25 de Abril - Quarenta e um anos depois
Por Joaquim Ramos
Hoje dei por mim a reparar que o 25 de Abril é mais velho que a minha filha mais velha. E tal como faço com tantas etapas da minha vida, decidi fazer um balanço do que efectivamente mudou na sociedade portuguesa ao longo destes quarenta e um anos. Acho saudável que por vezes se façam estes exercícios de avaliação não só de nós próprios mas também da comunidade onde nos inserimos, seja ela um país, um município ou uma família.
Eu diria que nestas quatro décadas, Portugal evoluiu de forma notável em três campos : no plano material e nos reflexos que essa evolução teve na qualidade de vida dos portugueses, nos direitos inerentes à democracia e no reconhecimento do papel de Portugal e dos Portugueses no Mundo.
A evolução no plano material foi notória. Não há praticamente família portuguesa que não tenha toda uma bateria de electrodomésticos, carros, televisões, computadores; todo um conjunto de bens que se foram democratizando mas que no princípio da década de setenta ou ninguém tinha – caso óbvio dos computadores – ou eram detidos por uma minoria que a eles tinha acesso. Hoje, cerca de oitenta por cento dos portugueses têm casa própria e muitos segunda habitação. Hoje as situações de fome, embora conjunturalmente dramáticas, não são generalizadas como no tempo da ditadura. Hoje, duma maneira geral, toda a gente tem acesso à saúde, à educação, à justiça, à protecção social, a um mês de férias. E é preciso lembrá-lo para que a memória não seja curta e para que se não crie o ambiente que, por exemplo, permitiu qualificar Salazar como o mais distinto dos portugueses…
Notória também foi a revolução ao nível dos costumes e das práticas sociais permitida pela Democracia. Podemos optar. Optar em diversas facetas da nossa humanidade : política, religiosa, sexual, profissional. Podemos discordar, protestar, militar, escolher, reunir, conspirar – coisas que, antes da restauração da democracia, a acontecerem, davam pelo menos direito `a António Maria Cardoso (sede da PIDE, onde hoje se ergue um condomínio de luxo…) ou a Caxias. É verdade, sim, jovens que não viveram esse tempo. Protestar, reunir, discordar, davam direito a perda de emprego, exclusão social e, muitas vezes, prisão!
Como Nação, importante foi também para nós o reconhecimento mundial de Portugal. Do nosso passado, como o povo que deu a conhecer novos mundos ao Mundo. Do nosso presente, como Nação que foi capaz de resistir e enfrentar várias formas de ditadura, concretas ou tentadas; como berço de tantas pessoas que nas artes, na ciência, na política internacional desempenharam ou desempenham papéis de notoriedade mundial. Do nosso futuro, como espaço de tolerância e liberdade a todos os níveis, plataforma de encontro de continentes, terra de convivência e miscigenação de raças e culturas.
E ao nível das referências e dos valores? Aí, lamento dizê-lo, mas estes quarenta anos assistiram a uma queda abissal dos valores que nos regiam e das nossas referências enquanto Nação. Perdemos a noção de qualidade e de honra, e avaliamos as pessoas e os seus actos não em função do seu valor intrínseco mas sim da sua proveniência: uma pessoa ou uma coisa é boa se é da nossa ideologia política ou religiosa, da nossa família ou do nosso círculo de amigos. Daí que a mesmíssima coisa possa ser boa ou má – depende da proveniência. Deixámo-nos progressivamente ir sendo governados por gente que desconhece em absoluto a vida real, do homem comum, porque toda a sua carreira foi política, desde as juventudes partidárias até aos partidos dos crescidos, e não sabe fazer outra coisa. Por isso temos uma classe política que se autoflagela, legalmente mal paga, subserviente e respeitadora do chefe porque se perde o “ emprego “ fica irremediavelmente desempregada. Deixámos que a intriga, o boato, a acusação anónima, o superficial, tomasse conta da nossa vida política e social. Fazemos a vida negra, por inveja, a quem sobressai da mediocridade generalizada em qualquer campo, seja ele artístico, político ou empresarial. E depois ficamos muito admirados que os nossos grandes artistas, filósofos, médicos, arquitectos se estabeleçam nos países que os acarinham, que os nossos empresários se deslocalizem e que os mais capazes fujam da política como o diabo da cruz. Quem quer hoje a responsabilidade dum cargo executivo em Portugal ?
Por isso eu acho que nesta dicotomia programática que se antevê para as próximas eleições e que vai opor a estafada e malfadada austeridade do PSD/CDS ao crescimento do PS, há uma terceira via que tem que constar do programa de qualquer partido como prioridade absoluta : devolver aos Portugueses os valores e as referências inerentes ao facto de sermos a Nação mais antiga da Europa. Sem isso, nada resultará!
25-04-2015
Por Joaquim Ramos
Hoje dei por mim a reparar que o 25 de Abril é mais velho que a minha filha mais velha. E tal como faço com tantas etapas da minha vida, decidi fazer um balanço do que efectivamente mudou na sociedade portuguesa ao longo destes quarenta e um anos. Acho saudável que por vezes se façam estes exercícios de avaliação não só de nós próprios mas também da comunidade onde nos inserimos, seja ela um país, um município ou uma família.
