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Opinião Joaquim Ramos: "O Desafio Ambiental""Todo o eixo fundamental da minha vida profissional foi dedicada a questões de ordem ambiental – excepção feita aos doze anos de “desvio” para a política e, mesmo nesses anos, o saneamento básico, as questões de recolha e tratamento de águas residuais, a eficácia da recolha de resíduos sólidos e a promoção da reciclagem foram matérias que sempre nortearam a minha actuação"
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07-10-2019 às 17:55
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Todo o eixo fundamental da minha vida profissional foi dedicada a questões de ordem ambiental – excepção feita aos doze anos de “desvio” para a política e, mesmo nesses anos, o saneamento básico, as questões de recolha e tratamento de águas residuais, a eficácia da recolha de resíduos sólidos e a promoção da reciclagem foram matérias que sempre nortearam a minha actuação. Mas eu sou dum tempo em que as questões ambientais se reduziam a isto: tomar medidas para que a nossa qualidade de vida melhorasse, sem pôr em causa os princípios, práticas e costumes em que se baseia a nossa civilização.
O conceito de respeito pelo Ambiente é, necessariamente, um princípio que deve fazer parte integrante da educação duma criança e é, como tal, tão fundamental como aquelas premissas básicas que se incutem nos jovens desde tenra idade : o respeito pelo próximo, a honestidade, o sentido de ética e as ferramentas que lhes vão sendo dadas ao longo do seu processo de crescimento para fazerem face à vida tais como aprender a escrever e a contar, desenvolverem uma profissão ou um aptidão que se revele em cada um deles. É uma tarefa em primeira instância da família, depois da Escola e do Estado e em última análise da Comunidade como um todo. Nos tempos em que estive à frente da área de Ambiente do Município de Lisboa, compreendemos que lutar pelo ambiente não era só apanhar lixo, tratar de esgotos, plantar jardins ou medir poluições atmosféricas. Percebemos que, se não ganhássemos os cidadãos para as boas práticas ambientais, por mais recursos que fossem afetados ao Ambiente, a melhoria da qualidade de vida seria uma batalha perdida. Daí ter sido o Município de Lisboa pioneiro naquilo a que chamávamos na altura Educação e Sensibilização Ambientais, desenvolvendo campanhas dirigidas para a generalidade da população, sempre com base neste princípio: a salvaguarda do Ambiente está, em primeira instância, na atitude individual que cada um de nós, como cidadãos, tem perante as mais diversas práticas ambientais. E recorrendo ao velho ditado “ de pequenino é que se torce o pepino”, foram desenvolvidas campanhas particularmente dirigidas para as escolas e para a população em idade escolar. Resultaram? Não de imediato. A alteração de mentalidade e atitude face a questões que nos são intrínsecas durante gerações demoram, em regra, uma ou duas gerações até serem interiorizadas e praticadas duma forma natural, como se fizessem parte já da nossa maneira de encarar o mundo. É verdade também que, por vezes, as gerações mais velhas, ás quais estas questões nunca disseram muito, não ajudam muito nesta mudança de mentalidade que hoje em dia se torna urgente e um dos temas mais determinantes da evolução da Humanidade. Não me esqueço de um dia em que estava, na estação do Oriente, à espera do comboio, e uma menino a meu lado, que fora seguramente objeto de ensinamentos sobre comportamento ambiental, ter atirado uma lata vazia de coca-cola para a linha, mesmo nas barbas da mãe e com um recipiente para lixos a dois metros de distância. Não me contive e disse-lhe: ” Então atiras a lata para a linha mesmo com um cesto aí ao pé de ti?”