"Dois Conceitos de Ambiente"
Por: Joaquim Ramos
24-02-2016
Há, em Portugal, uma tremenda confusão sobre o conteúdo e as metodologias daquilo a que se estabeleceu chamar “ defesa e preservação do ambiente “. Conceito que tem sido quase exclusivamente utilizado como pretexto para o objectivo fundamental da administração pública portuguesa : impedir qualquer processo de desenvolvimento, boicotar qualquer iniciativa ou projecto, pela chatice que uma eventual aprovação comporta em termos futuros e pelo “ cagaço “ do que a Comunicação Social e a opinião pública dirão, em tempos de extremismos ecológicos.
E, no entanto, os conceitos de ambiente e de desenvolvimento estão estritamente correlacionados. Porque há, de facto, dois tipos de preocupações ambientais. Um primeiro tipo abarca apenas o universo do ambiente natural, a natureza tal como foi criada ou evoluiu naturalmente, a fauna e a flora características dum determinado sistema, a qualidade do ar e da água e qualifica a beleza da paisagem pela ausência de intervenção humana. É o Ambiente versão passarinho, pegada de dinossauro e mosquito.
Esta é a chamada visão contemplativa e estática do conceito de Ambiente, da qual o Homem e as suas actividades são banidos, considerados intrusos e malfeitores. Para estes ambientalistas, preservar significa não fazer nem deixar fazer, proibir qualquer intervenção, manter os sistemas intocados, tal como eram no princípio da Criação.
É a visão da administração pública portuguesa, infiltrada por fundamentalistas ecológicos formados nas verdadeiras “ madrassas” que são as associações de defesa do ambiente tradicionais. Em meu entender, tem sido esta visão extremista e inflexível uma das principais causas da degradação ambiental a que temos assistido, ao longo de décadas, em diversas regiões do País. Apenas porque torna o campo fértil para a arbitrariedade e a subjectividade das decisões.
Mas há outra visão, que pouco a pouco vai ganhando espaço e que, espero, venha a constituir a corrente fundamental do pensamento ecológico. É uma filosofia que aborda o Ambiente como um sistema do qual o Homem, as suas actividades e necessidades, são uma componente fundamental – por consequência, é um conceito dinâmico, em permanente evolução e para o qual o objectivo supremo, em vez de deixar tudo intocado e imutável, é garantir que a inevitável evolução dos sistemas tem em atenção e respeita os múltiplos factores do conceito de Ambiente: a manutenção e melhoria da qualidade do ar e da água, potável ou não, doce ou salgada, a biodiversidade, o uso racional dos recursos naturais e das fontes de energia.
Mas tudo isto acompanhando as alterações necessárias determinadas pelo progresso e pela melhoria da qualidade de vida das pessoas, que são parte integrante de qualquer ambiente, urbano ou rural.
Para esta visão de equilíbrio ambiental, que considero ser a correcta, vir a ser dominante e a informar as decisões que se tomam aos mais diversos níveis da administração, é necessária uma profunda alteração na mentalidade dos respectivos agentes.
Sei do que estou a falar. Se a gestão ambiental fosse abordada duma forma sistémica e abrangente, seriam desnecessários os diversos processos PIN que proliferam por Portugal fora, e que têm sido responsáveis pelos maiores atentados ambientais cometidos no nosso País, quer na Costa quer no Interior.. Era simples : de acordo com um normativo racional, um projecto, mesmo alterando o ambiente local, garantia um saldo ambiental positivo e era aprovável; não o garantia e era liminarmente reprovado.
Sei do que estou a falar. A administração pública portuguesa gosta de rigidez e inflexibilidade porque elas geram a necessidade das excepções e a discricionariedade dos diversos poderes.
Sei do que estou a falar. Ao longo de décadas e, particularmente durante os anos em que fui Autarca, porque lidei quotidianamente com situações destas, assisti na nossa terra à degradação de vastas áreas do Concelho, particularmente do sistema hidrográfico do Tejo e da Lezíria, à conta das proibições e recusas de intervenção em nome do tal conceito estático e retrógado de defesa do Ambiente.
Por: Joaquim Ramos
24-02-2016
Há, em Portugal, uma tremenda confusão sobre o conteúdo e as metodologias daquilo a que se estabeleceu chamar “ defesa e preservação do ambiente “. Conceito que tem sido quase exclusivamente utilizado como pretexto para o objectivo fundamental da administração pública portuguesa : impedir qualquer processo de desenvolvimento, boicotar qualquer iniciativa ou projecto, pela chatice que uma eventual aprovação comporta em termos futuros e pelo “ cagaço “ do que a Comunicação Social e a opinião pública dirão, em tempos de extremismos ecológicos.
E, no entanto, os conceitos de ambiente e de desenvolvimento estão estritamente correlacionados. Porque há, de facto, dois tipos de preocupações ambientais. Um primeiro tipo abarca apenas o universo do ambiente natural, a natureza tal como foi criada ou evoluiu naturalmente, a fauna e a flora características dum determinado sistema, a qualidade do ar e da água e qualifica a beleza da paisagem pela ausência de intervenção humana. É o Ambiente versão passarinho, pegada de dinossauro e mosquito.
