O projeto que há mais tempo teima em não sair do papel na região contado 26 anos depois. A Lusolândia é acima de tudo um teste de resistência por parte de quem a sonhou e que teima, ano após ano, em não o deixar cair. Nesta altura, foi pedido mais um prazo de prolongamento para o plano de pormenor.
É talvez um dos projetos turísticos mais antigos imaginados para a região. A ideia surgiu no final dos anos 80 por parte do empresário António Domingos que queria fazer em duas quintas dos concelhos de Azambuja e Alenquer, num total de 125 hectares, um parque temático que homenageasse os descobrimentos portugueses, orçado em 250 milhões de euros, com recurso a fundos próprios mas sobretudo a investidores pouco conhecidos. A Lusolândia daria emprego, à partida a 1900 pessoas e em 2012, o seu mentor falava que a inauguração deveria acontecer este ano para coincidir com os 500 anos da chegada dos portugueses ao Japão. O empresário tem travado nos últimos 26 anos uma verdadeira epopeia de resistência, mas não sabemos ainda se dobrou ou não o cabo das Tormentas.
Ao Valor Local, o presidente da Câmara de Azambuja, Luís de Sousa, relata que o empresário voltou a estabelecer contactos nos últimos meses porque tem finalmente, e ao que tudo indica, em marcha a execução do plano de pormenor, que já deveria estar terminado em finais de 2012. “Veio à Câmara pedir-nos uma declaração para efeitos de REN ou RAN para desafetação de terrenos e sobretudo para alargarmos o prazo para entrega da documentação”. O plano de pormenor está a ser composto por uma equipa de António Domingos e Luís de Sousa encontra-se a aguardar por novo contacto do empresário no sentido de mais um pequeno empurrão no projeto. O autarca reflete que a Lusolândia já parece “quase um ponto de honra para o empresário, que continua entusiasmado apesar da crise, e que diz ter parceiros para o ajudarem”.
Já no caso do atual presidente da Câmara de Alenquer, Pedro Folgado, este também remeteu à CCDR o pedido para prorrogação dos prazos para este projeto, mas até “à data pouco se sabe”. O autarca, ao contrário do seu colega, ainda não se encontrou com António Domingos, mas considera que “projetos destes para já são excessivos. Há um parque previsto para o Bombarral e a própria Eurodisney já conheceu melhores dias”.
Instado pelo Valor Local, António Domingos que recusou ser entrevistado pelo nosso jornal, acabou por dizer que “haverá algo para acontecer nos próximos tempos”, sem concretizar especificamente o quê. O empresário foi perentório – “Não posso nem devo adiantar o que quer que seja, porque às vezes quando falamos demais também perdemos mais e prefiro aguardar”. Quanto à famosa questão do investimento, diz que se encontra quase completo, mas adianta para futuras núpcias novas explicações.
Um caso com muitas reviravoltas
Joaquim Ramos, antigo presidente da Câmara de Azambuja, que deixou o cargo em 2013, também se lembra do “cartel de financiamento” de que o empresário falava, depois de o projeto ter ficado parado durante vários anos por causa do aeroporto da Ota.
Em 2012, o projeto de António Domingos conhece um novo fôlego ao ganhar o estatuto de “Projeto de Interesse Nacional” (PIN) dado por parte do AICEP, deixando para trás um outro projeto semelhante, também um parque temático dos Descobrimentos, de um outro conjunto de empresários, denominado Discovery Park, desta feita na Ota, concelho de Alenquer.
É também nesta altura que António Domingos apresenta a proposta de divisão do empreendimento e batalha por uma isenção do Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT). O objetivo seria o de criar duas empresas, desanexar uma parcela de terreno e construir um hotel. Houve reuniões entre membros dos executivos e oposições dos dois concelhos, sendo que foi pedida uma caução de 600 mil euros ao empresário em troco da isenção, de modo a se evitar o caminho da especulação imobiliária, deixando dessa forma uma possível janela aberta para que o empresário pudesse vir a abandonar o projeto, e a encaixar verbas com a venda de terrenos.
