O Hospital de Vila Franca de Xira está doente?!
Ouvimos responsáveis da Ordem dos Médicos, Sindicato Independente dos Médicos, utentes, o novo conselho de administração, os presidentes de Câmara e as associações de socorro nesta radiografia a esta unidade de saúde, desde que passou há cinco meses para o domínio do setor público. Está pior ou não? Foi o que quisemos saber.
Sílvia Agostinho
03-11-2021 às 21:39
Ouvimos responsáveis da Ordem dos Médicos, Sindicato Independente dos Médicos, utentes, o novo conselho de administração, os presidentes de Câmara e as associações de socorro nesta radiografia a esta unidade de saúde, desde que passou há cinco meses para o domínio do setor público. Está pior ou não? Foi o que quisemos saber.
Sílvia Agostinho
03-11-2021 às 21:39
As condições do Hospital de Vila Franca de Xira são cada vez mais preocupantes. Há cerca de duas semanas, responsáveis da Ordem e do Sindicato Independente do Médicos visitaram aquela unidade de saúde, onde lhes foram transmitidas carências de diversa ordem. Passaram apenas cinco meses desde que o grupo Mello abandonou a gestão e acabou a Parceria Público Privada, mas o estado de caos é uma realidade e isso mesmo foi dito por clínicos desta unidade, agora gerida sob a designação de entidade pública empresarial, a Alexandre Valentim Lourenço, do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos e a Jorge Roque da Cunha do SIM.
Segundo a Ordem dos Médicos, há quem fale de sofrimento ético porque os profissionais não conseguem fazer melhor, dada a falta de condições a diversos níveis. O estado de coisas piorou desde que a parceria público privada foi desfeita, em finais de maio - "Nunca tivemos este tipo de relatos nesta unidade", começou por anunciar Alexandre Valentim Lourenço num encontro com jornalistas decorrido há duas semanas.
Começaram a chegar ao conhecimento daquela ordem profissional pedidos de escusa de responsabilidade, insuficiência de serviços e de escalas que não eram completadas. Os problemas endémicos do Serviço Nacional de Saúde estão "a começar a alastrar a este hospital" que esteve durante 10 anos na gestão do grupo Mello. Atualmente, o hospital tem dificuldade em reter "os médicos que forma". "Muitos dos profissionais estão cansados e não têm tempo para desempenhar essa tarefa de formarem os colegas, e isso faz com que se afastem deste hospital e que recorram a outras ofertas mais aliciantes, com condições menos penosas do que aquelas que temos aqui".
Alexandre Valentim Lourenço ficou a saber que muitos clínicos deste hospital chegam a trabalhar mais de 70 a 80 horas por semana "algo que pensávamos que só tinha acontecido durante o período alto da pandemia, e nesta altura em que ainda não chegou o inverno, esperemos que trabalhar aqui não seja um inferno para eles, porque estão todos muito cansados". Não há um número exato de quantos profissionais abandonaram o hospital desde que em 2019, o Governo anunciou a não renovação da PPP, e os clínicos começaram a deitar contas à vida, mas terão sido muitas dezenas. Mesmo hoje durante a visita "muita gente foi dizendo nos vários serviços visitados, que faltavam clínicos em diferentes especialidades". E deixa ainda o seguinte exemplo - "Do serviço de Medicina Interna saíram 11 médicos nos últimos dois anos, já da Ginecologia foram 10, sendo que aqueles que agora estão a acabar o internato fazem depender a sua permanência das condições que vierem a ser asseguradas".
Segundo a Ordem dos Médicos, há quem fale de sofrimento ético porque os profissionais não conseguem fazer melhor, dada a falta de condições a diversos níveis. O estado de coisas piorou desde que a parceria público privada foi desfeita, em finais de maio - "Nunca tivemos este tipo de relatos nesta unidade", começou por anunciar Alexandre Valentim Lourenço num encontro com jornalistas decorrido há duas semanas.
Começaram a chegar ao conhecimento daquela ordem profissional pedidos de escusa de responsabilidade, insuficiência de serviços e de escalas que não eram completadas. Os problemas endémicos do Serviço Nacional de Saúde estão "a começar a alastrar a este hospital" que esteve durante 10 anos na gestão do grupo Mello. Atualmente, o hospital tem dificuldade em reter "os médicos que forma". "Muitos dos profissionais estão cansados e não têm tempo para desempenhar essa tarefa de formarem os colegas, e isso faz com que se afastem deste hospital e que recorram a outras ofertas mais aliciantes, com condições menos penosas do que aquelas que temos aqui".
Alexandre Valentim Lourenço ficou a saber que muitos clínicos deste hospital chegam a trabalhar mais de 70 a 80 horas por semana "algo que pensávamos que só tinha acontecido durante o período alto da pandemia, e nesta altura em que ainda não chegou o inverno, esperemos que trabalhar aqui não seja um inferno para eles, porque estão todos muito cansados". Não há um número exato de quantos profissionais abandonaram o hospital desde que em 2019, o Governo anunciou a não renovação da PPP, e os clínicos começaram a deitar contas à vida, mas terão sido muitas dezenas. Mesmo hoje durante a visita "muita gente foi dizendo nos vários serviços visitados, que faltavam clínicos em diferentes especialidades". E deixa ainda o seguinte exemplo - "Do serviço de Medicina Interna saíram 11 médicos nos últimos dois anos, já da Ginecologia foram 10, sendo que aqueles que agora estão a acabar o internato fazem depender a sua permanência das condições que vierem a ser asseguradas".