Esta é a chamada visão contemplativa e estática do conceito de Ambiente, da qual o Homem e as suas actividades são banidos, considerados intrusos e malfeitores. Para estes ambientalistas, preservar significa não fazer nem deixar fazer, proibir qualquer intervenção, manter os sistemas intocados, tal como eram no princípio da Criação.
É a visão da administração pública portuguesa, infiltrada por fundamentalistas ecológicos formados nas verdadeiras “ madrassas” que são as associações de defesa do ambiente tradicionais. Em meu entender, tem sido esta visão extremista e inflexível uma das principais causas da degradação ambiental a que temos assistido, ao longo de décadas, em diversas regiões do País. Apenas porque torna o campo fértil para a arbitrariedade e a subjectividade das decisões.
Mas há outra visão, que pouco a pouco vai ganhando espaço e que, espero, venha a constituir a corrente fundamental do pensamento ecológico. É uma filosofia que aborda o Ambiente como um sistema do qual o Homem, as suas actividades e necessidades, são uma componente fundamental – por consequência, é um conceito dinâmico, em permanente evolução e para o qual o objectivo supremo, em vez de deixar tudo intocado e imutável, é garantir que a inevitável evolução dos sistemas tem em atenção e respeita os múltiplos factores do conceito de Ambiente: a manutenção e melhoria da qualidade do ar e da água, potável ou não, doce ou salgada, a biodiversidade, o uso racional dos recursos naturais e das fontes de energia.
Mas tudo isto acompanhando as alterações necessárias determinadas pelo progresso e pela melhoria da qualidade de vida das pessoas, que são parte integrante de qualquer ambiente, urbano ou rural.
Para esta visão de equilíbrio ambiental, que considero ser a correcta, vir a ser dominante e a informar as decisões que se tomam aos mais diversos níveis da administração, é necessária uma profunda alteração na mentalidade dos respectivos agentes.
Sei do que estou a falar. Se a gestão ambiental fosse abordada duma forma sistémica e abrangente, seriam desnecessários os diversos processos PIN que proliferam por Portugal fora, e que têm sido responsáveis pelos maiores atentados ambientais cometidos no nosso País, quer na Costa quer no Interior.. Era simples : de acordo com um normativo racional, um projecto, mesmo alterando o ambiente local, garantia um saldo ambiental positivo e era aprovável; não o garantia e era liminarmente reprovado.
Sei do que estou a falar. A administração pública portuguesa gosta de rigidez e inflexibilidade porque elas geram a necessidade das excepções e a discricionariedade dos diversos poderes.
Sei do que estou a falar. Ao longo de décadas e, particularmente durante os anos em que fui Autarca, porque lidei quotidianamente com situações destas, assisti na nossa terra à degradação de vastas áreas do Concelho, particularmente do sistema hidrográfico do Tejo e da Lezíria, à conta das proibições e recusas de intervenção em nome do tal conceito estático e retrógado de defesa do Ambiente.
Comentários
Totalmente de acordo.
Esta é uma de entre muitas outras provas de que, cada vez mais, faz sentido a aplicação dos conceitos de design thinking à gestão do território e das cidades (nesta particular, à gestão autárquica e a interação desta com os seus stakeholders privados de referência).
Por outro lado, e no que aos territórios referidos compreende o artigo, nada a mim me impede que também o conceito de Smart City seja aplicado a Vilas ou Aldeias - seria, seguramente, um ganho civilizacional muito interessante.
Efetivamente, e porque, na minha opinião, a objetivação do conceito de Smart City varia consoante as características do território específico em que é aplicado e consoante o ecossistema social e económico ali apurado, o diktate referido no artigo deve vergar conquanto conflitue com o desenvolvimento – sustentado, sustentável – em prol das populações, afinal, desiderato último de toda esta a história.
Pedro Abreu
Vale do Paraíso, Azambuja
qui 25/02/2016 11:55
Esta é uma de entre muitas outras provas de que, cada vez mais, faz sentido a aplicação dos conceitos de design thinking à gestão do território e das cidades (nesta particular, à gestão autárquica e a interação desta com os seus stakeholders privados de referência).
Por outro lado, e no que aos territórios referidos compreende o artigo, nada a mim me impede que também o conceito de Smart City seja aplicado a Vilas ou Aldeias - seria, seguramente, um ganho civilizacional muito interessante.
Efetivamente, e porque, na minha opinião, a objetivação do conceito de Smart City varia consoante as características do território específico em que é aplicado e consoante o ecossistema social e económico ali apurado, o diktate referido no artigo deve vergar conquanto conflitue com o desenvolvimento – sustentado, sustentável – em prol das populações, afinal, desiderato último de toda esta a história.
Pedro Abreu
Vale do Paraíso, Azambuja
qui 25/02/2016 11:55