Segundo apurámos, o empresário terá ameaçado com queixas nas Finanças, pois não seria obrigado a pagar qualquer caução, algo que não conseguimos confirmar junto do mesmo tendo em conta que não se mostrou disponível para uma entrevista. Luís de Sousa confirma que até à data não foi notificado.
Sempre que este processo surge à tona, alguns dos principais intervenientes políticos concelhios de Azambuja pedem mais dados e a apresentação de um estudo de viabilidade, que nunca se viu até aos dias de hoje, cimentando a ideia de especulação imobiliária. Agora que estará em marcha o plano de pormenor por parte do empresário, Daniel Claro, antigo deputado municipal que escreveu sobre a matéria, na altura, na imprensa local, ouvido pelo Valor Local é perentório – “A mim nunca me quiseram mostrar o processo todo, sem a caução o empresário poderia com facilidade obter a isenção e depois vender o terreno para armazéns, sem ter de dar mais explicações”, refere e vai mais longe- “Não acredito que haja algum banco com capacidade para emprestar esse financiamento, se houvesse dinheiro para a Lusolândia o Passos Coelho e o Portas já andavam lá a marcar o terreno”, graceja, acrescentando também que o parque teria um custo de 250 milhões de euros mas apenas na fase inicial.
“De facto, o empresário pediu essa isenção, algo que até não me repugnava muito, porque surgia para separar dois terrenos que já eram dele, e não fazia sentido que o homem pagasse IMT por isso mesmo”, diz, pelo contrário, Joaquim Ramos que atira críticas nesse episódio à oposição – “que nunca se interessou pelo projeto e que lutou contra o mesmo porque está na sua génese indignar-se com americanices”. Já no caso da coligação de centro direita na Câmara optou antes pela via do “puro oportunismo político”, “impondo essa dificuldade do IMT entre outras”.
Muito negociados foram também os acessos ao parque temático que o empresário queria que fossem da responsabilidade das duas Câmaras que não aceitaram. Ramos recorda-se que Domingos “reagiu mal”, “o que não quer dizer que não pudéssemos fazer pressão junto da Estradas de Portugal, mas sermos nós as câmaras a construir já seria um bocadinho excessivo”. “Achei pouco normal ele ter ficado tão irritado com a nossa decisão, embora perceba o seu sentimento face ao IMT”.
Passados vários anos, Ramos opina que “o empresário sempre esteve interessado em fazer o parque, mas também apostar na parte imobiliária”. Quanto às fontes de financiamento “era sempre um pouco misterioso, mas falava do apoio de países lusófonos”. Ramos que segundo algumas vozes terá ido à Disneylândia com o empresário desmente categoricamente tal facto – “Fui apenas com a minha família e a minhas expensas”.
O primeiro presidente de Câmara de Azambuja a conhecer o projeto quando este surgiu em finais da década de 80 foi João Benavente que o achou “extraordinário” e que prometeu ao empresário e a um sócio americano do mesmo “fazer todas as diligências possíveis junto do Governo para que se concretizasse”. O antigo presidente da Câmara lembra-se que já na altura o investimento rondaria os valores de hoje, e que o empresário garantia que o conseguiria alcançar através de parceiros. Benavente recorda-se que um dos secretários de Estado do então Governo de Cavaco Silva, Licínio Cunha “foi um homem verdadeiramente interessado e que ajudou muito o projeto, mas tudo piorou quando este saiu e entrou o secretário de Estado Alfredo César Torres que foi presidente do Automóvel Clube de Portugal que para defender a sua dama desprezou a Lusolândia e apontou baterias para a construção de um autódromo em Braga”. “Houve uma mudança radical apesar de o Governo ser o mesmo. António Domingos já na altura ficou estupefacto e desolado com o novo secretário de Estado”.
Acácio Vasconcellos que foi engenheiro técnico na Câmara de Azambuja, até 2006, lidou de perto com o processo, ainda no tempo de João Benavente, enquanto presidente da autarquia, no final dos anos 80 e inícios de 90. “Era um projeto megalómano, e na minha opinião os investidores queriam investir, sobretudo, à custa do Estado e da Câmara Municipal, com acessos e várias infraestruturas envolventes”.