A Ordem dos Médicos mas também o Sindicato Independente dos Médicos, através do seu secretário geral, Jorge Roque da Cunha, que se fez representar nesta visita, deixaram a sugestão para que "os diretores de serviço e a gestão clínica façam um apanhado real do que é necessário para colocar este hospital a trabalhar sem recorrer a prestadores de serviço", que são nesta altura 40 por cento da massa trabalhadora nesta unidade.
Em declarações ao Valor Local, durante a conferência de imprensa, e perante a questão sobre quais as principais diferenças entre o grupo Mello, e a gestão pública - que nesta altura está a cargo do administrador designado pelo ministério da Saúde, Carlos Andrade- Alexandre Valentim Lourenço, reflete que elas existem sobretudo quanto à "autonomia de decisão e de contratação". Agora é muito mais difícil "decidir sobre questões de equipamentos, e de materiais". "Quando a gestão era da PPP, a avaria de um equipamento era resolvida num mês, e agora não há stock e pode demorar dois anos", junta o responsável da Ordem dos Médicos. Por outro lado, "antes era mais fácil contratar médicos para este hospital, mesmo que oriundos de longe e a terem de gastar 100 ou 200 euros de gasolina para virem para aqui, e agora isso não acontece porque esta gestão está presa a sistemas centrais que fazem com que estes concursos demorem meses ou anos até estarem resolvidos, e ainda por cima ninguém quer vir trabalhar para um local penoso. Os médicos preferem ir para outro lado onde se ofereça melhores condições", acrescenta taxativamente.
Jorge Roque da Cunha afinou pelo mesmo diapasão - "Se temos médicos com 550 a 600 horas extraordinárias de trabalho algo vai mal, a que se soma, a título de exemplo, um serviço de gastroenterologia em que as listas de espera para os doentes externos são de dois anos. Esta diminuição das equipas é preocupante", e deixa o aviso - "É tempo de o ministério da Saúde perceber que tem aqui um problema e que não adianta fazer propaganda".
Alexandre Valentim Lourenço refere que a única diferença positiva, neste momento, entre o Hospital de Vila Franca de Xira, que ainda há cerca de um ano recebia acreditações de alto nível perante a qualidade de serviço, e o de Setúbal cuja administração se demitiu nas últimas semanas por não ter condições de prestar cuidados de saúde de qualidade, resume-se "apenas ao edifício". Contudo alerta que o espaço é cada vez mais pequeno face ao número de doentes, e que "muitos continuam a estar internados numa garagem que foi adaptada durante a pandemia e que ainda não foi desmantelada no interior deste hospital e que está a servir de sala de observação porque não há camas suficientes". (Ainda é considerável o número de utentes aos quais não se conseguiu dar alta porque não têm nenhum sítio para onde irem, e que deveriam estar em lares ou outras instituições e que foram abandonados pelas famílias neste hospital).
Carlos Andrade transmitiu aos dois responsáveis que estão "a sentir muitos problemas face às regras da contratação da função pública e que estão a trabalhar no sentido de ultrapassar este momento", deu conta o responsável da Ordem dos Médicos. "Tem menos armas do que a outra administração que era autónoma e que tinha capacidade de tomar decisões".
Em declarações ao Valor Local, durante a conferência de imprensa, e perante a questão sobre quais as principais diferenças entre o grupo Mello, e a gestão pública - que nesta altura está a cargo do administrador designado pelo ministério da Saúde, Carlos Andrade- Alexandre Valentim Lourenço, reflete que elas existem sobretudo quanto à "autonomia de decisão e de contratação". Agora é muito mais difícil "decidir sobre questões de equipamentos, e de materiais". "Quando a gestão era da PPP, a avaria de um equipamento era resolvida num mês, e agora não há stock e pode demorar dois anos", junta o responsável da Ordem dos Médicos. Por outro lado, "antes era mais fácil contratar médicos para este hospital, mesmo que oriundos de longe e a terem de gastar 100 ou 200 euros de gasolina para virem para aqui, e agora isso não acontece porque esta gestão está presa a sistemas centrais que fazem com que estes concursos demorem meses ou anos até estarem resolvidos, e ainda por cima ninguém quer vir trabalhar para um local penoso. Os médicos preferem ir para outro lado onde se ofereça melhores condições", acrescenta taxativamente.
Jorge Roque da Cunha afinou pelo mesmo diapasão - "Se temos médicos com 550 a 600 horas extraordinárias de trabalho algo vai mal, a que se soma, a título de exemplo, um serviço de gastroenterologia em que as listas de espera para os doentes externos são de dois anos. Esta diminuição das equipas é preocupante", e deixa o aviso - "É tempo de o ministério da Saúde perceber que tem aqui um problema e que não adianta fazer propaganda".
Alexandre Valentim Lourenço refere que a única diferença positiva, neste momento, entre o Hospital de Vila Franca de Xira, que ainda há cerca de um ano recebia acreditações de alto nível perante a qualidade de serviço, e o de Setúbal cuja administração se demitiu nas últimas semanas por não ter condições de prestar cuidados de saúde de qualidade, resume-se "apenas ao edifício". Contudo alerta que o espaço é cada vez mais pequeno face ao número de doentes, e que "muitos continuam a estar internados numa garagem que foi adaptada durante a pandemia e que ainda não foi desmantelada no interior deste hospital e que está a servir de sala de observação porque não há camas suficientes". (Ainda é considerável o número de utentes aos quais não se conseguiu dar alta porque não têm nenhum sítio para onde irem, e que deveriam estar em lares ou outras instituições e que foram abandonados pelas famílias neste hospital).
