A Excelência no Desporto
Por Joaquim Ramos
01-09-2016 às 19:45
Não me apetece falar sobre Desporto. Eu sei que, inflamado pela chama olímpica, o ValorLocal tem, nesta edição, por tema, o Desporto e a sua prática pelas camadas mais novas.
Não me apetece e não sei falar sobre Desporto. Só gosto de assistir aos Jogos Olímpicos e não é a tudo, como alguns amigos que se pespegaram o dia inteiro no sofá, perdendo assim alguns preciosos dias de férias, a ver tudo quanto era prova na RTP 1.
Eu confesso que não me interessa nada a vela, o remo, o judo e tantas outras modalidades. Nem sequer o futebol olímpico, que só vi porque Portugal entrava. Aliás, creio que nem assisti a todos os jogos, pois tinha-me regalado há pouco tempo com o Cristiano Ronaldo, o Sanches, o Rui Patrício e sobretudo com o Pepe – indiscutivelmente o melhor jogador da selecção no Campeonato da Europa. E nenhum deles, e mais alguns, estava lá...
Eu gosto mesmo é do atletismo, especialmente as corridas até aos mil e quinhentos metros, e a ginástica artística.
Não quero com isto dizer que não reconheço igual mérito a um vencedor olímpico dos cem metros e ao medalha de ouro do lançamento do dardo. Mas o nome de Hussein Bolt toda a gente conhece e sabe escreve e agora sejam sinceros : quantos se lembram da nacionalidade e do nome do grandalhão que ganhou o lançamento do dardo? Muito poucos. Só os que se interessam mesmo pela modalidade ou a praticam. Mas o mérito é igual : são os melhores do Mundo na sua área e às vezes não se imagina o que está por trás disso.
As horas e horas díárias, ao longo de anos, em que se aperfeiçoa a técnica e a forma de roubar um centésimo de segundo aos cem metros ou acrescentar uns centímetros à viagem dum dardo.
Sabem porque razão a generalidade das corridas de fundo – dos mil e quinhentos metros para cima – são ganhos por etíopes e quenianos? Acham que os Governos respectivos aplicam dinheiro para manter atletas? Na Etiópia e no Quénia? Claro que não.
São as aldeias, quando não mesmo as tribos – a etnia, não a tribo em sentido primitivo – que financiam estes atletas. Há milhares de etíopes e quenianos cuja vida é treinar a corrida. Suportados e alimentados pelas respectivas comunidades.
O vígésimo tempo nos dez mil metros de etíopes e quenianos ( vinte lugares, vinte) é mais curto que o melhor tempo europeu!
E é assim que, quer no atletismo, quer em qualquer outra modalidade desportiva ou, direi mesmo, em qualquer manifestação humana, atingir a excelência não é um golpe de asa, um sopro de sorte, uma habilidade para. Tem por trás muitos meses e anos de trabalho diário, sacrifício, renúncias.
Obriga também a que haja alguém, o Governo, uma Instituição, uma Comunidade, que esteja disponível para suportar os custos do atleta – que a coisa já não vai lá com treinos diários depois de sair da fábrica, como a Aurora Cunha fazia.
Parece-me que está aqui explicada a razão do fracasso da nossa participação nos Jogos Olímpicos. Temos que admiti-lo : ficou abaixo das piores previsões. Uma medalha de bronze, uma?
Obviamente que não se concretizaram, ao longo dos anos, nenhuma das condições necessárias à feitura de campeões. Nem o sucessivos Governos tiverem políticas consistentes de fomento do desporto de alta competição. Muitos menos as grandes instituições desportivas dedicaram suficiente atenção a outras modalidades que não o futebol. Sim, o Benfica, o Sporting, o F.C. do Porto tratam as outras modalidades desportivas com migalhas do futebol. Nem a Comunidade, isto é, nós, os Portugueses, nos mobilizámos em torno dos nossos atletas como as aldeias da Etiópia e do Quénia. Só lhes ligamos nos Jogos Olímpicos. E esses são de quatro em quatro anos.
