AS IMPLICAÇÕES DO ENCERRAMENTO DA OPEL/FORD EM AZAMBUJA
Por Joaquim Ramos,
antigo presidente da Câmara Municipal de Azambuja
O encerramento das instalações da Opel em Azambuja – que entretanto tinha absorvido as instalações da Ford – constituiu sem dúvida um enorme revês não só para o Concelho de Azambuja mas também para toda a Região, uma vez que a Opel era de facto a grande empregadora regional, não só ao nível do número de trabalhadores como também pelo leque salarial acima da média que praticava. Foi, na verdade, uma das épocas mais conturbadas dos doze anos em que estive à frente da Câmara.
No futuro, sem constrangimentos, sem intrusões partidárias e desapaixonadamente, far-se-á a história do fecho da Opel/Ford e das reais causas desse encerramento. Agora é cedo demais.
A Opel/Ford, para além do impacto que tinha em termos económicos e de empregabilidade, tinha também o carisma de, a par da Sugal, serem percursoras da industrialização do Concelho, “arrancando” do assalariamento agrícola – e da miséria- tantas e tantas famílias.
O seu encerramento teve consequências de enorme repercussão no Concelho e, repito, na Região. Em primeiro lugar porque lançou no desemprego mais de mil trabalhadores directos ( na altura do fecho empregava cerca de mil e trezentos trabalhadores), uma parte significativa já em condições de entrar em pré-reforma, mas a grande maioria ainda em plena idade activa ou mesmo nas fases iniciais das suas carreiras profissionais. Foi difícil para muitos a reintegração na vida activa : alguns conseguiram montar negócio próprio, outros (poucos) emprego no mesmo ramo de actividade ou em outros sectores. Mas muitos “agonizaram” dois, três ou mais anos até conseguirem emprego.
Em segundo lugar, o encerramento da Opel/Ford arrastou consigo muitas pequenas ou médias empresas que eram dela subsidiária ou prestadoras de serviço, que se viram obrigadas também a encerrar ou a diminuir drasticamente a sua actividade. Esta consequência, para além de ter contribuído para um abrandamento da actividade económica no Concelho, traduziu-se também num aceleramento do desemprego, por via dos postos de trabalho indirectos que se extinguiram.
Por último, refira-se o impacto negativo sobre o poder de compra dos habitantes do Concelho e a consequente diminuição da procura dirigida à nossa estrutura produtiva : restaurantes, pequenas unidades comerciais locais, prestadores de serviços instalados.
O encerramento da Opel/Ford despertou uma enorme onda de solidariedade por parte da população do Concelho, que organizou inclusive uma marcha até à Praça do Município, e dos Municípios vizinhos – muitos deles, aliás, tinham um numero significativo de munícipes a trabalhar na empresa -, que culminou numa manifestação junto à Assembleia da República.
Apesar de, como era meu dever, me ter envolvido directamente nas diligências feitas, em conjunto com a Comissão de Trabalhadores, junto da Administração internacional da Empresa e do Governo Português para viabilizar a continuidade da Empresa, houve um momento em que percebi que o encerramento era inevitável : o dia em que o Ministro Manuel Pinho, que se tinha deslocado aos Estados Unidos expressamente para negociar com a Administração da Opel, me comunicou que as exigências da Empresa eram inaceitáveis para Portugal.
Naturalmente que uma das nossas preocupações dominantes no período pós-encerramento foi encontrar uma alternativa para aquelas instalações. E foi possível, com a conjugação duma série de esforços, instalar um grande centro de distribuição da Sonae. Não foi a solução ideal, a que todos gostaríamos de ver, porque apesar do número de trabalhadores ser até superior, sabíamos que os salários praticados e a segurança laboral eram substancialmente inferiores aos praticados pela Opel. Não nos podemos esquecer, no entanto, que se tratou dum período – que ainda hoje se mantém – de deslocalização de unidades industriais de toda a Europa para as economias emergentes. A alternativa seria ficarmos com um elefante branco que cedo entraria em degradação.
