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Jorge Torgal: “Há um receio muito grande e infundado na sociedade portuguesa”Presidente da Associação Portuguesa de Epidemiologia e porta-voz do Conselho de Saúde Pública, em entrevista ao Valor Local, sobre a evolução da pandemia
Sílvia Agostinho
09-05-2020 às 11:55 |
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Quando o primeiro-ministro decidiu encerrar as escolas, foi uma das vozes que achou que a medida não seria primordial no contexto da pandemia em curso, porque na sua opinião, e de forma isolada podia não querer significar muito. Jorge Torgal, em entrevista ao nosso jornal, conclui, nesta altura, que o país soube estar à altura do desafio e que os números da pandemia são encorajadores. Portugal conseguiu um resultado bom, e faz um ponto de comparação com a Bélgica que tem um número de população semelhante: 11 milhões e meio de habitantes mas onde os números são mais assustadores. “A Bélgica tem 44 mil doentes, Portugal 24 mil, mas aquele país da Europa central regista 900 doentes nos cuidados intensivos, enquanto Portugal não ia além dos 180 há poucos dias atrás, e para completar não chegámos ainda às 1000 mortes, e a Bélgica vai nas sete mil”*.
Há diversos fatores a interferir na taxa de letalidade de um país desde a sua geografia social à capacidade de resposta dos sistemas de saúde, bem como a resposta da sociedade às medidas dos políticos, o que no nosso caso fez a diferença Segundo os investigadores num documentário transmitido pela Netflix, e numa escala de gravidade em relação a outras doenças e até pandemias que o mundo sofreu a Covid-19 é entendida como mais mortífera do que o sarampo mas menos contagiosa, menos mortífera que o ébola mas não tão má como a varíola, ficando na mesma escala da gripe de 1918 ou gripe espanhola. Em África os números da doença ainda não atingiram as mesmas proporções em comparação com o resto do mundo, mas o especialista não atribui às condições atmosféricas, pois há a ideia instalada de que o vírus dá-se melhor com climas frios. “Conheço bem Angola e Moçambique onde há poucos locais a fazerem testes e a capacidade de diagnóstico da doença é muito baixa. Como a doença tem pouca evidência clínica em comparação com o ébola é normal que esteja pouco estudada. A doença entrou tardiamente no continente africano, mas o diagnóstico por via das condições económicas dos países torna mais difícil tirar conclusões”. Consegue-se enquadrar a gravidade de uma doença pela taxa de letalidade, e este é um critério “grosseiro” que acaba por se usar cientificamente apesar das limitações, refere Jorge Torgal. Tal como o presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, Jorge Torgal também se refere à possibilidade de existirem mais casos do que os que são tornados públicos que no nosso país quer la fora. Segundo um estudo da Universidade de Stanford, os autores dizem que há 50 a 80 vezes mais casos do que os que são diagnosticados, os ditos assintomáticos. Isso não seria totalmente mau, porque apesar de significar um grande número de pessoas infetadas, coloca automaticamente uma alta na imunidade de grupo para uma segunda vaga da epidemia. “O conhecimento que esta primeira vaga nos dá é muito importante, desde logo porque sabemos que as pessoas passam sem grandes problemas à doença, sem necessidade de internamento, ao contrário das pessoas com idade mais avançada bem como as que têm outras doenças associadas, e isso permite ter o sistema de saúde mais preparado para proteger os indivíduos de outra vaga que venha”. O conhecimento adquirido é a chave. E onde é que entram os testes de anticorpos bem como as zaragatoas nesta equação entre o muito que já se sabe e aquilo que está para vir: “São importantes e devem continuar a ser realizados pois são um instrumento importante para se aferir da imunidade dos indivíduos”. PUB
O Governo, vai abrindo a economia e o país progressivamente. Como tal Jorge Torgal vê como importante esse passo. O retomar da atividade económica “é fundamental”. “Há um receio muito grande na sociedade que para mim é infundado porque é mundial, e criou-se uma atenção desmesurada sobre este quadro. Houve países que não fizeram um encerramento tão forte, mesmo em Portugal havia linhas de pensamento diferente. Os cidadãos seguiram rigorosamente e daí apresentarmos uma situação positiva quanto a esta pandemia”.
* Comparação deixada ao nosso jornal em véspera de fecho da edição impressa a 28 de abril, sendo que à data de hoje e já com outros números, contudo mantém-se atual o ponto de comparação entre os dois países |
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