Por Joaquim Ramos
01-09-2016 às 19:45
Não me apetece falar sobre Desporto. Eu sei que, inflamado pela chama olímpica, o ValorLocal tem, nesta edição, por tema, o Desporto e a sua prática pelas camadas mais novas.
Não me apetece e não sei falar sobre Desporto. Só gosto de assistir aos Jogos Olímpicos e não é a tudo, como alguns amigos que se pespegaram o dia inteiro no sofá, perdendo assim alguns preciosos dias de férias, a ver tudo quanto era prova na RTP 1.
Eu confesso que não me interessa nada a vela, o remo, o judo e tantas outras modalidades. Nem sequer o futebol olímpico, que só vi porque Portugal entrava. Aliás, creio que nem assisti a todos os jogos, pois tinha-me regalado há pouco tempo com o Cristiano Ronaldo, o Sanches, o Rui Patrício e sobretudo com o Pepe – indiscutivelmente o melhor jogador da selecção no Campeonato da Europa. E nenhum deles, e mais alguns, estava lá...
Eu gosto mesmo é do atletismo, especialmente as corridas até aos mil e quinhentos metros, e a ginástica artística.
Não quero com isto dizer que não reconheço igual mérito a um vencedor olímpico dos cem metros e ao medalha de ouro do lançamento do dardo. Mas o nome de Hussein Bolt toda a gente conhece e sabe escreve e agora sejam sinceros : quantos se lembram da nacionalidade e do nome do grandalhão que ganhou o lançamento do dardo? Muito poucos. Só os que se interessam mesmo pela modalidade ou a praticam. Mas o mérito é igual : são os melhores do Mundo na sua área e às vezes não se imagina o que está por trás disso.
As horas e horas díárias, ao longo de anos, em que se aperfeiçoa a técnica e a forma de roubar um centésimo de segundo aos cem metros ou acrescentar uns centímetros à viagem dum dardo.
Sabem porque razão a generalidade das corridas de fundo – dos mil e quinhentos metros para cima – são ganhos por etíopes e quenianos? Acham que os Governos respectivos aplicam dinheiro para manter atletas? Na Etiópia e no Quénia? Claro que não.
São as aldeias, quando não mesmo as tribos – a etnia, não a tribo em sentido primitivo – que financiam estes atletas. Há milhares de etíopes e quenianos cuja vida é treinar a corrida. Suportados e alimentados pelas respectivas comunidades.
O vígésimo tempo nos dez mil metros de etíopes e quenianos ( vinte lugares, vinte) é mais curto que o melhor tempo europeu!
E é assim que, quer no atletismo, quer em qualquer outra modalidade desportiva ou, direi mesmo, em qualquer manifestação humana, atingir a excelência não é um golpe de asa, um sopro de sorte, uma habilidade para. Tem por trás muitos meses e anos de trabalho diário, sacrifício, renúncias.
Obriga também a que haja alguém, o Governo, uma Instituição, uma Comunidade, que esteja disponível para suportar os custos do atleta – que a coisa já não vai lá com treinos diários depois de sair da fábrica, como a Aurora Cunha fazia.
Parece-me que está aqui explicada a razão do fracasso da nossa participação nos Jogos Olímpicos. Temos que admiti-lo : ficou abaixo das piores previsões. Uma medalha de bronze, uma?
Obviamente que não se concretizaram, ao longo dos anos, nenhuma das condições necessárias à feitura de campeões. Nem o sucessivos Governos tiverem políticas consistentes de fomento do desporto de alta competição. Muitos menos as grandes instituições desportivas dedicaram suficiente atenção a outras modalidades que não o futebol. Sim, o Benfica, o Sporting, o F.C. do Porto tratam as outras modalidades desportivas com migalhas do futebol. Nem a Comunidade, isto é, nós, os Portugueses, nos mobilizámos em torno dos nossos atletas como as aldeias da Etiópia e do Quénia. Só lhes ligamos nos Jogos Olímpicos. E esses são de quatro em quatro anos.
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