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Opinião Joaquim Ramos: "Notas sobre a pandemia"

"A Covid 19, muito mais do que uma epidemia, constitui um fator de retrocesso social e, na minha ótica, não contribuirá para um Mundo Novo. Contribuirá, sim, para um Mundo semelhante ao que vivemos até agora, mas mais pobre e mais conflituoso"
27-06-2020 às 12:08


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  1. A geração do baby-booming, isto é, aquelas pessoas que, como eu, nasceram no rescaldo da distensão social do pós segunda guerra mundial, que nasceram nos anos finais da década de quarenta, nos anos cinquenta e até nos anos sessenta, conheceram, sem qualquer espécie de dúvida, o melhor período de vida de toda a Humanidade. Fomos uns privilegiados. O desenvolvimento económico que o esforço de guerra proporcionou à economia de paz, a explosão do conhecimento em todas as áreas científicas com aplicação prática nos estilos e qualidade de vida foram, até agora, um fenómeno nunca antes visto na história do Homem. Excluindo conflitos localizados como a Guerra do Vietname, o Médio Oriente e os que decorreram da Guerra Fria, ou ameaças pontuais como o terrorismo islâmico e as ditaduras de extrema direita ou esquerda com toda a sua procissão de misérias, duma maneira geral o Mundo viveu em paz. O desenvolvimento no  campo das tecnologias, da medicina, da produção, da comunicação, das ciências em geral, atirou-nos para patamares de conforto e nível de vida que nenhuma geração conheceu até hoje e que, pelo menos num futuro próximo, nenhuma outra conhecerá. A esperança de vida neste período aumentou mais de vinte anos, foi encontrada a cura ou pelo menos a neutralização das principais doenças que nos afligiam. Quando eu era criança e olhava para o meu avô de sessenta anos, pensava “como é possível que o meu avô, tão velho, ainda esteja vivo!”. Hoje, um homem ou uma mulher de sessenta anos ainda estão no vigor da vida – a maioria, pelo menos-, trabalham, praticam desporto, vão a bares e restaurantes, viajam e fazem coisas que há seis ou sete décadas seriam impensáveis. O Estado Social impôs-se, particularmente na Europa, e sentíamo-nos seguros com uma rede social que nos protegia o presente e assegurava o futuro. Hoje, com a Covid 19, na minha perspetiva, todo esse bem estar social está em causa.
  2. É que nós progredimos uma enormidade no campo do conhecimento e do bem estar, mas esquecemo-nos duma coisa: a solidariedade em termos globais. Não fomos solidários para com as gerações mais velhas. Os velhos, que dantes integravam o núcleo familiar restrito e ocupavam lugar de destaque pela sua sabedoria, conhecimento de vida e esforço, passaram a ser olhados como um fardo e encurralados em lares e instituições do tipo, despojados do convívio familiar e limitados à sobrevivência. Estar vivo por si só não é importante. Importante é ser feliz. Naturalmente que estou a falar em tendências e não em fenómenos gerais. Não somos solidários com as gerações presentes, como se constata facilmente quer a nível nacional quer internacional, com o fosso crescente entre ricos e pobres e o alastramento de bolsas de miséria e fome que dão origem a desastres sociais como os campos de refugiados, as migrações incontroláveis numa fuga desesperada à fome e à morte. Fechámos-lhes as fronteiras. O desenvolvimento de alguns países deixa atrás um rasto de destruição poucas vezes visto ao longo da História. Não fomos solidários com as gerações futuras: deixamos-lhe, em nome do nosso bem estar, uma carga financeira que roça o insustentável e um planeta que corre o risco, a não ser rapidamente invertida esta situação, de se tornar inabitável. Não fomos solidárias para com a fonte da nossa vida, a Terra : destruímos habitats, provocámos alterações climáticas, extinguimos espécies, criámos desequilíbrios ambientais dificilmente reversíveis. A Covid 19, muito mais do que uma epidemia, constitui um fator de retrocesso social e, na minha ótica, não contribuirá para um Mundo Novo. Contribuirá, sim, para um Mundo semelhante ao que vivemos até agora, mas mais pobre e mais conflituoso . Veja-se o que está a acontecer na China, que parece ter ultrapassado a fase da epidemia : a economia retoma em força à custa dos mesmos métodos produtivos, das mesmas energias, de idênticas formas de produção que nos conduziram até aqui
  3. Acredito que o aparecimento desta pandemia e o pânico generalizado que provocou, muito potenciado pelos meios de comunicação e pelas redes sociais, foi uma resposta da Natureza aos desmandos que temos vindo a provocar ao longo de décadas. Não sou um visionário, nem tenho pretensões a profeta, mas acredito que a Natureza, que nos engloba, tem uma consciência própria, uma vontade autónoma e uma capacidade de intervenção que depende do seu arbítrio. Há alguns anos que o deixei expresso num dos livros que publiquei. Penso que a Covid 19 não é mais do que um alerta, um aviso da Natureza chamando a atenção para que estamos a chegar a um ponto sem retorno. Um alerta, apenas. É que se formos a ver a epidemia de Covid 19 até nem é uma doença grave que atingiu a Humanidade. Se considerarmos os milhões de infetados que são assintomáticos, se tivermos em linha de conta que abaixo dos setenta anos é praticamente inócua, a taxa de mortalidade é ínfima, nada comparável a outras pandemias que já atingiram a Humanidade, como a peste negra ou a gripe espanhola. Grave, sim, muito mais grave que a doença em si, foi e é a onda de pânico que se instalou a nível mundial, potenciada, como atrás referi pela velocidade da informação e pela tendência para divulgar apenas as más notícias. Graves, muito mais graves do que a Covid 19 são as consequências económicas e sociais geradas por esse pânico e pela desmesurada reação a que os governos foram obrigados, condicionados por uma opinião pública apavorada.
  4. Uma última nota, esta de caráter mais particular. Tem que ver com o futebol. Neste tempos de afastamento social e de confinamento, é inadmissível que os jogos de futebol não sejam transmitidos em canal aberto. Das duas uma : alguém anda a proteger os canais pagos tipo Sport TV – que verão o número de assinantes e as consequentes receitas disparar – ou esqueceram-se do que é um Benfica-Sporting visto num local público com canal pago. Estou mesmo a ver, no meio das bejecas a que o tempo quente e o futebol apelam, os fãs dum dos grandes a abraçarem-se aos urros quando há golo, a cuspir perdigotos para cima do próximo, enfim tudo o contrário daquilo que as autoridades sanitárias desaconselham.
  5. Agora é que é mesmo a final. Considero que as autoridades portuguesas, políticas e técnicas de saúde, ligadas ao Governo ou à Oposição – particularmente o PSD e o seu líder- têm tido um comportamento exemplar e a eles, bem como ao comportamento do povo português, se deve a contenção da pandemia. A Covid 19 vai passar. Seja ou não descoberta vacina. Há que consertar os cacos que, mais a histeria coletiva do que a doença, deixaram para trás. Quanto a mim, desconfinei!


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triste opinião que me fez sentir um arrependimento profundo....
Jaime Mota
Azambuja
27/06/2020 21:59
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