“Andava no ar que as Câmaras é que tinham de intervir e só consegui ver da parte do empresário estudos prévios demasiado sumários. Em papel não havia muitos dados, talvez houvesse mais em conversas”, sublinha e enfatiza: “Parecia mais um desenho de um miúdo de escola”. No capítulo da propalada especulação imobiliária Vasconcellos é da opinião de que “muita gente se serviu disso, embora pudesse não ser essa a intenção”. Conhecida por muitos está a célebre ida de alguém, supostamente, mandatado pelo projeto que requereu as cartas cadastrais dos terrenos desde Aveiras de Cima a Azambuja na autarquia. “Hoje os terrenos valem muito menos do que valiam na altura, certamente alguém ganhou com isso, e outros perderam, essas circunstâncias também foram espoletadas com o aeroporto”, deixa no ar. Sobre a ausência de estudos mais profundos, sublinha que “os interessados fugiam dessa necessidade, e as coisas iam ficando no ar. Talvez andassem a tentar negociar mais apoios, nomeadamente o estudo de impacte”.
Em contraponto, Joaquim Ramos defende o projeto salientando que o mesmo foi aprovado pela CCDR “que não aprova coisas pela rama”, tendo mesmo conseguido em 2012 a classificação de Núcleo de Desenvolvimento Económico de Turismo e Lazer (NDE-TL), e que embora não tendo apresentado planos de especialidade “tinha um plano de ocupação e exploração feito por técnicos da Disney”. Jorge Riso, que governou a Câmara de Alenquer entre 2009 e 2013 esteve na CDDR com o empresário aquando de mais uma luz verde governamental, mas “pouco mais há a contar de lá para cá”, embora acredite “nas boas intenções do promotor que já gastou muito dinheiro com tudo isto”, na sua opinião.
Uma das figuras que lutou mais pela realização deste tipo de mais-valias para a região foi o antigo presidente da extinta Região de Turismo do Oeste, António Carneiro que sempre manteve um relacionamento próximo com António Domingos, e com quem de vez em quando, diz, “almoçar ou tomar café”.
“Trata-se de um empreendimento que tem todas as autorizações necessárias para arrancar, tem gente interessada em o financiar, mas temo que possa ainda não haver mercado suficiente e daí talvez estarmos todos a tentar esperar mais um pouco, porque não basta lá meter o dinheiro, temos de garantir cerca de três mil visitantes por dia e aproveitar a grande explosão turística que Lisboa está a registar”. Carneiro desabafa, ainda, sobre esta matéria – “Não tenho problemas em o dizer aqui publicamente – o empresário tem estado demasiado sozinho, este Governo em particular não liga nenhuma, e quando não há um parque temático digno desse nome neste país, quem diga o contrário está a mentir, ainda, por cima, sobre os Descobrimentos, quando nem um museu temos sequer que conte a nossa história marítima. Aliás a grande embarcação que esteve em exposição na EXPO 98 está a apodrecer na Trafaria. É isto o que nós somos”. “A Lusolândia tem de ter um acompanhamento afetivo por parte do Governo e é natural que o empresário se sinta desacompanhado, quando já gastou mais do que devia no projeto e nos terrenos. Espero que o novo quadro comunitário e o secretário de Estado de Turismo olhe finalmente para o projeto”, refere e finaliza – “Ele teve muito azar com as medidas preventivas do aeroporto, e agora que já pode construir, o país entrou em crise e não há banco que empreste dinheiro, mas sei que tem bons contatos no estrangeiro”.
É talvez um dos projetos turísticos mais antigos imaginados para a região. A ideia surgiu no final dos anos 80 por parte do empresário António Domingos que queria fazer em duas quintas dos concelhos de Azambuja e Alenquer, num total de 125 hectares, um parque temático que homenageasse os descobrimentos portugueses, orçado em 250 milhões de euros, com recurso a fundos próprios mas sobretudo a investidores pouco conhecidos. A Lusolândia daria emprego, à partida a 1900 pessoas e em 2012, o seu mentor falava que a inauguração deveria acontecer este ano para coincidir com os 500 anos da chegada dos portugueses ao Japão. O empresário tem travado nos últimos 26 anos uma verdadeira epopeia de resistência, mas não sabemos ainda se dobrou ou não o cabo das Tormentas.