31-01-2015
Por Joaquim Ramos,
antigo presidente da Câmara Municipal de Azambuja
O encerramento das instalações da Opel em Azambuja – que entretanto tinha absorvido as instalações da Ford – constituiu sem dúvida um enorme revês não só para o Concelho de Azambuja mas também para toda a Região, uma vez que a Opel era de facto a grande empregadora regional, não só ao nível do número de trabalhadores como também pelo leque salarial acima da média que praticava. Foi, na verdade, uma das épocas mais conturbadas dos doze anos em que estive à frente da Câmara.
No futuro, sem constrangimentos, sem intrusões partidárias e desapaixonadamente, far-se-á a história do fecho da Opel/Ford e das reais causas desse encerramento. Agora é cedo demais.
A Opel/Ford, para além do impacto que tinha em termos económicos e de empregabilidade, tinha também o carisma de, a par da Sugal, serem percursoras da industrialização do Concelho, “arrancando” do assalariamento agrícola – e da miséria- tantas e tantas famílias.
O seu encerramento teve consequências de enorme repercussão no Concelho e, repito, na Região. Em primeiro lugar porque lançou no desemprego mais de mil trabalhadores directos ( na altura do fecho empregava cerca de mil e trezentos trabalhadores), uma parte significativa já em condições de entrar em pré-reforma, mas a grande maioria ainda em plena idade activa ou mesmo nas fases iniciais das suas carreiras profissionais. Foi difícil para muitos a reintegração na vida activa : alguns conseguiram montar negócio próprio, outros (poucos) emprego no mesmo ramo de actividade ou em outros sectores. Mas muitos “agonizaram” dois, três ou mais anos até conseguirem emprego.
Em segundo lugar, o encerramento da Opel/Ford arrastou consigo muitas pequenas ou médias empresas que eram dela subsidiária ou prestadoras de serviço, que se viram obrigadas também a encerrar ou a diminuir drasticamente a sua actividade. Esta consequência, para além de ter contribuído para um abrandamento da actividade económica no Concelho, traduziu-se também num aceleramento do desemprego, por via dos postos de trabalho indirectos que se extinguiram.
Por último, refira-se o impacto negativo sobre o poder de compra dos habitantes do Concelho e a consequente diminuição da procura dirigida à nossa estrutura produtiva : restaurantes, pequenas unidades comerciais locais, prestadores de serviços instalados.
O encerramento da Opel/Ford despertou uma enorme onda de solidariedade por parte da população do Concelho, que organizou inclusive uma marcha até à Praça do Município, e dos Municípios vizinhos – muitos deles, aliás, tinham um numero significativo de munícipes a trabalhar na empresa -, que culminou numa manifestação junto à Assembleia da República.
Apesar de, como era meu dever, me ter envolvido directamente nas diligências feitas, em conjunto com a Comissão de Trabalhadores, junto da Administração internacional da Empresa e do Governo Português para viabilizar a continuidade da Empresa, houve um momento em que percebi que o encerramento era inevitável : o dia em que o Ministro Manuel Pinho, que se tinha deslocado aos Estados Unidos expressamente para negociar com a Administração da Opel, me comunicou que as exigências da Empresa eram inaceitáveis para Portugal.
Naturalmente que uma das nossas preocupações dominantes no período pós-encerramento foi encontrar uma alternativa para aquelas instalações. E foi possível, com a conjugação duma série de esforços, instalar um grande centro de distribuição da Sonae. Não foi a solução ideal, a que todos gostaríamos de ver, porque apesar do número de trabalhadores ser até superior, sabíamos que os salários praticados e a segurança laboral eram substancialmente inferiores aos praticados pela Opel. Não nos podemos esquecer, no entanto, que se tratou dum período – que ainda hoje se mantém – de deslocalização de unidades industriais de toda a Europa para as economias emergentes. A alternativa seria ficarmos com um elefante branco que cedo entraria em degradação.
31-01-2015
Comentários
Ainda não há novidades ...