Miguel Duarte não comenta para já medalha de mérito municipal da Câmara de Azambuja
Jovem diz que primeiro quer reunir-se com o município. Na retina ainda estão declarações de Luís de Sousa em 2019
|29 Mar 2021 17:04
Sílvia Agostinho Miguel Duarte, o jovem ativista português, natural de Azambuja, foi ilibado recentemente da acusação de auxílio à imigração ilegal depois de ter salvado milhares de migrantes no mar Mediterrâneo a bordo do Iuventa, embarcação de uma organização humanitária. Luís de Sousa, presidente da Câmara de Azambuja, pretende condecorar com a medalha do município Miguel Duarte. (Numa reunião de Câmara em finais de outubro de 2019, o autarca referiu que só equacionaria a atribuição de uma medalha de mérito municipal ou uma homenagem após a sentença da justiça italiana.)
Luís de Sousa, durante o programa Hora Local da última quinta-feira (áudio abaixo), parabenizou Miguel Duarte, anunciando que a autarquia se prepara, então, para homenagear o ativista depois de ter chegado à Câmara uma proposta nesse sentido pelos núcleos locais do Partido Socialista, Juventude Socialista e Mulheres Socialistas de Azambuja. Tendo em conta as palavras da autarquia há pouco mais de um ano atrás, Miguel Duarte, em entrevista à Rádio Valor Local, confessou que para já prefere não falar da homenagem mas diz esperar pela reunião com a autarquia "para tomar uma posição". "Para já prefiro não comentar, vou aguardar pelo contacto da Câmara". Recorde-se que à época Sousa instado pelo presidente dos bombeiros, André Salema, disse que "havia mais Miguéis Duartes em Azambuja", tendo em conta que no concelho existiriam "mais nomes dignos de homenagem". André Salema acusou Sousa de não ter em linha de conta a importância de Miguel Duarte na ajuda humanitária de milhares de migrantes, numa altura em que até o próprio presidente da República dirigira palavras de apreço para com a causa do azambujense. Nessa reunião de Câmara, Sousa ainda tentou amenizar o ânimos e adiantou que incluiria o nome do ativista na lista de homenageados do dia da Espiga, feriado municipal, de 2020 que acabou por não acontecer devido à pandemia. À parte das polémicas, Miguel Duarte referiu ao nosso jornal que continua empenhado nas suas causas humanitárias e que não vê a hora de "voltar para o mar". O ativista lamenta que nem todos os seus colegas tenham visto os seus processos arquivados. "Foi com surpresa que assisti à sentença, até porque a culpa deles foi igual à minha". Dos 10 acusados, seis foram ilibados. No processo estavam ainda acusadas as organizações "Save The Children" e "Médicos sem Fronteiras", o que "eleva para 21 o número de pessoas acusadas, todas trabalhadoras humanitárias". OUÇA O ÁUDIO
O jovem tornou-se conhecido quando lançou uma campanha de crowdfunding para angariação de verbas para custear o processo. Na altura angariou 55 mil euros só em Portugal. À época dos factos de que era acusado, 2016 e 2017, o aluno de Matemática no Instituto Superior Técnico sentiu o apelo para se envolver no resgate aos refugiados e migrantes no Mediterrâneo, então com 24 anos, a bordo do navio Iuventa, juntamente com mais nove pessoas no âmbito da organização não governamental alemã Jugend Rettet.
Apesar da pandemia, o resgate de migrantes no Mediterrâneo continua a ocorrer contudo a criminalização da atividade passa agora pelo uso de "subterfúgios administrativos" que não as acusações explícitas de antes que passavam por tráfico humano e apoio à imigração ilegal. "Um dos navios de resgate foi apreendido, no ano passado, por seis meses porque segundo a lei tinha demasiados coletes salva vidas a bordo o que dificultaria a circulação no convés". Miguel Duarte esteve envolvido nestas operações em alto mar entre 2016 e 2017, e atualmente constata que apesar desta realidade "já não estar nos media, continua a morrer muita gente no Mediterrâneo central, cerca de dez pessoas por semana". A guerra civil na Líbia e na Síria continuam a produzir milhares de refugiados, sem que exista uma solução à vista. Inserido na organização não governamental "Humans Before Boarders" confessa que continua a trabalhar no apoio humanitário com o objetivo de influenciar decisores políticos por um mundo melhor. |
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