Ao Valor Local, o presidente da Câmara de Azambuja, Luís de Sousa, relata que o empresário voltou a estabelecer contactos nos últimos meses porque tem finalmente, e ao que tudo indica, em marcha a execução do plano de pormenor, que já deveria estar terminado em finais de 2012. “Veio à Câmara pedir-nos uma declaração para efeitos de REN ou RAN para desafetação de terrenos e sobretudo para alargarmos o prazo para entrega da documentação”. O plano de pormenor está a ser composto por uma equipa de António Domingos e Luís de Sousa encontra-se a aguardar por novo contacto do empresário no sentido de mais um pequeno empurrão no projeto. O autarca reflete que a Lusolândia já parece “quase um ponto de honra para o empresário, que continua entusiasmado apesar da crise, e que diz ter parceiros para o ajudarem”.
Já no caso do atual presidente da Câmara de Alenquer, Pedro Folgado, este também remeteu à CCDR o pedido para prorrogação dos prazos para este projeto, mas até “à data pouco se sabe”. O autarca, ao contrário do seu colega, ainda não se encontrou com António Domingos, mas considera que “projetos destes para já são excessivos. Há um parque previsto para o Bombarral e a própria Eurodisney já conheceu melhores dias”.
Instado pelo Valor Local, António Domingos que recusou ser entrevistado pelo nosso jornal, acabou por dizer que “haverá algo para acontecer nos próximos tempos”, sem concretizar especificamente o quê. O empresário foi perentório – “Não posso nem devo adiantar o que quer que seja, porque às vezes quando falamos demais também perdemos mais e prefiro aguardar”. Quanto à famosa questão do investimento, diz que se encontra quase completo, mas adianta para futuras núpcias novas explicações.
Um caso com muitas reviravoltas
Joaquim Ramos, antigo presidente da Câmara de Azambuja, que deixou o cargo em 2013, também se lembra do “cartel de financiamento” de que o empresário falava, depois de o projeto ter ficado parado durante vários anos por causa do aeroporto da Ota.
Em 2012, o projeto de António Domingos conhece um novo fôlego ao ganhar o estatuto de “Projeto de Interesse Nacional” (PIN) dado por parte do AICEP, deixando para trás um outro projeto semelhante, também um parque temático dos Descobrimentos, de um outro conjunto de empresários, denominado Discovery Park, desta feita na Ota, concelho de Alenquer.
É também nesta altura que António Domingos apresenta a proposta de divisão do empreendimento e batalha por uma isenção do Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT). O objetivo seria o de criar duas empresas, desanexar uma parcela de terreno e construir um hotel. Houve reuniões entre membros dos executivos e oposições dos dois concelhos, sendo que foi pedida uma caução de 600 mil euros ao empresário em troco da isenção, de modo a se evitar o caminho da especulação imobiliária, deixando dessa forma uma possível janela aberta para que o empresário pudesse vir a abandonar o projeto, e a encaixar verbas com a venda de terrenos.
Segundo apurámos, o empresário terá ameaçado com queixas nas Finanças, pois não seria obrigado a pagar qualquer caução, algo que não conseguimos confirmar junto do mesmo tendo em conta que não se mostrou disponível para uma entrevista. Luís de Sousa confirma que até à data não foi notificado.
Sempre que este processo surge à tona, alguns dos principais intervenientes políticos concelhios de Azambuja pedem mais dados e a apresentação de um estudo de viabilidade, que nunca se viu até aos dias de hoje, cimentando a ideia de especulação imobiliária. Agora que estará em marcha o plano de pormenor por parte do empresário, Daniel Claro, antigo deputado municipal que escreveu sobre a matéria, na altura, na imprensa local, ouvido pelo Valor Local é perentório – “A mim nunca me quiseram mostrar o processo todo, sem a caução o empresário poderia com facilidade obter a isenção e depois vender o terreno para armazéns, sem ter de dar mais explicações”, refere e vai mais longe- “Não acredito que haja algum banco com capacidade para emprestar esse financiamento, se houvesse dinheiro para a Lusolândia o Passos Coelho e o Portas já andavam lá a marcar o terreno”, graceja, acrescentando também que o parque teria um custo de 250 milhões de euros mas apenas na fase inicial.
