
Dois anos depois do abandono dos trabalhos recordamos os dias de muita agitação em Vila Verde dos Francos. Há murmúrios quanto a um possível regresso mas não passam disso mesmo.
Vila Verde dos Francos já esteve no mapa de uma das principais empresas de exploração de petróleo e gás natural do mundo, a Mohave. Ainda há dois anos atrás, mais de cinquenta pessoas da petrolífera canadiana trabalhavam no alto da serra Galega perto de Lapaduços e Casais da Fonte da Pipa na esperança de descobrirem reservas de gás natural. A zona oeste, em especial Torres vedras, Alenquer e Cadaval são apontados como locais chave. Estimava-se que podiam ser explorados 18,2 a 500 milhões de barris em toda a zona Oeste, e até o famoso milionário Joe Berardo entrou na corrida.
Hoje a freguesia paredes meias com o concelho do Cadaval voltou à pacatez de sempre. No alto da Serra da Galega a paisagem parece intata. Apenas o convívio entre um velho e muito degradado moinho antigo com os seus primos afastados, os modernos e sofisticados moinhos eólicos permanece. Os sons da maquinaria pesada deram lugar aos sons da natureza. O presidente da junta de freguesia de Vila Verde dos Francos, Mário Rui Isidoro, recorda com alguma nostalgia os dias frenéticos que a freguesia viveu naquela altura. O comércio sentiu essa animação e muitos desejavam que a aldeia saltasse definitivamente para um outro nível de desenvolvimento. “Vila Verde saiu do anonimato para as capas dos jornais”.
“De fato havia alguma coisa, não sei se gás, se petróleo, mas o que quer que fosse estava a grande profundidade e se calhar em pouca quantidade, o que não justificava o investimento”, refere o presidente da junta que realça que, na altura, a empresa arranjou os caminhos vicinais circundantes bem como o principal acesso à serra. O autarca nunca ouviu falar dos perigos para o ambiente que aquele tipo de exploração poderia acarretar, “mas talvez porque nunca se passou da fase de prospeção”.
Depois da Mohave abandonar a serra, estiveram de novo no local onde se procedeu à recolha de resíduos para arranjo de caminhos doados à junta e agricultores.
Quando a empresa abandonou a localidade ficou no ar a possibilidade de um regresso, mas sem certezas. Para Pedro Folgado, presidente da Câmara de Alenquer, a possibilidade de se encontrar importantes reservas de gás natural na localidade em causa seria importante não só para o concelho mas para o país também, mas afirma desconhecer se há ou não uma tentativa de regresso. “Ouvi dizer há cerca de seis meses que podiam voltar de novo, mas não sei de mais nada concretamente”.
O Valor Local falou com Joe Berardo que foi parceiro de negócio com a Mohave Oil e Gas mas este adiantou que já não tem nada a ver com o “negócio”. Quando questionado sobre quais as razões limitou-se a dizer: “Coisas cá minhas não quero falar mais disso!”, não dando azo a mais perguntas. A empresa também deixou para já de ter escritórios no país.
A Mohave estava em Portugal desde 1993, tendo investido mais de 40 milhões de euros na prospeção de petróleo e de gás. As quatro concessões que a empresa detém vigorariam até 2015.As prospeções efetuadas em Fevereiro de 2008 na freguesia de Vaila Verde dos Francos, no concelho de Alenquer, indicavam a existência de crude leve, ou seja, o petróleo de melhor qualidade, e a dada altura: gás natural.
“Várias empresas fizeram estudos mas nunca deu em nada. Tentei saber muitas vezes quais os resultados mas pouco me quiseram adiantar em algumas ocasiões”, acrescenta Álvaro Pedro, antigo presidente do município de Alenquer. “A Mohave esteve muito tempo, e até levou a cabo um furo bastante profundo, mas avisavam que depois diziam alguma coisa se houvesse hipóteses de exploração e que a Câmara ainda ia beneficiar com isso, porque a autarquia não tinha nada a ver com a exploração, já que as ordens eram dadas pelo Governo, mas nunca me disseram quais podiam ser os benefícios, apenas se falava na altura que haveriam de beneficiar o concelho de alguma maneira”. O antigo autarca, na altura, apenas fez o reparo para “deixassem as estradas em boas condições, o que fizeram”.
Lina Maria era a vizinha mais próxima do local onde se processavam os trabalhos. Proprietária de um café lembra-se da grande agitação que a pequena povoação de Casais da Fonte da Pipa conheceu. Na altura teve de expandir o negócio e adaptar a sua casa a restaurante e a albergue de funcionários da Mohave, dado não existir nenhum hotel ou residencial nas proximidades.
