Fencaça acusa Torre Bela de lavar as mãos da montaria
Proprietária rejeita estar implicada. Diz que as caçadas e a gestão da tapada estava concessionadas a empresas. Monteros de la Cabra nunca antes caçara na propriedade do concelho de Azambuja
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| 31 Dez 2020 12:37
Sílvia Agostinho Para Jacinto Amaro, presidente da Federação Portuguesa de Caça (Fencaça) não há muitas dúvidas: a Torre Bela não pode querer ficar livre de culpas pela caçada desenvolvida pelo grupo espanhol "Monteros de la Cabra" no seu território que terminou no abate de 540 animais nos dias 17 e 18 de dezembro. "Não pode vir agora dizer que não sabia do que se passou lá dentro, porque estamos a falar de um malefício levado a cabo. Possivelmente se fosse um benefício já dizia que tinha conhecimento de tudo, nomeadamente, quando vendeu a madeira dos eucaliptos e lucrou com isso não disse o mesmo", refere ao Valor Local. O dirigente confessa que talvez a situação pudesse ter fugido ao controlo "mas dizerem-se ignorantes não é plausível".
Para o representante de uma das principais associações de caça do país, "é claro que a quinta tinha um excedente de animais face aos projetos que tem em mente para o denominado parque fotovoltaico". Muito falada tem sido a questão da possível deslocação dos animais para outras áreas de reserva de caça turística, mas Jacinto Amaro considera que à partida "estamos provavelmente perante exemplares de caça pouco interessantes do ponto de visto genético, difíceis de vender, com muita consanguinidade a nível do acasalamento destas espécies." Daí que a única solução "tenha sido o abate, que deveria ter existido de forma mais moderada, sem este tipo de impacto e sem redes sociais, porque não houve esse cuidado por parte de quem participou na caçada". Jacinto Amaro consubstancia: "Mas não tenho dúvidas nenhumas que a intenção era matar esses animais face ao projeto dos painéis". Após todo o envolvimento e o mediatismo que este acontecimento suscitou, Jacinto Amaro diz que vai ser difícil provar uma série de factos inerentes à montaria, desde logo o número de animais efetivamente abatidos, "porque as imagens de facebook valem o que valem". "Vejo muitas vezes pessoas a colocarem fotos de caçadas, que não são de acontecimentos recentes, mas que já têm um ano ou dois". Como é sabido o proprietário já veio dizer que apenas disponibilizou 105 selos para a montaria, o que na prática significa que mais de 400 peças saíram para a cadeia alimentar à margem da lei, e neste aspeto a quinta pode apenas enfrentar, segundo Jacinto Amaro, "uma contraordenação" e não um crime, até porque vai ser "muito difícil provar quantos de facto foram para comercialização". Ao que tudo indica terá estado um veterinário no local, e "é questão do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) investigar". A lei não prevê na prática um número máximo de abates nas áreas de reserva de caça turística. Jacinto Amaro suscita ainda que a presença do selo na peça abatida foi uma proposta da Fencaça aplicada pelo Governo, que na prática visa "impossibilitar os abates clandestinos ou os roubos de animais das explorações cinegéticas". Torre Bela rejeita envolvimento no sucedido Fonte oficial da Torre Bela, em resposta ao Valor Local, rejeita as acusações da Fencaça e refere que a tapada, local onde se encontram as espécies cinegéticas, resulta de uma gestão delegada em empresas de entidades especializadas de gestão agrícola e silvícola, que não diretamente os "donos da Torrebela". Já em comunicado enviado às redações anteriormente a Torre Bela referiu não ser " a entidade exploradora da referida caçada" não tendo "organizado ou nela participado, direta ou indiretamente, e por isso, não tem qualquer responsabilidade no sucedido". "É inequívoco que o grupo de caçadores excedeu em larga medida os direitos de caça adquiridos, ultrapassando os limites acordados por contrato com a entidade exploradora e que se coadunam com o permitido pela licença de zona de caça que se encontrava à data, em vigor", continua a adiantar. A mesma fonte garantiu ao nosso jornal que a Monteros de la Cabra não teve nenhum contacto direto com os proprietários da Torre Bela, nem nunca ali tinha entrado com o seu conhecimento. Foi a única montaria que a empresa organizou e o seu comportamento "não foi correto, excedendo em larga medida os direitos de caça adquiridos". Muito badalado tem sido também o facto de alegadamente ter estado presente na montaria um filho dos donos da propriedade, e como tal não podia a Torre Bela ser completamente alheia ao sucedido. Neste aspeto e ao nosso jornal, é referido que foi estabelecido um contrato entre Mariano Morales/Monteros de La Cabra e Avelino Almeida Carvalho, que não é filho dos sócios da entidade proprietária da Torre Bela, embora seja familiar. É nos adiantado que desde há muitos anos são pontualmente adjudicadas outras montarias a outros organizadores em conformidade com o permitido pela licença e pelo plano de gestão florestal em vigor. Tal acordo com o familiar em questão leva por consequência, "ao incumprimento do contrato entre a Torre Bela e Avelino Almeida Carvalho", resume. A Torre Bela adianta ainda que está a colaborar com as entidades na averiguação dos factos. Tendo por base as provas recolhidas, a Herdade da Torre Bela já apresentou uma queixa-crime junto do Ministério Público contra a entidade promotora da referida caçada (a empresa Monteros de la Cabra e o seu responsável Mariano Morales) e contra desconhecidos. |
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