Gestor da Inovação:
"Azambuja não pode ser só conhecida pela Feira de Maio" Rui Pinto tem definido com o presidente da Câmara de Azambuja, de forma discreta, a estratégia de desenvolvimento do concelho
Sílvia Agostinho
25-11-2015 às 19:30 Foi apresentado em abril último, e desde então pouco se tem sabido do trabalho de Rui Pinto, designado como gestor da inovação no concelho de Azambuja. Nesta entrevista assume-se como o braço direito de Luís de Sousa na piscadela de olho às empresas existentes no concelho e não só. A procura de novos investidores para o concelho, o estabelecer de pontes com as escolas, e a afirmação de Azambuja para além da Feira de Maio têm sido alvo de discussão nos bastidores desta espécie de novo pelouro não oficial, embora Rui Pinto confesse não ter ambições políticas. Para Rui Pinto, físico que se especializou entretanto na área da inovação, o cerne do desenvolvimento do concelho consiste em projetar Azambuja para além da Feira de Maio. Passados alguns meses das eleições de 2013, Rui Pinto confessa que foi ter com o presidente da Câmara para lhe apresentar um documento estratégico composto pelos vetores da aproximação da Câmara às empresas. Mas também aproximar a Câmara das escolas, apostar no turismo e nos ditos mercados de proximidade local. O gestor da inovação, cargo que não existia no município, confidencia ao Valor Local que Luís de Sousa lhe deu carta branca para lançar mãos à obra. “Não podemos vender o concelho aliando o município apenas ao touro, embora reconheça essa idiossincrasia em Azambuja, mas não basta a festa brava para dotar o concelho de valor acrescentado”, resume. Desde então, a Câmara passou a mudar a agulha na sua estratégia de aproximação às empresas. E as reuniões têm-se sucedido quer com as intrinsecamente do concelho de Azambuja, quer com as que estão cá instaladas mas que não pagam no concelho os impostos, e algumas delas também não são conhecidas por proporcionarem numerosos postos de trabalho aos habitantes de Azambuja, bem pelo contrário. Instado sobre a relevância de uma aproximação a essas empresas, que reconhece serem vistas como uma espécie de “nave espacial” que aterrou na zona industrial de Vila Nova da Rainha, refere que “nunca é demais o propiciar desses contactos, mesmo quando não pagam cá a derrama”. “Podemos estar a falar no futuro de empresas que podem dar emprego aos nossos jovens, e nesse âmbito estou a trabalhar numa listagem dos nossos licenciados com a diretora da escola secundária”. A ideia é ir ao encontro dos jovens estudantes de Azambuja que já concluíram as suas licenciaturas e fixá-los no seu concelho. Rui Pinto acredita que o futuro pode passar por aí, apesar das várias evidências que apontam para a circunstância de que muito raramente o jovem de Azambuja consegue emprego qualificado no seu concelho. O gestor da inovação não esconde que o seu foco assenta na mais-valia dos jovens do concelho, contudo é em municípios com ensino superior que a ambicionada relação entre empresas e jovens consegue ter algumas garantias mais ou menos risonhas, nem que seja a nível de um estágio como primeira abordagem ao mercado de empego. Mas para Rui Pinto não há impossíveis: “Não temos massa crítica para isso, por enquanto. Mas através dessa lista em preparação, temos essa possibilidade, mas ressalvo que não vai funcionar como uma base de cunhas, em que eu ligo para uma empresa a salientar determinado jovem, não é isso que quero”, deixa no ar. Para já a palavra de ordem é “formar”. A Câmara fez para isso uma parceria com a Nersant “que taxativamente apenas vai trabalhar no concelho num programa de empreendedorismo jovem”, evidencia. Quando se fala em terrenos para albergar empresas que se queiram cá instalar, é sabido que o concelho possui uma vasta área na zona industrial de Aveiras de Cima, mas conforme já foi dito pelo presidente da autarquia, ao Valor Local, o Novo Banco está a pedir preços muito avultados. Sendo