Eu diria que nestas quatro décadas, Portugal evoluiu de forma notável em três campos : no plano material e nos reflexos que essa evolução teve na qualidade de vida dos portugueses, nos direitos inerentes à democracia e no reconhecimento do papel de Portugal e dos Portugueses no Mundo.
A evolução no plano material foi notória. Não há praticamente família portuguesa que não tenha toda uma bateria de electrodomésticos, carros, televisões, computadores; todo um conjunto de bens que se foram democratizando mas que no princípio da década de setenta ou ninguém tinha – caso óbvio dos computadores – ou eram detidos por uma minoria que a eles tinha acesso. Hoje, cerca de oitenta por cento dos portugueses têm casa própria e muitos segunda habitação. Hoje as situações de fome, embora conjunturalmente dramáticas, não são generalizadas como no tempo da ditadura. Hoje, duma maneira geral, toda a gente tem acesso à saúde, à educação, à justiça, à protecção social, a um mês de férias. E é preciso lembrá-lo para que a memória não seja curta e para que se não crie o ambiente que, por exemplo, permitiu qualificar Salazar como o mais distinto dos portugueses…
Notória também foi a revolução ao nível dos costumes e das práticas sociais permitida pela Democracia. Podemos optar. Optar em diversas facetas da nossa humanidade : política, religiosa, sexual, profissional. Podemos discordar, protestar, militar, escolher, reunir, conspirar – coisas que, antes da restauração da democracia, a acontecerem, davam pelo menos direito `a António Maria Cardoso (sede da PIDE, onde hoje se ergue um condomínio de luxo…) ou a Caxias. É verdade, sim, jovens que não viveram esse tempo. Protestar, reunir, discordar, davam direito a perda de emprego, exclusão social e, muitas vezes, prisão!
Como Nação, importante foi também para nós o reconhecimento mundial de Portugal. Do nosso passado, como o povo que deu a conhecer novos mundos ao Mundo. Do nosso presente, como Nação que foi capaz de resistir e enfrentar várias formas de ditadura, concretas ou tentadas; como berço de tantas pessoas que nas artes, na ciência, na política internacional desempenharam ou desempenham papéis de notoriedade mundial. Do nosso futuro, como espaço de tolerância e liberdade a todos os níveis, plataforma de encontro de continentes, terra de convivência e miscigenação de raças e culturas.
E ao nível das referências e dos valores? Aí, lamento dizê-lo, mas estes quarenta anos assistiram a uma queda abissal dos valores que nos regiam e das nossas referências enquanto Nação. Perdemos a noção de qualidade e de honra, e avaliamos as pessoas e os seus actos não em função do seu valor intrínseco mas sim da sua proveniência: uma pessoa ou uma coisa é boa se é da nossa ideologia política ou religiosa, da nossa família ou do nosso círculo de amigos. Daí que a mesmíssima coisa possa ser boa ou má – depende da proveniência. Deixámo-nos progressivamente ir sendo governados por gente que desconhece em absoluto a vida real, do homem comum, porque toda a sua carreira foi política, desde as juventudes partidárias até aos partidos dos crescidos, e não sabe fazer outra coisa. Por isso temos uma classe política que se autoflagela, legalmente mal paga, subserviente e respeitadora do chefe porque se perde o “ emprego “ fica irremediavelmente desempregada. Deixámos que a intriga, o boato, a acusação anónima, o superficial, tomasse conta da nossa vida política e social. Fazemos a vida negra, por inveja, a quem sobressai da mediocridade generalizada em qualquer campo, seja ele artístico, político ou empresarial. E depois ficamos muito admirados que os nossos grandes artistas, filósofos, médicos, arquitectos se estabeleçam nos países que os acarinham, que os nossos empresários se deslocalizem e que os mais capazes fujam da política como o diabo da cruz. Quem quer hoje a responsabilidade dum cargo executivo em Portugal ?
Por isso eu acho que nesta dicotomia programática que se antevê para as próximas eleições e que vai opor a estafada e malfadada austeridade do PSD/CDS ao crescimento do PS, há uma terceira via que tem que constar do programa de qualquer partido como prioridade absoluta : devolver aos Portugueses os valores e as referências inerentes ao facto de sermos a Nação mais antiga da Europa. Sem isso, nada resultará!
25-04-2015
Comentários
A
evolução:
https://www.youtube.com/watch?v=Ve-_GhoEmzE
Os Portugueses mais ricos:
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=4430258
Na verdade os Portugueses esperavam muito mais do 25 de Abril, do que consumir electrodomésticos.
Na verdade os Portugueses esperavam que a imigração tivesse acabado, tornando-se um País jovem auto sustentável; deu-se o contrário, a redução de filhos e a imigração está dando origem a um País de velhos. Porquê?
Carlos Braz
26-4-2015
https://www.youtube.com/watch?v=Ve-_GhoEmzE
Os Portugueses mais ricos:
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=4430258
Na verdade os Portugueses esperavam muito mais do 25 de Abril, do que consumir electrodomésticos.
Na verdade os Portugueses esperavam que a imigração tivesse acabado, tornando-se um País jovem auto sustentável; deu-se o contrário, a redução de filhos e a imigração está dando origem a um País de velhos. Porquê?
Carlos Braz
26-4-2015