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"A Geringonça"
Opinião Joaquim Ramos
02-11-2016 às 15:36
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Hoje deu-me para armar em analista político. Não é coisa que me aconteça muitas vezes. Como é sabido, tenho o bichinho do Poder Local, e muitas vezes comento questões que se prendem com a nossa Comunidade. Mas até esse hábito e gosto fui perdendo, e não é apenas por solidariedade com tantos que me acompanharam na Câmara ao longo de doze longos e intensos anos e que agora têm, alguns deles, a responsabilidade pela condução do Município ou das nossas Freguesias. É também porque tenho sempre presente na cabeça uma frase do meu Avô António, quando eu entrei na idade adulta : “ Filho, nunca devemos falar de quem partilhou a nossa cama ou de quem se sentou ou sentará na nossa cadeira !”. Acho que tenho seguido à risca esse sábio conselho, e isso inibe-me, muitas vezes, de comentar algumas coisas que se passam na nossa Terra.

A não ser, claro, quando o meu amigo Daniel Claro me puxa pela veia política – aí, geralmente, não resisto a dar resposta, como não resistia nas épicas discussões que ambos tínhamos na Assembleia Municipal.

Confesso que a política a nível nacional nunca me interessou na qualidade de interveniente. Interessa-me, sim, como interessa a qualquer cidadão e porque a minha vida, a forma como são gastos sessenta por cento dos meus rendimentos que o Fisco devora, que resposta o Estado me dá em termos de saúde, da educação dos meus netos, das oportunidades dos meus filhos – e também dos netos e filhos dos meus concidadãos. Mas nunca ambicionei ter uma carreira política a subir diariamente pelas escadarias de S. Bento ou nos recantos dum qualquer Ministério.

A minha vida profissional centrou-se numa grande Autarquia Local – Lisboa -, embora com diversas incursões cumulativas por outras áreas onde exerci a minha profissão. A minha vida política centrou-se numa pequena Autarquia – Azambuja – e nunca desejei que fosse para além dela.

Esta é a introdução para um tipo de análise que eu, exceto nos contextos que acima descrevi, nunca fiz e nem sei se tenho jeito e capacidade para o fazer. Mas vamos a isto.
Ao contrário da maioria dos portugueses, incluindo comentadores políticos e gente do “ meio”, eu nunca tive dúvidas de que o Governo do Partido Socialista se iria aguentar com o apoio do Partido Comunista Português e do Bloco de Esquerda – aquilo a que alguém chamou a Geringonça – muito para além das expetativas que as pitonisas da queda do Governo anunciavam. “ Hum! – previam elas- isto mais dia menos dia o PC ou o Bloco roem a corda ou o Costa não aguenta a pressão, e a geringonça vai Tejo abaixo.” Nunca acreditei, especialmente por três razões:

Em primeiro lugar porque sempre, talvez por formação, achei que a economia portuguesa, embora estrangulada por uma série de incongruências e teias de aranha, tem capacidade para uma melhor redistribuição de rendimentos, ao contrário do que a Direita, que nos causticou durante quatro anos, dizia e praticava. E viu-se que tem: pouco a pouco, porque há compromissos externos a cumprir, tem havido uma melhoria das condições de vida dos mais necessitados e marginalizados pela sociedade. Esta proposta de Orçamento de Estado é a prova real do que digo: aliviar os impostos diretos e carregar nos indiretos, que incidem sobre o consumo, é pôr a pagar mais quem consome mais – logo, é uma medida justa do ponto de vista fiscal (convém é não abusar dela!).

Em segundo lugar porque, dados os compromissos internacionais, e respetivos benefícios, que fomos assumindo ao longo de décadas (especialmente com a União Europeia), a margem de manobra nacional está muito restringida: as grandes linhas políticas são ditadas por Bruxelas e quer o PCP quer o Bloco já perceberam que isto não é à vontade do freguês.

Em terceiro lugar, porque eu não queria estar na pele dos dirigentes do PCP e do Bloco. Sabem que se abandonarem o barco ou esticarem a corda, fazem cair o Governo e serão os responsáveis por um eventual governo de Direita que se lhe siga. Por isso, que remédio se não engolir não só os sapos mas o charco inteiro e ir tentando esbracejar pelos louros de algumas regalias adicionais para a classe trabalhadora, reformados e pensionistas.
Apontam agora os arautos da queda da Geringonça que será lá para as Autárquicas, mais coisa menos coisa. Não me parece. Eu acho que este Governo só vai cair quando António Costa e a direção do PS tiverem alguma garantia de maioria absoluta – isto é, que possa governar sem as rabugens do PCP e as traquinices do Bloco. E isso, embora as sondagens sejam animadoras, está longe de acontecer.

É por este conjunto de razões que eu acho que, para desespero de alguns, a “Geringonça” vai ser governo por muito mais tempo.
​
PS: Passei a usar o novo acordo ortográfico. Não porque concorde inteiramente com ele, embora considere que comporta em si os genes da grandeza da língua portuguesa – com algumas alterações. Mas a Empresa de Estudos e Projetos para a qual trabalho obriga-me a usá-lo…


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