"O político humanista vs o eleito tecnocrata "
Opinião Carlos Granadas:
(eleito Assembleia Municipal Alenquer pelo PS) 31-10-2016 às 21:37
O convite do Miguel Rodrigues, para escrever estas linhas, tem como ponto de partida uma visão sobre a atualidade nacional e local, numa análise que apesar de sempre politizada, pretende ser coerente e um contributo para a reflexão de todos e todas em torno da política e do papel dos políticos na nossa vida quotidiana.
Humildade e Gratidão: António Guterres, um socialista e democrata-cristão nas Nações Unidas António Guterres, enquanto político, foi responsável por medidas pioneiras e inovadoras que marcam indelevelmente a sociedade portuguesa dos nossos dias, como sejam o ensino pré-escolar garantido pelo Estado, o reforço do Serviço Nacional de Saúde, as políticas para a terceira idade, o combate à pobreza com um programa de erradicação de barracas e a criação do Rendimento Mínimo Garantido ou a assunção do combate à toxicodependência enquanto questão de saúde pública. Apenas alguns exemplos de problemas que encontrou na sociedade portuguesa da década de 90, abordando todos de forma analítica e estratégica pois, um princípio básico das políticas públicas, seja ao nível nacional ou local, é de que os políticos que executam a política através dos seus cargos e servem para resolver os problemas e desafios da sua comunidade. Um perfil construtivo e sempre dialogante, permitiu a Guterres construir ao longo da sua carreira política, as pontes necessárias para resolver problemas, sem ter a necessidade de chamar a si os louros dos resultados obtidos, pois muitos deles não foram imediatos e levaram o seu tempo a maturar. Um exemplo a seguir por todos, mas que alguns (poucos) já seguem. Os Planos Estratégicos de Desenvolvimento Urbano e os investimentos comunitários: um desafio local Num tempo em que as câmaras municipais, são chamadas a responder a cada vez mais desafios, desde novas competências à tão esperada descentralização real, chegámos a um momento crítico do nosso futuro enquanto comunidade local e, assim, algumas autarquias ganharam a capacidade para definir as prioridades estratégicas do seu território e, desta forma, acederem a fundos comunitários para investimento público até 2020. O problema vem a seguir, pois a forma de definir a prioridade estratégica pode ser feita de duas maneiras. A mais fácil é a maneira tecnocrata, que se fecha sobre si mesma, blindada por regulamentos, legislação, constrangimentos de tutelas, opiniões técnicas e que, por fim, acaba por se isolar e tomar decisões que quando anunciadas publicamente parecem incompreensíveis e dotadas de pouco sentido racional, ainda que sejam difíceis de pôr em causa tecnicamente. A segunda forma, aquela que defendo e que tem uma relação direta com a primeira parte do texto, é a forma humanista, que se materializa através do diálogo, sem fugir ao debate e ao confronto de ideias, na capacidade para dar espaço e oportunidades a todos e a todas para pensarmos juntos o futuro do nosso território e criar as pontes para o consenso, ainda que, por vezes, os interesses pareçam antagónicos e inconciliáveis. Num tempo em que o alheamento e abstenção sobre a coisa pública é um sintoma grave da fragilidade do sistema político representativo, estamos a perder uma oportunidade de ouro para pensar em conjunto o nosso futuro. E não são precisos orçamentos participativos, nem consultores externos, nem plataformas inovadoras e empreendedoras, nem estudos para planos estratégicos, podendo estes existir. O essencial é ser Humilde para reconhecer que não sabemos tudo e mostrar alguma Gratidão a todos aqueles que confiam o seu voto aos eleitos locais de quatro em quatro anos.
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