“De facto, o empresário pediu essa isenção, algo que até não me repugnava muito, porque surgia para separar dois terrenos que já eram dele, e não fazia sentido que o homem pagasse IMT por isso mesmo”, diz, pelo contrário, Joaquim Ramos que atira críticas nesse episódio à oposição – “que nunca se interessou pelo projeto e que lutou contra o mesmo porque está na sua génese indignar-se com americanices”. Já no caso da coligação de centro direita na Câmara optou antes pela via do “puro oportunismo político”, “impondo essa dificuldade do IMT entre outras”.
Muito negociados foram também os acessos ao parque temático que o empresário queria que fossem da responsabilidade das duas Câmaras que não aceitaram. Ramos recorda-se que Domingos “reagiu mal”, “o que não quer dizer que não pudéssemos fazer pressão junto da Estradas de Portugal, mas sermos nós as câmaras a construir já seria um bocadinho excessivo”. “Achei pouco normal ele ter ficado tão irritado com a nossa decisão, embora perceba o seu sentimento face ao IMT”.
Passados vários anos, Ramos opina que “o empresário sempre esteve interessado em fazer o parque, mas também apostar na parte imobiliária”. Quanto às fontes de financiamento “era sempre um pouco misterioso, mas falava do apoio de países lusófonos”. Ramos que segundo algumas vozes terá ido à Disneylândia com o empresário desmente categoricamente tal facto – “Fui apenas com a minha família e a minhas expensas”.
O primeiro presidente de Câmara de Azambuja a conhecer o projeto quando este surgiu em finais da década de 80 foi João Benavente que o achou “extraordinário” e que prometeu ao empresário e a um sócio americano do mesmo “fazer todas as diligências possíveis junto do Governo para que se concretizasse”. O antigo presidente da Câmara lembra-se que já na altura o investimento rondaria os valores de hoje, e que o empresário garantia que o conseguiria alcançar através de parceiros. Benavente recorda-se que um dos secretários de Estado do então Governo de Cavaco Silva, Licínio Cunha “foi um homem verdadeiramente interessado e que ajudou muito o projeto, mas tudo piorou quando este saiu e entrou o secretário de Estado Alfredo César Torres que foi presidente do Automóvel Clube de Portugal que para defender a sua dama desprezou a Lusolândia e apontou baterias para a construção de um autódromo em Braga”. “Houve uma mudança radical apesar de o Governo ser o mesmo. António Domingos já na altura ficou estupefacto e desolado com o novo secretário de Estado”.
Acácio Vasconcellos que foi engenheiro técnico na Câmara de Azambuja, até 2006, lidou de perto com o processo, ainda no tempo de João Benavente, enquanto presidente da autarquia, no final dos anos 80 e inícios de 90. “Era um projeto megalómano, e na minha opinião os investidores queriam investir, sobretudo, à custa do Estado e da Câmara Municipal, com acessos e várias infraestruturas envolventes”.
“Andava no ar que as Câmaras é que tinham de intervir e só consegui ver da parte do empresário estudos prévios demasiado sumários. Em papel não havia muitos dados, talvez houvesse mais em conversas”, sublinha e enfatiza: “Parecia mais um desenho de um miúdo de escola”. No capítulo da propalada especulação imobiliária Vasconcellos é da opinião de que “muita gente se serviu disso, embora pudesse não ser essa a intenção”. Conhecida por muitos está a célebre ida de alguém, supostamente, mandatado pelo projeto que requereu as cartas cadastrais dos terrenos desde Aveiras de Cima a Azambuja na autarquia. “Hoje os terrenos valem muito menos do que valiam na altura, certamente alguém ganhou com isso, e outros perderam, essas circunstâncias também foram espoletadas com o aeroporto”, deixa no ar. Sobre a ausência de estudos mais profundos, sublinha que “os interessados fugiam dessa necessidade, e as coisas iam ficando no ar. Talvez andassem a tentar negociar mais apoios, nomeadamente o estudo de impacte”.
