José Xavier, um azambujense em terras geladas da Antártida
Desde 1997, que parte com frequência rumo ao continente branco para fins de investigação. Recebeu recentemente a medalha de mérito do município
|30 Abr 2021 19:31
Sílvia Carvalho d'Almeida José Xavier, biólogo e cientista, tem somado diversos reconhecimentos. Mais recentemente recebeu da Câmara Municipal da Azambuja a medalha de mérito. Já fez mais de 10 expedições à Antártida, e nascido em 1975 é o chefe da delegação portuguesa das reuniões do Tratado da Antártida. Atualmente é ainda professor da Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE). Desde 1997, que este azambujense parte com frequência rumo às terras geladas da Antártida para fins de investigação, não só no que à ciência diz respeito, mas também nas áreas da educação e de medidas políticas.
Ao Valor Local, dá a conhecer como começou tudo começou: "Tal como muitas pessoas, sempre gostei do mar pois estava sempre associado aos momentos mais felizes das férias e dos longos fins de semana. Associei naturalmente o mar às melhores coisas da vida." Conta que "quando estava nas diferentes decisões escolares, as ciências, e posteriormente, a Biologia Marinha, vieram naturalmente, por exclusão de partes: escolher uma área e profissão que gostasse muito, em que fosse bom e na qual tivesse a vontade de ter uma dedicação constante, para continuar a melhorar sempre." Recordando a sua infância em Azambuja diz que a sua saída da casa dos pais para Coimbra é relativamente recente. Azambuja faz parte da sua vida pois continua a visitá-la regularmente. Das suas melhores memórias de infância na vila ribatejana guarda o facto de ter jogado futebol no Grupo Desportivo de Azambuja (GDA) em meados dos anos 80. Mas foi na Escola Secundaria de Azambuja, onde começou o seu percurso nas ciências com as primeiras experiências. Diz-nos que teve uma infância feliz e normal em que a família teve sempre um papel predominante. Guarda ainda excelentes recordações da Feira de Maio de Azambuja: "Desde muito pequeno comecei a frequentar a feira. Lembro-me do aparecer das tranqueiras, da areia e das tertúlias a alegrar as ruas, e principalmente das largadas de touros. O touro é um animal fascinante para mim. Trouxe muitos amigos estrangeiros a visitar Azambuja em maio durante a feira, ao longo dos anos, que ficavam surpreendidos e comentavam que a nossa festa é muito especial exprimindo o desejo de voltarem. Tal como diz o Senhor António José, Azambuja vive de maio a maio!" Quando lhe perguntamos o que o motivou a tornar-se cientista e porquê a Biologia Marinha, especialmente sendo uma área que tem pouco ou nenhum financiamento em Portugal apesar de termos uma zona de costa muito extensa, responde que aquando do seu segundo ano do curso superior nesta área, na Universidade do Algarve, questionou como seria a vida de cientista. Surgiu a oportunidade de ajudar alunos que estavam a terminar a sua tese de licenciatura com trabalho de laboratório, tal como os cientistas, e adorou a experiência. "A ciência é feita de pequenos passos, muito trabalho e dedicação, e aí percebi que era isso que queria. Sentia que podia fazer ciência todos os dias com um sorriso e tem sido assim toda a vida! Julgo que a nossa profissão deverá ser baseada no prazer de fazermos as coisas e tentar ser-se sempre profissional e competente todos os dias." Para além disto, refere que hoje, com a Estratégia Nacional para o Mar, Portugal está mais consciente da importância do que o mar nos poderá dar e que profissões associadas a ele são muitas: "As oportunidades são maiores do que inicialmente parecem." Relativamente à sua pesquisa na Antártida tem já conclusões importantes: "Mostrámos que a Antártida possui um papel muito importante no planeta, pois influencia o clima, as correntes dos oceanos e o nível das águas do mar. Daí estudarmos a Antártida e não outra parte do planeta, pois o que se passa lá pode afetar todo o planeta”. O denominado continente gelado poderá contribuir até 50 cm no nível do mar nos próximos 50 anos (de momento o nível do mar está a subir a 1-2mm/ano). José Xavier dá a conhecer que os cientistas têm provado que “animais como albatrozes ou pinguins poderão ter dificuldades em se adaptar às alterações climáticas. Por exemplo, os pinguins imperadores poderão estar em risco de extinção até 2100”. “Finalmente contribuímos ativamente para que as ligações entre cientistas e decisões políticos fossem melhoradas de modo a se produzirem leis mais rapidamente para protegermos áreas importantes da Antártida.", conclui. Refere ainda que a sua equipa da Universidade de Coimbra faz uma ligação importante entre a ciência e a sociedade, com cientistas polares a darem palestras nas escolas de todo o país, que englobam temas tais como o que é ser cientista polar e como é fazer uma expedição à Antártida, de modo a inspirar as novas gerações a serem melhores cidadãos. "Uma política de promoção de ciência nos diferentes níveis de escolaridade deverá ser estimulada. Acho que Feiras das Profissões seria uma boa ideia para as escolas secundárias, por exemplo, para motivar as gerações mais novas, ajudando-as a compreender a profissão que querem seguir." O seu livro “Experiência Antártica – Relatos de um cientista polar português” contém crónicas escritas todas as semanas durante a expedição Antártica de 9 meses, inicialmente num cruzeiro científico e depois numa ilha daquele continente, que relata qual a importância da Antártida, o que se estuda lá, e como é viver nesse ponto do globo. Quanto à condecoração municipal refere a honra que sentiu pois trata-se de um reconhecimento da sua terra ao seu trabalho. “Foi em Azambuja que tudo surgiu e me fez o que sou hoje. Representa um sinal de que estou a fazer as coisas certas mas também um alerta de que existe uma responsabilidade maior para ser melhor no futuro." |
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