramos que seja melhor a cada dia
No concelho, segundo sei, a Caixa tem uma maior percentagem de depósitos e clientes em Aveiras de Cima. Na sua opinião por que é que isso acontece?
Aveiras de Cima é um bom balcão e conjuntamente com Azambuja são os mais importantes da Caixa Agrícola. Aveiras pela sua estrutura social tem uma maior capacidade de poupança. Lamentavelmente, levaram-nos o aeroporto, que teria tido grande impacto social e económico na região, e sobretudo em Aveiras.
Temos que repensar e desenvolver uma nova estratégia para a economia do nosso Concelho.
Numa altura, em que foi anunciado o encerramento de alguns balcões do Crédito Agrícola, a Caixa de Azambuja mantém intocável o seu património. Sei entretanto que existirão novidades na rede de balcões da instituição, e que não está previsto encerrar qualquer um deles. Confirma esta situação?
As Caixas Agrícolas em Portugal não prevêem fechar balcões, um dos seus princípios é o de proximidade e também de solidariedade. A aposta é estarmos junto da população, mesmo que tal tenha alguns custos em certas circunstâncias. Aqui as Caixas Agrícolas são totalmente diferentes dos outros bancos, que privilegiam o lucro e os dividendos, afinal uma lógica capitalista pura, que é a sua matriz.
E já agora quer adiantar que novidades terá o Credito Agrícola em Azambuja?
Para além da nossa actividade normal estamos a preparar um Programa que designamos por “CA PME+”, dada a importância que as pequenas e médias empresas têm no tecido empresarial e social português e também no nosso concelho. Este programa será estratégico para o futuro.
Em breve faremos o seu lançamento. O Concelho de Azambuja precisa de privilegiar o seu desenvolvimento económico em PME’s e as entidades oficiais do município têm que ter esta prioridade no seu cardápio. Nós, Caixa Agrícola de Azambuja, estamos preparados e a afinar os instrumentos de financiamento para podermos responder positivamente aos desafios
O nosso marketing é desenvolvido localmente por nós e a nível nacional, em cooperação com a Caixa Central
Como é que a Caixa Agrícola tem procurado competir com outros bancos que apresentam estratégias de Marketing mais agressivas e modernas, tendo em linha de conta a necessidade de captação de novos clientes? Ou a Caixa Agrícola pretende manter-se como um banco mais ligado à ruralidade e aos agricultores?
A Caixa Agrícola é cada vez mais um banco universal, aberta a todas as actividades e a projectos de investimentos viáveis e como se diz agora sustentáveis.
A Agricultura é a nossa origem, será sempre uma nossa prioridade, agora alargada às mais diversas actividades económicas e operações financeiras.
O concelho de Azambuja ainda é um bom município para investir, e qual é o papel do Crédito Agrícola no fomento desse investimento no município?
O concelho de Azambuja é indiscutivelmente um bom município para investir, no entanto tem de passar da potencialidade existente à realidade. A Caixa Agrícola assumirá as suas responsabilidades, fazemos votos para que os outros agentes do processo também se cheguem à frente, tenham ideias e capacidade de as concretizar.
Iniciativas como a Avinho ou Feira de Maio são importantes para o fomento da economia do município. Contudo muita gente refere que isso não chega. Na sua opinião, o que falta em Azambuja para atrair mais investimento e fomentar a economia local?
Todas as iniciativas são válidas e recomendáveis. O desenvolvimento é feito pelas pessoas e pelas empresas e estas têm papel determinante na criação de postos de trabalho.
Em Azambuja falta uma estratégia liderante por parte das autoridades locais, que se devem focalizar em investir e desenvolver pelo menos duas zonas industriais e de serviços para as PME’s, disponibilizando terrenos infra-estruturados e fazendo a sua promoção.
Só assim teremos um tecido empresarial e social no futuro equilibrado que possa gerar riqueza no concelho, fomentando o emprego, o consumo e o comércio local e isto é, a meu ver, uma exigência face à nossa localização geo-estratégica no País
O nível de solvabilidade da caixa foi considerado um dos melhores em Portugal. Apesar disso a solidez da instituição é auditada frequentemente pela Troika, à semelhança de outras entidades bancárias. Manter este índice está a ser difícil?
