“Arruda tem Valor”: Isabel Rego desenvolveu a primeira prótese biónica com sucesso para gatos em Portugal
Designer concebeu projeto inovador que deu a conhecer durante a iniciativa da autarquia levada a cabo em 2022
|11 Jan 2023 15:31
Sílvia Agostinho Isabel Rego é designer, vive em Arruda dos Vinhos, e destacou-se no “Arruda tem Valor”, programa promovido pelo município para dar a conhecer os talentos do concelho nos diversos níveis do conhecimento. Isabel Rego criou a primeira prótese biónica para gatos em Portugal, ou seja, a única aceite pelos animais na realização de todos os movimentos que lhes são naturais. A surpresa foi total quer para si, quer para os especialistas em veterinária, quando o primeiro animal testado começou a saltar e a mexer-se como se tivesse recuperado de novo a sua patinha. “Aiming High” assim se chama o equipamento desenvolvido para animais com incapacidades motoras, depois de vários testes de tentativa e erro.
Tudo começou em 1992 quando ingressou no curso de Design na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, e depois da sua passagem por outras áreas de trabalho, decidiu em 2015 terminar o curso que tinha abandonado, e iniciar o mestrado durante o qual desenvolveu o projeto em causa, que junta a sua paixão pelo design com a paixão pelos animais. “Foi unir o útil ao agradável”, deduz, referindo que “o design está muito pouco explorado na área da veterinária, o que é pena porque só faz sentido quando é criada uma cadeia de valor”. Isabel Rego trabalhou muito de perto neste seu projeto com o médico veterinário Henrique Armés que conta com trabalhos de investigação no âmbito cirúrgico, sendo especialista na aplicação de membros biónicos em animais de companhia. Para atestar a invulgaridade do que foi desenvolvido por esta designer, nada havia até essa altura no universo das próteses biónicas que tivesse sido aceite de uma forma tão completa pelos animais testados no nosso país, e no estrangeiro também não é uma área que prime pelo desenvolvimento de muitos projetos semelhantes. Isabel Rego explica que as próteses normalmente funcionam com um implante de titânio no osso que se estende para fora da pele, “que permita que o animal tenha a sensação de contacto com o piso, pois se não sentir o chão tem muita dificuldade em adaptar-se”. “O meu projeto consistiu em apostar na melhoria do equipamento externo, ou seja, do pé biónico que acopla ao implante que vem do osso para fora do corpo, de forma a permitir uma boa capacidade de locomoção ao animal, com flexibilidade, conforto, dentro daquilo que se compreende como seja a biomecânica do gato com todos os seus movimentos de correr, andar, saltar”. A designer confirma a exigência do desafio tendo em conta o tipo de animal em questão habituados que estamos à sua flexibilidade. O tamanho, a curvatura, e a textura desejados implicou a realização de vários protótipos até se chegar ao produto final. Em 2019, no dia em que foi colocada pela primeira vez a prótese biónica desenvolvida por si no primeiro gato testado, a expetativa era muita junto da equipa, “e ficámos todos muito admirados. Foi absolutamente maravilhoso”. O animal não sentiu a sensação de corpo estranho e começou a movimentar-se com total à vontade. “Já se tinha tentado colocar exopróteses e pés biónicos nesse gato, mas sem sucesso”. Isabel Rego confirma que testou entre 30 a 40 tipos de materiais tendo chegado ao produto final composto por resina”. Mas nem tudo são maravilhas no mundo das próteses animais. Tal como nos humanos, são sempre necessários ajustamentos, e corre-se o risco de recuo dos tecidos moles e consequente exposição óssea nos casos mais graves, com constantes microinfeções no local do implante. Foi isso que aconteceu com o Thor, um cão que adotou que veio de um ensaio clínico, que esteve um ano no Hospital Veterinário de São Bento que nunca aceitou bem a prótese, até ao momento em que devido a várias complicações, Isabel Rego teve de tomar a decisão de amputar “o resto da pata do Thor”. Talvez por ser uma área onde as contrariedades surgem e o trabalho acaba por ser inglório, Isabel Rego diz que apesar de querer continuar a trabalhar na área da melhoria da qualidade de vida dos animais com limitações motoras e das suas famílias, mas não no campo das exopróteses. Apesar da originalidade do produto e do seu sucesso, Isabel Rego confessa que perdeu um pouco a noção do que se seguiu. Mais animais terão beneficiado da prótese, mas não se deu a sua comercialização, “caso contrário eu teria que ser tida em conta”, sorri. Nunca registou a patente por questões burocráticas inerentes a esse processo. “Por exemplo nada impede um país que não respeite a legislação internacional quanto a patentes, de não produzir em massa este produto”. “Achei que não valia a pena tendo em atenção o tempo que o produto ia estar à espera de sair da prateleira, e se o quiserem comercializar que o usem a bem da saúde dos animais”. O próximo desafio de Isabel Rego vai ser o seu doutoramento ainda no âmbito do universo dos animais com incapacidades motoras, mas ainda não sabe qual o caminho. “A melhor decisão da minha vida foi vir viver para Arruda há 17 anos” Isabel Rego veio com a família há 17 anos de Lisboa para o concelho de Arruda, tendo-se fixado na localidade de Louriceira de Cima, pela qualidade de vida, e, como não podia deixar de ser, pelos animais. “Estava num apartamento e precisávamos de mais espaço. Sempre quis uma quintinha ou algo do género para ter cães e gatos. Tenho vários. Ainda ambiciono ter um cavalo.” Sem meias palavras define como “a melhor coisa” que fez na vida a decisão de vir para este concelho- “Estou maravilhada com toda a vivência aqui, no que respeita às infraestruturas do concelho, mas sobretudo as pessoas. Arruda tem um microclima cultural incrível e vejo-me envolvida em várias atividades comunitárias. Conheço pessoas incríveis aqui. Tenho um projeto de cinema com amigos. Os meus filhos nasceram aqui e são arrudenses”. Comentários Gostei muito do artigo, porque me deu a conhecer uma pessoa que dedica a sua vida a tornar a vida dos animais com deficiência, melhor. Desejo-lhe muito sucesso do fundo do coração. Elisabete Cruzinha 15/01/2023, 18:14 Interessante. Não desista desse entusiasmo e procura de lnovacões que melhorem qualidades de vida, animais ou pessoas.... Parabéns. Manuel Ferreira 11/01/2023, 16:37 |
|
Leia também
20 anos de Euro, a moeda do
|
O país está a acusar gravemente a falta de água e os dias de tempo seco. Vários setores estão a ser afetados, com a agricultura à cabeça. Ouvimos vários agricultores da nossa região
|
Desde que estourou a guerra na Ucrânia que mais de dois milhões de cidadãos daquele país estão a fugir rumo aos países que fazem fronteira. Em março foram muitos os que rumaram a Portugal e Vale do Paraíso no concelho de Azambuja foi um dos destinos
|
Vertical Divider
|
Notícias Mais Populares Primeiro Bebé do ano 2023 no Hospital de Vila Franca de Xira Autocarros amarelos da Carris Metropolitana já circulam em Vila Franca de Xira Mercadona chega a Vila Franca em 2023 Professores da Básica de Azambuja em greve no primeiro tempo Adega Cooperativa de Arruda em momento de viragem quer voltar a atrair os seus associados |