Em contraponto, Joaquim Ramos defende o projeto salientando que o mesmo foi aprovado pela CCDR “que não aprova coisas pela rama”, tendo mesmo conseguido em 2012 a classificação de Núcleo de Desenvolvimento Económico de Turismo e Lazer (NDE-TL), e que embora não tendo apresentado planos de especialidade “tinha um plano de ocupação e exploração feito por técnicos da Disney”. Jorge Riso, que governou a Câmara de Alenquer entre 2009 e 2013 esteve na CDDR com o empresário aquando de mais uma luz verde governamental, mas “pouco mais há a contar de lá para cá”, embora acredite “nas boas intenções do promotor que já gastou muito dinheiro com tudo isto”, na sua opinião.
Uma das figuras que lutou mais pela realização deste tipo de mais-valias para a região foi o antigo presidente da extinta Região de Turismo do Oeste, António Carneiro que sempre manteve um relacionamento próximo com António Domingos, e com quem de vez em quando, diz, “almoçar ou tomar café”.
“Trata-se de um empreendimento que tem todas as autorizações necessárias para arrancar, tem gente interessada em o financiar, mas temo que possa ainda não haver mercado suficiente e daí talvez estarmos todos a tentar esperar mais um pouco, porque não basta lá meter o dinheiro, temos de garantir cerca de três mil visitantes por dia e aproveitar a grande explosão turística que Lisboa está a registar”. Carneiro desabafa, ainda, sobre esta matéria – “Não tenho problemas em o dizer aqui publicamente – o empresário tem estado demasiado sozinho, este Governo em particular não liga nenhuma, e quando não há um parque temático digno desse nome neste país, quem diga o contrário está a mentir, ainda, por cima, sobre os Descobrimentos, quando nem um museu temos sequer que conte a nossa história marítima. Aliás a grande embarcação que esteve em exposição na EXPO 98 está a apodrecer na Trafaria. É isto o que nós somos”. “A Lusolândia tem de ter um acompanhamento afetivo por parte do Governo e é natural que o empresário se sinta desacompanhado, quando já gastou mais do que devia no projeto e nos terrenos. Espero que o novo quadro comunitário e o secretário de Estado de Turismo olhe finalmente para o projeto”, refere e finaliza – “Ele teve muito azar com as medidas preventivas do aeroporto, e agora que já pode construir, o país entrou em crise e não há banco que empreste dinheiro, mas sei que tem bons contatos no estrangeiro”.
Neumeyer, o criativo que desenhou a Lusolândia
A terra dos sonhos entre Azambuja e Alenquer idealizada por António Domingos teve como um dos seus criadores, o criativo Joseph Neumeyer ligado à Disneylândia, e que trabalhou no projeto ainda nos anos 80. Este criativo que fez cenários em larga escala para o universo Disney e para a Universal Studios falou com o Valor Local sobre a sua experiência neste trabalho da Lusolândia.
“Estava incumbido em tentar representar o melhor possível o que foram os descobrimentos portugueses, capturar, por assim dizer, a essência de Portugal muito ligada à sua história marítima. Foi um trabalho árduo que tive de realizar em pouco tempo e com pouco dinheiro, mas já foi há muitos anos e é difícil de nos lembrarmos de tudo, sei que o parque nunca foi construído”.
Para além de Joseph Neumeyer, António Domingos tinha a trabalhar no seu projeto outras equipas nos Estados Unidos. “Queria-se algo do mesmo género da Disney, o cenário previa uma viagem de barco e a pé pelos vários territórios retratados. O meu trabalho foi o de tentar visualizar e conceptualizar tudo isto ao pormenor, porque o conceito geral estava concretizado.
Hoje em dia, Josph Neumeyer que esteve envolvido na conceptualização de vários parques temáticos pelo mundo fora, decidiu retirar-se dessa área e dedicar-se à apresentação de miniaturas para projetos, “devido ao fato de haver demasiada componente política associada a essas obras”. Já quanto à realidade dos parques temáticos no mundo, e quando se fala no declínio da Disney, opina que “são locais que continuam a fazer-nos sonhar”. “Lembro-me que fui à Disneylândia quando era miúdo e que paguei cinco dólares pela entrada e de ter ficado deslumbrado com o que vi”.
