João Leal sofreu acidente de trabalho mas só quer um emprego
Residente em Casais do Farol, Azambuja, lançou campanha de crowdfunding porque não consegue ter apoios
|01 Fev 2021 21:04
Sílvia Agostinho João Leal vive em Azambuja há cerca de um ano e está na iminência de ser despejado da casa onde vive em Casais do Farol. A meio do ano passado sofreu um acidente de trabalho na Auchan, mas praticamente não usufruiu da baixa do seguro, porque estava a dias de terminar o contrato, e foi dado como apto para trabalhar sem o estar. Considera que foi vítima de uma manobra do seguro e da agência de trabalho temporário. Com ele vive a mãe, que possui uma doença incapacitante – fibromialgia, e a irmã ainda em idade escolar. Lançou mão de uma campanha de crowdfunding na internet pois não tem mais do que 200 euros por mês para viver, verba proveniente da pensão de viuvez da mãe, mais 30 euros de um cheque para alimentação da Câmara.
Ao Valor Local conta que se pudesse “preferia um emprego”, mas não tem mobilidade. Devido à covid, aguarda há meses por uma operação ao joelho no Hospital de Vila Franca. Ficou incapacitado para o trabalho. Sonha um dia em conseguir um emprego como motorista numa qualquer empresa e todos os dias poder enfrentar o trânsito, porque adora conduzir. O subsídio de desemprego terminou há poucas semanas. Até que os sonhos se concretizem, os dias são todos iguais. Com 28 anos, João Leal conta que sempre trabalhou, nomeadamente, no setor da logística mas a vida trocou-lhe as voltas: uma carga de paletes caiu-lhe em cima, e hoje praticamente só coxeia. Tem uma advogada a tratar do caso com a companhia de seguros, mas como a justiça “trabalha mais lenta do que a carvão”, João Leal apesar de ter a convicção de que pode sair indemnizado de todo o episódio na Auchan, sabe que ainda vai demorar tempo. Por outro lado, deixou de conseguir pagar a renda de casa e no fim do mês pode vir a ser despejado junto com a mãe e a irmã. “O senhorio teve alguma paciência mas agora já não consegue. Não quero alongar-me quanto a isso porque não quero criar vilões nesta história”, resume. A verba que indicou na campanha de crowdfunding (https://www.gofundme.com/f/BETHEIRHERO), que criou com a ajuda de um amigo é de 75 mil euros, mas explica que é meramente indicativa – “No fundo dava para sair daqui e comprar uma casa, não quer dizer que tenha de ser esse valor”. Até à data apenas conseguiu angariar o suficiente para ir pagando algumas faturas das despesas da casa. João Leal é oriundo de Marinhais, e conta que a família não tem para onde ir no fim do mês. Já foi pedir uma casa à Câmara de Azambuja, “mas há mais gente na fila”. Contudo resume que as respostas do município são sempre “evasivas”, mas conforma-se, realçando que mais do que tudo gostava de poder andar e voltar a fazer a sua vida como sempre fez. “Trabalhei sempre horas a mais na logística para ver se conseguia trazer o máximo para casa, mas tive azar”. Tem várias roturas menisculares que o impedem de regressar à vida ativa, e que podem ser um senão na hora de assinar contrato “por causa das seguradoras” mesmo que fosse num emprego “à secretária”. Ainda não tratou do Rendimento Social de Inserção porque esta família ainda tem morada no concelho de Benavente. Tem de ir à Segurança Social em Azambuja. Um trajeto curto mas que se afigura gigantesco: “Não tenho dinheiro para pagar transportes para ir lá abaixo e quando tenho de ser eu a tratar desses papéis. Não deixam a minha mãe resolver o assunto por mim”. “Preferia arranjar um emprego em que em que me viessem buscar a casa, ou que me pudessem dar um computador para trabalhar em casa, e pagar o meu sustento do meu próprio bolso”, resume. O desespero tomou conta desta família e esclarece que no curto prazo se pudesse arrendar outra casa seria algo mais do que bem-vindo. |
|
Como se o azar já não fosse o suficiente, a casa onde vivem situa-se perto de uma encosta que corre risco de derrocada (assista ao vídeo acima) . Recentemente o tema foi debatido em reunião de Câmara, porque o proprietário desta habitação e do terreno em volta queixou-se ao vereador do PSD, Rui Corça, sobre o estado de coisas. A barreira que sustenta os depósitos da água de Casais do Farol, que se situa por cima do terreno em causa, está no limite e embora a Câmara já tenha assumido que vai proceder à consolidação do talude, certo é que todos os dias esta família vive com o coração nas mãos. “As assistentes sociais da Câmara sabem que nós estamos a viver num sítio perigoso. Há zonas onde já não existe qualquer tipo de sustentação. Certas árvores que estavam lá mais distanciadas, agora já estão a pender para cima de uns anexos do senhorio aqui ao lado”.
A família não tem muitas ajudas de restantes familiares. “Um rapaz conhecido trouxe-nos um avio de supermercado para passarmos o Natal e a passagem de ano de uma forma melhor, mas foi só, e sem que eu pedisse nada”. Os dias passam e sem solução esta família não sabe para onde seguir com a sua vida face às doenças, à incapacidade, e à falta de dinheiro. |
|