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Opinião Joaquim Ramos: Bicicletas

"Aqui em Azambuja, quando foi feito o projeto – infelizmente só projeto - da estrada Azambuja/Virtudes, dele constava uma pista ciclável. (...) Creio ser esta, também, a intenção da atual Câmara."
07-01-2019 às 16:14
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Longe vão os tempos em que Guerra Junqueiro, ao ver passar pela primeira vez uma bicicleta, escreveu, ainda espantado, que vira “ o único veículo em que a besta puxa sentada”. Aquela era a tecnologia de ponta do mundo dos transportes, até então dominado pelos veículos de tração animal, ou seja, puxado por bestas. Bem, alguns privilegiados eram transportados em liteiras suportadas por bestas humanas. Mas as liteiras já não eram do tempo de Guerra Junqueiro – à exceção dos Papas, que mantinham esse estatuto herdado dos nobres romanos e das monarquias ancestrais. Mas a besta a puxar sentada, é que Guerra Junqueiro nunca tinha visto!

A bicicleta tornou-se, em todo o Mundo, o meio de deslocação por excelência, porque dispensava besta e todas as arrelias que uma besta comporta: curral, teimas, palha, bosta, arreios… Especialmente nos países mais planos, como a Holanda, a paisagem urbana foi – e ainda é – dominada por grandes parques de estacionamento de bicicletas e as ruas e estradas estão pejadas de ciclistas.

Nos meus tempos de rapaz a bicicleta já era um meio de deslocação ultrapassado, reservado aos pobrezinhos e aos meninos de famílias ricas, porque andar de bicicleta tornara-se um desporto de ricos. Mas como meio de deslocação terrestre a tecnologia já as tinha feito evoluir para uma diversidade de motorizadas, com maior ou menor cilindrada. Nesse caso, se Guerra Junqueiro tem visto passar uma Vespa teria comentado “ Olha, a besta ainda vai sentada, mas já não vai a puxar!”. Os automóveis, embora não com a intensidade de hoje nesse tempo da minha juventude, já circulavam abundantemente de norte a sul do País.

Coexistiam assim, dois tipos de bicicletas: as pasteleiras e as desportivas. As primeiras, destinadas às deslocações dos menos abonados, eram usadas por trabalhadores fabris nas suas deslocações pendulares, campónios que vinham à Vila abastecer-se ou divertir-se, pescadores que pedalavam em direção até ao rio. Molas da roupa a apertar a ponta das calças, para não se enredarem nos pedais.

As desportivas estavam destinadas às classes de mais posses: meninos e senhores que a usavam como desporto. Havia até dois modelos. Um com o cabo que liga as rodas direito, para os homens, e outro com ele curvo, para o sexo feminino. É que, nessa altura, as meninas e as senhoras não usavam calças e tinha que haver uma forma de subir, de saias, para o selim, sem mostrarem os interiores aos presentes.
​O cano do selim curvo permitia-o.

Do curriculum da passagem dum menino ao estatuto de adolescente, constava, entre outras coisas, aprender a nadar e a andar de bicicleta. Eu, por acaso, fui tardio. Consegui dar uma volta completa à casa dum Guarda Florestal na Ria de Aveiro já com dez anos, ao fim duma série de tentativas em que deitei os joelhos abaixo e parti um dente contra um muro! O meu irmão já nasceu a andar de bicicleta.

Cada um tem jeito para o que tem! E depois havia o desporto de competição: a bicicleta era tão popular que se organizaram campeonatos em todo o Mundo, que ainda hoje se mantêm.

Andar de bicicleta, ao longo dos anos, tornou-se um crescendo da moda. Apareceram bicicletas de todas as formas e feitios, os mais variados acessórios ciclistas, os médicos desataram todos a dizer que fazia bem à saúde e à bolsa de cada um.


As bicicletas conjugam, na verdade, princípios que são hoje crescentemente adotados pelas pessoas e pelas comunidades. Exigem esforço físico, e o exercício é saudável; não usam combustível –apenas o da própria besta…-, e o preço dos combustíveis está pela hora da morte; não emitem gases, por isso são amigas do ambiente e não contribuem para o aquecimento global.

Naturalmente que os países e as cidades não podiam ficar indiferentes a todos estes efeitos benéficos de ciclar. Desataram a prosperar pistas cicláveis em tudo quanto é sítio, foram criadas estímulos financeiros para a sua construção e qualquer cidade que se preze, cujas ruas tinham, dantes, a estrada, para os automóveis e os passeios, para as pessoas, têm agora invariavelmente, mais duas faixas, por vezes aos ziguezagues, para ciclistas.

Eu cá acho muito bem. Acho que em cidades estruturalmente planas, como Amesterdão ou Barcelona, as bicicletas devem constituir uma alternativa de deslocação pessoal em massa. Considero também que, para efeitos de exercício ou recreio, devem ser feitas pistas cicláveis em determinadas zonas com características para tal. Por exemplo, as pistas cicláveis das margens do Tejo como existem em Vila Franca, Lisboa, Oeiras, Cascais, para citar apenas exemplos.

Aqui em Azambuja, quando foi feito o projeto – infelizmente só projeto - da estrada Azambuja/Virtudes, dele constava uma pista ciclável. Acho também que todo o eixo da estrada do campo de Azambuja tem trechos junto ao Tejo e afluentes que justificam uma pista. Creio ser esta, também, a intenção da atual Câmara.
​

Mas não podemos cair no exagero e acho, sinceramente, que Lisboa caiu num fundamentalismo ciclista que a faz ter hoje um emaranhado de pistas cicláveis desertas, confusas, perigosas e potenciadoras do caos no trânsito.
​

Quando vejo um desgraçado, com os bofes a sair pela boca, a subir quotidianamente a Fontes Pereira de Melo – que até nem é das piores…- de bicicleta, a levar com os escapes todos no pulmão, penso sempre: aquele é daqueles furiosos ambientalistas que estão contra o Mundo, um suicida ou um votante do Bloco de Esquerda.

