Opinião Joaquim Ramos:
"O Espanto de D. Januário" Serviço Nacional da Saúde é um bom exemplo de uma intervenção de excelência do Estado, reconhecido mesmo a nível internacional
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| 11 Jan 2021 11:06
Daqui a alguns anos, os cronistas de serviço com gosto por estatísticas, irão concluir que, de todas as publicações escritas e do conjunto das reportagens em meios audiovisuais que se fizeram em 2020, mais de oitenta por cento estão direta ou indiretamente relacionadas com a Covid – como apareceu, a forma como se disseminou por todo o Mundo, os fatores de transmissão, as medidas dos diversos Governos e organizações internacionais para conter a epidemia, os confinamentos, o desastre sanitário, económico e social que provocou, enfim, todos os aspetos de maior ou menor importância de que se revestiu uma proteína invisível que invadiu o quotidiano de cada um de nós. E quase que aposto que em 2021 o SARS 19 continuará a ser o protagonista principal de jornais, canais de televisão, redes sociais e conversas de café.
Mas, espero eu, duma forma diferente da do ano que terminou. A descoberta e desenvolvimento de vacinas eficazes – que, aliás, já começaram a ser aplicadas- a que se seguirá, assim o espero, o desenvolvimento de medicamentos que o neutralizem, farão a diferença entre o ano que brevemente termina e o que se lhe seguirá. Ao avanço galopante do “bicho” que consome os nossos dias, perturba as nossas relações familiares e sociais, destrói economias e postos de trabalho, seguir-se-á a sua progressiva neutralização e as nossas vidas voltarão, no fundamental, a ser o que eram antes da epidemia. Escrevo no fundamental porque creio que, mesmo livres da Covid, há questões da nossa vida, quer individual quer coletiva, que nunca mais voltarão a ser o que foram. E tudo o que deu um trambolhão em 2020 regressará: a economia recuperará, embora a ritmos diferentes e com novos paradigmas de desenvolvimento, florescerão novas empresas à luz de outros vetores de produção, o desemprego recuará com maior ou menor velocidade e as relações entre as pessoas, hoje limitadas por máscaras e aquilo que se convencionou chamar distanciamento social, voltarão a desenvolver-se sem barreiras: poderemos abraçar, beijar, almoçar ou jantar todos à molhada. Naturalmente que o que escrevi acima é uma visão muito geral e que alguns considerarão simplista daquilo que espero venha a acontecer nos próximos anos. Mas na verdade, tudo o que se passará daqui para a frente daria um ou vários calhamaços de análise que não cabem numa simples crónica de meia página. Serve esta introdução para justificar que já foi praticamente tudo dito ou escrito sobre a Covid, pelo que fazer uma crónica exaustiva sobre o tema seria repetir uma série de evidências que as pessoas já leram ou ouviram várias vezes. Por isso não o farei – até porque não tenho conhecimentos para tanto. Mas gostaria de deixar expressos dois ou três apontamentos suscitados pela crise que atravessamos.
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