Há uns tempos escrevi algures que penso que caminharemos para um cenário a longo prazo – mas a longo prazo de séculos – onde deixará de haver países e fronteiras e seremos governados e chamados a eleger um Governo a nível mundial. É que a constatação de que tudo o que conhecemos se vai expandindo e abarcando mais coisas torna o sítio onde estamos instalados cada vez mais pequeno – seja ele a nossa casa, a nossa cidade, o País e o continente em que vivemos, o planeta que habitamos, o sistema galáctico em que estamos instalados ou o Universo, o sítio maior conhecido até agora.
À medida que isto vai acontecendo será necessário que um conjunto de princípios, valores e práticas se vão harmonizando ao nível do planeta que habitamos, para que defendamos interesses que são de todos e combatamos desigualdades e discriminações que ainda existem porque continuamos teimosamente a olhar para dentro, numa caminhada que parece dirigida à destruição da Humanidade. É minha convicção que a longo prazo essas contradições que encontramos a qualquer esquina da Terra só se resolverão com um Governo mundial.
Aliás, a ONU não é mais do que um esboço ainda incipiente de resposta a essa necessidade, como reacção à devastação que varreu o planeta no Século 20, com as duas guerras mundiais.
Mas há mais indícios da inevitabilidade desse caminho, seja ele com as diversas Associações de Países que têm vindo a florescer com pretextos económicos, de livre comércio ou de defesa comum, seja ele com os reflexos que eleições em Países que dominam o mundo têm nos restantes Países e no próprio mundo.
Neste contexto, sendo os Estados Unidos da América, de longe, o país mais poderoso do mundo, quer sob o ponto de vista económico-financeiro quer militar, o que por lá se passa condiciona o mundo inteiro. Poder-se-ia perguntar: então, dado esse enquadramento, a eleição do Presidente dos Estados Unidos é um assunto que apenas diz respeito aos eleitores americanos? A resposta tem que ser inevitavelmente não; admiti-lo é admitir uma espécie de ditadura do povo americano sobre os restantes povos do mundo, e ditaduras nem as do proletariado!
É por esta lógica de raciocínio que eu acho que caminhamos, a longo prazo, para um Governo Planetário (que até pode ter sede em Nova Iorque) como única forma de construirmos um futuro sustentável. Não é para mim, nem para os meus filhos e netos, mas que chegaremos lá, não tenho dúvida.
Os Estados Unidos mudaram há dias de Presidente. Como os leitores devem calcular, nesta disputa quase clubística em que a Comunicação Social transformou as eleições americanas, eu alinhei sem hesitações na equipa Clinton. Mas não é por isso que faço coro com os que anunciam profecias catastróficas, antevêm descrições dantescas dum futuro com Trump a que tenho assistido, nos dias seguintes à posse da Administração Republicana. Quer queiramos quer não, o homem ganhou as eleições de acordo com uma determinada bitola democrática que foi a que os americanos aprovaram e praticam. E isso tem que ser respeitado – embora também eu tenha ficado perplexo e seja um mistério para mim como é que um país em que metade do eleitorado é feminino votou num homem que menoriza as mulheres; como é possível que um país com uma grande percentagem de negros vote num homem que foi saudado pelo chefe da Ku-Klux-Klan; como se pode aceitar que um país cuja população ou respectiva ascendência é maioritariamente sul-americana, mexicana, asiática, polaca, turca, irlandesa, vote num homem que se propõe deportar estrangeiros, construir muros na fronteira, dificultar a imigração.
Mas foi eleito, e temos que concluir que é isso que os americanos querem. Naturalmente que os bem pensantes, os amantes da liberdade e da igualdade, a vanguarda dos artistas e intelectuais, não se conformam com a eleição de Trump, com aquela madeixa loura a esvoaçar pelos salões da Casa Branca. Mas foram eles que o elegerem.
E se querem que vos diga, acho que não é um problema de dimensão transcendente. Uma coisa é o que se diz em campanha eleitoral, outra a que se faz quando se é confrontado com a realidade, com a opinião dum conjunto de barões na economia, na defesa, na indústria de armamento, no Governo de cada um dos Estados Federados, nas Forças Armadas, na cena política mundial. São esses os que realmente decidem, e decidem da mesma forma quer seja Clinton quer seja Trump o Presidente : de acordo com os seus interesses.
Sei que haverá mudanças a nível interno, que serão retiradas as ( poucas ) regalias sociais que Obama garantira, que o discurso mudará – mas a nível externo um homem, mesmo Trump, mesmo o Presidente dos Estados Unidos da América, tem muito pouca margem de manobra. Não quero dizer que não seja preocupante, principalmente pelo que indicia da imagem da Democracia junto dos cidadãos e não pelas tais visões do Inferno na Terra. Mas não é tão grave a nível de consequências como o têm vindo a fazer crer. Espero eu!
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