Carlos Andrade transmitiu aos dois responsáveis que estão "a sentir muitos problemas face às regras da contratação da função pública e que estão a trabalhar no sentido de ultrapassar este momento", deu conta o responsável da Ordem dos Médicos. "Tem menos armas do que a outra administração que era autónoma e que tinha capacidade de tomar decisões".
Depois das declarações da Ordem dos Médicos ganhou fama o denominado Serviço de Observação 4 (SO4) concebido ainda em tempo record durante uma das fases mais agudas da pandemia, que permitiu desocupar um espaço de antiga garagem para aquele fim. O facto de ter sido construído onde antes foi um estacionamento caiu mal na opinião pública. Contudo e através de fotografias tivemos acesso a essas imagens da sala com 300m2, composta por 17 postos de observação, sistema de renovação de ar e uma área de isolamento para doentes ventilados.
Esta ala foi concebida em seis semanas ainda durante a anterior gestão. Nesta altura, a nova gestão, refere que quando conheceu o espaço de imediato identificou “a necessidade de requalificação daquele mesmo local, já que existe um consenso alargado junto dos profissionais de saúde do hospital de que o mesmo é necessário”. Está a avaliar ainda a possibilidade de edificar em outro local do hospital, o referido SO4.
O Valor Local entrou em contacto com a filha de uma utente, Sandra Quitério que teve a mãe internada por duas ocasiões nesta ala. Refere que o tratamento a nível geral “correu bem”, mas a descrição do local pela sua mãe tem contornos tenebrosos – “Disse-me que aquilo é horroroso e assustador principalmente de noite porque as paredes são escuras e com os tubos fica ainda pior. Não tem janelas e apenas permanecem acesas as luzes de emergência”.
Esta ala foi concebida em seis semanas ainda durante a anterior gestão. Nesta altura, a nova gestão, refere que quando conheceu o espaço de imediato identificou “a necessidade de requalificação daquele mesmo local, já que existe um consenso alargado junto dos profissionais de saúde do hospital de que o mesmo é necessário”. Está a avaliar ainda a possibilidade de edificar em outro local do hospital, o referido SO4.
O Valor Local entrou em contacto com a filha de uma utente, Sandra Quitério que teve a mãe internada por duas ocasiões nesta ala. Refere que o tratamento a nível geral “correu bem”, mas a descrição do local pela sua mãe tem contornos tenebrosos – “Disse-me que aquilo é horroroso e assustador principalmente de noite porque as paredes são escuras e com os tubos fica ainda pior. Não tem janelas e apenas permanecem acesas as luzes de emergência”.
As preocupações dos presidentes de Câmara
Hospital precisa de cerca de 20 médicos
Nos cinco concelhos adstritos ao Hospital de Vila Franca de Xira, os diferentes autarcas expressaram a sua preocupação ao Valor Local. Carlos Coutinho, presidente da Câmara de Benavente, contou em detalhe à nossa reportagem aquilo que teve oportunidade de transmitir e também de ouvir por parte de Carlos Andrade.
Foi ainda em 2019, que se iniciou a debandada em massa de clínicos deste hospital, assim que o Governo anunciou que a PPP não seria renovada, e que o caminho passava pelo regresso ao setor público. A administração refere que saíram algumas dezenas desde essa altura. O autarca especifica que a grande maioria saiu antes do fim da PPP. Foi adiantado ainda que se procedeu à contratação de técnicos nomeadamente para o setor das análises bem como a compra de equipamentos em falta.
Coutinho ficou a saber que foram lançados concursos para o preenchimento de vagas mas que ficaram desertos, nomeadamente, na Medicina Interna, uma das áreas mais carenciadas neste momento. “Nenhuma vaga foi preenchida, mas a administração diz que está a fazer todos os esforços”, refere o presidente da Câmara, que se mostra preocupado também com a falta de espaço que a unidade apresenta face às exigências e ao número de população servida, sendo necessária a sua ampliação a todos os níveis, sobretudo desde que ficou conhecida a acomodação de doentes num local que já serviu de garagem e que ainda hoje permanece.
Esta administração não tem a mesma facilidade de contratação de médicos face a uma série de requisitos aos quais o Grupo Mello não estava obrigado, “contudo pode recorrer à mobilidade com o regresso ao público, o que antes não existia”.
Coutinho acredita que é hora de os presidentes de Câmara “se juntarem e ajudarem em tudo o que puderem pela qualidade dos serviços no hospital, até porque encontrei uma administração empenhada e firme em resolver os problemas”. Para estabilizar o quadro clínico seria necessário contratar mais 20 médicos. Coutinho defende que o caminho do setor público é o adequado, mas há que existir maior celeridade.
Também o presidente da Câmara de Alenquer, Pedro Folgado, exprime a sua preocupação à nossa reportagem. O autarca lamenta que este dossier que tinha conhecido sempre uma grande estabilidade se tenha tornado instável. Ainda não se reuniu com a administração embora esteja a procurar fazê-lo a curto prazo. O presidente da Câmara refere que já começou a ouvir informalmente queixas por parte dos munícipes em relação ao hospital. “Quererei saber junto da administração qual a estratégia para se ultrapassarem estes constrangimentos de que se fala”. Na reunião que teve com a ministra da Saúde, Marta Temido, em véspera de eleições não abordou o tema do hospital “porque nessa altura ainda não se falava tanto destes problemas”.