assim, a Câmara dispõe de poucas alternativas, sendo que ainda sobram alguns terrenos em Vila Nova da Rainha. “Devo dizer que não deixaremos fugir nenhuma oportunidade apesar desta dificuldade dos terrenos”, promete Rui Pinto. Rui Pinto tem 43 anos e possui outra atividade profissional. Não quis comentar o valor que a Câmara lhe paga, contudo em declarações ao Valor Local aquando da apresentação do mesmo em abril passado, o presidente da Câmara falava de uma valor a rondar os 300 euros, que à partida não deverá ter subido por aí além . “Inicialmente, o valor era mais baixo, mas estamos a falar de um trabalho que no princípio era de alguma carolice, que passou a ser altamente competente e profissional, modéstia à parte, com o envio de relatórios mensais para o presidente”. Neste âmbito, dá a conhecer que a oposição até à data não o contactou sobre as suas atividades, “mas tenho total abertura para isso, pois o meu trabalho não é um projeto do Partido Socialista mas para benefício de todo o concelho”. O gestor da inovação que tem dado nas vistas não quer falar para já em ir nas listas do PS à Câmara nas próximas autárquicas, e com isso poder fazer parte do próximo executivo. Diz-se para já focado neste trabalho, e se um dia a “máquina da inovação no concelho estiver de tal forma oleada que já não seja precisa a minha presença retirar-me-ei porque já não fará sentido o meu papel”. Resta saber quais serão depois as ambições de Rui Pinto. “Temos o melhor projeto a nível nacional sobre como construir o futuro sob a inovação”
O conjunto de linhas mestras do plano que apresentou à Câmara é considera por Rui Pinto como o melhor a nível nacional, tendo em conta os conhecimentos que possui. “Até o nosso portfólio é único. Não existe em mais lado nenhum”. A reação das empresas, nomeadamente, a Sugal foi de algum espanto, “pois não estava habituada a ver a Câmara a promover os negócios do concelho”. Reconhece por isso “que havia uma lacuna enorme na aproximação da Câmara às empresas”. A adesão dos vários tipos de negócio foi “bastante positiva”, tendo ficado de fora – embora veja essa adesão no futuro com bons olhos –a empresa espanhola que gere o olival de Alcoentre/Manique, que representa o maior investimento, neste momento, no concelho. Necessária interligação com o gabinete de apoio ao investidor Quase ao mesmo tempo, está em marcha o projeto do gabinete de apoio ao investidor que será inaugurado muito em breve e que resulta de uma parceria entre a Associação de Comércio, Indústria e Serviços do Município de Azambuja (ACISMA) e a autarquia. “O nosso presidente da Câmara entende que a relação entre os projetos tem de ser simbiótica, não se pretende que possam colidir, nem é esse o meu objetivo”. Também refere que o seu foco não se encontra nesse gabinete, “contudo é desejável que os empresários procurem cada vez mais essas estruturas de apoio, que deveriam ser algo ainda mais comum nos concelhos”. Saúda ainda a forma direta como o porta-voz da ACISMA, Daniel Claro, deu a conhecer este projeto, referindo a mais-valia de ser uma “associação de cá a tratar destas questões”, comparativamente a outras de fora. Para além de que nos contactos com os empresários, Rui Pinto faz questão de mencionar a existência desse gabinete de apoio em marcha e de dar os contactos do mesmo, “embora muitos desses empresários já estejam noutro patamar e não necessitem tanto desse apoio”. “Tomara muitos doutores serem como o nosso presidente”