A maioria dos trabalhadores era de outras nacionalidades e havia poucos portugueses. Chegou a subir a serra para entregar o farnel aos operários e chefes que assentaram arraiais na altura na Serra da Galega com o firme desejo de encontrar o filão do gás natural. “Na altura, foi bom para o meu estabelecimento, claro que lucrei com isso, mas também tínhamos alguns receios porque se ouvia dizer que se encontrassem petróleo ou gás poderiam abarbatar os terrenos todos aqui à volta”. Mas quanto a um possível regresso não tem dúvidas – “Seria uma maravilha!”
Nos blogues e redes sociais, podemos encontrar vários movimentos ambientalistas que reprovam em toda a linha a instalação daquele tipo de empresas em Portugal. Em declarações ao Valor Local, o movimento “Parem as Tar Sands/Não ao Fracking” aponta os grandes inconvenientes das explorações de gás natural, desde logo porque “a extração de gás de xisto através de fratura hidráulica como era o caso em Alenquer vem libertar três a cinco mais vezes gases dos que os libertados pela extração convencional de gás natural e petróleo, estando quase ao nível do maior responsável pela destruição da camada de Ozono, a agropecuária. Tal indústria pode significar ainda “problemas de saúde para a população, contaminação dos lençóis de água, entre outros”
Sobre os planos para novas extrações ou prospeções em Portugal e segundo esta plataforma “pouco se sabe sobre esses trabalhos, pretensões, ideias, compromissos, obrigações, e direitos muito menos”. “O trabalho de prospeção de gás natural e petróleo leve em Portugal não sendo segredo, também não é revelado às massas, e nas localidades nada se sabe”. Nesta altura, este movimento encontra-se particularmente ativo na zona do Barreiro onde está previsto o arranque de novas prospeções do gás de xisto.
Sílvia Agostinho
28-09-2014
Vila Verde dos Francos já esteve no mapa de uma das principais empresas de exploração de petróleo e gás natural do mundo, a Mohave. Ainda há dois anos atrás, mais de cinquenta pessoas da petrolífera canadiana trabalhavam no alto da serra Galega perto de Lapaduços e Casais da Fonte da Pipa na esperança de descobrirem reservas de gás natural. A zona oeste, em especial Torres vedras, Alenquer e Cadaval são apontados como locais chave. Estimava-se que podiam ser explorados 18,2 a 500 milhões de barris em toda a zona Oeste, e até o famoso milionário Joe Berardo entrou na corrida.
Hoje a freguesia paredes meias com o concelho do Cadaval voltou à pacatez de sempre. No alto da Serra da Galega a paisagem parece intata. Apenas o convívio entre um velho e muito degradado moinho antigo com os seus primos afastados, os modernos e sofisticados moinhos eólicos permanece. Os sons da maquinaria pesada deram lugar aos sons da natureza. O presidente da junta de freguesia de Vila Verde dos Francos, Mário Rui Isidoro, recorda com alguma nostalgia os dias frenéticos que a freguesia viveu naquela altura. O comércio sentiu essa animação e muitos desejavam que a aldeia saltasse definitivamente para um outro nível de desenvolvimento. “Vila Verde saiu do anonimato para as capas dos jornais”.
“De fato havia alguma coisa, não sei se gás, se petróleo, mas o que quer que fosse estava a grande profundidade e se calhar em pouca quantidade, o que não justificava o investimento”, refere o presidente da junta que realça que, na altura, a empresa arranjou os caminhos vicinais circundantes bem como o principal acesso à serra. O autarca nunca ouviu falar dos perigos para o ambiente que aquele tipo de exploração poderia acarretar, “mas talvez porque nunca se passou da fase de prospeção”.
Depois da Mohave abandonar a serra, estiveram de novo no local onde se procedeu à recolha de resíduos para arranjo de caminhos doados à junta e agricultores.
Quando a empresa abandonou a localidade ficou no ar a possibilidade de um regresso, mas sem certezas. Para Pedro Folgado, presidente da Câmara de Alenquer, a possibilidade de se encontrar importantes reservas de gás natural na localidade em causa seria importante não só para o concelho mas para o país também, mas afirma desconhecer se há ou não uma tentativa de regresso. “Ouvi dizer há cerca de seis meses que podiam voltar de novo, mas não sei de mais nada concretamente”.
O Valor Local falou com Joe Berardo que foi parceiro de negócio com a Mohave Oil e Gas mas este adiantou que já não tem nada a ver com o “negócio”. Quando questionado sobre quais as razões limitou-se a dizer: “Coisas cá minhas não quero falar mais disso!”, não dando azo a mais perguntas. A empresa também deixou para já de ter escritórios no país.