Quanto à possibilidade de o Estado lançar nova PPP, Folgado expressa que “como estava, estava bem, mas fizeram-se compromissos à esquerda, e para se fazer uma nova parceria público privada o compromisso político tem de acabar, caso contrário é difícil, mas é tudo muito nebuloso porque nem se sabe se vamos ou não para eleições nesta altura”.
Já o presidente da Câmara de Azambuja, Silvino Lúcio vai mais longe e não tem dúvidas que o Governo deve começar a ponderar em lançar uma nova parceria público privada. No início deste ano, o novo presidente da autarquia esteve internado na ala de psiquiatria cerca de um mês, ainda sob gestão da PPP, e não tem dúvidas em catalogar o serviço como excelente. Diz que já ouviu muitas queixas por parte da população de que “as coisas não andam bem no hospital”.
“Estive 22 dias internado no hospital, e na minha opinião os bons exemplos da gestão privada deveriam continuar, porque a coisa pública por vezes não funciona. Não sei se com esta gestão não estamos a caminhar para algo preocupante”. Silvino Lúcio pretende falar em breve com a administração para se “inteirar do problema”.
O autarca lamenta o estado a que tudo chegou e lembra-se dos tempos da parceria quando até “ajudas técnicas e apoios financeiros davam às instituições do nosso concelho como foi o caso da Cerci e da Casa Mãe”. Silvino Lúcio exprime – “Foi uma grande pena não terem continuado porque ajudaram muito, e também era bom para os próprios profissionais de saúde, porque a gestão era mais rigorosa, e agora não corre bem”. Pelo que considera que “não é descabido pensar-se numa nova PPP”.
Para a vereadora da Saúde na Câmara de Arruda dos Vinhos, Carla Munhoz, o estado de coisas no hospital não pode ser atribuído a esta nova administração e fala numa “situação herdada”, em que “as equipas, para além de deficitárias, eram prestadoras eventuais de serviços, o que leva a uma constante instabilidade na resposta em cuidados de saúde à população”. “Consideramos que, num momento de transição de gestão, nada alterou o paradigma do passado recente, por enquanto”. Contudo refere que o município está atento e preocupado com a situação atual no hospital.
Refere a vereadora, que já houve reuniões com o novo conselho de administração. Entre outros temas foram abordadas preocupações na área da oncologia, quer médica quer cirúrgica, face aos possíveis atrasos devido ao confinamento.
Quanto à questão do possível lançamento de uma nova PPP, a a vereadora da Saúde, defende acerrimamente o setor público, porque “o SNS demonstrou a sua maturidade robusta”, resistindo “a uma crise pandémica nunca antes vista e com repercussões desastrosas na saúde da humanidade”. “O SNS é a porta aberta do sistema. Trabalhar no SNS é uma nobre missão. O SNS que tem servido todas e todos continuará sempre a manter e a respeitar o seu propósito.” “Nós, município de Arruda dos Vinhos, estaremos como sempre na linha da frente para que a resposta, no que à saúde das pessoas diz respeito, não seja um problema. A gestão pode ser diferente, mas isso não quer dizer que se manifeste e tenha repercussões negativas na missão de servir com qualidade assistencial as pessoas. Se a aposta continuar a ser nos recursos humanos qualificados e diferenciados, com equipas estáveis que saibam articular e integrar os cuidados de saúde, continuaremos a missão de servir em prol da população”.
Contactado o presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Fernando Paulo Ferreira, é nos dito através do seu gabinete de imprensa que “embora não se trate de uma competência municipal, a autarquia estará disponível para colaborar no estabelecimento de ligações entre a administração do hospital e o Governo, contribuindo no que estiver ao seu alcance para a melhoria do serviço de saúde que é prestado aos cidadãos”. Já houve uma reunião com o conselho de administração por parte do município, mas não são adiantadas mais informações.
À nossa redação chegou um comunicado do PSD de Vila Franca de Xira, no qual aquela força política relembra a qualidade dos serviços clínicos prestados durante a gestão da PPP, bem como as poupanças que permitiu alcançar ao Estado na ordem dos 30 milhões de euros segundo o Tribunal de Contas.
“Infelizmente, o tempo deu-nos razão”, refere a concelhia laranja exortando ao mesmo tempo o novo presidente da Câmara de Vila Franca a exigir medidas do Governo, porque “os problemas não se resolvem com proclamações eloquentes”.
Hospital precisa de cerca de 20 médicos
Nos cinco concelhos adstritos ao Hospital de Vila Franca de Xira, os diferentes autarcas expressaram a sua preocupação ao Valor Local. Carlos Coutinho, presidente da Câmara de Benavente, contou em detalhe à nossa reportagem aquilo que teve oportunidade de transmitir e também de ouvir por parte de Carlos Andrade.
Foi ainda em 2019, que se iniciou a debandada em massa de clínicos deste hospital, assim que o Governo anunciou que a PPP não seria renovada, e que o caminho passava pelo regresso ao setor público. A administração refere que saíram algumas dezenas desde essa altura. O autarca especifica que a grande maioria saiu antes do fim da PPP. Foi adiantado ainda que se procedeu à contratação de técnicos nomeadamente para o setor das análises bem como a compra de equipamentos em falta.
