Hospital Vila Franca: Maria da Luz Rosinha admite que relações com o grupo Mello esfriaram
Deputada do PS abre o livro sobre a saída do privado
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| 10 Dez 2020 17:26
Miguel António Rodrigues Sílvia Agostinho Presidente do Conselho para o Desenvolvimento Sustentado do Hospital de Vila Franca de Xira, Maria da Luz Rosinha, antiga presidente da Câmara de Vila Franca e atual deputada do PS, em entrevista à Rádio Valor Local não esconde que o futuro daquela unidade de saúde será uma incógnita, numa altura em que faltam seis escassos meses para a administração voltar em exclusivo para as mãos do Estado, 12 anos depois da entrada do Grupo Mello. Maria da Luz Rosinha confidencia que a relação com o Grupo Mello esfriou a partir do momento em que não teve uma palavra para consigo quando os seus responsáveis anunciaram que não iam aceitar as condições impostas pelo Estado na sequência do anúncio de não renovação da PPP nos atuais moldes.
Maria da Luz Rosinha recordou a vinda dos privados para Vila Franca e saudou o papel que todos os presidentes de Câmara tiveram na altura, “inclusivamente o antigo autarca António José Ganhão (CDU) na construção do novo hospital e no estabelecer da parceria público-privada” elogiada ao longo dos anos por todos os autarcas dos cinco concelhos servidos pelo hospital, Alenquer, Vila Franca de Xira, Azambuja, Benavente, Arruda dos Vinhos. Papel crucial teve também “o antigo primeiro-ministro José Sócrates sem o qual nada disto teria sido possível”. Em entrevista também na Rádio Valor Local, o deputado na Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira, e presidente da concelhia laranja, Rui Rei, considerou que Rosinha terá deixado a desejar quando “o Estado decidiu que a PPP de Vila Franca era para acabar”. “O Grupo Mello andou com Maria da Luz Rosinha ao colo, até lhe deu um cargo no hospital, mas depois não vimos nada”. Recorde-se que a deputada do PS na Assembleia da República, secretária do Parlamento, e próxima de António Costa chegando a fazer parte do seu núcleo duro, foi vista como uma possível esperança quanto à manutenção do hospital nas mãos dos privados. |
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Maria da Luz Rosinha diz que não tem de responder a Rui Rei nem lhe deve satisfações quanto ao seu modo de atuação, recordando que na altura do anúncio a um de junho de 2019, promoveu uma reunião com os cinco presidentes de Câmara. No mês de setembro desse ano, o Grupo Mello formalizava a sua saída em 2021, ao recusar manter-se numa espécie de autogestão por mais dois ou três anos para além dessa data, conforme sugestão da tutela, até que fosse lançado novo concurso ou o regresso às mãos do Estado.
Uma decisão que se precipitou e que apanhou na curva a antiga presidente de Câmara de Vila Franca de Xira – “Na altura a minha relação com o Grupo Mello esfriou muito! Considero que deviam ter ouvido o que os autarcas, e o que eu enquanto presidente do conselho tínhamos para dizer. Quando as coisas correram menos bem pediram o nosso envolvimento. Cheguei a ir com eles até à ministra da Saúde, numa altura em que não foi dado esse sinal de que queriam mesmo ir embora. Nada disto é novidade, eles sabem exatamente o que penso, porque já lhes transmiti em devida altura”. Segundo Rosinha, as conversações entre Estado e privado foram por água abaixo “porque não se conseguiram entender quanto aos custos da parceria com um dos gestores”. Uma das parcelas que acarreta mais despesa para o grupo Mello prende-se com os medicamentos para os doentes HIV que, ainda no tempo do antigo ministro Adalberto Campos Fernandes, passou a ser suportada pelo privado. Um custo significativo tendo em linha de conta também a população prisional dos dois estabelecimentos de Alcoentre com várias comorbilidades associadas ao HIV e outras doenças infeciosas. Esses tratamentos chegaram a ser pagos pelo ministério da Justiça, mas passaram para a tutela da Saúde que por sua vez transferiu esse ónus para a José de Mello Saúde, que considerou ser este um prejuízo acumulado impossível de continuar a gerir. “Penso que podiam ter discutido ainda mais este ponto com o Estado. Eles (grupo Mello) asseguram que isso aconteceu, mas que não se chegou a acordo com o gestor do contrato”. Quando se deu a decisão do Grupo Mello, Maria da Luz Rosinha terá colocado a hipótese junto dos autarcas de se demitir do órgão do qual faz parte e é presidente no hospital, “mas foi decidido que não”, pelo “trabalho desenvolvido com as IPSS nas ajudas técnicas, e agora com as bolsas de estudo atribuídas aos alunos da região”. Passados onze anos do início da PPP de Vila Franca de Xira, ainda no antigo Hospital Reynaldo dos Santos, Rosinha entende que se perde, assim, um capital significativo na área da saúde na região. “Independentemente de quem venha agora, os ganhos foram inequívocos, pois somos o epicentro de várias especialidades até no país, na Oftalmologia, na Dermatologia, onde chegam pessoas de todo o lado”. O Hospital de Vila Franca prepara-se para virar a página e a sucessão para o setor público está já em marcha com um administrador do Estado a trabalhar de perto com o Grupo Mello tendo em vista a transição. Rosinha lamenta que a PPP não tenha sido renovada, ao contrário do que aconteceu em Cascais ou Loures, mas vinca que há promessas deixadas pelo Partido Socialista, no dia um de junho de 2019, que se prendem com a necessidade de “ampliação das instalações”, porque “desde o primeiro dia que se viu que era pequeno”. “Houve falta de visão e de rasgo”, considera a deputada. Por outro lado, a ministra “prometeu mais recursos humanos e novas especialidades”, o que significa, atira taxativamente, “que quando passar para a esfera do Estado nada vai acontecer e já lhe disse isso diretamente”. A expetativa quanto ao futuro é muita, “mas não nos podemos esquecer que a grande maioria dos recursos humanos ainda vem do antigo hospital e da anterior gestão pública, e que o próprio Grupo Mello afirma que são do melhor que há, portanto a nova gestão que aí venha tem todas as condições para ter sucesso se assim o quiser”. |
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