Hospital de Vila Franca com condições cada vez mais penosas para os médicos
Presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos revela que os profissionais estão em sofrimento ético, cansados e com vontade de desistir. Qualidade do serviço em queda acentuada
|11 Out 2021 16:06
Sílvia Agostinho As condições do Hospital de Vila Franca de Xira são cada vez mais preocupantes. A afirmação é de Alexandre Valentim Lourenço, presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, que reuniu-se esta manhã com profissionais daquele hospital. São cada vez maiores as dificuldades dos clínicos nesta unidade, e segundo a Ordem dos Médicos, há quem fale de sofrimento ético porque os profissionais não conseguem fazer melhor dada a falta de condições a diversos níveis. O estado de coisas piorou desde que a parceria público privada foi desfeita, em finais de maio - "Nunca tivemos este tipo de relatos nesta unidade", começou por anunciar Alexandre Valentim Lourenço. Começaram a chegar ao conhecimento daquela ordem profissional pedidos de escusa de responsabilidade, insuficiência de serviços e de escalas que não eram completadas. Os problemas endémicos do Serviço Nacional de Saúde estão "a começar a alastrar a este hospital" que esteve durante 10 anos na gestão do grupo Mello. Atualmente, o hospital tem dificuldade em reter "os médicos que forma". "Muitos dos profissionais estão cansados e não têm tempo para desempenhar essa tarefa de formarem os colegas, e isso faz com que se afastem deste hospital e que recorram a outras ofertas mais aliciantes, com condições menos penosas do que aquelas que temos aqui". Alexandre Valentim Lourenço ficou a saber que muitos clínicos deste hospital chegam a trabalhar mais de 70 a 80 horas por semana "algo que pensávamos que só tinha acontecido durante o período alto da pandemia, e nesta altura em que ainda não chegou o inverno, esperemos que trabalhar aqui não seja um inferno para eles, porque estão todos muito cansados". Não há um número exato de quantos profissionais abandonaram o hospital desde que em 2019, o Governo anunciou a não renovação da PPP, e os clínicos começaram a deitar contas à vida, mas terão sido muitas dezenas. Mesmo hoje durante a visita "muita gente foi dizendo nos vários serviços visitados, que faltavam clínicos em diferentes especialidades". E deixa ainda o seguinte exemplo - "Do serviço de Medicina Interna saíram 11 médicos nos últimos dois anos, já da Ginecologia foram 10, sendo que aqueles que agora estão a acabar o internato fazem depender a sua permanência das condições que vierem a ser asseguradas". A Ordem dos Médicos mas também o Sindicato Independente dos Médicos, através do seu secretário geral, Jorge Roque da Cunha, que se fez representar nesta visita, deixaram a sugestão para que "os diretores de serviço e a gestão clínica façam um apanhado real do que é necessário para colocar este hospital a trabalhar sem recorrer a prestadores de serviço", que são nesta altura 40 por cento da massa trabalhadora nesta unidade. Em declarações ao Valor Local, durante a conferência de imprensa, e perante a questão sobre quais as principais diferenças entre o grupo Mello, e a gestão pública - que nesta altura está a cargo do administrador designado pelo ministério da Saúde, Carlos Andrade- Alexandre Valentim Lourenço, reflete que elas existem sobretudo quanto à "autonomia de decisão e de contratação". Agora é muito mais difícil "decidir sobre questões de equipamentos, e de materiais". "Quando a gestão era da PPP, a avaria de um equipamento era resolvida num mês, e agora não há stock e pode demorar dois anos", junta o responsável da Ordem dos Médicos. Por outro lado "antes era mais fácil contratar médicos para este hospital, mesmo que oriundos de longe e a terem de gastar 100 ou 200 euros de gasolina para virem para aqui, e agora isso não acontece porque esta gestão está presa a sistemas centrais que fazem com que estes concursos demorem meses ou anos até estarem resolvidos, e ainda por cima ninguém quer vir trabalhar para um local penoso. Os médicos preferem ir para outro lado onde se ofereça melhores condições", acrescenta taxativamente. Jorge Roque da Cunha afinou pelo mesmo diapasão - "Se temos médicos com 550 a 600 horas extraordinárias de trabalho algo vai mal, a que se soma, a título de exemplo, um serviço de gastroenterologia em que as listas de espera para os doentes externos são de dois anos. Esta diminuição das equipas é preocupante", e deixa o aviso - "É tempo de o ministério da Saúde perceber que tem aqui um problema e que não adianta fazer propaganda". Alexandre Valentim Lourenço refere que a única diferença positiva, neste momento, entre o Hospital de Vila Franca de Xira, que ainda há cerca de um ano recebia acreditações de alto nível perante a qualidade de serviço, e o de Setúbal cuja administração se demitiu na passada semana por não ter condições de prestar cuidados de saúde de qualidade, resume-se "apenas ao edifício". Contudo alerta que o espaço é cada vez mais pequeno face ao número de doentes, e que "muitos continuam a estar internados numa garagem que foi adaptada durante a pandemia e que ainda não foi desmantelada no interior deste hospital e que está a servir de sala de observação porque não há camas suficientes". (Ainda é considerável o número de utentes aos quais não se conseguiu dar alta porque não têm nenhum sítio para onde irem, e que deveriam estar em lares ou outras instituições e que foram abandonados pelas famílias neste hospital). Carlos Andrade transmitiu aos dois responsáveis que estão "a sentir muitos problemas face às regras da contratação da função pública e que estão a trabalhar no sentido de ultrapassar este momento", deu conta o responsável da Ordem dos Médicos. "Tem menos armas do que a outra administração que era autónoma e que tinha capacidade de tomar decisões". Comentários Boa noite Depois de ler confirmo que é muito frostrante trabalhar nestas condições. É desumano, os recursos humanos neste hospital estão desgastados. É sem vontade de voltar no dia seguinte para mais um dia. Depois de um grande desgaste com a pandemia agora a Grande falta de recursos humanos, todas a categorias profissional estão no limete das suas forças. Muito obrigado Helena Abranches 12-10-2021 às 21:50 |
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