Coutinho ficou a saber que foram lançados concursos para o preenchimento de vagas mas que ficaram desertos, nomeadamente, na Medicina Interna, uma das áreas mais carenciadas neste momento. “Nenhuma vaga foi preenchida, mas a administração diz que está a fazer todos os esforços”, refere o presidente da Câmara, que se mostra preocupado também com a falta de espaço que a unidade apresenta face às exigências e ao número de população servida, sendo necessária a sua ampliação a todos os níveis, sobretudo desde que ficou conhecida a acomodação de doentes num local que já serviu de garagem e que ainda hoje permanece.
Esta administração não tem a mesma facilidade de contratação de médicos face a uma série de requisitos aos quais o Grupo Mello não estava obrigado, “contudo pode recorrer à mobilidade com o regresso ao público, o que antes não existia”.
Coutinho acredita que é hora de os presidentes de Câmara “se juntarem e ajudarem em tudo o que puderem pela qualidade dos serviços no hospital, até porque encontrei uma administração empenhada e firme em resolver os problemas”. Para estabilizar o quadro clínico seria necessário contratar mais 20 médicos. Coutinho defende que o caminho do setor público é o adequado, mas há que existir maior celeridade.
Também o presidente da Câmara de Alenquer, Pedro Folgado, exprime a sua preocupação à nossa reportagem. O autarca lamenta que este dossier que tinha conhecido sempre uma grande estabilidade se tenha tornado instável. Ainda não se reuniu com a administração embora esteja a procurar fazê-lo a curto prazo. O presidente da Câmara refere que já começou a ouvir informalmente queixas por parte dos munícipes em relação ao hospital. “Quererei saber junto da administração qual a estratégia para se ultrapassarem estes constrangimentos de que se fala”. Na reunião que teve com a ministra da Saúde, Marta Temido, em véspera de eleições não abordou o tema do hospital “porque nessa altura ainda não se falava tanto destes problemas”.
Quanto à possibilidade de o Estado lançar nova PPP, Folgado expressa que “como estava, estava bem, mas fizeram-se compromissos à esquerda, e para se fazer uma nova parceria público privada o compromisso político tem de acabar, caso contrário é difícil, mas é tudo muito nebuloso porque nem se sabe se vamos ou não para eleições nesta altura”.
Já o presidente da Câmara de Azambuja, Silvino Lúcio vai mais longe e não tem dúvidas que o Governo deve começar a ponderar em lançar uma nova parceria público privada. No início deste ano, o novo presidente da autarquia esteve internado na ala de psiquiatria cerca de um mês, ainda sob gestão da PPP, e não tem dúvidas em catalogar o serviço como excelente. Diz que já ouviu muitas queixas por parte da população de que “as coisas não andam bem no hospital”.
“Estive 22 dias internado no hospital, e na minha opinião os bons exemplos da gestão privada deveriam continuar, porque a coisa pública por vezes não funciona. Não sei se com esta gestão não estamos a caminhar para algo preocupante”. Silvino Lúcio pretende falar em breve com a administração para se “inteirar do problema”.
O autarca lamenta o estado a que tudo chegou e lembra-se dos tempos da parceria quando até “ajudas técnicas e apoios financeiros davam às instituições do nosso concelho como foi o caso da Cerci e da Casa Mãe”. Silvino Lúcio exprime – “Foi uma grande pena não terem continuado porque ajudaram muito, e também era bom para os próprios profissionais de saúde, porque a gestão era mais rigorosa, e agora não corre bem”. Pelo que considera que “não é descabido pensar-se numa nova PPP”.
Para a vereadora da Saúde na Câmara de Arruda dos Vinhos, Carla Munhoz, o estado de coisas no hospital não pode ser atribuído a esta nova administração e fala numa “situação herdada”, em que “as equipas, para além de deficitárias, eram prestadoras eventuais de serviços, o que leva a uma constante instabilidade na resposta em cuidados de saúde à população”. “Consideramos que, num momento de transição de gestão, nada alterou o paradigma do passado recente, por enquanto”. Contudo refere que o município está atento e preocupado com a situação atual no hospital.
Refere a vereadora, que já houve reuniões com o novo conselho de administração. Entre outros temas foram abordadas preocupações na área da oncologia, quer médica quer cirúrgica, face aos possíveis atrasos devido ao confinamento.
Quanto à questão do possível lançamento de uma nova PPP, a a vereadora da Saúde, defende acerrimamente o setor público, porque “o SNS demonstrou a sua maturidade robusta”, resistindo “a uma crise pandémica nunca antes vista e com repercussões desastrosas na saúde da humanidade”. “O SNS é a porta aberta do sistema. Trabalhar no SNS é uma nobre missão. O SNS que tem servido todas e todos continuará sempre a manter e a respeitar o seu propósito.” “Nós, município de Arruda dos Vinhos, estaremos como sempre na linha da frente para que a resposta, no que à saúde das pessoas diz respeito, não seja um problema. A gestão pode ser diferente, mas isso não quer dizer que se manifeste e tenha repercussões negativas na missão de servir com qualidade assistencial as pessoas. Se a aposta continuar a ser nos recursos humanos qualificados e diferenciados, com equipas estáveis que saibam articular e integrar os cuidados de saúde, continuaremos a missão de servir em prol da população”.