Na Zona Euro (para quem tem o Euro como moeda), a auditoria e a supervisão dos bancos é cada vez mais rigorosa e minuciosa sendo que todas as instituições bancárias são permanentemente monitorizadas e periodicamente auditadas. Em Portugal, com a execução em curso de um Programa de ajustamento financeiro e desempenhando os bancos um papel central na actividade económica e financeira do País é natural que a Troika procure acompanhar e conhecer em pormenor o desempenho dos nossos bancos. As Caixas Agrícolas têm tido, nas diversas avaliações, o melhor reconhecimento por parte da Troika.
A Caixa Agrícola de Azambuja fechou o Exercício de 2012 com um rácio de solvabilidade de 20,27%, subindo em relação ao ano anterior, quando o Banco de Portugal exige pelo menos 10,00% e há muitos dos chamados grandes bancos, que têm tido algumas dificuldades e feito esforços adicionais para cumprir. Tudo isto acontece porque os nossos associados e clientes têm confiança na Caixa Agrícola e também pela qualidade da Administração e Gestão que a equipa, que tenho a honra de presidir, tem vindo a desenvolver.
Como presidente da FENACAM que representa mais de 120 agências, quais são as principais dificuldades apresentadas à vossa federação? Estamos a falar de crédito mal parado, dificuldades de financiamento?
A FENACAM é a Federação Nacional das Caixas de Crédito Agrícola, portanto o órgão político-institucional de representação das Caixas Agrícolas portuguesas a nível interno e externo, junto das mais diversas autoridades e instituições.
As Caixas Agrícolas portuguesas comemoraram em 2011 o seu primeiro Centenário e a Caixa Agrícola de Azambuja, por mim representada, foi eleita pelas restantes Caixas para presidir à Federação Nacional, no ano do centenário.
É uma honra e um facto histórico assinalável na vida destas instituições.
Hoje existem em Portugal 89 Caixas Agrícolas, 84 das quais fazem parte do sistema integrado, a caixa central e mais de 700 balcões distribuídos pelo Continente e Açores.
A federação, com a minha presidência tem apostado na qualidade da representação e da diversidade de serviços que presta às associadas de que realço os serviços de auditoria, técnicos, produção documental, entre outros, que são importantes serviços para as Caixas Agrícolas portuguesas.
A federação não trata de financiamentos, estes estão na esfera das Caixas Agrícolas e da Caixa Central.
Numa altura difícil para as famílias, e em que estas perguntam como se vai sair da crise, será importante perguntar-lhe sem pedir-lhe que faça futurologia, como é que o país poderá estar depois da Troika?
O país tem de ter futuro, tendo de se reequilibrar, temos de nos deixar de conversa, trabalhar, fomentar a economia a criação de empresas e postos de trabalho, fomentar as exportações e o consumo interno e deixar as aventuras.
A conversa por mais simpática e interessante que possa parecer, não resolve questões como o emprego, a crise económica, a criação de riqueza e sem economia não há hipóteses de suportar as políticas sociais.
Depois da entrada em vigor do euro, os bancos dos países centrais e dos países periféricos da zona Euro compraram e alavancaram com base em imensa dívida. Quando começaram a variar as percentagens de juro, muitos bancos viram-se em risco de insolvência, não será por isso esta uma crise mais do sistema bancário do que do uma crise de dívida soberana e dos países, e como tal estão 10 milhões de portugueses a pagar pela cavalgada dos bancos neste tema?
O Euro muito criticado, hoje, por algumas pessoas, digamos que com certo oportunismo, tem criado condições para que Portugal tenha atingido nalgumas áreas o desenvolvimento que hoje tem conseguido e um aspecto pouco falado, mas fundamental, que é o da inflação se ter mantido a níveis equilibrados e razoáveis.
A gestão bancária é cada vez mais exigente nos mais diversos aspectos e cada vez tem mais rigorosos acompanhamentos de monitorização por parte das autoridades de supervisão.
Os portugueses hoje têm alguns tristes exemplos, por desleixo de supervisão, incompetência das monitorizações, e o escândalo de alguns responsáveis terem sido premiados, e a justiça continuar inconsequente.
Qual é o seu olhar sobre o caso BPN? Era mesmo necessário estarmos todos a pagar esta factura?
O BPN é a vergonha do sistema financeiro português, tudo o que foi feito e lhe diz respeito é o exemplo de tudo o que não deve e pode ser feito. O país aguarda conhecer as responsabilidades, penalizar os prevaricadores e suportar mais esta factura.odr
Miguel António Rodrigues/Sílvia Agostinho/Jornal Valor Local Abril de 2013