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Natação Adaptada do Alhandra Sporting Club: Um mergulho nas emoções
de atletas especiais
​Sílvia Agostinho/Miguel António Rodrigues
09-04-2019 às 19:25


São sete e meia da manhã de mais um domingo, em que Carlos Mendes se prepara para um novo treino nas Piscinas Baptista Pereira, em Alhandra. É um dos atletas da secção de natação adaptada do Alhandra Sporting Club e no seu currículo conta com mais de 20 medalhas, algumas de participação em torneios, mas há também primeiros lugares. Foi a amputação dos membros inferiores, que o veio a colocar tempos mais tarde em contacto com a prática da modalidade. Devido a um quadro muito agravado de diabetes tipo 1, quando tinha 40 anos teve de ser submetido à intervenção cirúrgica em causa. “Já não aguentava as dores, e a amputação foi o caminho a seguir”. Atualmente tem 56 anos. Pelo caminho, Carlos Mendes foi submetido com sucesso a um transplante de rim. Durante sete anos fizera hemodiálise.


Encontramo-lo em sua casa, onde começava a tomar o pequeno-almoço, uma torrada com um batido de aveia, linhaça e mel. O esforço físico de mais de uma hora nas piscinas obriga a uma primeira refeição reforçada. Mais do que uma vez por semana entrega-se às maravilhas da água, do exercício, e fundamentalmente do convívio com os outros colegas, todos eles mais jovens, e com idade para serem seus netos. “Uma família!”, não tem dúvidas em salientar. A família tem tido também muita importância neste transpor de obstáculos na vida de Carlos Mendes. Por outro lado, optou por aceitar as consequências da doença para poder seguir em frente na sua vida, embora a amputação da segunda perna tivesse sido pior do que a primeira – “Rebentou um bocadinho comigo, fui-me muito abaixo”. Quanto a apoios do Estado, dado o quadro de invalidez, refere que acaba por ser suficiente, mas porque não vive sozinho, e a companheira trabalha, “caso contrário não chegava”.
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São muitas as medalhas que já conquistou
A ideia da natação adaptada surgiu um dia quando se encontrou com Manuela Ralha, atual vereadora na Câmara, praticante desta modalidade, após ter sofrido um acidente que a colocou em cadeira de rodas há vários anos. Para Carlos Mendes, fez-se luz após essa conversa. Há 13 anos que faz parte da família da natação adaptada em Alhandra.

Nesta nova fase da sua vida, procura “portar-se bem”. Desde os 11 anos que sofre de diabetes tipo 1. Mas a vida adulta foi repleta de muitos excessos. A profissão de camionista não ajudou. “Tento controlar ao máximo a minha doença. Aprender a dizer que não, quando vejo muitos bolos, mas o desporto tem-me ajudado muito. A natação tem sido benéfica para tudo.”

Seguimos depois rumo às Piscinas Baptista Pereira no seu veículo adaptado. Cumpre sempre o ritual de beijar uma pequena cruz pendurada no espelho retrovisor – “Quando vamos para a estrada, vamos para a guerra. Temos de ter cuidado por nós e pelos outros”, diz.


​Chegados ao Alhandra, ficamos a conhecer os colegas de Carlos Mendes. Alguns estão na natação adaptada desde que a modalidade foi introduzida no clube há cerca de cinco anos, outros foram-se juntando entretanto. Em comum, o gosto pela prática, mas também as amizades que foram construindo ao longo dos anos. Muitos têm-se destacado na modalidade ao alcançarem pódios em campeonatos e troféus regionais. Mariana Lucas, de 17 anos, está no Alhandra há um ano e meio, e a experiência conta que “é muito boa”. Inicialmente inscreveu-se na secção apenas para ter contacto com uma atividade física, mas como entretanto foi desafiada para a vertente da competição decidiu abraçar esse desafio. Está no Secundário a estudar Gestão e Programação de Sistemas Informáticos, e o facto de não poder ver, não a faz esmorecer quanto aos seus objetivos.

“Quando estou a nadar sinto que estou a libertar tudo, sinto-me bem e a pôr uma energia enorme dentro de mim”. Por outro lado, “a amizade criada é fantástica, quer quando estamos em competição, quer nas alturas em que convivemos uns com os outros”. Fernando Daniel, de 13 anos, é outro dos atletas. O seu problema de deficiência intelectual também não é impeditivo de prosseguir os seus objetivos. Gosta do convívio entre colegas e de ganhar prémios também. O atleta recebe um grande abraço de um dos responsáveis da secção antes de ir dar mais umas braçadas neste treino de domingo.