Contactado o presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Fernando Paulo Ferreira, é nos dito através do seu gabinete de imprensa que “embora não se trate de uma competência municipal, a autarquia estará disponível para colaborar no estabelecimento de ligações entre a administração do hospital e o Governo, contribuindo no que estiver ao seu alcance para a melhoria do serviço de saúde que é prestado aos cidadãos”. Já houve uma reunião com o conselho de administração por parte do município, mas não são adiantadas mais informações.
À nossa redação chegou um comunicado do PSD de Vila Franca de Xira, no qual aquela força política relembra a qualidade dos serviços clínicos prestados durante a gestão da PPP, bem como as poupanças que permitiu alcançar ao Estado na ordem dos 30 milhões de euros segundo o Tribunal de Contas.
“Infelizmente, o tempo deu-nos razão”, refere a concelhia laranja exortando ao mesmo tempo o novo presidente da Câmara de Vila Franca a exigir medidas do Governo, porque “os problemas não se resolvem com proclamações eloquentes”.

Conselho de administração reage às críticas
Em resposta ao Valor Local e a começar pela escassez de clínico, o novo conselho de administração do Hospital de Vila Franca de Xira esclarece que desde o início de funções a 1 de junho de 2021, saíram do Hospital de Vila Franca de Xira EPE, quatro médicos, dois por reforma e os restantes dois, da especialidade de Medicina Interna, cuja saída já estava prevista, recusando assim a ideia de que a maioria dos clínicos apenas saiu após aquela data.
Detalha ainda, em declarações por escrito ao nosso jornal, que dos profissionais que se reformaram, “uma já formalizou o pedido de voltar para o serviço e outra está a ponderar, havendo a expectativa de que esta também regresse ao hospital”.
Recentemente entraram três novos especialistas, Pediatria, Cirurgia Geral e Nefrologia, “e espera-se que até ao final do ano entrem mais”. Existem ainda duas vagas por preencher no serviço de Medicina Interna, uma vaga para o serviço de Pediatria e outra para o serviço de Cardiologia, que decorrem dos concursos nacionais de colocação de jovens especialistas, num total de oito vagas atribuídas pelo Ministério da Saúde.
Por outro lado, refere que desde o dia um de junho já foram contratados cerca de 23 enfermeiros, quer em novos contratos, quer em contratos de substituição de ausência prolongada, como por exemplo parto/licença de maternidade.
Diz ainda a nova administração que desde o início de funções, em junho, que estão já em curso investimentos em equipamentos em vários serviços no valor superior a 400 mil euros.
A administração foi ainda questionada sobre os tempos de espera na urgência, dado que o Valor Local apurou que nesta altura aumentaram substancialmente segundo fonte hospitalar ouvida pelo nosso jornal – “Antigamente quem tinha pulseira verde, conseguia esperar, nos piores dias, sete ou oito horas e não ir embora. Agora o tempo de espera ultrapassa as 12 a 13 horas e as pessoas acabam por desistir”.
Contudo, segundo a administração, os tempos de espera “são muito voláteis”, e argumenta que não são diferentes daquilo que eram antes, apesar de termos apurado o contrário.
Refere ainda o hospital que tem tentado colmatar as carências com a contratação de mais técnicos, nomeadamente, de Patologia Clínica, o que permitiu, também, “uma mais célere fluidez em todo o processo de processamento de análises neste serviço”. A contratação destes sete técnicos e a substituição já iniciada de algum dos equipamentos de processamento de análises clínicas permite “uma resposta mais rápida de resultados e, ainda, deixar de enviar para outras entidades algumas das análises dos doentes. Diminuindo-se, em muito, o tempo de resposta dos respetivos resultados”, considera o hospital face às críticas.
O hospital fornece ainda dados quanto à cirurgia programada, “que se pratica sete dias por semana, incluindo o domingo”. “Tendo este conselho de administração reforçado os programas de cirurgia adicional. No passado mês de setembro ultrapassaram-se as 1000 cirurgias. O que traduz uma muito expressiva dinâmica na atividade cirúrgica. Também o passado dia 18 de outubro foi o dia de 2021 em que se realizaram mais consultas externas num só dia”.
Quanto à aquisição de novos equipamentos, o Hospital de Vila Franca de Xira está a intensificar o seu plano de investimento, “tendo já sinalizado, até antes do início em funções, a necessidade de substituir os equipamentos de TAC e de Ressonância Magnética”.
Cruz Vermelha de Aveiras de Cima queixa-se de atrasos nos pagamentos
Pedro Vieira, coordenador da Cruz Vermelha de Aveiras de Cima, relata que ouve por parte dos utentes mais queixas, desde que o hospital passou para o setor público, de atrasos nas consultas, o que acaba por transtornar também as escalas e a programação do trabalho daquela força de socorro. Este é um quadro que piorou. No pico da pandemia, as consultas não sofriam tantos atrasos e antes também não. “Penso que no tempo da PPP funcionava melhor”. Mas a CVP queixa-se ainda de pagamentos em atraso nos serviços, em comparação com o Grupo Mello.
Pedro Vieira reclama também da retenção de macas nas urgências. Chegaram a estar à espera três horas pela devolução de uma maca, “porque têm escassez de macas e de camas”. Já no tempo da PPP era diferente: “Apenas aconteceu uma vez ou outra durante a pandemia. Antes, isso praticamente nunca ocorreu”. O responsável não consegue atribuir uma causa a este tipo de questão, mas refere que ainda “no passado sábado estivemos duas horas à espera de uma maca”.