A Lusolândia prevista para as quintas do Bunhal (Azambuja) e Archino (Alenquer) promovia o reconhecimento das culturas e dos ambientes africanos, asiáticos e brasileiros com a chegada dos portugueses a esses territórios. Prevê a construção de um hotel, restaurantes, piscinas, e seis áreas temáticas relacionadas com os territórios da lusofonia.

Discovery Park VS Lusolândia
Com o fim do imperativo das medidas restritivas ligadas à servidão aeronáutica do aeroporto da Ota que rumou ao concelho de Benavente abandonando o município de Alenquer, a Lusolândia ganha mais uma vida das muitas que tem vindo a perder, mas um concorrente inesperado aparece no horizonte, o Discovery Park, projeto encabeçado pelo economista e gestor Paulo Carmona que consigo trazia um grupo de investidores dispostos a fazer na Ota um parque “ainda mais grandioso” que o da Lusolândia, num investimento de 500 milhões de euros, parte dessa verba em project finance, e igualmente dedicado aos descobrimentos portugueses.
Ao Valor Local, Paulo Carmona lembra que o seu projeto “era uma coisa bem feita” mas que “infelizmente” não teve a melhor aceitação por parte da AICEP, à época liderada pelo atual presidente da Câmara de Sintra, Basílio Horta, por razões de reservas agrícola e ecológica e de montado de sobro. A proximidade geográfica dos dois complexos também não ajudou. Paulo Carmona refere que, a dada altura do processo, em 2009, aquela entidade do Estado decidiu “embirrar com a questão ambiental, nomeadamente, com os sobreiros existentes na zona, quando estamos a falar de meia dúzia de árvores”. “A má vontade e o bloqueio sistemático abrandaram o entusiasmo dos que estavam neste projeto”, entre os quais salienta “empresas de grande gabarito” para além do aval da Delloite no que à viabilidade financeira do projeto diz respeito. “Tudo isto se tornou mais difícil de entender quando o financiamento não era do Estado e hoje teríamos em Portugal um grande parque temático e muitos postos de trabalho”. “Infelizmente, a AICEP meteu-nos no mesmo saco de outros, e as pessoas ligadas a este projeto, que tinham como é natural as suas vidas, acabaram por desistir”.
Paulo Carmona confirma que nunca esteve em cima da mesa a possibilidade de uma agregação com o projeto da Lusolândia, sugerida por Basílio Horta, até porque “ a concorrência é saudável e se houvesse ali dois parques temáticos tal significaria mais oferta”. Tendo em conta que muitos defendem que, no momento atual de crise, seria pouco responsável pensar-se a sério num parque temático para a região, Carmona desconstrói essa teoria – “ Portugal pode estar em crise, mas Lisboa está atolada de turistas, se conseguíssemos desviar 10 por cento dessas pessoas para um parque a 20 minutos da capital com bons acessos, teríamos sucesso de certeza e faço aqui uma comparação: se há quem pague 20 euros para ir para uma discoteca, não me diga que não há gente que pague 40 euros para entrar num sítio espetacular e dar ‘cambalhotas’ o dia inteiro”.
Basílio Horta, o homem que chegou a chumbar os dois projetos até ficar na corrida apenas a Lusolândia considera que “houve problemas no projeto de Alenquer em questões de ordenamento do território. Os dois projetos foram analisados e nem todas as regras ambientais eram observadas”, mas “Portugal precisa de um grande parque temático, até como autarca procuro um investimento desse género para o meu concelho, porque faz falta ao país”, refere à nossa reportagem.
Também o antigo presidente da Câmara de Alenquer, Álvaro Pedro tinha preferência pelo Discovery Park a implantar na Ota, apesar de também ter sido contatado por António Domingos mas refere que sempre acreditou mais na viabilidade do Discovery Park. “António Domingos era sempre muito evasivo, limitava-se a dizer que ia conseguir, mas nunca vi luz verde”, dá conta.
