Nally, no Carregado, promete fazer furor no mundo da cosmética
A marca nasceu há 90 anos numa perfumaria de bairro em Lisboa.
03-08-2016 às 11:25
A Nally é uma das empresas mais antigas do país. A marca nasceu há 90 anos numa perfumaria de bairro em Lisboa. Teve as suas instalações no Campo Grande até há seis anos atrás, altura em que se mudou de armas e bagagens para o Carregado. Pierre Stark apaixonou-se pelo Benamor quando se deslocou a uma loja de produtos portugueses vintage, há dois anos atrás, e ficou a saber do sucesso que o creme de mãos da marca causara numa loja da sofisticada e exclusiva marca Yves Saint Laurent, em Paris. “Tem uma textura leve mas que não é imediatamente absorvida pela pele, quase como uma luva, com perfume de citronela”, explica Pierre Stark.
Levado para Paris por um amigo de Catarina Portas, ligado à marca francesa, esteve à venda durante um ano na loja. “As pessoas compraram e voltaram a comprar, e a fidelização é um sintoma muito bom. Percebi que tinha de existir algo mais, e vim conhecer o antigo dono e os seus sócios. A compra da empresa não foi imediata, mas conseguimos”. “O senhor Nunes, antigo proprietário, achou que eu era uma pessoa honesta, apaixonada, e com uma vasta experiência no mundo da cosmética pois trabalhei na L’Oreal e vendeu-me a fábrica”, resume. A Nally apresentou nas últimas semanas a remodelação que efetuou na marca Benamor com a apresentação exclusiva das novas embalagens. O antigo design é mantido, apenas com algumas ligeiras alterações, sendo que passa a estar disponível também na loja de cosmética do El Corte Inglés, na gama “luxo acessível”. Este foi um passo difícil mas importante para o Benamor, desde o início ligado às pequenas drogarias de bairro, mas que agora chega a uma das montras mais sofisticadas do país. “Algo impensável até há pouco tempo”, constata Stark. A internacionalização também vai sendo feita, porque “há um sentimento muito presente no consumidor atual de ir buscar algo menos massificado, e que conta uma história”. O produto encontra-se em cerca de 10 perfumarias mais ou menos exclusivas na Alemanha. Lá fora, a marca quer fixar-se no segmento de luxo –“apostando no requinte das fórmulas, como o jacarandá, e o rose amélie, que são mais leves; e também da própria embalagem, com a incisão do ouro estampado, um produto muito caro, que dá um ar mais luxuoso”. Seria impensável, a venda do Benamor aos mesmos preços de Portugal, caso contrário não se revelaria financeiramente viável, daí a aposta na valorização da marca a vários níveis. Já no El Corte Inglés, os preços sofrem alguma variação não demasiado assinalável, com preços entre quatro a cinco euros mais caros do que no mercado tradicional da marca. Neste aspeto, pequenas drogarias e mercearias de bairro não serão, contudo, esquecidas – “Tenho imenso respeito pela nossa distribuição do coração, e também para aí lançaremos uma gama de sabonetes”. “Não quero fazer snobismo”, sustenta. Com uma história de décadas firmada na fidelização à marca por parte de gerações mais velhas e mais novas, uma das premissas da campanha assenta na ideia de que “Lisboa Portugal está verdadeiramente na moda lá fora”, sentencia. Pierre Stark quer aproveitar esta ideia, inspirando-se no vintage, mas indo mais além, e “fazer desta uma marca verdadeiramente internacional, e competitiva”. A história da Nally
O nome Benamor surgiu em 1925. Era o nome de uma perfumaria na Rua Augusta. A fábrica, Nally, existia no Campo Grande e respondia às solicitações da loja. É um dos raros casos de sobrevivência durante décadas atrás de décadas neste segmento de mercado em Portugal, o da cosmética, rivalizando apenas com a Ach Brito. Quando surgiu assumiu-se logo como uma marca de vanguarda para a época, prova disso era a aposta na publicidade em cartazes, alguns deles hoje verdadeiras relíquias icónicas do Benamor e outros produtos da Nally. “Era mesmo um dos maiores investidores de publicidade do país”. Nas primeiras décadas do século passado, a Nally dispunha de uma componente mais eclética de produtos, possuindo no seu catálogo desde pasta dentífrica até batons, águas de colónia, e pó de arroz. “Não possuímos todas as embalagens desse tempo, porque houve um incêndio no Campo Grande, e os poucos exemplos que restam estão na posse de alguns colecionadores. O que temos para mostrar são apenas algumas fotos”. A história da Nally não deixa de inspirar constantemente Pierre Stark, e olhando para a história da marca, denota que “a criatividade das suas embalagens também é uma prova de que esteve sempre à frente do seu tempo”. Os novos proprietários continuam a guardar religiosamente todos os registos fotográficos dos primórdios da fábrica que esteve sedeada até há poucos anos atrás no Campo Grande, em Lisboa. Uma fotografia de trabalhadoras de outrora a embalar o creme à mão é um desses exemplos. Outro dos produtos mais marcantes da Nally era o seu petróleo químico destinado a travar a queda de cabelo. Pierre Stark mostra um dos poucos frascos que ainda resta, anunciando que o melhor cliente deste produto foi Salazar. “Frequentemente o seu motorista dirigia-se à fábrica do Campo Grande para comprar caixotes deste petróleo, Sempre recusou ofertas, mas não desdenhava comprar com desconto”, refere Stark, rindo-se. Na estratégia da empresa, estará inevitavelmente a criação de uma loja Benamor, uma espécie de museu, com os produtos do passado e do presente para poderem ser apreciados.
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