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Segundo os últimos dados que conseguimos apurar há cerca de 62 utentes infetados com Covid-19 no lar da Misericórdia de Alhandra a que se somam agora 24 mortos. A instituição chegou aos 116 infetados, entre 86 idosos e 30 trabalhadores nas primeiras três semanas do mês. O Valor Local foi contactado por um familiar de um dos idosos infetados que preferiu o anonimato, por temer represálias para com o seu pai, e que conta que a instituição confiou na sorte, pois meses antes já registara, um ou outro caso esporádico, que debelou e “estava confiante que ia conseguir de novo”.
“Tentei entrar em contacto com o lar para me darem conta do número de casos e do que estava a acontecer mas pouca ou nenhuma informação era dada”, conta este familiar, que recorda - “Qual não foi o meu espanto quando recebo uma chamada de um amigo a alertar-me para o facto de o surto estar a ser noticiado em todo o lado. Fiquei em pânico com a notícia da morte de 22 pessoas no lar. Um cenário do qual soube através da comunicação social”. Entretanto o utente, pai desta testemunha ficou também doente com Covid-19 mas sem necessidade de internamento. António vamos chamar-lhe assim é perentório– “Fiquei arrasado com a notícia porque de um momento para o outro tínhamos um ou outro caso conforme me foi contado pelo meu pai, e de repente surge esta informação de dezenas de casos e 22 mortos, obviamente que se eu soubesse de antemão a escalada que estava a acontecer tinha sacado o meu pai lá de dentro, quando ainda estava negativo, e ponto final porque nunca o deixaria lá naquela molhada”, lamenta, expressando que “a falta de comunicação” foi o que mais o incomodou por parte da instituição. Quando a notícia salta para a comunicação social, “mesmo assim parece que estavam sempre a tentar não falar do assunto”. Neste momento “o meu pai está no denominado covidário lá dentro da instituição. Há uma separação entre infetados e não infetados, mas a comunicação continua a ser escassa, se eu não telefonar, também não me ligam a informar de nada. Não tenho vida para andar à porta do lar todos os dias, mas é esperar para ver a evolução”. José Alves, provedor da Misericórdia de Alhandra, refere que a avaliação do filho do utente “é válida como outra qualquer” mas rejeita a ideia de que houve facilitismo porque “a situação da pandemia é indomável e mesmo com todos os cuidados é impossível que não aconteçam casos, que só seriam evitáveis de todo se ninguém entrasse e saísse do lar nestes meses todos, mas como perceberá tal é impossível porque os funcionários também têm uma vida lá fora”, defende. O provedor admite que já trabalhou com equipas em espelho na primeira vaga da pandemia, com as funcionárias a ficarem vários dias na instituição sendo revezadas ao fim de uma semana ou duas, mas que tal não se afirmou com viável nesta fase. “Contudo as entradas são bastante controladas, com as funcionárias a tomarem banho e a mudarem de roupa assim que chegam”. O responsável diz ainda que “não houve falta de meios, apenas algumas pessoas que trabalham na instituição que tiveram de ficar de quarentena, porque de resto não é preciso fantasiar mais”. José Alves refere que nem a Segurança Social nem a Saúde Pública ou a Câmara falharam. Declarações que contrastam com o que disse inicialmente quando afirmou que as brigadas da Cruz Vermelha demoraram cinco dias a acorrer à situação, algo desmentido por Francisco George, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa. As polémicas foram intensas e quando perguntamos a José Alves sobre quem falou verdade ou não neste caso que se traduziu num dos maiores focos de Covid-19 no nosso país, desvaloriza referindo que “todos falaram verdade”. Mas relata desta forma o filme dos acontecimentos – “Demos em primeiro lugar conta do caso à Segurança Social que por sua vez comunicou à Cruz Vermelha", mas não quer dar a mão à palmatória quanto à origem dos atrasos, e à possível demora de algum dos interlocutores: “Foi muita coisa ao mesmo tempo, porque também tivemos de gerir a falta de funcionários ao ponto de recorrermos a uma empresa de catering para fornecer as refeições. Como é que conseguimos culpar alguém neste caos?”, questiona, afirmando-se prostrado com a evolução avassaladora daqueles acontecimentos. Nesta altura a instituição conta com o apoio da Cruz Vermelha, e também da Segurança Social que disponibilizou recursos humanos através de um programa do Instituto de Emprego destinado a dar resposta em casos de emergência a equipamentos sociais e de saúde por força da Covid 19. No balanço deste surto, o provedor diz que “é muito difícil fazer mais”, quanto a medidas de prevenção. “Pode ter a certeza que se ninguém de cá tivesse saído desde março que o bicho nunca teria entrado, mas as pessoas têm família, tudo o resto é do campo da ficção”. |
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