Sílvia Agostinho
22-08-2014
Com o fim do imperativo das medidas restritivas ligadas à servidão aeronáutica do aeroporto da Ota que rumou ao concelho de Benavente abandonando o município de Alenquer, a Lusolândia ganha mais uma vida das muitas que tem vindo a perder, mas um concorrente inesperado aparece no horizonte, o Discovery Park, projeto encabeçado pelo economista e gestor Paulo Carmona que consigo trazia um grupo de investidores dispostos a fazer na Ota um parque “ainda mais grandioso” que o da Lusolândia, num investimento de 500 milhões de euros, parte dessa verba em project finance, e igualmente dedicado aos descobrimentos portugueses.
Ao Valor Local, Paulo Carmona lembra que o seu projeto “era uma coisa bem feita” mas que “infelizmente” não teve a melhor aceitação por parte da AICEP, à época liderada pelo atual presidente da Câmara de Sintra, Basílio Horta, por razões de reservas agrícola e ecológica e de montado de sobro. A proximidade geográfica dos dois complexos também não ajudou. Paulo Carmona refere que, a dada altura do processo, em 2009, aquela entidade do Estado decidiu “embirrar com a questão ambiental, nomeadamente, com os sobreiros existentes na zona, quando estamos a falar de meia dúzia de árvores”. “A má vontade e o bloqueio sistemático abrandaram o entusiasmo dos que estavam neste projeto”, entre os quais salienta “empresas de grande gabarito” para além do aval da Delloite no que à viabilidade financeira do projeto diz respeito. “Tudo isto se tornou mais difícil de entender quando o financiamento não era do Estado e hoje teríamos em Portugal um grande parque temático e muitos postos de trabalho”. “Infelizmente, a AICEP meteu-nos no mesmo saco de outros, e as pessoas ligadas a este projeto, que tinham como é natural as suas vidas, acabaram por desistir”.
Paulo Carmona confirma que nunca esteve em cima da mesa a possibilidade de uma agregação com o projeto da Lusolândia, sugerida por Basílio Horta, até porque “ a concorrência é saudável e se houvesse ali dois parques temáticos tal significaria mais oferta”. Tendo em conta que muitos defendem que, no momento atual de crise, seria pouco responsável pensar-se a sério num parque temático para a região, Carmona desconstrói essa teoria – “ Portugal pode estar em crise, mas Lisboa está atolada de turistas, se conseguíssemos desviar 10 por cento dessas pessoas para um parque a 20 minutos da capital com bons acessos, teríamos sucesso de certeza e faço aqui uma comparação: se há quem pague 20 euros para ir para uma discoteca, não me diga que não há gente que pague 40 euros para entrar num sítio espetacular e dar ‘cambalhotas’ o dia inteiro”.
Basílio Horta, o homem que chegou a chumbar os dois projetos até ficar na corrida apenas a Lusolândia considera que “houve problemas no projeto de Alenquer em questões de ordenamento do território. Os dois projetos foram analisados e nem todas as regras ambientais eram observadas”, mas “Portugal precisa de um grande parque temático, até como autarca procuro um investimento desse género para o meu concelho, porque faz falta ao país”, refere à nossa reportagem.
Também o antigo presidente da Câmara de Alenquer, Álvaro Pedro tinha preferência pelo Discovery Park a implantar na Ota, apesar de também ter sido contatado por António Domingos mas refere que sempre acreditou mais na viabilidade do Discovery Park. “António Domingos era sempre muito evasivo, limitava-se a dizer que ia conseguir, mas nunca vi luz verde”, dá conta.
Sílvia Agostinho
22-08-2014
Comentários
Que pena não se ter chegado a acordo e não se ter avançado com um parque temático na região! Porém essa ideia de que a concorrência é saudável, relativamente a dois projetos desta envergadura, nas imediações um do outro, não me parece de todo acertada, nem adequada ao nosso país (ou a qualquer um outro), dada a proximidade física dos dois parques temáticos).
Maria Duarte
21/04/2017 23:15
Maria Duarte
21/04/2017 23:15