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Comentários

Adoptar a bicicleta nos dias de hoje não é uma moda. Até porque não se pode classificar como moda uma tendência que vem de há pelo menos 8-10 anos em Portugal, que é a utilização da bicicleta como meio de transporte.
É uma opção inteligente e independente, que não se confina a cidades planas. A Suíça é exemplo disso pois tem terreno semelhante às principais cidades portuguesas e a bicicleta muito enraizada na sua cultura - a cultura das deslocações práticas. Este artigo acaba por ignorar a evolução da bicicleta nos últimos 30 anos. Algumas bicicletas francesas, dos anos 60/70, já subiam como desciam. Esqueçam lá às pasteleiras... Quando não se quer nem se tem força para pedalar empurra-se, que mesmo assim ainda é muito mais simples e interessante do que levar o carro para o centro de qualquer grande cidade deste país.
​
João Cruz
Porto
10/01/2019 08:38


O texto estava a ir bem até aos últimos dois parágrafos. Depois foi o descambar total. "que Lisboa caiu num fundamentalismo ciclista" — Fundamentalismo onde? O autor conhece a Holanda? Onde as casa por lei têm de ter acesso para bicicletas imediato à rua. E os ciclistas estão tão protegidos que são respeitados por todos os outros intervenientes? E lá, infelizmente, os ciclistas até têm bastante desrespeito pelos peões? "que a faz ter hoje um emaranhado de pistas cicláveis" — Há falta de mais. Exemplo: Não há nenhuma estrada decente para bicicletas a interligar os concelhos de Odivelas e Lisboa. A calçada de Carriche é péssima, sobretudo no extremo de Odivelas! " desertas" — A evidência mstra exactamente o contrário. FACTO. , "confusas" — Já andei pela maior parte das ciclovias de Lisboa e não sei onde possa estar a confusão. , "perigosas" — Só conheço uma ciclovia perigosa. É a Duque de Ávila. E o perigo é causado pelos peões ou partas de carros a abrirem. "potenciadoras do caos no trânsito." — Pois a minha opinião é diametralmente oposta. As Ciclovias retiram parcialmente bicicletas das estradas. E normalmente quando as ciclovias provocam caos, provocam-no às próprias bicicletas, quando têm que fazer um corte à esquerda e estão lá no meio a estrada e os carros a atrapalharem a manobra. "Quando vejo um desgraçado, com os bofes a sair pela boca, a subir quotidianamente a Fontes Pereira de Melo – que até nem é das piores…- de bicicleta, a levar com os escapes todos no pulmão, penso sempre: aquele é daqueles furiosos ambientalistas que estão contra o Mundo, um suicida ou um votante do Bloco de Esquerda." — Nunca fui nenhum dos três. E o meu veículo para 90% das deslocações em Lisboa é, há 5 anos a BICICLETA!

Sérgio Loure
Loureiro
10/01/2019 01:06

Um texto histórico, mas com algumas falhas e que convém esclarecer. Ainda por cima acaba da pior maneira. Uma vista dentro de um automóvel. Vamos então por pontos. O primeiro é que vai haver onde já outros concelhos fizeram ciclovias. Muito viradas para o lazer. Não para servirem de ligação casa/trabalho. Junto ao rio. Mas vão ser executadas dentro de um projecto global e coordenado pela CIMLT. Serão 3. Uma na margem direita entre Azambuja e a Golegã. Outra na margem esquerda e uma outra a aproveitar um antigo ramal ferroviário entre a Ribeira de Santarém e Rio Maior. Pretende-se posteriormente ligar a Coruche. Quanto aos bofes de fora, deve ser algum engano. Além de que muitas das bicicletas que andam no eixo central de Lisboa, são eléctricas, e não fazendo a avenida como se fosse fazer algum circuito, é facílimo fazer-se. E eu tenho 60 anos. Depois o fumo. Pois, essa questão já foi noutros locais levantada. Se em esforço físico, respiram mais profundamente, poderia esperar-se que aspirassem mais fumo. Só que alguns estudos mostram que enquanto o ciclista pode passar por alguma zona e rapidamente se liberta, quem está dentro de uma lata, em geral com o ar condicionado e janelas fechadas, sofre muito mais com a poluição que quer ele, quer os outros automobilistas criam. Hoje felizmente (também no meu tempo nem toda a gente podia comprar uma bicicleta e muito menos possuir carro próprio) começamos a mudar o paradigma. Seja por nossa vontade ou por força das circunstâncias, quer a poluição, quer a ocupação do espaço público de forma abusiva por parte do automóvel, está a mudar. Tantas e tantas cidades que estão a retirar os carros dos centros das cidades...O Dr. Joaquim Ramos ainda é do tempo em que se dá ao filho quando atinge os 18 anos, a carta e logo a seguir o carro. Felizmente já há em muito lugares do mundo em que o jovens já não olham para isso como a sua emancipação. Pena não ir a tempo de poder apreciar como é tão bom e saudável com umas boas pedaladas... Para finalizar sempre que hoje vou a Lisboa sem precisar de transportar grandes cargas, faço-o de bicicleta. E em muitos locais, chego mais depressa que de automóvel. Por exemplo Sta. Apolónia - Belém.

António Menino
Manique do Intendente
09/01/2019 20:05

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