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Opinião Joaquim Ramos: O Serviço Nacional de Saúde, um bem precioso
"Não quero dizer que tudo vai bem no SNS. Muita coisa há a melhorar. Mas a verdade é que, se nos despirmos de paixões políticas – o SNS está sempre bem para quem está no Governo e mal para quem está na Oposição"
27-07-2018 às 19:46
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O Serviço Nacional de Saúde tem andado a ser protagonista permanente das colunas dos jornais, dos canais televisivos, das balbúrdias parlamentares, das enfadonhas manifestações sindicais e do programa da manhã da TSF, onde tudo quanto é gente tem opinião sobre ele. Entre outros, porque não há mesa de café, esplanada de jardim ou banco de sala de espera onde não se fale do SNS.  Nem sempre pelas melhores razões. O Ministro Centeno cativa a verba, o ministro Adalberto – uma espécie de D. Sebastião da saúde, sempre que há novo Governo- afadiga-se a apagar fogos no São João, nos Hospitais Civis Lisboa Norte e a aplacar os ânimos em tudo quanto é Sindicato da área ou a deitar água na fervura da contestação autárquica pelas carências na saúde.

Protestam médicos e enfermeiros, manifestam-se utentes e farmacêuticos e parece que se instalou o caos em hospitais e centros de saúde.

Eu acho que nós não podemos tomar a nuvem por Juno. Temos que lutar para que o direito universal à saúde que o SNS garante seja uma realidade cada vez mais efetiva no grau de segurança e bem estar dos portugueses. E um primeiro passo nesse sentido é avaliar objetivamente aquilo que temos.
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Não quero dizer que tudo vai bem no SNS. Muita coisa há a melhorar. Mas a verdade é que, se nos despirmos de paixões políticas – o SNS está sempre bem para quem está no Governo e mal para quem está na Oposição -, se nos tentarmos abstrair de problemas conjunturais como os atrasos nas consultas desta ou daquela especialidade, a falta de enfermeiros ou a superlotação dalgumas unidades, o SNS é, em termos sociais, no meu entender, a maior conquista da democracia e um bem que a todos cabe defender e preservar.

É verdade que há listas de espera, é verdade que há carências, sem dúvida que há muito a melhorar. Mas criou-se um hábito entre os portugueses de, quando não têm mais nada que fazer, ir até ao Centro de Saúde. Se há uma unha encravada, uma arranhadela de joelhos, um dente com uma guinada, toca de ir até ao Centro, que a gente paga os nossos impostos. E há também o mitigar da solidão, que leva tanta gente às unidades de saúde ; um sítio onde se pode estar, conversar, fazer amizades e tecer cumplicidades sem ter que se pagar nada. As enchentes nos Centros de Saude e nas próprias urgências dos hospitais são, também, o reflexo da solidão em que uma parte da população mais velha vive. Ali, sempre se repartem os nossos males com alguém. Ali, encontra-se sempre alguém que está pior que nós. Não há SNS que resista a esta invasão! Peço antecipadamente perdão se o que vou escrever soar mal ou ferir suscetibilidades. O SNS trata-nos bem. Nós é que o tratamos  mal!

Há um hábito português de dizer mal de tudo quanto está ao seu serviço público. É uma tendência que nos acompanha ao longo de séculos. Se fizermos um balanço entre o que se diz das forças de segurança, dos tribunais, das finanças, da segurança social, da educação, há nove a dizer mal por cada um que elogia. E nalguns casos até podem ter razão. Mas no caso do SNS, não. Digo-o por experiência própria.

Quando, há cerca de cinco anos, sofri um terrível acidente vascular na minha casa da Lagoa de Óbidos, fui salvo pelo SNS. Sobrevivi porque nós, portugueses, temos um dos melhores sistemas públicos de saúde do Mundo, digam lá o que disserem as comadres da política e os arautos da desgraça.

Estive vários meses hospitalizado e em coma, fui sujeito a duas intervenções de peito aberto e alto risco, sem contar com várias tropelias de menor impacto a que o meu corpo foi sujeito. Sobrevivi porque o INEM funcionou a tempo e com os meios adequados. Estou cá hoje porque médicos, enfermeiros e auxiliares de saúde em Santa Maria, nos hospitais de Vila Franca e Caldas da Rainha foram duma dedicação inexcedível – operaram, trataram-me do corpo e da alma, deram-me banho, medicaram-me a tempo, alimentaram-me. E para eles eu era apenas um homem que tinha tido uma rotura da aorta numa casa de praia para os lados das Caldas da Rainha, apenas acompanhado por um cão.

​Teria morrido, inexoravelmente, se não fosse a prontidão com que Bombeiros e INEM me acudiram, se não fosse a capacidade de nessa mesma noite reunir uma equipa para uma cirurgia complexa, se não fora os cuidados que durante meses de internamento as equipas médicas me dedicaram. E não era particularmente comigo, porque esses mesmos cuidados foram iguais para os oito ou nove que agonizavam comigo em Santa Maria. Teria morrido, inevitavelmente, se não fosse a prontidão e a competência dos Bombeiros de Óbidos e de Azambuja e das equipas do INEM. 

É que na verdade há prioridades. E não é razoável que a gente se queixe dum atraso duma consulta dos dentes como se se tratasse duma urgência vascular.

Deixei de ouvir noticiários nas últimas semanas. Virei-me para a Netflix, que ao menos é tudo ficção e ninguém tem que ser confrontado com a realidade. Mas a principal razão deste meu apagão televisivo foi a revolta que senti na permanente malhação no Serviço Nacional de Saude. É porque é a ele que devo estar vivo ( e de borla...), e não gosto de ouvir dizer mal de quem me salvou.


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Comentários

Os textos do meu amigo Joaquim Antonio Ramos são longos, quase sempre muito longos, mas a malta gosta de ler é que a forma como ele os escreve prende-nos à estória", muito bom Joaquim uma grande realidade, eu sou uma testemunha viva tal como tu, em condições diferentes claro, que pode afirmar que sim o SNS é muito bom.
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José Braz
Azambuja
27/07/2018 20:26
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