Quanto aos pagamentos, Pedro Vieira salienta que os atrasos nos pagamentos já são evidentes. Desde que a gestão pública iniciou funções a um de junho, a associação apenas “recebeu o pagamento de junho em setembro”, faltando nesta altura os seguintes meses. Durante a anterior gestão, os pagamentos eram feitos de forma mais atempada. “Esta situação está a pesar embora não deixemos de continuar a trabalhar com o Hospital de Vila Franca”. A CVP colabora com mais hospitais públicos mas sem registo de grandes atrasos. “Não sei se é porque começaram a trabalhar há pouco tempo naquelas funções”.
Sobre estas matérias, é nos dito pelo conselho de administração que desconhece “qualquer pagamento em atraso às corporações de bombeiros, ou outras”, sendo que as faturas têm uma tramitação necessária nas entidades públicas, através do serviço financeiro.
Cumpridas as tramitações de verificação das faturas em termos contabilísticos e financeiros, “o hospital faz o pagamento, como tem estado a fazer”. Tendo já pago por trabalho realizado desde um de junho último, mais de 70 mil euros, encontrando-se em conferência para pagamento um valor residual de faturação emitida.
O Conselho de Administração diz ainda que não tem conhecimento de qualquer retenção de macas nas últimas semanas. “Contudo, há períodos em que a maca pode ter um tempo de retorno maior por força da pressão dos serviços de urgência. Mas isso acontecia no passado e, pontualmente, poderá acontecer agora”, é referido perante as nossas questões.
Já os Bombeiros de Azambuja não notam grandes diferenças no atendimento das urgências do Hospital de Vila Franca de Xira, desde que passou para a gestão pública.
Ricardo Correia, comandante dos soldados da paz, sublinha que tem existido alguma retenção das ambulâncias, por falta de macas, mas sustenta que não sabe se o facto está diretamente relacionado com a mudança de gestão, no entanto ressalva que tem sido mais frequente nos últimos dias.
Aliás a retenção de macas tem sido uma dor de cabeça de todas as corporações, não só na região servida pelo Hospital de Vila Franca, como em todo o país, dado que muitos hospitais não têm recursos, ou seja, camas disponíveis que evitem que as macas onde chegam os doentes sejam utilizadas.
Em entrevista ao Valor Local, Ricardo Correia diz que nos últimos dias “a administração do hospital tem feito um esforço” para ter camas disponíveis, algo que agradece “porque assim deixamos o doente mais rapidamente ao cuidado do hospital” e podem depois partir para uma nova chamada.
Ricardo Correia destaca que os bombeiros trabalham com o hospital noutras áreas e aí sim, sente alguns constrangimentos, algo que considera normal, fruto da mudança de gestão e das pessoas noutros serviços.
Ricardo Correia afirma que nesta altura “ninguém tem dados suficientes para afirmar que o hospital está melhor ou pior”, alertando para a fase “crítica” que é a da gripe sazonal e que leva muitas pessoas tradicionalmente às urgências.
Neste campo, o comandante dos bombeiros, considera que está expectante para ver a capacidade de resposta, tanto de meios humanos, como de material, do hospital agora sob a esfera pública.
Em resposta ao Valor Local e a começar pela escassez de clínico, o novo conselho de administração do Hospital de Vila Franca de Xira esclarece que desde o início de funções a 1 de junho de 2021, saíram do Hospital de Vila Franca de Xira EPE, quatro médicos, dois por reforma e os restantes dois, da especialidade de Medicina Interna, cuja saída já estava prevista, recusando assim a ideia de que a maioria dos clínicos apenas saiu após aquela data.
Detalha ainda, em declarações por escrito ao nosso jornal, que dos profissionais que se reformaram, “uma já formalizou o pedido de voltar para o serviço e outra está a ponderar, havendo a expectativa de que esta também regresse ao hospital”.
Recentemente entraram três novos especialistas, Pediatria, Cirurgia Geral e Nefrologia, “e espera-se que até ao final do ano entrem mais”. Existem ainda duas vagas por preencher no serviço de Medicina Interna, uma vaga para o serviço de Pediatria e outra para o serviço de Cardiologia, que decorrem dos concursos nacionais de colocação de jovens especialistas, num total de oito vagas atribuídas pelo Ministério da Saúde.
Por outro lado, refere que desde o dia um de junho já foram contratados cerca de 23 enfermeiros, quer em novos contratos, quer em contratos de substituição de ausência prolongada, como por exemplo parto/licença de maternidade.
Diz ainda a nova administração que desde o início de funções, em junho, que estão já em curso investimentos em equipamentos em vários serviços no valor superior a 400 mil euros.
A administração foi ainda questionada sobre os tempos de espera na urgência, dado que o Valor Local apurou que nesta altura aumentaram substancialmente segundo fonte hospitalar ouvida pelo nosso jornal – “Antigamente quem tinha pulseira verde, conseguia esperar, nos piores dias, sete ou oito horas e não ir embora. Agora o tempo de espera ultrapassa as 12 a 13 horas e as pessoas acabam por desistir”.
Contudo, segundo a administração, os tempos de espera “são muito voláteis”, e argumenta que não são diferentes daquilo que eram antes, apesar de termos apurado o contrário.