. A minha intervenção valeu-me uma valente descompostura da mãe da criança, que me metesse na minha vida, que fizeste muito bem, filho, olha como a mãe faz. E dizendo isto, abriu a mala donde tirou alguns papeis e lenços velhos e atirou tudo para a linha também…Donde se prova que estas questões de respeito pelo Ambiente não vão apenas com medidas de persuasão e esclarecimento, mas têm que ser objeto da atenção das entidades públicas, com medidas restritivas e punitivas. Chegámos hoje a um ponto de não retorno, a menos que sejam tomadas medidas drásticas em termos daquilo que chamamos os factores de poluição de terra, ar e água e parece que, finalmente, a maioria dos Governos tomou consciência disso – como o prova, aliás, a Cimeira sobre o clima que decorreu esta semana sob a égide da ONU. Duvido que, por muito extremas que sejam as medidas que tomemos, consigamos voltar ao Mundo que conhecíamos há quarenta ou cinquenta anos. Mas já me darei por contente se forem tomadas medidas que revertam a situação por forma a garantirmos a sobrevivência da espécie humana e da vida na Terra. É claro que a temperatura média irá aumentar nas próximas décadas, provocando o degelo e a subida dos níveis do mar e criando uma multidão de refugiados climáticos. É óbvio que aquela sucessão de quatro estações que era timbre das zonas temperadas não voltará a acontecer, com todas as consequências para a agricultura e a actividade humna, que são hoje já visíveis. É claro que fenómenos climáticos extremos de secas, furacões, enxurradas vão continuar a fazer parte do dia a dia do Mundo nas próximas décadas. É claro que a ilha gigantesca de plástico flutuante que se formou no Pacífico vai manter-se ou mesmo aumentar e a presença de micropartículas de plástico no ar que respiramos, na água que bebemos, nos alimentos que comemos, vão continuar a marcar presença. |
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Estes fenómenos, que são o fruto duma acção continuada durante séculos, não desaparecem dum momento para o outro, por muito atuantes que sejam os ambientalistas e por muito eficazes que sejam as medidas que os Governos ou as organizações mundiais tomem sobre estas matérias.
Por isso, cada contributo é um factor positivo. Eu sei que a proibição do uso de determinados produtos de plástico descartável como aqueles que fazem parte da proibição de utilização que o Governo português prepara para 2020, antecipando directivas da Comunidade Europeia, é uma gota de água no Oceano. Sei também que a economia dos países desenvolvidos está sustentada em combustíveis fósseis e nos derivados de petróleo, nos quais o plástico se inclui. E que, por tal razão, é difícil adotar medidas que revertam rapidamente esta situação sem por em causa o desenvolvimento. Mas de que nos serve o crescimento económico, o aumento da produção de bens e serviços se, dentro de um século, a Humanidade não tiver sobrevivido à devastação ambiental e de recursos que ela própria provocou? O grande desafio que se coloca actualmente à ciência é que desenvolva energias alternativas não poluentes de fácil disseminação. O grande desafio que se coloca aos Governos é que apliquem essas medidas com a prioridade que a sobrevivência da espécie exige. Mas tão ou mais importante do que isso, o que se exige a cada um de nós é que, no seu dia a dia, nas suas atitudes e opções, entre como factor decisivo esta avaliação: de que forma é que o que faço contribui para uma melhoria do Ambiente? |
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Acabei de ler a notícia do VL de hoje onde referem que o Ex-Presidente Senhor Ramos esclareceu a uma Comissão de Ambiente que considerou a área da pedreira e não de toda a propriedade.
Porque escrevi antes, de forma injusta, em face da honestidade na informação prestada, venho pedir desculpas ao Senhor Ramos.
Não o conheço pessoalmente, mas a verdade a cima de tudo.
É muito diferente um aterro num ambiente de poucos hectares e no âmbito da recuperação duma pedreira para encher os buracos e outra coisa bem diferente é fazerem escavações para encherem, posteriormente, com lixo, resíduos e lamas!
Jorge Ferreira
Azambuja
08/10/2019 19:52
Porque escrevi antes, de forma injusta, em face da honestidade na informação prestada, venho pedir desculpas ao Senhor Ramos.
Não o conheço pessoalmente, mas a verdade a cima de tudo.
É muito diferente um aterro num ambiente de poucos hectares e no âmbito da recuperação duma pedreira para encher os buracos e outra coisa bem diferente é fazerem escavações para encherem, posteriormente, com lixo, resíduos e lamas!
Jorge Ferreira
Azambuja
08/10/2019 19:52
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