Nesta entrevista, Rui Pinto dá a conhecer que Luís de Sousa está completamente empenhado no projeto nos seus diversos níveis, e que tem procurado “absorver e apreender toda a informação possível sobre o tema da inovação e do empreendedorismo”. Luís de Sousa tem sido acusado de não ter perfil para delinear uma estratégia para o futuro do concelho, e neste âmbito atrair investidores, e fomentar a economia a diversos níveis. Algo que Rui Pinto refere que tem de ser desmistificado de imediato – “Tomara muitos doutores serem como o nosso presidente. Passamos muito tempo a discutir todos os nossos projetos para o futuro do concelho, estou constantemente a enviar-lhe artigos. O nosso presidente é impressionante no sentido de querer aprender sempre mais”. Para além deste trabalho, as visitas às empresas multiplicam-se, com regularidade: “Chegamos a estar em cada uma dessas empresas, por vezes, cerca de umas quatro horas a discutir com os empresários os mais variados pontos de vista e a encontrar pontos de conexão”. “Fico surpreendido quando outros políticos do concelho acusam o nosso presidente de não ter uma linha orientadora para o desenvolvimento do concelho”. E vai mais longe enfatizando desta maneira: “Deus Santo estamos a por em prática um rumo mas que rumo com os nossos projetos!”. Neste ponto define que a articulação com as escolas e com as empresas tem sido imparável. “O nosso foco estratégico vai muito além de 2017, e sabemos exatamente para onde queremos ir, apesar de algum tradicionalismo que ainda existe em Azambuja. E no meu caso como não sou do concelho tive de enfrentar de início alguma desconfiança, mas estamos a trabalhar todos na Câmara com este farol, com uma estratégia muito significativa, e com o empenho de pessoas competentíssimas”. No entanto não esconde as adversidades – “Obviamente que não é de repente que se colhem os frutos!” ![]() Bilionário saudita fez negócios em Azambuja
O gestor da inovação refere que tem uma equipa de trabalho composta por funcionários da autarquia que despendem algum do seu tempo nesta tarefa. Rui Pinto refere que houve bons frutos da passagem de um bilionário saudita pelo concelho no verão, pois aqui fez negócios, nomeadamente, com a fábrica de tomate Toul, e com a empresa de frutas cristalizadas Frutalcarmo. O responsável diz que a sua iniciativa também se baseia em contactar câmaras de comércio para esta parceria, e para além da luso- árabe tem também um acordo com a luso-peruana. À nossa reportagem fala do sucesso da vinda do árabe. Outros dois também do Médio Orientem fizeram cá negócios, embora não consiga precisar com que empresas do concelho. Diz também que no sucesso da captação do interesse do empresário saudita esteve a elaboração de um portfólio por parte da autarquia, que não existia, com os aspetos mais marcantes do concelho, como o Turismo, os sectores agrícola, vinícola, das embalagens, e da logística. E sobre este novo portfólio, não tem dúvidas em o considerar “como um dos melhores a nível nacional”. Na base destes passos que foram dados, esteve um estudo de caracterização que compreendeu o envio de fichas às empresas para se darem a conhecer. Um trabalho árduo que exigiu a presença no terreno, porque nem todas estavam dispostas a responder ao questionário. Após isto, os contactos têm-se intensificado, segundo Rui Pinto com os hipotéticos investidores. 296 empresas foram contactadas. Acelerador de logística anunciado ainda sem empresas Foi anunciado em abril como sendo o primeiro acelerador de logística do sul da Europa, mas de lá para cá, o município ainda não conseguiu captar as primeiras empresas que vão trabalhar sob a égide da Beta-I que orientará os diferentes projetos. Num ambiente de incubadora, o projeto pretende abarcar 10 empresas simultaneamente para que depois cada uma de per si continue os seus negócios, e possa dar lugar a novas empresas, através de um concurso para o efeito. Rui Pinto confessa que o presidente da Câmara está altamente empenhado neste objetivo, mas que tem sido difícil, apesar de o município fornecer o espaço, ações de formação e os mentores. Para já recolheu-se uma boa aceitação das empresas de logística do concelho face à perspetiva de serem desenhadas soluções para as mesmas pelo futuro acelerador, nomeadamente, a Luís Simões, a Edgar e Prieto, e a Logitech. “Estão completamente disponíveis!”, assevera.
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