Portadora de uma síndrome que não a deixa verbalizar as suas emoções, Gabriela Matos é outra das praticantes da modalidade. A mãe, Ana Cristina Matos, refere que a trouxe para o Alhandra Sporting Club há dois anos. O desenvolvimento psicossocial “melhorou imenso”, nomeadamente, “a nível da sua interação com os outros”. “Apesar de não falar, começou a ser mais expansiva e expressiva, arranjando forma de comunicar com os outros através de gestos muito simples”, conta a mãe. Gabriela sempre nadou. A vinda para a secção foi natural, até porque a treinadora Susana Ferreira “tem uma forma muito especial de lidar com as crianças”. Na escola, é também uma criança autónoma, “embora tenha um currículo diferente dos outros miúdos”. Numa competição que teve lugar, este mês, em Santa Maria da Feira, no Troféu das Fogaceiras, Gabriela Matos, conseguiu alcançar diversos primeiros lugares, nos 50 e nos 25 metros costas. Para a atleta “é muito importante quando lhe dizemos que teve um bom resultado”. “Ela suplanta-se muitas vezes na natação”, refere a mãe, concluindo – “O mais importante para nós é que seja uma criança feliz, realizada, que se sinta bem”. Para se conseguir mais apoios, que são sempre escassos, “temos de batalhar muito e temos esperança no projeto assinado entre a Câmara e a Associação de Natação de Lisboa” 
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Beatriz Penelas, 19 anos, está no primeiro ano do ensino superior numa universidade em Santarém, no curso de “Acompanhamento de Crianças e Jovens”. Sendo praticante há quatro anos, não tem dúvidas em salientar o quanto este desporto acaba por a motivar. “Conseguimos ver a vida de outra forma, criamos grandes amizades, ajudando-nos mutuamente e isto é o mais importante de tudo”. Mas também a nível físico, os benefícios são inegáveis – “Já não tenho tantas dificuldades em sair da cadeira de rodas para a piscina, os meus músculos estão também mais fortalecidos”. O apoio da família, como não podia deixar de ser, é também ele “muito importante”. O pai está sempre nas bancadas a incentivar, e embora “não o veja porque quando estamos dentro de água não conseguimos ouvir, só de saber que ele está ali, dá-me um grande estímulo”.

Nem sempre é fácil conciliar os estudos com a prática da natação, mas como este é o seu único escape, não vai deixando de comparecer nas piscinas. No futuro, gostaria de abraçar a profissão de professora primária ou educadora de infância. “Tenho o sonho de ser alguém profissionalmente na ajuda da educação das crianças, dar-lhes motivação, para que sejam boas pessoas no futuro”. “Aqui no Alhandra vivemos um clima de autêntica diversão entre nós todos, é ótimo estar aqui”, diz Diogo Marques, 19 anos, um jovem que se iniciou há pouco tempo na modalidade a convite de Susana Ferreira, tendo alcançado até à data vários lugares no pódio nas mais diversas competições. 



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Beatriz Penelas conseguiu melhorar a vários níveis a sua saúde


​Com 15 atletas em competição, e 10 na formação, o Alhandra Sporting Club abarca nesta modalidade, pessoas com vários níveis de deficiência: motora, intelectual, invisuais, surdos, transplantados. Segundo a treinadora Susana Ferreira, o acompanhamento a cada atleta tem de ser diferenciado, porque quem não vê, é diferente de quem não ouve. Os apoios para as deslocações, e no fundo à secção garantem a cobertura da estadia, “mas podiam ser superiores”. “Dá para ficarmos nas camaratas das pousadas da juventude”. Estamos a falar quase sempre em viagens ao norte do país, onde a modalidade está mais desenvolvida. Na zona de Lisboa, e centro do país, a modalidade ainda dá os primeiros passos.

No final da nossa reportagem, missão cumprida em mais um dia de treinos para Carlos Mendes. Já a preparar-se para a próxima competição em Póvoa de Varzim e Coimbra. “Sinto-me muito bem aqui, com estes miúdos que são muito agradáveis. Todos eles surpreendem-me. Uma malta fantástica que recebe também muito carinho dos pais. Alguns têm idade para serem meus netos. É muito gratificante”. 


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