Jovens do concelho de Azambuja dizem como é ser aficionado em tempo de censura das touradas
Procurámos saber junto de alguns jovens aficionados que dividem as suas vidas entre Lisboa e Azambuja se posicionam no seu dia-a-dia, se a sua afición é bem aceite nos seus relacionamentos, e o que é que pensam sobre toda esta problemática
|15 Jun 2021 11:40
Sílvia Carvalho d'Almeida Para uns tradição, para outros maus tratos a animais, as touradas são um tema que hoje gera mais polémica do que nunca na sociedade portuguesa. Certo é que toda esta questão se reveste de um carácter regional, pois é nas grandes metrópoles que se situam os grandes movimentos antitouradas e de defesa dos direitos animais, enquanto nas zonas mais afastadas das grandes cidades cresce o número de aficionados. E os jovens, seguem esta tendência? Procurámos saber junto de alguns jovens aficionados que dividem as suas vidas entre a cidade de Lisboa e Azambuja se posicionam no seu dia-a-dia, se a sua afición é bem aceite nos seus relacionamentos, e o que é que pensam sobre toda esta problemática, sendo certo que estão numa idade em que procuram a integração por excelência em todos os meios que frequentam. É fácil ou é difícil ser-se jovem e aficionado.
Martim Torrão (15 anos)
Conta-nos que "desde pequeno que andava ao pé dos touros e cavalos", pois tem familiares ligados à tauromaquia. O jovem Martim Torrão seguiu as pisadas dos seus ancestrais. O padrinho é forcado retirado, e o pai frequentou a escola de toureio da Azambuja, que ele também frequenta. Quer ser matador. Diz-nos que "um dia chegou ao pé dos pais e lhes deu esta notícia, ao que eles lhe responderam que "teria todo o seu apoio". Terá por isso que se deslocar ou mesmo morar no país de nuestros hermanos, uma vez que as touradas de morte são proibidas em Portugal. Para Martim Torrão tal não é um problema, e acrescenta que já se vê a morar em Espanha. Por estar numa escola dedicada à tauromaquia, diz que os seus amigos têm o mesmo gosto, e que quando vai tourear, lhe "pedem vídeos e ficam felizes" por ele e lhe pedem para irem também. Todos gostam de touradas e sente-se integrado no grupo, facto que não ocorreria se não fosse um aficionado. Quanto à questão antitouradas, diz que "respeita as opiniões diferentes” da sua, e que tudo se resume a uma questão de liberdade de escolha. “Eu vejo a tourada como uma arte, eles vêm como sofrimento, é dependente da interpretação de cada um." Quando vê uma tourada, sente "alegria e felicidade". É também um local para conviver com os amigos. Neste momento leva as coisas um pouco mais a sério, pois esta é aquela que vai ser a sua profissão. A tourada é "arte", como já disse, e enfatiza toda a logística necessária para a preparação de um espetáculo, que envolve "uma enorme quantidade de pessoas." Quanto à lei que se avizinha, diz, à semelhança de Rui, que são os pais que decidem o que é melhor e que “o Governo não deveria intervir nesta matéria", que é uma questão de liberdade. Por fim, convida os nossos leitores a "passarem uma tarde" na escola da Azambuja, numa terça ou quinta, E a "juntarem-se aos mais novos, para perceberem que a tauromaquia ainda tem futuro." Rui Moreira (17 anos)
Desde pequeno que se lembra de ir à tourada com familiares. "A minha família sempre assistiu a estes espetáculos, e eu ia com eles, tomei-lhes o gosto desde então." Ligado à equitação de competição, reflete e acrescenta que lhe faz lembrar o toureio a cavalo. Na escola, conversam sobre este assunto com frequência, especialmente agora que começou a época. Conta-nos que há colegas que não gostam de assistir a touradas, mas que não são contra. No entanto ouvem na rádio, e trocam opiniões entre eles. Não se sente de maneira nenhuma posto de lado por confessar a sua paixão. Não estivéssemos nós numa zona do país em que existe uma grande tradição tauromáquica. A situação muda de figura quando ocorre estar na "cidade grande". Lembra-se de falar sobre este assunto numa esplanada e de ter sentido o ar de reprovação das pessoas. Pensa que as manifestações antitouradas, não fazem sentido. "Nós também não vamos protestar acerca de coisas que essas pessoas gostam". Para Rui Moreira não se trata de uma questão de maus tratos animais, mas uma questão de tradição, de cultura. Relativamente a essas pessoas, gostaria que "se informassem" pois "não é como imaginam". Reconhece que o touro "sofre um bocadinho na altura", mas que os animais em geral "são bem tratados". Perguntámos o que pensa acerca da proposta de lei, pelo PAN, já aprovada pelo Governo, na qual consta que os jovens menores de idade terão entrada interdita nos espetáculos. Rui é contra, e acrescenta: "Não é o Governo que deve decidir o que as crianças podem ou devem assistir, não nos deve educar, mas os nossos pais. Acho que nos estão a tirar a nossa liberdade de escolha, de gostarmos do que gostamos, de ver algo que é tão nosso como a tourada." A palavra que para si melhor descreve esta atividade, é arte, especialmente pelo "empenho e dedicação necessários" bem como a técnica "para "pôr alguém à frente de um touro", “para que não ocorram acidentes na arena". Por último apela para que não se deixe que a lei proíba os menores de assistirem a touradas. "Espero que não vá para a frente, pois somos humanos e temos direito de fazer as nossas próprias escolhas, ninguém tem que escolher por nós." Gonçalo Ferreira (24 anos)
Não tem um papel ativo como interveniente no espetáculo, mas percorre todo o país para assistir às touradas. Cresceu em Azambuja, e é advogado em Lisboa. Lembra-se de falar sobre a tauromaquia e as tradições desde a primária. Não sabe dizer se o facto de gostar de touradas tem a ver com o sítio em que se nasce, se tem de alguma forma um carácter regional, pois conhece pessoas de outras localidades que também têm esta paixão: "Um amigo meu que conheci em Lisboa, é aficionado e é quem me acompanha muitas vezes aos espetáculos. Não sei se essa distinção se pode fazer assim. Há pessoas que gostam ou não em todo o lado." Relativamente aos movimentos antitouradas diz que os respeita pois "há lugar para todos, e cada um deve dar voz à sua opinião e à sua vontade." Para si a tourada é "uma manifestação cultural de um povo, uma tradição, que poderá estar enraizada mais numa região ou noutra, mas igual a tantas outras". Não quer contudo conceptualizar, pois na sua opinião definir um evento cultural em palavras pode ser restritivo: "Cada um interpreta uma manifestação artística de diferentes formas". Acrescenta que "as pessoas que comungam de uma tradição têm sempre coisas em comum" pelo que é normal haver um sentido de comunhão, e de pertença. Uma maior convivência entre essas pessoas acontece no próprio espetáculo e fora: "Há sempre os almoços antes e os jantares depois." Contudo, não pensa que seja um fenómeno diferente do futebol, por exemplo. Não crê que seja pelo facto de gostar ou não de tauromaquia que possa ser tratado de maneira diferente nos meios mais urbanos por onde se movimenta: "Isso não acontece nem nunca deveria acontecer." Relativamente à polémica da proposta de lei do PAN, o também líder da JS local não comenta. Gonçalo Ferreira diz apenas que pensa que foi alterada para a proibição de entrada sem acompanhamento de adultos. Deixe a sua Opinião sobre este Artigo
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