Infetada com legionella:
“Essas fábricas brincaram com a saúde das pessoas”

Maria Adelaide trabalha na Póvoa de Santa Iria
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Infetada com legionella

“Essas fábricas brincaram com a saúde das pessoas”

Sílvia Agostinho

Maria Adelaide foi uma das 336 pessoas atingida pelo surto de legionella. Moradora em Azambuja, trabalha num jardim-de-infância na Póvoa de Santa Iria. Foi a única atingida na instituição, já que a doença não é contagiosa, e relaciona a circunstância com o fato de trabalhar na cozinha “onde os vapores se adensam” e criam a atmosfera propícia à doença.

Começou a sentir os primeiros sintomas no dia 8 de novembro, quando surgiram também os primeiros infetados deste surto, mas só foi ao hospital no dia 10. “Ainda fui trabalhar naquela sexta, dia em que comecei a queixar-me. Vim para casa e tomei vários comprimidos, desde o brufene, ao ben-u-ron. Passei assim o fim-de-semana”. Maria Adelaide não associou os sintomas ao surto de legionella, pois confessa que não prestou atenção às notícias. Pensava que era uma gripe.

Na segunda-feira, dia 8, foi ao Hospital de Vila Franca de Xira, onde esperou quatro horas nas urgências. Com o surto instalado já há vários dias, e com centenas de pessoas hospitalizadas, a unidade não criou qualquer espécie de corredor de urgência para quem chegasse com sintomas de legionella. “Demoraram hora e meia para triar, e deram-me a pulseira amarela”. Entretanto quando atendida fizeram-lhe análises, e disseram-lhe que tinha de ir imediatamente para o Hospital São Francisco Xavier. Mas recorda – “Nunca me disseram qual era a minha doença, mas eu também não perguntei”, relata, recordando que também nunca viu muita abertura para fazer perguntas. No local, estavam outras pessoas que reconheceu serem do Forte da Casa, pois viveu muitos anos no local, e estranhou ver tantas caras conhecidas de uma só localidade.

“Nunca imaginei ficar internada ou ir para Lisboa por causa disto. Fiquei em choque. A partir daí, fui tratada como deve ser, nada tenho a assinalar”. No local ficou 8 dias. Passou um mau bocado, e lamenta profundamente que os presumíveis culpados, as empresas da zona, “tenham brincado desta maneira com a saúde das pessoas”. “Durante o tempo em que fiquei internada, tive expetoração com sangue, e muitas dores de estômago, devido à força da tosse. Passei um mau bocado, fiquei alarmada a pensar que podia não ser só legionella, mas depois lá me sossegaram.” No hospital em Lisboa soube que estavam lá outros doentes com legionella.  

Sobre a possibilidade de o foco de contaminação ser oriundo da Adubos de Portugal, refere que “verdade seja dita que desde o seu encerramento que menos pessoas acorreram aos hospitais.” A última vez que foi fiscalizada a qualidade do ar naquela empresa foi em 2012, altura em que Governo deixou de impor a obrigatoriedade dessa medida de controle da qualidade do ar. “O Governo esteve mal e as fábricas andaram a brincar com a saúde das pessoas”. Quanto a um possível pedido de indemnização, tem poucas dúvidas – “Se outros avançarem também vou pedir, porque morreram pessoas e muitas foram hospitalizadas”.

Maria Adelaide tem baixa até dia 25 de novembro, altura em que tem de ir de novo ao hospital para aferir do seu estado de saúde. Este surto de legionella no concelho de Vila Franca de Xira deixou em sobressalto a população, autoridades, câmara municipal entre outras entidades. Portugal entrou para o mapa dos maiores surtos deste tipo no mundo. As inspeções detetaram vestígios de legionella nas fábricas da Solvay, Central de Cervejas, mas a causadora do surto foi a Adubos de Portugal, tendo em conta a especificidade da estirpe encontrada. Morreram 10 pessoas.

Sílvia Agostinho
21-11-2014

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