Refere ainda o hospital que tem tentado colmatar as carências com a contratação de mais técnicos, nomeadamente, de Patologia Clínica, o que permitiu, também, “uma mais célere fluidez em todo o processo de processamento de análises neste serviço”. A contratação destes sete técnicos e a substituição já iniciada de algum dos equipamentos de processamento de análises clínicas permite “uma resposta mais rápida de resultados e, ainda, deixar de enviar para outras entidades algumas das análises dos doentes. Diminuindo-se, em muito, o tempo de resposta dos respetivos resultados”, considera o hospital face às críticas.
O hospital fornece ainda dados quanto à cirurgia programada, “que se pratica sete dias por semana, incluindo o domingo”. “Tendo este conselho de administração reforçado os programas de cirurgia adicional. No passado mês de setembro ultrapassaram-se as 1000 cirurgias. O que traduz uma muito expressiva dinâmica na atividade cirúrgica. Também o passado dia 18 de outubro foi o dia de 2021 em que se realizaram mais consultas externas num só dia”.
Quanto à aquisição de novos equipamentos, o Hospital de Vila Franca de Xira está a intensificar o seu plano de investimento, “tendo já sinalizado, até antes do início em funções, a necessidade de substituir os equipamentos de TAC e de Ressonância Magnética”.
Cruz Vermelha de Aveiras de Cima queixa-se de atrasos nos pagamentos
Pedro Vieira, coordenador da Cruz Vermelha de Aveiras de Cima, relata que ouve por parte dos utentes mais queixas, desde que o hospital passou para o setor público, de atrasos nas consultas, o que acaba por transtornar também as escalas e a programação do trabalho daquela força de socorro. Este é um quadro que piorou. No pico da pandemia, as consultas não sofriam tantos atrasos e antes também não. “Penso que no tempo da PPP funcionava melhor”. Mas a CVP queixa-se ainda de pagamentos em atraso nos serviços, em comparação com o Grupo Mello.
Pedro Vieira reclama também da retenção de macas nas urgências. Chegaram a estar à espera três horas pela devolução de uma maca, “porque têm escassez de macas e de camas”. Já no tempo da PPP era diferente: “Apenas aconteceu uma vez ou outra durante a pandemia. Antes, isso praticamente nunca ocorreu”. O responsável não consegue atribuir uma causa a este tipo de questão, mas refere que ainda “no passado sábado estivemos duas horas à espera de uma maca”.
Quanto aos pagamentos, Pedro Vieira salienta que os atrasos nos pagamentos já são evidentes. Desde que a gestão pública iniciou funções a um de junho, a associação apenas “recebeu o pagamento de junho em setembro”, faltando nesta altura os seguintes meses. Durante a anterior gestão, os pagamentos eram feitos de forma mais atempada. “Esta situação está a pesar embora não deixemos de continuar a trabalhar com o Hospital de Vila Franca”. A CVP colabora com mais hospitais públicos mas sem registo de grandes atrasos. “Não sei se é porque começaram a trabalhar há pouco tempo naquelas funções”.
Sobre estas matérias, é nos dito pelo conselho de administração que desconhece “qualquer pagamento em atraso às corporações de bombeiros, ou outras”, sendo que as faturas têm uma tramitação necessária nas entidades públicas, através do serviço financeiro.
Cumpridas as tramitações de verificação das faturas em termos contabilísticos e financeiros, “o hospital faz o pagamento, como tem estado a fazer”. Tendo já pago por trabalho realizado desde um de junho último, mais de 70 mil euros, encontrando-se em conferência para pagamento um valor residual de faturação emitida.
O Conselho de Administração diz ainda que não tem conhecimento de qualquer retenção de macas nas últimas semanas. “Contudo, há períodos em que a maca pode ter um tempo de retorno maior por força da pressão dos serviços de urgência. Mas isso acontecia no passado e, pontualmente, poderá acontecer agora”, é referido perante as nossas questões.
Já os Bombeiros de Azambuja não notam grandes diferenças no atendimento das urgências do Hospital de Vila Franca de Xira, desde que passou para a gestão pública.
Ricardo Correia, comandante dos soldados da paz, sublinha que tem existido alguma retenção das ambulâncias, por falta de macas, mas sustenta que não sabe se o facto está diretamente relacionado com a mudança de gestão, no entanto ressalva que tem sido mais frequente nos últimos dias.
Aliás a retenção de macas tem sido uma dor de cabeça de todas as corporações, não só na região servida pelo Hospital de Vila Franca, como em todo o país, dado que muitos hospitais não têm recursos, ou seja, camas disponíveis que evitem que as macas onde chegam os doentes sejam utilizadas.
Em entrevista ao Valor Local, Ricardo Correia diz que nos últimos dias “a administração do hospital tem feito um esforço” para ter camas disponíveis, algo que agradece “porque assim deixamos o doente mais rapidamente ao cuidado do hospital” e podem depois partir para uma nova chamada.
Ricardo Correia destaca que os bombeiros trabalham com o hospital noutras áreas e aí sim, sente alguns constrangimentos, algo que considera normal, fruto da mudança de gestão e das pessoas noutros serviços.
Ricardo Correia afirma que nesta altura “ninguém tem dados suficientes para afirmar que o hospital está melhor ou pior”, alertando para a fase “crítica” que é a da gripe sazonal e que leva muitas pessoas tradicionalmente às urgências.
Neste campo, o comandante dos bombeiros, considera que está expectante para ver a capacidade de resposta, tanto de meios humanos, como de material, do hospital agora sob a esfera pública.