A Mohave estava em Portugal desde 1993, tendo investido mais de 40 milhões de euros na prospeção de petróleo e de gás. As quatro concessões que a empresa detém vigorariam até 2015.As prospeções efetuadas em Fevereiro de 2008 na freguesia de Vaila Verde dos Francos, no concelho de Alenquer, indicavam a existência de crude leve, ou seja, o petróleo de melhor qualidade, e a dada altura: gás natural.
“Várias empresas fizeram estudos mas nunca deu em nada. Tentei saber muitas vezes quais os resultados mas pouco me quiseram adiantar em algumas ocasiões”, acrescenta Álvaro Pedro, antigo presidente do município de Alenquer. “A Mohave esteve muito tempo, e até levou a cabo um furo bastante profundo, mas avisavam que depois diziam alguma coisa se houvesse hipóteses de exploração e que a Câmara ainda ia beneficiar com isso, porque a autarquia não tinha nada a ver com a exploração, já que as ordens eram dadas pelo Governo, mas nunca me disseram quais podiam ser os benefícios, apenas se falava na altura que haveriam de beneficiar o concelho de alguma maneira”. O antigo autarca, na altura, apenas fez o reparo para “deixassem as estradas em boas condições, o que fizeram”.
Lina Maria era a vizinha mais próxima do local onde se processavam os trabalhos. Proprietária de um café lembra-se da grande agitação que a pequena povoação de Casais da Fonte da Pipa conheceu. Na altura teve de expandir o negócio e adaptar a sua casa a restaurante e a albergue de funcionários da Mohave, dado não existir nenhum hotel ou residencial nas proximidades.
A maioria dos trabalhadores era de outras nacionalidades e havia poucos portugueses. Chegou a subir a serra para entregar o farnel aos operários e chefes que assentaram arraiais na altura na Serra da Galega com o firme desejo de encontrar o filão do gás natural. “Na altura, foi bom para o meu estabelecimento, claro que lucrei com isso, mas também tínhamos alguns receios porque se ouvia dizer que se encontrassem petróleo ou gás poderiam abarbatar os terrenos todos aqui à volta”. Mas quanto a um possível regresso não tem dúvidas – “Seria uma maravilha!”
Nos blogues e redes sociais, podemos encontrar vários movimentos ambientalistas que reprovam em toda a linha a instalação daquele tipo de empresas em Portugal. Em declarações ao Valor Local, o movimento “Parem as Tar Sands/Não ao Fracking” aponta os grandes inconvenientes das explorações de gás natural, desde logo porque “a extração de gás de xisto através de fratura hidráulica como era o caso em Alenquer vem libertar três a cinco mais vezes gases dos que os libertados pela extração convencional de gás natural e petróleo, estando quase ao nível do maior responsável pela destruição da camada de Ozono, a agropecuária. Tal indústria pode significar ainda “problemas de saúde para a população, contaminação dos lençóis de água, entre outros”
Sobre os planos para novas extrações ou prospeções em Portugal e segundo esta plataforma “pouco se sabe sobre esses trabalhos, pretensões, ideias, compromissos, obrigações, e direitos muito menos”. “O trabalho de prospeção de gás natural e petróleo leve em Portugal não sendo segredo, também não é revelado às massas, e nas localidades nada se sabe”. Nesta altura, este movimento encontra-se particularmente ativo na zona do Barreiro onde está previsto o arranque de novas prospeções do gás de xisto.
Sílvia Agostinho
28-09-2014
Comentários
Samuel Melro
A revolução energética do gás de xisto anuncia lucros fabulosos às multinacionais petrolíferas. Surgem na crise como a grande saída económica, mas o secretismo é a alma do negócio. A sua exploração por fractura hidráulica comprovou ter perigosas implicações ambientais e na saúde pública. Em Portugal, da região oeste à costa vicentina, de Alcobaça ao Barreiro, o estado português hipotecou já milhões de hectares a troco de uma factura demasiado alta. Sobre isso mesmo se escreveu em http://www.jornalmapa.pt/2013/12/26/a-elevada-factura-da-fractura-hidraulica/#comment-157
19 - 10 - 2014
A revolução energética do gás de xisto anuncia lucros fabulosos às multinacionais petrolíferas. Surgem na crise como a grande saída económica, mas o secretismo é a alma do negócio. A sua exploração por fractura hidráulica comprovou ter perigosas implicações ambientais e na saúde pública. Em Portugal, da região oeste à costa vicentina, de Alcobaça ao Barreiro, o estado português hipotecou já milhões de hectares a troco de uma factura demasiado alta. Sobre isso mesmo se escreveu em http://www.jornalmapa.pt/2013/12/26/a-elevada-factura-da-fractura-hidraulica/#comment-157
19 - 10 - 2014